quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Choremos, choremos, choremos

Faleceu o Prof. Dr. A. H. de Oliveira Marques
Foi com profundo pesar que soubemos do falecimento do Prof. Doutor A. H. de Oliveira Marques no dia 23 de Janeiro.
Irmão maçon e uma das figuras mais proeminentes da maçonaria portuguesa, Oliveira Marques foi iniciado Maçon em 1973, ainda durante o período da clandestinidade da maçonaria em Portugal, tendo desempenhado cargos de grande importância tanto ao nível do Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa, de que chegou a ser Grão-Mestre Adjunto, como nos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite, de cujo Supremo Conselho foi Soberano Grande Comendador.

O Grémio Estrela D'Alva, apresenta as mais sentidas condolências aos familiares e amigos do Prof. Oliveira Marques e o abraço fraterno aos irmãos do Grande Oriente Lusitano, em especial aos irmãos da Respeitável Loja à qual aquele irmão pertencia.

Breve biografia de António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques
Nasceu em São Pedro do Estoril a 23 de Agosto de 1933.
Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa com a tese "A Sociedade em Portugal nos Séculos XII a XV" (1956), tendo estagiado na Universidade de Würzburg (Alemanha).
Doutorou-se na Universidade de Lisboa com a tese "Hansa e Portugal na Idade Média" (1970), onde passou a leccionar.
Durante a ditadura do Estado Novo, Oliveira Marques foi afastado da universidade por motivos políticos, por ter participado na "Crise académica" de 1962 promovida pelos estudantes contra o regime. Viu-se por isso, obrigado a exilar-se, a partir de 1965, nos Estados Unidos da América, onde leccionou em várias instituições, como a Universidade do Alabama, da Flórida, Columbia e Minnesota (1970), entre outras.
É considerado um dos melhores historiadores portugueses, em especial no que diz respeito à Idade Média.
Em 1970, durante a "primavera marcelista", regressou a Portugal, reingressando na universidade portuguesa depois da Revolução do 25 de Abril, em 1974.
Foi director da Biblioteca Nacional de Lisboa entre 1974 e 1976.
Na Universidade Nova de Lisboa, foi professor catedrático (1976) e presidente da comissão instaladora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Dedicou o seu trabalho a estudos sobre duas épocas da História portuguesa: História Medieval e História da Primeira República.
Em 1982, em comemoração dos 25 anos sobre a publicação do seu primeiro estudo histórico, foram editados dois volumes com colaboração de historiadores portugueses e estrangeiros e intitulados Estudos de História de Portugal: homenagem a A. H. de Oliveira Marques.
Maçon desde 1973, foi eleito Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente Lusitano (1984-1986) e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33 (1991-1994).
O número total das suas obras de tomo ultrapassa 60 volumes. A colaboração, com artigos, em revistas, dicionário e enciclopédias ultrapassa o milhar, tendo proferido numerosas conferências em universidades da Europa, Estados Unidos, Brasil e Argentina.
Em 1998 recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade atribuida pelo Presidente da República, Jorge Sampaio.
Faleceu no dia 23 de Janeiro de 2007, em Lisboa.
Homem ímpar, as suas obras são instrumentos de grande relevância para os estudiosos da História de Portugal.
Nota maçónica:
Oliveira Marques era um admirador do escritor e historiador Alexandre Herculano, de quem adoptou o nome simbólico, sendo do seu particular agrado o poema seguinte:

D. Pedro
Pela encosta do Líbano, rugindo,
O noto furioso
Passou um dia, arremessando à terra
O cedro mais frondoso;
Assim te sacudiu da morte o sopro
Do carro da vitória,
Quando, ébrio de esperanças, tu sorrias,
Filho caro da glória.
Se, depois de procela em mar de escolhos,
A combatida nave
Vê terra e vento abranda, o porto aferra,
Com júbilo suave.
Também tu demandaste o Céu sereno,
Depois de uma árdua lida:
Deus te chamou: o prémio recebeste
Dos méritos da vida.
Que é esta? Um ermo de espinhais cortado,
Donde foge o prazer:
Para o justo ela existe além da campa:
Teme o ímpio o morrer.
Plante-se a acácia, o símbolo do livre,
Junto às cinzas do forte:
Ele foi rei - e combateu tiranos -
Chorai, chorai-lhe a morte!
Regada pelas lágrimas de um povo,
A planta crescerá;
E à sombra dela a fronte do guerreiro
Plácida pousará.
Essa fronte das balas respeitada,
Agora a traga o pó:
Do valente, do bom, do nosso Amigo
Restam memórias só;
Mas estas, entre nós, com a saudade
Perenes viverão,
Enquanto, à voz de pátria e liberdade.
Ansiar um coração.
Nas orgias de Roma, a prostituta,
Folga, vil opressor:
Folga com os hipócritas do Tibre;
Morreu teu vencedor.
Envolto em maldições, em susto, em crimes
Fugiste, desgraçado:
Ele, subindo ao Céu, ouviu só gueixas,
E um choro não comprado:
Encostado na borda do sepulcro,
O olhar atrás volveu,
As suas obras contemplou passadas,
E em paz adormeceu:
Os teus dias também serão contados,
Covarde foragido;
Mas será de remorso tardo e inútil
Teu último gemido:
Do passamento o cálix lhe adoçaram
Uma filha, urna esposa:
Quem, tigre cru, te cercará o leito,
Nessa hora pavorosa?
Deus, tu és bom: e o virtuoso em breve
Chamas ao gozo eterno,
E o ímpio deixas saciar de crimes,
Para o sumir no Inferno?
Alma gentil, que assim nos hás deixado,
Entregues à alta dor,
Anjo das preces nos serás, perante
O trono do Senhor:
E quando, cá na Terra, o poderoso
As Leis aos pés calcar,
do teu sepulcro irá o opresso
Seus males deplorar:
Assim, no Oriente, de Albuquerque às cinzas
O desvalido indiano
Mais de urna vez foi demandar vingança
De um déspota inumano.
Mas quem ousará à pátria tua e nossa
Curvar nobre cerviz?
Quem roubará ao lusitano povo
Um povo ser feliz?
Ninguém! Por tua glória os teus soldados
Juram livres viver.
Ai do tirano que primeiro ousasse
Do voto escarnecer!
Nesse abraço final, que nos legaste,
Legaste o génio teu:
Aqui - no coração - nós o guardámos;
Teu génio não morreu.
Jaz em paz: essa terra, que te esconde,
O monstro abominado
Só pisará ao baquear sobre ela
Teu último soldado.
Eu também combati: nus pátrias lides
Também colhi um louro:
O prantear o Companheiro extinto
Não me será desdouro.
Para o Sol do Oriente outros se voltem,
Calor e luz buscando:
Que eu pelo belo Sol, que jaz no ocaso,
Cá ficarei chorando.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou obreiro da Augusta e Respeitável Loja Simbólica "José de Arimathéa", jurisdicionada ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul.
Admirador antigo de Alexandre Herculano, somente no ano passado tomei conhecimento de que ele era Maçom. Resolvi, então, adotar-lhe o nome simbólico. Com essa finalidade, fiz uma pesquisa e elaborei um pequeno trabalho que pretendo apresentar à Loja brevemente.
Há dias,deparei-me com a página de vossa Loja e tomei conhecimento do lamentável falecimento do Prof. Dr. Antônio Henrique Rodrigo de Oliveira Marques, ocorrido em janeiro último, e de que esse eminente Irmão adotara o nome simbólico de Alexandre Herculano. Coincidentemente (?), do poema D. Pedro, que, informa aquela matéria, era de seu particular agrado, eu havia citado alguns versos no meu opúsculo.
Tais fatos deixaram-me comovido. Permiti-me, pois, render singela homenagem à memória do Dr. Oliveira Marques e à de nosso patrono (com perdão do brasileirismo).
Com fraternal abraço, saúdo-vos.

Francisco Elói Moreira