terça-feira, 16 de setembro de 2008

A carroça

Certa manhã, meu pai convidou-me a dar um passeio. Em dada altura deteve-se e, depois de um pequeno silêncio, perguntou-me:
- Além do cantar dos pássaros nas árvores, ouves mais alguma coisa? Apurei os ouvidos durante mais alguns segundos e respondi:
- Sim, oiço uma carroça.
- Isso mesmo – disse o meu pai. É uma carroça vazia.
Perguntei-lhe:
- Como sabes que está vazia, se ainda não a vimos?
- Ora – respondeu-me. É muito fácil saber que uma carroça vai vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia, mais barulho faz.
Tornei-me adulto e, até hoje, quando oiço uma pessoa a falar demais, a gritar, a intimidar, a tratar o próximo com grosseria, prepotente, a interromper as conversas de toda a gente e a querer demonstrar que é a dona da razão e da verdade absoluta, parece que ainda me ecoa nos ouvidos a voz do meu pai:
- Quanto mais a carroça está vazia, mais barulho faz.
E a sabedoria dessa voz, que o tempo não consegue esbater, junta-se ao conforto que sinto a partir do momento em que franqueei as colunas da nossa Augusta Ordem, por onde perpassam o silêncio sábio, a fraternidade, a tolerância no sentido da compreensão, a igualdade entre todos os Irmãos, a procura dos caminhos da verdade que antecipadamente sabemos não poder alcançar mas que porfiadamente perseguimos.

Conto simbólico por: Álvaro

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