terça-feira, 8 de setembro de 2009

Thomas Arne - Nome Simbólico

Thomas Arne nasceu no seio de uma família de estofadores, em Londres, em Março de l710 e morreu na mesma cidade em 5 de Março de 1778. Thomas Augustine Arne teve uma educação católica e, para agradar à sua mãe, uma devota senhora, escolheu, ainda em criança, o seu segundo nome: Augustine. Católico, apaixonado desde muito cedo pelas Musas de Orfeu, venceu o desejo do seu Pai, que queria ele seguisse advocacia, motivo por que o Pai o pôs a estudar em Eton. No início da sua carreira debateu-se com algumas dificuldades por não poder exercer cargos musicais na Igreja Anglicana, cargos que abriam sempre, como também na Igreja Católica, noutros países, evidentemente, muitas portas. Mas, neste caso, estamos perante a tolerância dos inventores do liberalismo… Homem dedicado, rebelde, perseverante e até precipitado por vezes, venceu. Triunfou, e triunfou merecidamente! Rodeou-se de figuras da música e usou, se assim se pode dizer, a sua família. Ensinou canto à sua irmã Susannah, que veio a ser um célebre contralto e ao seu jovem irmão Richard, os quais cantaram em muitas das suas obras.
Em 1734 Susannah casou-se com o dramaturgo Theophilus Cibber, razão por que, enquanto cantora, ficou conhecida pelo nome de Mrs Cibber. Em 1737, Arne casou-se com Cecilia Young, uma cantora famosa, um soprano, que cantara muitas vezes nos elencos händelianos. Durante os dez anos que se seguiram ao casamento, Cecilia cantou nas óperas do seu marido. Como se pode ver, o nosso homem rodeou-se de talentos musicais e teatrais.

Um nota curiosa deste ambiente artístico do século XVIII. Susannah, a irmã de Thomas Arne, separou-se do marido, fugindo com outro homem, alegando que o marido a tratava mal, e o nosso homem também se separou, legalmente, da sua mulher Cecilia, alegando que ela endoidecera. Esta, por seu turno, alegou que ele tinha constantes relações extra-matrimoniais. Arne pagou-lhe uma razoável pensão…, às vezes! Ela teve de recorrer. Depois da separação, Thomas começou uma relação com uma jovem aluna de canto, Charlotte Brent, também um soprano. Parecem tempos modernos. O século XVIII foi um século, realmente, iluminado, o século do Aufklärung, “à frente”, como diriam hoje os jovens, isto sem estar a promover a separação. Aliás, no último ano da vida de Arne, ele e a mulher reconciliaram-se, mas O Tempo, essa figura mitológica, muito ao gosto do classicismo, não deixou que ficassem juntos mais anos. Foi apenas uma nota para dar o tom da época.

Em 1738, Arne, já no auge da carreira, foi um dos membros fundadores da Society of Musicians, mais tarde chamada Royal Society, juntamente com Händel, com William Boyce, e com Johann Christoph Pepusch.
Entre muitas outras, a ópera Alfred, de 1753, anteriormente, uma máscara estreada em 1740 para o Príncipe de Gales, Frederick e, posteriormente, em 1745, tocada em versão de oratória, foca a figura do Rei Alfred, rei do século IX, que combateu os invasores Dinamarqueses…, os Vikings. Patriotismo? Referência à Maçonaria “renascida”, “rejuvenescida” nas Ilhas Britânicas? A música, a literatura e o teatro serviram sempre de veículo de cifras que, de outro modo, não poderiam ser difundidas. Dois séculos antes, o próprio Shakespeare…

Escutemos o final da ópera Alfred, de Thomas Arne. Temos um coro, pelo conjunto dos cantores, intercalado com solos.
Pois é, é o Rule, Britannia, na sua versão original, composto sobre o texto do poeta e dramaturgo escocês James Thomson. De uma graciosidade virtusosa que só os ingleses conseguem na música, não? Embora Thomas Arne tenha adoptado algumas regras da ópera séria italiana, foi, juntamente com William Boyce, um dos expoentes máximos da música britânica deste século XVIII. E Arne fez história, nem que fosse apenas pelo Rule Britannia…
Não se confunda este belo coro e solos com o Hino Nacional Britânico, o God Save the Queen, ou… the King, consoante as circunstâncias…
Os segmentos instrumentais revelam-nos uma graciosidade, um raffinement, que não é aquele a que estamos habituados quando escutamos o Rule, Britannia! A versão difundida, por exemplo nos Concertos Prom, no Royal Albert Hall, é uma versão patrioteira, mas não patriota, do nacionalista século XIX e, por isso, berrada e medonha… Arne compô-la como ouvimos, com ligeireza e graça. Em primeiro lugar, é o gosto do elegante século XVIII, já a caminho do rococó, em segundo lugar, Thomas Arne queria exaltar o povo britânico, mas como…? Arne foi uma Maçon e esta ópera, na sua primeira versão de 1740, a de uma Máscara intitulada Alhtred, foi, como acima referido, encomendada por Frederico, Príncipe de Gales, ele também um Maçon. Que possíveis conclusões podemos, então, tirar do Rule, Britannia, Britannia Rule the waves, Britons never, ever, ever shall be slaves. Na versão que escutámos, em vez de shall, como escrito no poema, ouvimos will. Quem serão estes livres homens que nunca se deixarão escravizar? Os britânicos, com certeza, mas numa referência aos Maçons em geral? Muito possivelmente. Daí também a necessidade da harmonia…
Artaxerxes, “An English Opera”, como foi anunciada na estreia de 1762, foi talvez a ópera que ficou na História, como sendo a sua melhor obra, mas convém lembrar que muitas delas perderam-se ou chegaram até nós incompletas. A dada altura, Artaxerxes, príncipe e, mais tarde, Rei da Pérsia, canta uma ária que começa com o seguinte verso: “Mesmo que uma nuvem convidativa esconda o Sol, ele está lá presente, com as suas chamas!”

Arne ficou conhecido também pelo nome de Doctor Arne porque, em 1759, a Universidade de Oxford concedeu-lhe o título de Doctor of Music, daí muitos panfletos terem anunciado concertos seus do seguinte modo: “Dr. Arne at Vauxhall Gardens,” um dos jardins onde se tocavam concertos no Verão e para o qual Thomas Arne foi o compositor oficial desde 1745, com algumas interrupções. As classes médias consolidavam os seus haveres e instalavam-se confortavelmente. Passeavam pelos jardins (parece que os Verões nessa altura eram melhores em Londres…) e iam aos concertos pelo fresco da tarde. Parece agradável!
Thomas Arne, enquanto homem livre e consciente, foi um dos primeiros homens a bater-se pelos Direitos de Autor. Em 1741, data do nascimento do seu filho Michael, o único que viria a ter, Thomas Arne ao pôr um processo em tribunal anunciou, e citamos: “Dado que Mr Arne tem, de Sua Majestade, registada a Real Patente para imprimir e publicar as suas obras, humildemente agradece que nenhuma Senhora ou nenhum Cavalheiro encorajem cópias piratas” sic e continua, mais adiante: “E como o Mr Arne está longe de querer ofender, nos seus legítimos direitos, seja que dono de loja for, torna público que quem plagiar ou imprimir as suas obras, será processado segundo a Lei”. Homem de fibra!

Para finalizar, devo explicar as razões pelas quais escolhi este nome simbólico, o gosto pela música de Thomas Arne, foi, sem dúvida, uma delas; o facto de ele ter sido um freemason, com certeza, mas, talvez, e sobretudo, o facto de se ter batido firmemente pela defesa dos Direitos de Autor porque se existe uma Catedral em que todos nós, em conjunto, anonimamente, trabalhamos, há uma outra, que é o nosso próprio templo e esse tem nome, devemos protegê-lo.

Autor: Thomas Arne

3 comentários:

Anónimo disse...

O texto pode ter uma história, o texto pode contar uma história de uma vida humana, mas não se entende a ligação maçónica do mesmo.
Lamento.

Augustus disse...

Sim efectivamente, não se entende qual a ligação deste texto para com a maçonaria, pode até Thomar Arne, ter sido maçon, pode, não sabemos. Mas mais parece uma telenovela mexicana o seu texto, desde e perdõe-me a sinceridade e o livre pensamento.
Augustus

Raúl Mesquita disse...

Caro Anónimo: Agradeço a sua visita. Talvez se ler de novo a prancha, descubra a ligação maçónica desta "história".

Caro Augustus: Como já referi, Thomas Arne foi um Maçon tal como Mozart o foi. Se duvidamos dos registos da época, então teremos de duvidar do "Facto Histórico" em si. Quanto a telenovelas mexicanas, não lhe posso, de boa fé, responder pois nunca vi telenovelas. E não peça perdão pela "desde e perdõe-me", como diz, sua sinceridade e pelo seu livre pensamento, são o que de maior temos!

Aos dois comentadores que tiveram a gentileza de me dar, em dias seguidos, algum do seu tempo, embora o "post já aqui estivesse publicado há bastante: Lamento não conhecer a vossa identidade, mas terão as vossas razões.

Raúl Mesquita.