terça-feira, 27 de outubro de 2009

Nome Simbólico: Rudyard Kipling

Quando nos anos 60 o meu pai foi nomeado para uma comissão de serviço em Moçambique, antes de partir deu-me uma cópia do poema “ SE “ de Rudyard Kipling, e disse-me para me orientar pelos seus ensinamentos...
Eu assim fiz, li-o e interpretei-o à luz da minha juventude, e desde essa altura sempre o SE me acompanhou até aos dias de hoje. Ainda me lembro de chegar ao fim “… então sim, és um Homem meu filho…” e achar que afinal para vir a ser um homem teria que fazer muito mais por mim e pelos outros, do que o que até então julgava se limitaria a estudar, ter uma profissão e casar.
Ainda hoje presente, pois por baixo das tecnologias, as nossas virtudes e fraquezas permanecem, e quem as compreenda (… sem querer ser superior nem bom demais…) está no caminho para o aperfeiçoamento. Sinto que de tanto ler e reflectir o SE de Rudyard Kipling, , não só influenciou a minha maneira de estar e de ir subindo os degraus da vida (…se souberes sonhar sem viver de sonhos…), como me predispôs a olhar duas vezes para as coisas (…se souberes tratar o triunfo e o desastre como impostores que são …) e valorizar sempre o lado humano das situações. Com efeito apesar da minha formação e quase toda a minha actividade profissional, terem sido em áreas técnicas, foi justamente o olhar para as pessoas por trás da máquinas e dos papeis, o colocar-me nos seu sapatos, (…se contigo contarem mas sem de ti disporem…) o não só falar, mas acrescentar às situações,e às acções dos outros (…se souberes preencher o minuto que passa …), dizia foram todos estes valores pessoais que me ajudaram a acrescentar valor ao que vivi e, creio eu, a ser um homem. Estes meus princípios, a partir dos quais me propus a minha melhoria pessoal aquando a minha Iniciação Maçónica, levaram-me à escolha natural do meu nome simbólico.

Joseph Rudyard Kipling, nasceu em Bombaim em 1865, filho de um Maçon, John Lockwood Kipling que tinha ido para a Índia como Director Principal duma Escola de Artes. A sua infância foi infeliz e conservadora: aos 5 anos de idade Rudyard é levado pelos pais para Inglaterra para viver com uma família adoptiva, que o faz seguir para o Colégio United Services, onde faz a sua escolaridade. Acabado o colégio, regressa à Índia e logo entra como membro da redacção da revista “ Gazeta Civil e Militar” em Lahore. É aí que Kipling redescobre a sua terra natal, e se descobre começando adesenvolver sua escrita. Dizia que, depois do fecho da revista se escapulia para a zona velha da cidade para sentir o místico da atmosfera colorida e dos seus antigos, ganhando uma capacidade de absorção do histórico por osmose, que lhe permitiu interiorizar vivências de situações e sensações, matéria bruta essa que vai polir ao longo de meio século de produção literária. Na sua biografia é mencionada a Maçonaria como a via que lhe permitiu o acesso aos vários estratos da sociedade; a Maçonaria Livre era um culto que transcendia castas e sectores sociais, e era o único espaço, num país fortemente selectivo e hierarquizado, onde aderentes de diferentes religiões se podiam encontrar. A sua estadia na Índia durou até 1889, após o que regressa a Inglaterra onde se estabelece no meio literário.
Á medida que o seu génio ia sendo reconhecido, muitas honrarias lhe foram atribuídas, contudo Kipling humildemente, apenas aceita as de natureza literária, sendo em 1907 o primeiro escritor Inglês a receber o Prémio Nobel da Literatura.
A vida Maçónica de Rudyard Kipling, começa aos 20 anos de idade na Loja da Esperança e Perseverança em Lahore, onde colabora como Secretário. Mais tarde em Londres é membro honorário de várias Lojas e é membro fundador da Loja dos Construtores das Cidades Silenciosas, loja ligada à Comissão de Pedras de Túmulo que usa uma inscrição de Kipling em todos os cemitérios que ornamenta com o dizer “ que os seus nomes vivam para sempre”.
Nos Estados Unidos Kipling recebe o Laureato de Poesia em Edimburgo, onde se forma uma nova Loja, e é também membro da “ Philalethes Society”, uma organização de escritores Maçons . Encontram-se reflexos da vivência maçónica de Kipling nas principais áreas dasua obra: Poemas maçónicos, tais como, A Loja Mãe, e A Noite do Banquete; Contos baseados na maçonaria como O Homem que queria ser Rei, e os relacionados com a Loja de Fé e Trabalho; E, ainda numerosas alusões maçónicas, que decoram muitos dos seus poemas e contos, de uma forma aparentemente casual. Rudyard Kipling usou a maçonaria, como a pedra base da sabedoria das suas palavras, da beleza da sua história, e da força e assertividade das suas narrativas.
O seu mais famoso poema SE, que se diz escrito por Kipling para o seu filho, é inspirado pela sua própria vida, os seus triunfos e desastres, e as suas relações com os outros. Kipling ao escrever o poema vem assim dar-lhes sentido ao passar a seu filho as suas conclusões, saberes e ensinamentos:

Se souberes estar sereno quando todos em volta
Estão perdendo a cabeça e te lançam a culpa;
Se estiveres confiante quando de ti duvidam,
Mas souberes desculpar que duvidem de ti;
Se fores capaz de esperar sem perder a paciência
E se, caluniado, a ninguém calunias;
Se quando te odiarem não odiares também,
Sem querer ser superior nem parecer bom demais
Se tu souberes sonhar e não viver de sonhos
E se souberes pensar mas sem deixar de agir,
E puderes defrontar o Triunfo e o Desastre,
Tratando-os por igual como impostores que são;
Se suportares ouvir verdades que disseste
Torcidas por velhacos para convencer ingénuos;
Se vires desfeito aquilo para que tens vivido
E o construíres de novo com ferramentas gastas;
Se és capaz de juntar tudo que tiveres ganho
Para tudo arriscar numa cartada só,
E se souberes perder e começar de novo
Sem palavra dizer da perda que sofreste;
Se consegues que nervos, braços e coração
Te vão servindo sempre mesmo já exaustos,
E se seguires para a frente quando já não tens nada
A não ser a vontade intensa de vencer!
Se com falar às massas não perderes a virtude
E de privar com Reis não deixares de ser simples;
Se amigo ou inimigo não puderem melindrar-te;
Se contigo contarem mas sem de ti disporem;
Se souberes preencher o minuto que passa
Com sessenta segundos utilmente vividos,
É tua a Terra inteira e tudo que ela tem
E – o que é mais ainda – és um Homem meu filho!

Autor: Rudyard Kipling

2 comentários:

Raúl Mesquita disse...

Meu Caro Kipling:

O teu texto está extraordinariamente bem construído. Conta a tua pessoa, a partir de excertos bem escolhidos do poema, revela Kipling, acende a Luz da Humanidade, incita à coragem, à mais difícil de todas: a de nós nos vencermos a nós mesmos! Não foi por isso que Orfeu perdeu a Eurídice? PARABÉNS, Querido Amigo! Raúl Mesquita.

Anónimo disse...

Exeelente poema!!! bem escolhidoo!!!!