terça-feira, 29 de dezembro de 2009

“O Iniciado Fernando Pessoa IV”

"Deixei enquanto iniciado que o meu olhar subisse e percorri, com o mesmo olhar melancólico, a sala que mais parecia um santuário sagrado pertencente ao Mundo Antigo e passei em revista a Assembleia de irmãos que me rodeavam e ia pensando que enquanto iniciado era, pessoa pouco significante naquela sala que era um quadrado e no seio daquelas quatro paredes”

Fernando Pessoa eminente defensor das ideias maçónicas conjugadas com o progresso social e a valorização humana, toma como principal fonte das suas obras e das suas intervenções os mistérios maçónicos, os princípios sociais e o amor ao próximo que se torna evidente pela vida que leva, pelos países onde residiu, pelos seus escritos e pelos heterónimos.
Será sempre um exagero, mas torna-se bastante encorajador procurar uma relação de ideias e princípios entre o Grande Fernando Pessoa e a simples pessoa que eu sou. Porém num sentido lato no que respeita ao trajecto e á vida do Fernando Pessoa e num caminho mais reduzido e também mais curto, que é o meu, considero que ambos procuramos combater o erro e procuramos o bem da humanidade!

Fernando Pessoa afasta-se cada vez mais dos caminhos da religião tradicional, longe da igreja organizada, segue uma via pessoal, sentindo a necessidade de percorrer um caminho iniciático, definindo-o como um estádio neo-pagão, que influencia a produção dos seus heterónimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e António Mora. A questão humana dos heterónimos, tanto ou mais que a questão puramente literária, tem atraído as atenções gerais. Concebidos como individualidades distintas da do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios. Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a estranheza da existência. Traduzem, por assim dizer, a consciência da fragmentação do eu, reduzindo o eu «real» de Pessoa a um papel que não é maior que o de qualquer um dos seus na existência literária do poeta. Assim questiona Pessoa o conceito metafísico de tradição romântica da unidade do sujeito e da sinceridade da expressão da sua emotividade através da linguagem.

Seria Fernando Pessoa Maçon?Porventura uma pergunta sem uma resposta afirmativa. Contudo se nos debruçarmos e revisitarmos a sua vida, as suas obras e a sua luta damo-nos conta facilmente que tudo indica que o tenha sido sem que hajam escritos que o testemunhem. Para Fernando Pessoa a Maçonaria compõe-se de três elementos: o elemento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal; e o elemento a que chamou humano – isto é, o que resulta de ela ser composta por diversas espécies de homens, de diferentes graus de inteligência e cultura.
No elemento iniciático e o fraternal, onde reside essencialmente o espírito maçónico, a Ordem é a mesma sempre e em todo o mundo. No elemento humano, a Maçonaria – como aliás qualquer instituição humana, secreta ou não – apresenta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de Maçons individuais, e conforme circunstâncias de meio e momento histórico, de que ela não tem culpa. Nesta perspectiva, toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só ideia – a "tolerância"; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto se chama "doutrina maçónica" são opiniões individuais de Maçons, quer sobre a Ordem em si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo profano.
Deixemos a Maçonaria aos Maçons e aos que, embora o não sejam, viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz. Deixe a Antimaçonaria àqueles Antimaçons que são os legítimos descendentes intelectuais do célebre pregador que descobriu que Herodes e Pilatos eram Vigilantes de uma Loja de Jerusalém.

(E) foi então que, para te vingar
E à maneira de santo, os arreliar
Desceste mansamente à terra
Perfeitamente disfarçado
E fizeste entre os homens da razão
Um milagre assignado,mas cuja assignatura se erra
Quando em teu dia,
S. João do Verão,
Fundaste a Grande Loja de Inglaterra.
Isto agora é que é bom,
Se bem que vagamente rocambolico.
Eu a julgar-te até catholico,
E tu sahes-me maçon.
Bem, ahi é que ha espaço para tudo,
Para o bem temporal do mundo vario.
Que o teu sorriso doure quanto estudo
E o teu Cordeiro
Me faça sempre justo e verdadeiro,
Prompto a fazer fallar o coração
Alto e bom som
Contra todas as fórmulas do mal,
Contra tudo que torna o homem precario.
Se és maçon,
Sou mais do que maçon - eu sou templário!

Autor: Fernando Pessoa, IV


2 comentários:

A Lusitânia disse...

Obrigada pelo texto e informação nele contida.

Anónimo disse...

boas; podes crer que ele era Maçon.