quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Câmara de Reflexão

Câmara de Reflexão por Carmen-Lara
As iniciações remontam aos primórdios da humanidade, estando essencialmente associadas a ritos de passagem.
Geralmente nos objectivos das iniciações estão a aprendizagem de valores fundamentais para a vivência de um nível seguinte. Na Maçonaria, a Câmara de Reflexão surge como “peça” fundamental no processo de iniciação. Cuidadosamente dissimulada e fora do conhecimento dos profanos apresenta normalmente uma entrada discreta e de dimensões reduzidas, assemelhando-se no possível a uma gruta, túmulo, ou interior da terra. Sendo a chave da iniciação do neófito na Maçonaria tem uma importância excepcional para o futuro Maçon,  pois é nesse local que o neófito efectua uma reflexão sobre a sua vida profana e o que deverá ser após admissão na Ordem. 

Assim, espera-se do candidato, no interior da Câmara de Reflexões, uma séria meditação, através da qual seja levado a entender a efemeridade das coisas terrenas e a importância dos bens espirituais. Sendo recebido à entrada do edifício da ordem, a introdução do candidato na Câmara tem uma simbologia especial, correspondendo à descida ao interior da Terra, ao mundo da matéria densa. Ao fazer-se passar o profano pela Câmara de Reflexão, espera-se que o isolamento, a envolvente e os objectos lá colocados possam proporcionar novos ensinamentos. Outro simbolismo muitas vezes associado à Câmara é o do feto no ventre materno, sendo que a estadia no local corresponderia ao tempo de gestação que antecede o nascimento. O embrião desenvolve-se, nascendo para uma nova vida. Tudo isto precedido do aspecto fúnebre simbolizando a morte do neófito para a vida profana. O isolamento e as paredes negras representarão a transição das trevas para a luz que constituirá o culminar do processo de iniciação. Por isso a finalidade da Câmara não será o de provocar medo ao neófito, mas antes o estado de clareza e receptividade a nível espiritual absolutamente necessário ao entendimento dos ensinamentos esotéricos inerentes à Iniciação. Na presença da morte todos os interesses de natureza material perdem todo e qualquer valor ficando a esperança concentrada na possibilidade de um novo nascimento. Torna-se assim extremamente importante que o neófito permaneça na Câmara, preferencialmente sozinho, durante o tempo que lhe permita reflectir sobre tudo aquilo que lhe é possível observar no local.

Autor: Gualdim Paes

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Zeca Afonso - Canção de Embalar




Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será pra ti 
ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis) 
Outra que eu souber na noite escura 
Sobre o teu sorriso de encantar 
Ouvirás cantando nas alturas 
Trovas e cantigas de embalar 
ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis) 
Trovas e cantigas muito belas 
Afina a garganta meu cantor 
Quando a luz se apaga nas janelas 
Perde a estrela d'alva o seu fulgor 
ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis) 
Perde a estrela d'alva pequenina 
Se outra não vier para a render 
Dorme que ainda à noite é uma menina 
Deixa-a vir também adormecer 
ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô ô (bis)


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Estrela D'Alva - 103.º Aniversário

“A região do Vale do Alva tem na sua história uma disputa entre três rios, o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos nascidos na Serra da Estrela. Estes três rios envolveram-se um dia numa grande discussão sobre quem seria o mais valente e acertaram numa corrida que esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor. 

O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda e pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim, pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra. O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo. O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde mas ainda a tempo de avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando de raiva, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico.” 

Esta lenda de Portugal encerra em si um tríptico simbolismo relacionado com a origem e fundação da Estrela D’Alva. 

Em primeiro lugar, a Loja nasceu em 1871 na cidade de Coimbra formada por um conjunto de maçons que viviam, tinham valores e princípios morais éticos, sonhavam com uma sociedade mais justa e fraterna, e segundo dados históricos com relevância na região do Vale do Alva com as suas funções profissionais, universitárias e de família, mantendo a sua actividade nesta cidade até 1912. 

Em segundo lugar, a região do Vale do Alva embora seja uma região serrana com as adversidades da natureza e de formação territorial, nunca impediu que as gentes que viviam, e vivem na região se deixassem abater por essas contrariedades, foram gentes que lutaram pelo progresso, pela evolução e com valores determinados em prol dos mais desfavorecidos, da justiça, da igualdade e com vasta intervenção social e de cidadania. 

Em terceiro lugar, existe a ligação ao nome Alva como uma homenagem às gentes da região, existe mesmo uma localidade na região como o nome: Estrela de Alva; por outro lado, serviu para a ligação do mundo terreno ao celeste, através da estrela mais próxima do planeta Terra, que se tem chamado popularmente de Estrela Vespertina, Estrela Matutina, Estrela do Pastor ou Estrela d'Alva. 

Mas, outros significados mais simbólicos têm este nome e esta lenda. Na lenda estão plasmados valores, princípios, símbolos que são interiorizados pelos Maçons, senão vejamos: a determinação de lutar, progredir, vencer, a honra, o caminho a percorrer. Tem o simbolismo dos elementos da natureza, da terra, água, ar, numa viagem feita com o objectivo de conhecer outras realidades, o chegar ao mar imenso e por conhecer, por que não, outros mundos, foi do mar que partiram os Descobrimentos.
Tem o conhecimento, a procura da geometria do espaço e a ligação à astronomia, a divagação com a ligação à filosofia, a poesia para as artes, o sonho na demanda do mundo melhor, pois como diz o poeta: o sonho comanda a vida.
Por fim, e não menos importante, a disputa por chegar mais longe, o desbravar o caminho, é feita por 3 irmãos que em igualdade, partem na demanda do conhecimento e de outros mundos.

Pelo saber de hoje, o nome “Estrela D’Alva” dado a uma Loja em Portugal remonta a ano de 1871, perfazendo 140 anos de existência. Por perda de elementos para garantir a transmissão iniciática, a actual Loja Estrela D’Alva é herdeira de 103 anos de trabalho, irradiação da Luz, mantendo-se activa e regular desde 1908 sem qualquer interrupção ou abatimento, mesmo nas dificuldades e agruras da clandestinidade. 

Nestes mais de 100 anos de trabalho em que o testemunho foi passando por gerações e que foram atravessados por múltiplos acontecimentos, como a Implantação da Republica, Estado Novo e a sua Ditadura, a privação da Liberdade e dos Direitos Humanos, a clandestinidade, uma guerra colonial, o alvorecer da Liberdade em Abril de 74, temos que prestar a nossa homenagem aos Maçons que nos antecederam, pela grande competência e extraordinária dedicação aos valores da Maçonaria e por manterem as colunas bem erguidas e irradiar com esplendor e brilho a Liberdade, a Justiça, a Verdade, a Honra e o Progresso.
Renovamos os agradecimentos pela Honra que nos deram com a vossa presença nas nossas comemorações e como o objectivo da Maçonaria é o da procura da Verdade nos seus mais variados aspectos e utiliza como linguagem, fundamentalmente, a linguagem simbólica, apelamos-vos, por isso, para que conjuntamente trabalhemos na construção do Templo para que seja possível atingir a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade Universal. 

Saúde e Fraternidade! 

Autor: Júlio Verne

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Gustavo, apresento-me

A data estava marcada com hora incerta para o momento final. 
No entanto, eram exactamente meio-dia, do dia 24 de Maio de 2002, quando me foi pedido para entrar numa sala e aguardar.
Era a primeira vez, desconhecia por completo aquele ambiente, era como se estivesse de olhos vendados. O lugar era frio, sinistro e deveras impressionante, ambiente propicio a meditação e pensamento. 
Não estava sozinho, mas sentia-me só, estou acompanhado com mais duas pessoas que não conheço mas que esperam pelo mesmo acontecimento. Envolvidos todos na mística que nos rodeia, não conseguíamos disfarçar o nervosismo que impera neste espaço.
Sozinho na minha espera, a ansiedade apoderou-se de mim, pensei por longos momentos, que tudo iria mudar na minha vida e o quanto prestes estava para acontecer. Estou a breves momentos, de triplicar a responsabilidade que faz de mim um homem de bons costumes e com o dever de transmitir aos outros valores sociais tão importantes como a justiça, respeito, honestidade e rectidão. 
Ruídos estranhos e barulhos constantes rompem pelas brechas da porta que me separa da acção, .…. são ecos longínquos que vão despertando os meus medos e receios. 
Algum tempo depois, entra alguém com um formulário de poucas e concretas perguntas para preencher. Sentei-me na mesa colocada de frente do janelão espelhado, aproximando-me do candeeiro com lâmpadas em forma de vela para que a escrita fosse perfeita. Á medida que preenchia a minha mente refugiava-se em Deus e na minha Família. Naquele momento nada era importante, dinheiro, bens materiais e tempo, eram coisas fúteis, a situação assim o proporcionava, era só eu e os meus pensamentos de reflexão para com o mundo, na esperança que tudo corresse bem. 

Tudo o que queria saber, era o que se passava lá fora ou lá dentro, perto do acontecimento, pensava em tudo e em todos, dava a volta ao meu mundo num curto espaço de tempo, como se estivesse a definir e redefinir a minha pessoa. Estava a acusar a responsabilidade de nove meses de preparação para um novo amanhã. 
Também pensava em todas as pessoas do mundo, pessoas com dificuldades, pessoas que nunca lhes foi dado uma oportunidade para sorrir como eu espero sorrir, pessoas que levaram uma vida recta e nunca puderam saborear uma situação fraternal. Enfim, pessoas de outro contexto, com vidas complicadas. 
Estava na eminência de alterar a minha vida, iriam chamar-me a qualquer instante e não sei se estou preparado para agarrar o que me espera ou para o que esperam de mim. Mas naquele momento estava decidido a consolidar tudo o que de bom me ensinaram para ser capaz de o difundir junto dos que amo. O relógio era o objecto, entre os outros da sala, o mais olhado, as horas pareciam intermináveis, tornando-me pequenino por não poder de controlar o momento. São nestas alturas que damos valor ao que temos e ao que queremos manter a todo custo, pois nada é garantido, tudo é efémero. Percebemos que a vida é uma passagem e todas as decisões tomadas definem-te o homem que és. Encontras-te num momento de auto-critica, deveras pesado para quem vai assumir um novo cargo na sociedade. 

Eis que sou chamado, cego pela escuridão e sem noção do espaço pelo qual caminho, aproximo-me daquilo que hoje sei ser, o lugar do acontecimento, trémulo e sem controlo no discurso, fui respondendo e validando as informações que apresentei anteriormente, e tentando discretamente saber o que se estava a passar de forma a confortar-me. 
Sentia um ambiente carregado de pressão sobre mim, como se me estivessem a avaliar na prova da minha vida, e continuavam a não me dar novidades, só queria era que tudo terminasse em bem.
De volta á câmara ou á sala de espera da maternidade, já não tenho posição de estar, os ruídos continuam do outro lado da porta,, e agora sinto que estou perto de o ver, passado algum tempo, a hora da verdade chegou. 

É meia-noite, chamaram-me e mostraram-me a Luz da minha vida.  
Eu tornara-me Pai de um menino que acabou de nascer com 3,4kg de seu nome Gustavo.
Curiosamente, passado 3 anos, passei pela mesma prova de fogo, desta vez de um modo diferente. Fui convidado a nascer de novo, aprendendo a trabalhar espiritualmente e a comungar de uma elite, onde todos os valores que tento transmitir são as colunas do meu carácter, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 
Hoje todos os meus irmãos me reconhecem como …. Gustavo.

Autor: Gustavo