terça-feira, 29 de março de 2011

O meu nome é Fidel Eduardo

Este é o primeiro trabalho desde que fui reconhecido Maçom: Felicidade de pertencer a tão fraterna e livre família!
A experiência de ser iniciado Maçom é de uma infindável miscelânea de sentidos e sentimentos, alguns introspectivos e de análise crítica do nosso “EU”, outros, humanistas e de cidadania, e ainda outros de mudança, de evolução e de sentimento de pertença que só irei esquecê-los quando partir…
Foi-me sugerido, na altura, que pensasse num “nome simbólico” com o intuito de proteger a minha identidade no mundo profano. Pareceu-me uma tarefa bem simples e fácil… contudo, após ter a percepção do simbolismo real, da emoção que aplicamos na sua feitura, da grandeza simbólica de um nome e do seu impacto na minha vida de Maçom… percebi afinal, que era uma empreitada exigente e difícil que merecia da minha parte um envolvimento e empenho que estivesse ao nível de tal desafio. Listei nomes, procurei na Internet, falei com vários Irmãos, e a verdade, é que não conseguia encontrar um nome… um nome que desse simbolismo… que representasse, aquilo que eu sentia ser importante interpretar! Um nome que falasse de mim, do meu “EU”, da linha de vida percorrida, das minhas lágrimas e sorrisos, deste chão que pisei ontem, que piso hoje e que pisarei amanhã! Um nome que condensasse em 5 ou 6 letras o meu mundo interior e envolvente! Para reduzir a abrangência da procura, decidi introduzir características nos nomes a procurar, pelo que decidi que o “meu” futuro nome, deveria cumulativamente ter as seguintes características:
• Simbolizar a FRATERNIDADE, valor (que para mim é) supremo e em que todos nos revemos.
• Teria de ter uma relação directa com o meu mundo, com a minha história, com as minhas memórias.
• Ser o nome de um homem por mim reconhecido como um homem, integro, justo, esclarecido, bondoso e lutador.
• Ter uma vida… uma existência em que ela própria fosse um símbolo… e ao mesmo tempo um exemplo.
• E por fim esse nome deveria tocar-me na minha essência…Trazê-lo no meu coração.

Esse homem, que partiu, que 33 anos antes, me viu nascer, da sua semente e do seu amor… só podia ser o meu Pai! Não era reconhecido Maçom… Não era iniciado… Não era Irmão… Mas hoje vejo e reconheço, que a sua vida no essencial, foi um exemplo que eu devo seguir como verdadeiro e hoje reconhecido Maçom. Quero por isso hoje aqui, exortar o seu nome e lembrar cada gota sangue que vendeu para suportar a pobreza que nos era imposta… Quero exortar a sua memória, para não esquecer as noites não dormidas a trabalhar 8, 12, e 14 horas, para que o pouco não fosse nada. Quero lembrar a sua voz de alento, que em coro com a minha mãe me transmitia, amor, confiança e segurança. Quero erguer no nosso templo, todos os dias o seu nome, quando por mim os meus irmãos me chamarem, de forma que esteja presente o seu carinho, rude mas sincero, envergonhado mas verdadeiro, distante mas atento, discreto mas presente. Quero lembrar-me das suas cavalitas… dos seus ensinamentos que me fizeram o homem que sou hoje!

O meu Pai, sempre me olhou com amor… mesmo zangado… os seus olhos não conseguiam deixar de me amar. Ahh…o meu Pai Fidel … sim o meu Pai, carteiro de profissão, dador de sangue profissional, homem do povo com lancheira, pobre, a trabalhar por turnos e horas extraordinárias infinitas que pouco dinheiro produziam… O meu Pai Fidel lutou, essencialmente por nós… O meu querido Pai… deixava de comer pelos 4 filhos! Tentava com a sua voz de Homem Grande que era, falar baixo para não nos acordar… afinal, ele gostava de nos ver dormir!O meu Pai era um Homem Bom… um homem com valores morais, com princípios, com ética, com carácter e personalidade que eu hoje, e em toda a minha vida quero lembrar e honrar.

Ainda o Amo e quero lembrá-lo mais vezes…Por isso escolhi o seu nome, Fidel Eduardo… Lembrem-no comigo… Ele merece!

Autor: Fidel Eduardo

terça-feira, 22 de março de 2011

Vencit Omnia Veritas

Veritas
Ah, isto de ter Irmãos,
Uma família Universal,
Que por sinais que nos são familiares,
Por palavras que nos tocam
E nos chamam como fogo
Em noites de Inverno,
E toques como os da amizade
Que nos une e nos dá a Força
E a Vontade de ser maior e melhor,
Na Beleza dos usos e costumes.
Viajantes de sol e de lua,
Sonhos de mundos a que se chega,
Se abraça e se sente
Reconhecido como tal,
Sabedoria que esconde
A Fraternidade Universal;
Em pedra cúbica fechada
Que também pode ser piramidal,
Alçada pelo esquadro e pelo compasso
Nivelada pelo cinzel e pelo maço,
Traçando nela um novo rumo
A que nos leva o fio de prumo.

Ah, isto de ser América, Ásia, Africa, Oceânia
De ser todos os povos num só dia,
E de ser livre como a águia
E enfrentar de frente o sol
E de pousar no cume da montanha,
De a sobrevoar e descer ao vale
Morada do cubo, piramidal;
E abrindo a pirâmide
Vendo nela a cruz do templo,
E abrindo o cubo
Vendo nele a cruz da rosa,
Ouvindo o galopar de cavalos
Ao pulsar dos nossos corações
E na sombra destes, cavaleiros
Ganhando novas dimensões.

Este sentimento universal
Que é ser homem, pedreiro-livre,
Ser Irmão.

Veritas espelhada
No branco e no negro,
Onde demos os nossos primeiros passos.

Autor: Jónatas

terça-feira, 15 de março de 2011

Fernando Valle, Um Homem Um Maçon

Quando me foi pedido para indicar o nome simbólico, não hesitei um segundo a referir o nome de “Fernando Valle”, pretendendo assim prestar homenagem ao Homem, ao Humanista e ao Médico, que foi o Dr. Fernando, esperando também que com a vossa ajuda seja sempre digno de pronunciar o seu nome. Conheci o Dr. Fernando do Valle, no final da tarde do dia 08 de Junho de 1954, quando assistiu ao meu difícil nascimento no Hospital de Arganil, na altura Hospital Condessa das Canas. O parto não correu bem, nasci antes de tempo e a minha mãe esteve ás portas da morte. Após o parto, o meu pai que se encontrava no Hospital, sentado num corredor, foi chamado de urgência ao gabinete do médico. O Dr. Fernando, entrega-lhe uma receita e ordena-lhe: “Vai de imediato à farmácia e traz-me este medicamento”. O meu pai triste, olha para ele e diz-lhe: “Senhor Doutor, não trago dinheiro comigo”. Este responde-lhe: “Ó homem não te falei em dinheiro, diz ao farmacêutico que fui eu que mandei, não te preocupes com o pagamento, ou queres que a tua mulher morra”.

Este foi o primeiro episódio que eu, ainda muito novo, ouvia o meu pai contar, sempre com grande emoção, e, por vezes, com os olhos rasos de lágrimas, relatando aquela época difícil, até mesmo de miséria. Hoje, quando passo junto da casa do Dr. Fernando em direcção á minha terra, vem-me à memória a gratidão sentida que o meu falecido pai lhe tinha. O tempo foi passando, contudo a gratidão nunca foi esquecida, nem o Dr. Fernando se esqueceu de nós, pois, quando a minha mãe o visitava ou o consultava, perguntava-lhe sempre: como está o nosso rapaz?
Certo dia o meu pai foi ter com o Dr. Fernando a fim de este lhe passar um atestado para eu poder entrar na escola primária antes dos sete anos de idade, (era obrigatório na altura). Olhou para o meu pai com aquele sorriso característico dele e pergunta: “como vai o nosso rapaz ?”. E seguidamente, um pouco triste, diz-lhe: “Não te posso passar o atestado pois é competência do Delegado de Saúde de Arganil”, contudo acrescentou: Vai ter com o Dr. Batista para te passar o atestado. Não lhe digas que falaste comigo. O atestado custa 40 escudos. Precisas de dinheiro?. Os anos foram passando, contudo os meus pais nunca deixaram de o visitar ou consultar, com excepção de algumas vezes não o poderem contactar por motivos publicamente conhecidos. Estava eu a cumprir o serviço militar em Coimbra, tinha conseguido uma boleia num camião da fábrica de cerâmica de Coja, de Coimbra para aquela localidade, quando desci do camião junto ao Café Central, vi o Dr. Fernando sentado a uma mesa. Dirigi-me a ele para o cumprimentar. Ele olha para mim e diz-me: “Eu conheço-te?” Quando lhe digo que era de Vila Cova e tinha muito prazer em cumprimentá-lo, diz: “És o filho da Normélia”; rindo para mim com aquele sorriso quase angélico que o caracterizava, acrescenta: “Como vais rapaz ?. Sabes: ainda hoje me pergunto como é que vocês não morreram naquele hospital”.

A primeira vez que ouvi falar que o Dr. Fernando era maçon, tinha eu cerca de nove ou dez anos de idade, através de um episódio que passo a citar: Certo dia o meu falecido pai, na época das colheitas, andava a malhar centeio na eira e eu acompanhava-o naquela tarefa, fazia muito pó e eu apanhei uma infecção num dos olhos, como não passava e tinha muitas dores, fui levado pelo meu pai, a Coja, a casa do Dr. Fernando, aí, ele colocou-me umas gotas nos olhos e mandou-o levar-me novamente dois dias depois, a sua casa, pois estava á espera de uma pomada vinda de Coimbra, de nome “terramicina”, a qual “fazia milagres”, como na altura a título de graça o referiu. Passado um tempo o meu pai foi intimado pela GNR de Arganil para se apresentar em Coimbra na PIDE/DGS. Chegado aí foi confrontado com as seguintes perguntas: “O que tinha ido fazer a casa do Dr. Fernando duas vezes numa semana, pois achavam não ser normal. Se tinha um filho doente por que não se dirigiu ao hospital. E ainda se o meu pai pertencia a alguma sociedade secreta conhecida por maçonaria”. Era muito novo mas lembra-me o meu pai comentar com a minha mãe, relativamente a este episódio, o seguinte: “Porque não deixam o homem em paz?, “Eu sei lá de sociedades secretas, se é maçon ou não”. Não sei o que isso é. Que pertence à seita do Dr. Moura Pinto. Dizem que têm um pacto com o diabo e que matam pessoas, como é possível, se te salvou a ti e ao nosso filho”?. Os anos foram decorrendo, houve a Revolução de Abril, vim para a capital, mas muitas vezes me lembrava deste e outros episódios, procurei livros sobre a maçonaria, fui lendo e durante muitos anos uma grande vontade de fazer parte desta Ordem Maçónica. Fiquei também a saber que o Dr. Fernando era o maçon mais velho do mundo, pois foi iniciado aos vinte anos, tendo falecido aos cento e quatro anos de idade.

São alguns dos muitos episódios que me marcaram relativamente a este Grande Homem que foi o Dr. Fernando Valle. Não é por um sentimento de culto á sua personalidade, mas sim motivado pela grande gratidão que a minha família sempre teve para com ele, bem como os seus valores demonstrados e reconhecidos em toda a região de Arganil e no país, valores como a solidariedade, a fraternidade, igualdade e a justiça social, pelos quais sempre se debateu, tendo assim razão suficiente para adoptar o seu nome como meu nome simbólico.
Um trabalho simples e um Homem Simples!

Autor: Fernando Valle

terça-feira, 8 de março de 2011

A Maçonaria de dentro para fora

A Iniciação não é um fenómeno pontual e momentâneo, mas sim um processo, ainda que possa ser representada numa cerimónia. A Iniciação não se dá, provoca-se. Não é uma experiência sacramental ou mágica, mas sim um processo de aprendizagem psicológica. A Iniciação maçónica não é um caminho de salvação de caráter religioso ou esotérico, mas sim um processo de auto esclarecimento, e é compatível com qualquer fé religiosa ou esotérica que não anule a liberdade do indivíduo, assim como também é compatível – no caso da Maçonaria Liberal – com o agnosticismo e o ateísmo. Mas já não seria compatível com um posicionamento de nihilismo radical que negue qualquer sentido transcendente ou imanente ao mundo, que interprete o Universo como um puro caos sem ordem possível, que negue que, apesar da desordem aparente, haja um Cosmos. A Iniciação maçónica não é o único método de esclarecimento, apenas mais um. Existem outros, inclusivamente existem experiências vitais espontâneas que têm virtualidade iniciática por provocarem um aumento de consciência do indivíduo e uma atitude nova e mais responsável face à vida, como na maternidade e na paternidade, a compaixão pela dor alheia, a emoção estética, a criação artística e a experiência da morte. São experiências iniciáticas, não metódicas mas espontâneas. O método de Iniciação Maçónica está conservado nos rituais, que têm sido elaborados num largo processo de decantação histórica que guardam, cada um em seu estilo particular, uma específica “ecologia” emocional e simbólica, um subtil equilíbrio de gestos e de palavras que não pode ser alterado arbitrariamente. Mas o método maçónico não impõe uma unidade ideológica a quem o pratica… É um marco axiológico geral que admite e exige o pluralismo no seu interior. Baseia-se na funcionalidade dos símbolos construtivos, que articulam um imaginário emancipador da consciência individual, que torna cada Maçom resistente a qualquer manipulação simbólica. Por outro lado, a Loja Maçónica não é um grupo de pressão. Não atribui tarefas aos seus membros que condicionem as vidas privadas, a actividade profissional ou o desempenho de qualquer cargo público: cada um interpreta em consciência o seu compromisso maçónico. As Lojas Maçónicas não fazem proselitismo nem marketing para iniciar ninguém, mas podem dar a conhecer a sua existência. Ninguém é obrigado a guardar segredo da sua condição de Maçom. A Maçonaria não é uma organização clandestina. Todos os Maçons comprometem-se, pelo mero facto de o serem, a tentar viver como cidadãos exemplares. Por outro lado, a Maçonaria não é uma seita, já que não busca a submissão dos seus membros e nenhum guru ou líder, mas prepara para cada um dos seus membros um caminho personalizado até à Mestria. Não admite menores de idade nas Lojas e dirige-se a pessoas livres dotadas de autonomia. Não submete os seus membros a nenhum tipo de direcção espiritual. O método maçónico implica-nos racional e emocionalmente, apela ao nosso lado verbal-racional-consciente e também ao nosso lado não verbal-afectivo-inconsciente. A Loja, na Maçonaria Liberal, reúne a dupla condição de grupo iniciático e sociedade de pensamento. A Maçonaria não é um sindicato de interesses nem uma sociedade mútua, ainda que se comprometa a ajudar os seus membros, na medida das suas possibilidades e dentro do que é lícito. Também não é um clube social, ainda que em seu torno possam nascer vínculos de amizade pessoal e de relação social. Não é uma organização de caridade, ainda que possa apoiar a criação e a manutenção de actividades humanistas e de bem-estar social. Não compete com nenhuma confissão religiosa nem com nenhum partido político, ainda que valorize o valor político da liberdade e o respeito pelos direitos humanos. Não tem uma estrutura predisposta para a acção política organizada nem procura o poder político. Não é, sequer, uma associação cultural ou recreativa, ainda que possa dar lugar a iniciativas culturais ou de lazer. Não é uma empresa comercial nem actua movida por qualquer objectivo de lucro, ainda que esteja interessada em gozar da suficiência económica necessária para o desempenho das suas funções. Combina, na sua organização e funcionamento, a verticalidade iniciática com a horizontalidade democrática. Não está organizada como uma estrutura mundial ou internacional, mas organiza-se nacionalmente em federações de Lojas, que recebem o nome de Grandes Lojas ou Grandes Orientes. O ideal da Maçonaria é “Um Maçom livre numa Loja livre”. A Loja é a base do trabalho maçónico. O fundamento básico da Maçonaria é a experiência de autoconstrução pessoal como a descreveram as irmandades de construtores e que posteriormente foi elaborada como um verdadeiro método de construção pessoal e social: “O que tu fazes, faz-te.” A Maçonaria não propugna uma ideologia política determinada, concreta e detalhada, mas sim valores gerais que se concretizam historicamente: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade.” Não é uma instituição didáctica nem doutrinária. A Loja não ensina, mas suscita, sugere, provoca, desperta, impregna. A Declaração Universal dos Direitos do Homem é uma referência axiológica essencial da Maçonaria. A arquitectura simbólica com que trabalha a Maçonaria pretende que cada Maçom faça da sua vida uma verdadeira Obra de Arte de Sabedoria, Força e Beleza, e do mundo um lugar onde sejam possíveis a Paz, o Amor e a Alegria.

A isso chamamos a Arte Real.

Autor: Álvaro

terça-feira, 1 de março de 2011

Jorge Amado de Faria - Um nome simbólico

Jorge Amado de Faria, mais conhecido por Jorge Amado, filho de João Amado de Faria e de Eulália Leal, nasceu a 10 de Agosto de 1912 em Ferradas distrito de Itabuna - Baía, vindo a falecer a 6 de Agosto de 2001. Aos seis anos foi frequentar a escola primária em Ilhéus sabendo já ler, ensinado por sua mãe. Após ter terminado a instrução primária foi estudar para Salvador como interno no Colégio Antonio Vieira, um colégio de padres jesuítas, onde veio a chamar a atenção com as redações que apresentava, e uma delas com o titulo de “O Mar“ despertou o interesse do professor, o padre jesuita Luiz Gonzaga Cabral que o tomou ao seu cuidado fomentando-lhe o gosto pela leitura de autores de lingua portuguesa assim como de outras nacionalidades. Não terminou aqui estes estudos porque o pai ao levá-lo após as férias a este colégio, foge, tendo andado por aí... pois só chegou a casa do seu avô paterno em Itaporanga passado dois meses. Recambiado para casa de seu pai, foi novamente e como interno, matriculado no Ginásio Ipiranga.
Inicia aqui as suas ligações ao mundo da escrita, começando por dirigir o jornal da escola e mais tarde fundando ele mesmo outro jornal. Com quinze anos passou para o regime de externato, empregando-se como repórter policial no “Diário da Bahia” passando depois para o jornal “O Imparcial”. Escreveu uma poesia “ Poema ou prosa” que foi publicada na revista “ A Luva”. Integrou um grupo literário, Academia dos Rebeldes, do qual faziam parte o jornalista e poeta Pinheiro da Veiga, Clóvis de Amorim, Guilherme Dias Gomes, João Cordeiro, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Aydano do Couto Ferraz, Emanuel Assemany, Sosígenes Costa e Walter da Silveira. Cito estes nomes porque todos fizeram parte da literatura brasileira e não podendo deixar de lembrar que Jorge Amado teria nesta altura pouco mais ou menos dezanove anos.
Em 1930 mudou-se para o Rio de Janeiro onde se matriculou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro cujo curso terminaria em 1935. Veio aqui a conhecer Vinicius de Morais, Otávio de Faria e outros escritores conhecidos da literatura brasileira. Em 1931, com 19 anos publicou O País do Carnaval, que foi um sucesso literário. No ano seguinte mudou-se para um apartamento em Ipanema com o poeta Raul Bopp. Aqui vem a conhecer José Américo de Almeida, Amando Fontes, Gilberto Freyre e Rachel de Queiroz esta última que o aproximou aos comunistas. Em 1933 publica Cacau que foi outro sucesso.
Neste ano casou com Matilde Garcia Rosa que tinha 17 anos, o que os obrigou a fugir, face á oposição do pai ao casamento. Este casamento durou onze anos e gerou uma filha que veio a falecer muito jovem. Em 1936, com 24 anos, sofreu a primeira prisão por motivos politicos acusado de participar na Intentona Comunista. No ano seguinte viaja pela América Latina e vai aos Estados Unidos. Quando regressou tinha acontecido o golpe de Getulio Vargas, o que o levou novamente á prisão. Os seus livros O País do Carnaval, Cacau, Suor, Jubiabá, Mar Morto e Capitães da Areia foram queimados por terem sido considerados subversivos.

Termino aqui as citações de parte da biografia de Jorge Amado, por três razões: Primeira - Não pretender entendiar ao apresentar a totalidade da biografia de Jorge Amado pois, qualquer de nós a poderá obter fácilmente na net, aliás como eu fiz. A segunda razão prende-se com a pretensão de reflectir convosco de como nasce ou se desenvolve um talento. Não é tarefa fácil... e eventualmente pretensiosa... Se definirmos o significado de talento como capacidade natural para uma actividade, seja ela a escrita, música ou outra qualquer, aparece-nos a primeira questão: Como aparece a capacidade natural, será ela genética ou indusida pelo meio envolvente, quer familiar ou por formação?
No aspecto genético não entro por aí, pois há tantos autores a favor como em desfavor. É matéria a que falta ainda muito conhecimento. Abordando a segunda vejamos o caso de Jorge Amado: Ao entrar na instrução primária com seis anos, já sabia ler, o que tinha aprendido com sua mãe, não podemos esquecer que a instrução da mulher naquela época deixava muito a desejar – estamos no ano 1912, pelo que será legitimo admitir que a sua familia seria instruída, tanto mais que seu pai era possuidor de uma fazenda de cacau, o ouro negro. Logo uma família de posses, porque na época poucos poderiam dar-se ou luxo de mandar um filho para um colégio interno e para a faculdade.
Ora, no colégio António Vieira, Jorge Amado teve como professor o padre jesuita Luiz Gonzaga Cabral que ao se perceber do talento do seu aluno o auxiliou no seu desenvolvimento. O padre jesuita Luiz Gonzaga Cabral não era só professor, era um homem de rara cultura e ele própio escritor. Se conjugarmos esta situação com a integração nos vários grupos literários de que fez parte penso que é fácil aceitarmos a frase de GOETHE – o talento educa-se.... e porque não a afirmação de PROUST da existencia de dois métodos através dos quais se pode adquirir sabedoria : sem dor através de um professor ou com dor através da vida. Penso que Jorge Amado teve todas estas aprendizagens.
A terceira razão será a razão: porquê a escolha do nome simbólico de Jorge Amado?
Na minha adolescência – eu não lia, devorava livros. Semana que não lesse um dois livros não era semana para mim. Não esquecer que na época não havia televisão, ela só apareceu lá pelos meus dezanove anos. Será critica ...?
Tive a sorte de meu Pai ter uma biblioteca bem recheada, tanto de autores da lingua portuguesa como de autores estranjeiros, e um deles ser Jorge Amado. Li todos os livros dele da época – O País do Carnaval, Cacau, Suor, Jubiabá, Mar Morto e Capitães da Areia e foi precisamente este último que mais me marcou. Como curiosidade lembro que na época todos estes livros eram proibidos, e o Pai tinha-os porque eram enviados do Brasil por um grande amigo dele, o dr. Lafayete, que foi o primeiro secretário-geral do Partido Socialista Português, penso que o nome do Partido se chamava assim, mas não estou bem certo, tendo partido de casa de meu Pai para exílio no Brasil.

Já lá vão tantos anos... Uma vida!

Autor: Jorge Amado