terça-feira, 26 de novembro de 2013

António Arnaut desafia Maçonaria a rejeitar "capitalismo opressivo"

"Todos aqueles que sentem o povo e a Pátria não podem ficar calados, sob pena de serem cúmplices do drama social que estamos a viver", declarou António Arnaut à agência Lusa, a propósito de dois livros da sua autoria que vão ser apresentados no sábado, em Coimbra.
Na sua opinião, a ordem maçónica, que integra há várias décadas, "devia realmente intervir" e condenar publicamente "este capitalismo opressivo", tanto no país, como a nível global. 
"A Maçonaria devia ter dito aquilo que disse o papa Francisco: o neoliberalismo faz os fortes mais fortes, os fracos mais fracos e os excluídos mais excluídos", disse.

Para António Arnaut, escritor, advogado e um dos fundadores do PS, "trata-se, aqui, de intervenção no plano dos direitos humanos, da dignidade do homem e da própria defesa da identidade e da soberania da Pátria". A Maçonaria "devia ter uma palavra e tem estado calada", disse. 
"Devia fazer alguma coisa. Devia realmente utilizar os instrumentos do ofício: a régua e o esquadro, que significam a retidão e a justiça, e o compasso, que significa o livre pensamento e a liberdade", acrescentou.

Os dois últimos livros de António Arnaut - "Alfabeto íntimo e outros poemas" e "Iluminuras - Adágios, incisões e reflexões" - serão apresentados no sábado, às 15:00, na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, pelo professor universitário Seabra Pereira e pela jornalista Clara Ferreira Alves, respetivamente. 
Numa das reflexões, na segunda obra, o "maçon" e antigo grão-mestre do GOL - Maçonaria Portuguesa questiona o papel da instituição "perante as chagas de pobreza e sofrimento que assolam o mundo e cobrem de desespero o corpo exausto de Portugal". 
Defendendo que, num tempo "de tantas desigualdades e injustiças evitáveis, não basta proclamar os princípios", afirma que, "se a Maçonaria não tiver lugar na consciência coletiva, não está na consciência individual dos que juraram lutar pelos seus valores".

A política, o socialismo e a solidariedade são conceitos que motivam outras das reflexões do autor, que dissertaainda sobre o Serviço Nacional de Saúde, do qual foi o principal impulsionador, e o atual líder da Igreja de Roma, o papa Francisco, entre diversos assuntos. "Chegámos a este ponto mais por culpa dos socialistas, dos social-democratas e democratas-cristãos do que propriamente dos neoliberais", disse à Lusa. 
António Arnaut acusou aqueles "que passaram para o neoliberalismo, que se venderam", dando os exemplos de Tony Blair (antigo primeiro-ministro britânico) e Gerhard Schroeder (ex-chanceler alemão), "que hoje são administradores de grandes empresas".

Os dois novos livros "são formas de intervenção poética, cívica e ética nos momentos nublados que vivemos, em que o sol não aparece ou só brilha para alguns", sintetizou.

O escritor António Arnaut, antigo grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), exortou hoje a Maçonaria a rejeitar o "capitalismo opressivo" em Portugal e no mundo, lamentando o seu silêncio.

"In Lusa"

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Harmonia no Templo

Peço-vos que as cogitações que a seguir partilho convosco sejam entendidas como algo de muito íntimo e subjectivo. Não pretendo, pois, dizer como deve ser ou o que deve ser a Harmonia num Templo, mas dar-vos apenas o meu testemunho pessoal sobre algumas formas – que se plasmam ora numa plataforma espiritual ora no plano físico – que contribuem para que eu sinta a existência e harmonia no Templo.

Sinto Harmonia num Templo quando, de facto, quer a forma de os Irmãos se movimentarem dentro dele quer as palavras que pronunciam – ritualísticas ou não – induzem vibrações que permitem ao espírito e à mente o completo alheamento do mundo profano e a integral concentração na beleza dos trabalhos. 
No decurso dos anos tenho ouvido alguns Irmãos Mestres dizerem-se fartos das sessões de Loja, argumentando que, cito, “aquilo é sempre a mesma coisa, com as pessoas a fazerem sempre o mesmo”. É nessas alturas que constato que, embora, em tese, qualquer pessoa possa entrar para a Maçonaria, seguramente que a Maçonaria não entra em qualquer pessoa. E fico atónito por não serem capazes de entenderem que é precisamente nessa repetição, que atravessa séculos e culturas, que a Maçonaria se reencontra a cada passo com a sua gloriosa história, revivificando-se num presente que a todos nós cabe fortalecer, para se projectar num futuro onde o seu papel na construção de uma sociedade mais livre, mais justa, mais fraterna e mais solidária jamais desmereça os mais elevados ideais que nortearam os nossos maiores e que a cada um de nós cabe, no presente, o honroso papel de transmitir aos futuros Iniciados.

Sendo a radiodifusão a minha origem profissional, tenho a esperança que me perdoem a mistura do que sinto, com algo que li algures mas que me sinto incapaz de situar. É que, nas sessões maçónicas, os Irmãos emitem vibrações através dos seus pensamentos, sentimentos e ações; para além do mais, o próprio Templo é um grande emissor de ondas. Nestas circunstâncias, pode produzir-se uma enorme harmonia quando coincidem todas as vibrações emitidas, o que significa que passam a possuir uma largura de banda e uma frequência que correspondem ao verdadeiro espírito maçónico.

Reconheço que, antes de sermos Maçons, ou melhor, antes de franquearmos a porta do Templo, temos uma vida profana, quantas e quantas vezes marcada por tristezas, angústias, desilusões e constrangimentos da mais diversa ordem. E por isso peço a generosidade da vossa clemência para aquilo que muito compreensivelmente aceitarei considerarem uma extrapolação grosseira e despropositada do que a seguir ouso referir. É que me atrevo a afirmar que numa sessão de Loja existem não uma, mas duas cadeias de união. 
Porque considero que a primeira delas emana da finalidade mais importante do nosso Ritual de abertura, que é a de ser o instrumento facilitador para uma transição mental desde o ambiente profano até ao mundo maçónico, fazendo com que todos e cada um dos Irmãos se unam para o início da atividade que os levou ao Templo. Para isso e por isso exorto incansavelmente cada um dos Iniciados a que para sempre se deixem impregnar do esoterismo que emana dessa parte do ritual, que, no meu fraco entendimento, não deve ser cumprida de forma aligeirada, para que todos os Irmãos possam acompanhar e reflectir no profundo significado de cada um daqueles momentos. Por eles passa o início da Harmonia de uma sessão no Templo. 

Autor: Álvaro

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Nome Simbólico: Imhotep

O nome Imhotep está revestido de grande riqueza e significado simbólicos, a diversos níveis.
Comecemos pelo plano etimológico: traduzindo do Antigo Egípcio, Imhotep significa literalmente “Aquele que vem em Paz”. Por si só, o significado literal do seu nome transmite uma mensagem poderosa, uma das grandes virtudes que a Humanidade deve tentar alcançar, consequentemente um objectivo nobre para qualquer maçom, e para o qual eu pretendo contribuir com o meu trabalho, pensamentos e acções.

Historicamente a figura de Imhotep está envolta de grande mistério. Viveu no século XXVII AEC (2700-2600 AEC), no final da segunda e princípio da terceira dinastia egípcia. Vindo do povo, conseguiu chegar a Vizir, equivalente a primeiro-ministro, tendo acima dele apenas o faraó, e segundo alguns autores foi-lhe dado o título honorífico de “Irmão do Faraó”. É o personagem histórico não-monarca mais conhecido do antigo Egipto. A sua titularia conhecida mais completa é: “Chanceler do Rei do Baixo Egipto, Médico, Primeiro em linha depois do Rei do Alto Egipto, Administrador do Grande Palácio, Nobre Hereditário, Sumo Sacerdote de Heliopolis, Construtor, Carpinteiro-chefe, Escultor-chefe, e Chefe dos Fazedores de Vasos”.

A sua fama e importância foi tal, que diversos mitos apareceram em torno do seu nascimento, sendo que num deles Imhotep era filho do deus egípcio Ptah, deus dos artífices e dos arquitectos, patrono dos escultores, carpinteiros, ferreiros e construtores de navios, em suma ligado a tudo aquilo que se possa criar com as mãos.
Homem de muitos talentos, a fazer lembrar as grandes figuras do Renascimento Europeu, distinguiu-se na política, na filosofia, na religião, na magia, na arte, na astronomia, na medicina, na arquitectura e na engenharia.
O mistério à sua volta adensa-se ainda mais pelo facto do seu túmulo ainda não ter sido encontrado, sendo actualmente considerado como uma espécie de “Santo Graal” da Egiptologia, pensando-se que deve estar nas proximidades do complexo funerário do Faraó Djoser em Saqqara. 
Conhecido no seu tempo como curandeiro e médico, é considerado como o pai da Medicina por ser o primeiro conhecido pelo seu nome na História Registada da Humanidade (após a invenção da Escrita) ligado ao campo da Medicina e Cirurgia. Referido em antigos textos médicos com o papiro Edwin Smith do século XVI AEC, que se trata de reprodução mais recente de um texto atribuído a Imhotep, com mais de 90 termos anatómicos e os sintomas e curas de 48 doenças ou casos são descritos nesse documento. Na sua época outros dois nomes surgem ligados à medicina Hesy-Ra e Merit-Ptah, não se sabendo se viveram antes, durante ou depois da vida de Imhotep, mas a fama deste último e os registos históricos acabam por eclipsar os anteriores.
Após a sua morte foi elevado à condição de semi-deus, sendo feitas oferendas e ex-votos no seu túmulo para a cura de doentes. Cerca de 525 AEC foi deificado como o deus da Medicina no panteão egípcio, e substitui Nefertum na grande tríade de Mênfis como filho do deus Ptah. Mais tarde os gregos da Antiguidade Clássica prestaram-lhe culto identificando-o como o conhecido deus grego da medicina Asclepius.
O eminente médico britânico do século XIX Sir William Osler considerou-o como “a primeira figura de um médico a sair claramente do nevoeiro da Antiguidade”

É o primeiro arquitecto conhecido pelo seu nome, sendo por isso considerado o pai da Arquitectura e da Engenharia, numa altura em que o conceito de Arquitectura englobava os campos actualmente separados da Arquitectura e da Engenharia. É-lhe atribuído a autoria daquele que é tido como o primeiro e mais antigo edifício de pedra da humanidade, a Pirâmide de Degraus em Saqqara, e o complexo funerário circundante pertencente ao Faraó Djoser.
Tratando-se de algo completamente novo na história da Humanidade, sendo a prova disso o facto de não ter chegado nenhum vestígio arqueológico semelhante ou anterior, Imhotep teve não só de inventar e desenvolver técnicas especiais para a extracção, transporte, trabalho da pedra e acabamento, enfim transformar a pedra bruta em pedra polida, tema tão caro à nossa Augusta Ordem Maçónica; bem como de desenvolver técnicas de gestão e logística para levar um projecto de uma escala até então nunca vista a bom porto, ou seja a uma boa concretização.
A utilização, pela primeira vez na História, da pedra como material de construção tinha um objectivo muito claro e preciso, criar palácios para a Eternidade, tema tão caro aos egípcios com a sua religião ressurreicionista. É por isso que alguns autores lhe chamam como o inventor da Eternidade. O valor simbólico é de tal maneira intrínseco e óbvio que qualquer explicação adicional parece supérflua.
A partir desta altura, os egípcios passaram de uma construção de madeira e tijolos de lama para uma arquitectura mais imponente, monumental e duradoura em pedra que chegou até aos nossos dias, causando-nos ainda hoje sentimentos de assombro e admiração.

Crê-se que foi iniciado nas mais secretas escolas de conhecimento e místicas existentes durante a sua vida. Uma possível prova disso será o facto de ter chegado a Sumo Sacerdote de Heliópolis, os seus conhecimentos de artesão e o lugar político a que ascendeu. Talvez terá transformado algumas delas ou criado novas, com ligação ao trabalho da pedra. Quem sabe se a Maçonaria não descende directa ou indirectamente de uma delas?
Por todos estes motivos, Imhotep é considerado o primeiro génio da Humanidade, destacando-se nos mais variados campos do conhecimento científico, filosófico, esotérico e místico, estando nele bastante interligados, como nos mais conhecidos nomes do Renascimento Europeu, cientistas e alquimistas como Newton. Para mim e para alguns autores de renome, Imhotep é a primeira centalha de génio que tirou a Humanidade da Escuridão para a Luz, outro tema também tão caro à Maçonaria. Ele representa o despertar da Civilização.
Ao escolher nome simbólico de Imhotep, pretendo seguir os passos de tão extraordinário personagem, quer ele tenha sido real ou simbólico, pois foi a primeira vela na Iluminação da Humanidade para sair das trevas para a Civilização. nos diversos planos, material e espiritual fazendo uma fusão perfeita de ambos. Pretendo com o trabalho da minha pedra bruta, construir o meu Palácio da Eternidade, o legado que deixarei para as gerações futuras através de actos e palavras.

Autor: Imhotep