terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Miguel Torga


"Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores"
Miguel Torga - 1993

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O Padrão das Coisas

Lidamos mal com o caos e a incerteza. Por isso, nós, os seres humanos temos a tendência de ver padrões por toda a parte. Faz parte do nosso processo cognitivo. É importante quando tomamos decisões ou fazemos julgamentos ou adquirimos conhecimentos. O homem relaciona-se com o mundo através das coisas e também através delas se relaciona com os outros.

O reconhecimento de padrões é a capacidade de um indivíduo considerar e integrar simultâneamente um complexo de percepções fornecidas pelos nossos cinco sentidos. Muitas vezes essas percepções contém centenas de características. Elaborar uma imagem, um conceito, uma decisão, baseadas na comparação de alguns subconjuntos dessas características ajuda-nos a edificar a nossa estrutura mental e a nossa consciência, sedimentando a nossa própria existência. 


Assim, toda a informação que temos acerca do mundo exterior, e que conseguimos gravar na nossa memória, é-nos trazida pelos nossos cinco sentidos. O mundo como o vemos consiste naquilo que os nossos olhos vêem, os nossos ouvidos ouvem, o nosso nariz cheira, a nossa língua saboreia e a nossa pele sente, sinais estes processados e integrados pela nossa consciência no cérebro. O homem depende apenas destes cinco sentidos desde o nascimento, para a sobrevivência e a reprodução. Só conhecemos o mundo como nos è apresentado por estes cinco sentidos. Por exemplo: a luz viaja dos objectos para o olho e concentra-se na retina. Aqui transforma-se em sinais electricos que são transportados pelos neurónios para o centro da visão, onde se formam as imagens provenientes do exterior. Quando nós dizemos que vemos, o que vemos é o efeito dos sinais electricos no nosso cérebro, interpretados pela nossa consciência e pela nossa alma como padrões anteriormente aprendidos. O mesmo se passa com os outros sentidos que são percebidos e interpretados pela nossa consciência através de sinais. Assim, o nosso cérebro e a nossa consciência não são confrontados com o original da matéria que está no exterior, mas sim com uma cópia dela que se forma no seu interior. Realidade ou ilusão? A realidade e a ilusão só existem dentro de nós. Somos enganados assumindo que estas cópias são casos reais da matéria fora de nós. Parece que estas imagens reais estão repletas de perigos. O problema é mais com a nossa estrutura biológica e a nossa estrutura neural de com a física. Somos prisioneiros dos nossos sentidos, podemos perceber algumas coisas, outras não. Infelizmente, a nossa tendência para ver padrões em tudo pode levar-nos a ver coisas que não existem.

Para interpretar os padrões da natureza e vencer a lei do esquecimento temos utilizado utilizado alguns instrumentos como os números, a matemática, a geometria e a física quântica. Os números encontram-se distribuidos por vários fenómenos da natureza, salientando a necessidade humana de explicar todo o universo com base na matemática. Da multiplicidade de números existentes na natureza podemos evidenciar os seguintes: Phi= 1,618, em recordação do arquitecto Phidias, o número de ouro que exprime o príncipio da vida divina; os números de Fibonacci; o número π (pi)= 3,1416, em recordação de Pitágoras, a constante do círculo e da esfera que se insinua entre o universo construído sobre os símbolos e o número e, em recordação de Euler, a porta aberta em direcção às matemáticas superiores. 
O número de Ouro, também conhecido como rácio dourado, proporção divina ou razão áurea é um dos números mais misteriosos da natureza. Este número irracional e enigmático surge numa infinidade de elementos da natureza na forma de uma razão, sendo considerado por muitos uma oferta de Deus ao mundo servindo de suporte matemático a inúmeros padrões universais.
Temos, assim, à nossa disposição um número que rege tanto a disposição das pétalas de uma rosa, como as dimensões das obras de LeCorbusier, que se esconde nas partituras de Debussy e na Mona Lisa de Leonardo da Vinci, que define a dinâmica dos buracos negros e a estrutura microscópica de alguns cristais. Esse número é número Φ (Phi) ou Divina Proporção. A descoberta deste estranho fenómeno matemático deve-se ao matemático italiano Leonardo Fibonnacci, no principio do sec. XIII. No entanto, o número phi já tinha sido descoberto pelo grego Euclides 1500 anos antes. 
Mas, numa primeira análise, este número não parece ter nada de especial, sendo apenas mais um número. As surpresas começam quando se observam as situações em que ele aparece, como por exemplo, na criação geométrica do retângulo áureo ou rectângulo de ouro, construído a partir de dois segmentos cuja proporção é phi. De igual modo no pentágono regular esconde-se esta mesma proporção. A relação entre os seus lados e as diagonais está também definida pelo número phi. No interior desta figura encontramos igualmente o triângulo áureo. Ao dividirmos ambas as figuras, sucessivamente, em elementos mais pequenos, no seu interior vai-se configurando, uma mesma figura, uma espiral logarítmica, a espiral de Fibonnaci. Esta espiral encontra-se nos mais diversos lugares da natureza: nas flores, nos microorganismos mais diminutos, nas galáxias.

O Pentagrama é o exemplo mais eloquente da aplicação da regra de ouro. Escondido dentro do Pentagrama está o segredo da criação do rectângulo de ouro que os gregos admiravam pelas suas proporções mais belas e pelas suas qualidades mágicas. Para eles o rectângulo de ouro representava a lei da beleza matemática, presente na arquitectura clássica e na escultura. Nos séculos seguintes o rectângulo de ouro dominou o conceito de beleza em toda a arquitectura ocidental. A Catedral de Notre Dame é um exemplo notável. Também, os pintores renascentistas conheciam bem esse segredo.
Um outro exemplo é o Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, resposta gráfica para um desafio matemático formulado por Vitrúvio (arquiteto e engenheiro romano que viveu no Séc. I a.c.) . Segundo ele, a construção de um Templo deveria ser baseada nas proporções do homem consideradas divinas. Assim, aplicando a razão áurea na escala do desenho do corpo humano, o movimento em cruz determina os lados do quadrado, o movimento em estrela delimita o círculo. A área total do círculo é igual à área total do quadrado e estão dispostos de tal forma que as suas proporções podem ser utilizadas como base do algoritmo matemático que calcula o número de ouro phi. E, então, como por magia, o problema da quadratura do círculo é resolvido por um simples movimento do corpo humano.
Da Vinci acreditava na perfeição da figura humana e considerava as medidas e o funcionamento do corpo humano, como uma analogia das medidas e funcionamento do universo, todos interligados pela proporção do número de ouro,

O Templo construído segundo a Geometria Sagrada é um ser vivo, algo que respira, que tem pulso, está envolto numa energia e numa electricidade peculiar. É um organismo organizado, no qual todas as suas partes se interrelacionam e se integram naturalmente com os seus habitantes. Transcende o carácter realista do mundo e penetra na estrutura íntima e matemática do universo, em aparente contradição com o seu arquético, o Templo interior do ser humano. 
O Templo Maçónico é considerado como uma imagem simbólica do homem e do Mundo e uma aplicação exemplar da Geometria Sagrada. Os oficiais da loja, situam-se perfeitamente nos vértices de um hexagrama (o símbolo de Salomão). O Venerável e os dois vigilantes que dirigem a loja, formam o triângulo ascendente; o Orador, o Secretário e Guarda Interno, que organizam a loja, formam o triângulo descendente. Podemos distribuir igualmente os oficiais nos vértices de um pentagrama, de acordo com a importância da lojas. 
De igual modo, se colocarmos um homem em decúbito dorsal, no rectângulo dourado que é o Templo Maçónico, a cabeça é o Venerável, os seus braços são o Orador e o Secretário, as suas mãos o Tesoureiro e o Hospitaleiro as suas pernas e os seus pés os dois Vigilantes.

No Templo Maçónico inscrevem-se com facilidade as colunas do Zodíaco. O Zodíaco foi um progresso fundamental para o nosso conhecimento do Universo, a descoberta da precessão dos equinócios, que funciona como um imenso relógio cósmico, necessitou de milhares de anos de observações. Todos os meses , o Sol passa em frente das doze constelações que formam o Zodíaco. No Templo, as Doze Colunas Zodiacais estão situadas no Ocidente, estando seis no lado Norte, onde têm assento os Aprendizes, e seis no lado sul, onde têm assento os Companheiros. De um modo geral, essas Colunas simbolizam o caminho iniciático do Aprendiz, Companheiro e Mestre, resumido pelo “desbastamento da pedra bruta”, ou seja, o seu aperfeiçoamento moral e espiritual. 
Os Signos Zodiacais, assim como todos os mitos solares e agrários da Antiguidade, representam a morte e o renascimento anual da Natureza. Pode imaginar-se que tudo começou em tempos imemoriais, quando o homem, em vigília a zelar pelos rebanhos, observava os corpos celestes no firmamento intrigando-se com os seus movimentos regulares. Percebeu então que lenta e precisamente os astros mudavam de posição em relação ao nascer do Sol, e que depois de determinado tempo voltavam com absoluta regularidade ao mesmo ponto no firmamento desenhando um padrão celeste absolutamente divino.

A Astrologia e a Astronomia podem ser definidas como sistemas simbólicos que relacionam o macrocosmo (os Planetas) e o microcosmo (o indivíduo na Terra), tornando o Templo um Universo ainda mais completo e complexo. No seu interior, a localização dos lugares dos Oficiais é rigorosamente obtida através da geometria sagrada, demonstrando que a simbologia maçónica, assim como todos os simbolismos tradicionais possuem uma polivalência e uma universalidade que é necessário conhecer para nos iniciar no estudo da origem e do sentido da vida. 
Até mesmo quando o segundo vigilante, em esquadria perfeita com o primeiro vigilante e o Venerável Mestre, sob o patrocínio de Vénus observa, a janela do Oriente que transporta os primeiros raios da alvorada e o renovar da actividade dos trabalhos, a janela do meio-dia que emana força e calor quando o Sol atinge com todo o seu esplendor o Templo e a janela do Ocidente que dá uma luz a cada passo mais enfraquecida e que incita ao fim dos trabalhos e ao repouso, o padrão cósmico se repete.

Os trabalhos dos Maçons começam simbolicamente ao meio dia e terminam à meia noite. Os aprendizes são colocados ao Norte porque necessitam de ser iluminados; recebem assim a luz plena da janela do Meio-dia. Os Companheiros, colocados no Meio-dia, não têm necessidade de tanta luz e a sombra produzida pelo muro do Templo ilumina-os de forma adequada. Na mesma ordem de ideias salienta-se que o Venerável e os seus assessores recebem de frente a luz do crepúsculo. Por outro lado, os Vigilantes são alertados desde a alvorada pelos primeiros raios do Sol, num ritual cósmico que se repete diariamente, mensalmente, anualmente. Sempre assim foi e será.

Autor: Louis Pasteur

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Dizes-me

Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta?  Não sei.
Sou diferente.  Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.

Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada.  Que mais há a dizer?

Alberto Caeiro 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Um Longo Caminho

A Loja é essencialmente o lugar onde se ensina pela Palavra e onde se busca a Luz, que, em Maçonaria, é um termo que se refere ao conhecimento iniciático. “Conhecer a Luz” é conhecer a verdade, adquirir a consciência da força espiritual. A Luz representa a perfeição na tarefa pessoal a que deve aspirar qualquer Maçom, está ligada ao conceito de viagem, de aproximação, de busca. Por isso o processo de Iniciação é a passagem da noite para a luz, da morte para a vida.

A Iniciação expressa uma experiência humana, do mesmo modo que a poesia, a literatura, a arte, a filosofia, também traduzem experiências humanas. Neste aspecto, são numerosas as obras do génio humano que ensinam ao homem prisioneiro de uma situação como deve dela libertar-se rumo à verdade e à luz.
Um Maçom só pode chegar à verdade, à luz, através de todo um percurso que lhe cabe caminhar em sua própria companhia – caminho difícil e sombrio, caminho de sombras veladas mas também de brilhos intensos, de penumbras dos mais variados matizes.
Submersos no caminho das sombras iniciadas para se chegar a apreender a verdade da luz, passa-se pela experiência da Câmara de Reflexão. E uma vez retirada a venda dos olhos, apercebemo-nos de uma luz débil que debilmente ilumina o que nos rodeia, que nos recorda a passagem da morte para a vida, que nos alerta para o compromisso que estamos a ponto de tomar. Luz e cor são valores que comportam a beleza dos espaços, dos objectos iluminados. Por isso os metais são mais valiosos quando brilhantes – que é a qualidade da luz. Não é em vão que o ouro é o representante máximo do brilho da luz, luz essa que outorga o grau de beleza na percepção medieval do valor estético.
Despojado dos metais, desprovido de recursos, fica o profano face ao olhar atento da sua sombra, da sombra do seu passado. Chegam-lhe vozes de pessoas sem rosto.
E assim o processo de formação de um Maçom começa pela própria análise da sua sombra, da sua origem, desprovido de brilhos desnecessários que perturbem a imersão numa profunda análise dos seus deveres para com os demais e da realização do seu testamento filosófico, que não é mais do que uma declaração crítica das suas intenções, ainda reconhecidas de forma sumária, sob a sombra de uma vela.
Quando lhe é perguntado o que procura e o candidato humildemente responde “a Luz”, essa Luz constitui um tesouro de conhecimentos concentrados nas lições de Sabedoria, Força e Beleza, na sua luta perene contra a ignorância, no combate contra os vícios e em prol das virtudes capitais contra a preguiça, o egoísmo, a avareza, a ira, a gula, a luxúria, a idolatria, a prepotência, o narcisismo, a egolatria, o fanatismo e o desejo desmedido de bens materiais.

Enfim, um caminho longo, cujo início sabe sempre bem recordar…
 

Autor: Álvaro