terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Homem só, meu Irmão


 
Tu, a quem a vida pouco deu,
que deste o nada que foi teu
em gestos desmedidos...

Tu, a quem ninguém estendeu a mão
e mendigas o pão dos teus sentidos,
homem só, meu irmão!

Tu, que andas em busca da verdade
e só encontras falsidade
em cada sentimento,
inventa, inventa amigo uma canção
que dure para além deste momento,
homem só, meu irmão!

Tu, que nesta vida te perdeste
e nunca a mitos te vendeste
dura solidão
faz dessa solidão teu chão sagrado,
agarra bem teu leme ou teu arado,
homem só, meu irmão!
 
Letra e música de Luiz Goes 
Do álbum "Canções do Mar e da Vida" (1969)

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Estrela D’Alva – 109.º Aniversário


Ao iniciar esta publicação, saudamos todos os leitores com a divisa desta Respeitável Loja - Pátria e Liberdade! e com uma antiga tradição maçónica - Saúde e Fraternidade!
 
“A região do Vale do Alva tem na sua história uma disputa entre três rios, o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos nascidos na Serra da Estrela. Estes três rios envolveram-se um dia numa grande discussão sobre quem seria o mais valente e acertaram numa corrida que esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor.
O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda, pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim, pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra. O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo. O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde, mas ainda a tempo de avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico.” 

Esta lenda de Portugal encerra em si um tríptico simbolismo relacionado com a origem e fundação da Loja Estrela D’Alva.
Em primeiro lugar, a antiguidade, da origem do nome e da actividade maçónica. Segundo dados históricos, o nome "Estrela d'Alva" dado a uma loja maçónica em Portugal, data dos finais de 1800 na cidade de Coimbra. Em princípios de 1900 há registo de actividade de uma Loja na região do Vale do Alva. Sabe-se e conhece-se, os  nomes de Maçons que viviam na região, tinham valores e princípios morais, éticos, sonhavam com uma sociedade mais justa e fraterna, lutavam pela liberdade, pelos direitos do homem, mantendo a sua actividade nesta região até 1912.
Em segundo lugar, a região do Vale do Alva embora seja uma região serrana com as adversidades da natureza e de formação territorial, nunca impediu que as gentes que viviam, e vivem na região se deixassem abater por essas contrariedades, foram gentes que lutaram pelo progresso, pela evolução, com valores, determinados em prol dos mais desfavorecidos, da justiça, da igualdade e com vasta intervenção social e de cidadania.
Em terceiro lugar, existe a ligação ao nome Estrela de Alva, como uma homenagem às gentes da região, (existe mesmo uma localidade como o nome: Estrela de Alva). Ainda, serviu para a ligação do mundo terreno ao celeste, através da estrela mais próxima do planeta Terra, que se tem chamado popularmente de Estrela Vespertina, Estrela Matutina, Estrela do Pastor, Estrela d'Alva ou cientificamente planeta Vénus. 

No aspecto mitológico, a Serra da Estrela, julga-se que corresponda à elevação a que os tratadistas romanos da Antiguidade chamavam de Montes Hermínios (Herminius Mons) ou "Montes de Hermes" (deus greco-latino dos pastores, também conhecido por Mercúrio). A associação desta serra a uma estrela pode remontar à pré-história. Investigações arqueológicas permitiram reconstruir uma imagem da vida no quinto milénio a.C, no Neolítico antigo. Ao mesmo tempo, a estrela Aldebaran, a mais brilhante da constelação do Touro, nasceria sobre a Serra. O seu nascer, na alvorada, aconteceria em finais de Abril/inícios de Maio e este evento poderia ter sido usado para marcar a transição para climas mais quentes e, portanto, para os pastos da Serra da Estrela. Esta narrativa proveniente dos registos arqueológicos encontra-se no entanto bastante próxima das lendas e mitos que explicam o nome da serra - Estrela

Mas, outros significados mais simbólicos têm este nome e esta lenda. Na lenda estão plasmados valores, princípios, símbolos que são interiorizados pelos Maçons, senão vejamos: a determinação de lutar, progredir, vencer, a honra, o caminho a percorrer. Tem o simbolismo dos elementos da natureza - terra, água, ar, numa viagem feita com o objectivo de conhecer outras realidades, o chegar ao mar imenso e por conhecer, por que não, outros mundos, foi do mar que partiram os Descobrimentos. Tem o conhecimento, a geometria do espaço, a ligação à astronomia, a divagação com a ligação à filosofia, à poesia, às artes, o sonho na demanda do mundo melhor, pois como diz o poeta: o sonho comanda a vida. Por fim, e não menos importante, a disputa por chegar mais longe, o desbravar do caminho, é feita por 3 irmãos que em igualdade, partem na demanda do conhecimento e de outros mundos. 

Pelo saber de hoje, o nome “Estrela D’Alva” dado a uma Loja maçónica em Portugal, remonta ao ano de 1871. Por perda de elementos para garantir a transmissão iniciática, a actual Loja Estrela D’Alva é herdeira de 109 anos de trabalho, de irradiação da Luz, mantendo-se activa e regular desde 1908 sem qualquer interrupção ou abatimento de colunas, mesmo nas dificuldades e agruras da clandestinidade.
Tem o timbre: ‘’Augusta, Benemérita e Respeitável Loja Capitular, Areopagita e Consistorial Estrela D’Alva n.º 289 sob os Auspícios do Grande Oriente Lusitano”, e como Divisa: "Pátria e Liberdade"! 

Muitos dos seus Obreiros, abnegadamente, com empenho, com sacrifício da sua vida, mesmo correndo vários perigos na ditadura, entregaram-se à causa da Maçonaria, nunca hipotecando a sua cidadania activa e a defesa intransigente dos Direitos Humanos e da Liberdade. Exerceram vários e importantes cargos em Loja e nos vários órgãos do Grande Oriente Lusitano. 

Veneráveis Mestres:
- 1908 a 1910 - Capitão Cruz
- 1910 a 1914 - João Rodrigues de Paula
- 1914 a 1918 - Capitão Cruz
- 1919 a 1931 - João Carlos Costa
- 1931 a 1944 - Raul Weelhouse
- 1944 a 1988 - Luis Bettencourt
- 1988 a 1991 - W. A. Mozart
- 1991 a 1993 - F. Chopin
- 1993 a 1995 - Fernando Pessoa, II
- 1995 a 1998 - Albert Schweitzer, II
- 1998 a 2000 - O. S. Marden
- 2000 a 2003 - Júlio Verne
- 2003 a 2004 - Tibério Graco
- 2004 a 2010 - Júlio Verne

Funções no Grande Oriente Lusitano:
- João Carlos Costa, Vários órgãos do GOL de 1919 a 1931.
- Raul Weelhouse, Presidente Conselho da Ordem e Órgãos do GOL de 1931 a 1944.
- Luis Bettencourt, Vários órgãos do GOL de 1944 a 1988.
- José Pascoal Gomes, Vários Órgãos do GOL, Conselho da Ordem, Internato S. João.
- António Reis, Grão Mestre GOL de 2001 a 2011.
- Vários Obreiros no Grémio Lusitano, Internato S. João, Escola Oficina N.º 1, Liga Portuguesa Direitos do Homem. 

Com esta história e vetusta idade, é natural que esta Loja tenha tido, e tem uma participação activa na Maçonaria em Portugal. E como é notável a actividade da Maçonaria em todos os domínios da vida nacional! Devem-se-lhe as grandes vitórias das ideias progressistas: a abolição da pena de morte e da escravatura, a criação de escolas primárias e escolas secundárias técnicas, a generalização da instrução nas colónias, a criação de orfanatos, a luta contra o clericalismo e a separação do Estado da Igreja, o embrião da laicização das escolas, a criação de associações promotoras da instrução e da assistência segundo novos modelos, a campanha a favor da obrigatoriedade do registo civil, promoção e divulgação dos grandes vultos de Portugal, as leis que autorizam o divórcio, a reformulação do código civil e comercial, o Serviço  Nacional de Saúde, o Estado Democrático … Deve-se-lhe até a criação do sistema de jurados na justiça. 

A Resp Loja Estrela D’Alva e os seu Obreiros, integrados no Grande Oriente Lusitano e na Maçonaria Portuguesa, apesar de várias perseguições, tem contribuindo, enquanto em si caiba, na cadeia de elos formada por homens de todas as condições, na senda dos antigos usos e costumes da Ordem maçónica, em busca do aperfeiçoamento moral e intelectual do individuo e da sociedade, na procura da Verdade, Honra e Progresso e na transmissão dos valores de Tolerância, Fraternidade, afirmando-se contra a injustiça, a intolerância social e religiosa, a corrupção, a falta de ética e moral, as desigualdades sociais e enaltecendo o Mérito, o Trabalho e a Paz.

Autor: Júlio Verne