Ao iniciar esta publicação,
saudamos todos os leitores com a divisa desta Respeitável Loja - Pátria e Liberdade! e com
uma antiga tradição maçónica - Saúde e
Fraternidade!
“A região do Vale do Alva tem na
sua história uma disputa entre três rios, o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos
nascidos na Serra da Estrela. Estes três rios envolveram-se um dia numa grande
discussão sobre quem seria o mais valente e acertaram numa corrida que
esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor.
O Mondego levantou-se cedo
e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela
Guarda, pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim, pela
Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a
Coimbra. O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão.
Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o
Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do
Tejo. O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações
de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde, mas ainda a tempo de
avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos,
atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com
o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou
expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando, mas o Mondego
engoliu-o com o seu ar altivo e irónico.”
Esta lenda de Portugal encerra em
si um tríptico simbolismo relacionado com a origem e fundação da Loja Estrela
D’Alva.
Em primeiro lugar, a antiguidade, da origem
do nome e da actividade maçónica. Segundo dados históricos, o nome
"Estrela d'Alva" dado a uma loja maçónica em Portugal, data dos
finais de 1800 na cidade de Coimbra. Em princípios de 1900 há registo de
actividade de uma Loja na região do Vale do Alva. Sabe-se e conhece-se, os nomes de Maçons que viviam na região, tinham
valores e princípios morais, éticos, sonhavam com uma sociedade mais justa e
fraterna, lutavam pela liberdade, pelos direitos do homem, mantendo a sua
actividade nesta região até 1912.
Em segundo lugar, a região do
Vale do Alva embora seja uma região serrana com as adversidades da natureza e
de formação territorial, nunca impediu que as gentes que viviam, e vivem na
região se deixassem abater por essas contrariedades, foram gentes que lutaram pelo
progresso, pela evolução, com valores, determinados em prol dos mais
desfavorecidos, da justiça, da igualdade e com vasta intervenção social e de
cidadania.
Em terceiro lugar, existe a
ligação ao nome Estrela de Alva, como uma homenagem às gentes da região, (existe
mesmo uma localidade como o nome: Estrela de Alva). Ainda, serviu para a
ligação do mundo terreno ao celeste, através da estrela mais próxima do planeta
Terra, que se tem chamado popularmente de Estrela Vespertina, Estrela Matutina,
Estrela do Pastor, Estrela d'Alva ou cientificamente planeta Vénus.
No aspecto mitológico, a Serra
da Estrela, julga-se que corresponda à elevação a que os tratadistas romanos
da Antiguidade chamavam de Montes Hermínios (Herminius Mons) ou "Montes de
Hermes" (deus greco-latino dos pastores, também conhecido por Mercúrio). A associação desta serra a uma
estrela pode remontar à pré-história. Investigações arqueológicas permitiram
reconstruir uma imagem da vida no quinto milénio a.C, no Neolítico antigo. Ao
mesmo tempo, a estrela Aldebaran, a mais brilhante da constelação do Touro,
nasceria sobre a Serra. O seu nascer, na alvorada, aconteceria em finais de
Abril/inícios de Maio e este evento poderia ter sido usado para marcar a
transição para climas mais quentes e, portanto, para os pastos da Serra da
Estrela. Esta narrativa proveniente dos
registos arqueológicos encontra-se no entanto bastante próxima das lendas e
mitos que explicam o nome da serra - Estrela.
Mas, outros significados mais
simbólicos têm este nome e esta lenda. Na lenda estão plasmados valores,
princípios, símbolos que são interiorizados pelos Maçons, senão vejamos: a
determinação de lutar, progredir, vencer, a honra, o caminho a percorrer. Tem o
simbolismo dos elementos da natureza - terra, água, ar, numa viagem feita com o
objectivo de conhecer outras realidades, o chegar ao mar imenso e por conhecer,
por que não, outros mundos, foi do mar que partiram os Descobrimentos. Tem o conhecimento, a geometria
do espaço, a ligação à astronomia, a divagação com a ligação à filosofia, à
poesia, às artes, o sonho na demanda do mundo melhor, pois como diz o poeta: o
sonho comanda a vida. Por fim, e não menos importante,
a disputa por chegar mais longe, o desbravar do caminho, é feita por 3 irmãos
que em igualdade, partem na demanda do conhecimento e de outros mundos.
Pelo saber de hoje, o nome
“Estrela D’Alva” dado a uma Loja maçónica em Portugal, remonta ao ano de 1871. Por
perda de elementos para garantir a transmissão iniciática, a actual Loja Estrela
D’Alva é herdeira de 109 anos de trabalho, de irradiação da Luz, mantendo-se
activa e regular desde 1908 sem qualquer interrupção ou abatimento de colunas,
mesmo nas dificuldades e agruras da clandestinidade.
Tem o timbre: ‘’Augusta,
Benemérita e Respeitável Loja Capitular, Areopagita e Consistorial Estrela
D’Alva n.º 289 sob os Auspícios do Grande Oriente Lusitano”, e como Divisa: "Pátria
e Liberdade"!
Muitos dos seus Obreiros,
abnegadamente, com empenho, com sacrifício da sua vida, mesmo correndo vários
perigos na ditadura, entregaram-se à causa da Maçonaria, nunca hipotecando a
sua cidadania activa e a defesa intransigente dos Direitos Humanos e da
Liberdade. Exerceram vários e importantes
cargos em Loja e nos vários órgãos do Grande Oriente Lusitano.
Veneráveis Mestres:
- 1908 a 1910 - Capitão Cruz
- 1910 a 1914 - João Rodrigues de
Paula
- 1914 a 1918 - Capitão Cruz
- 1919 a 1931 - João Carlos Costa
- 1931 a 1944 - Raul Weelhouse
- 1944 a 1988 - Luis Bettencourt
- 1988 a 1991 - W. A. Mozart
- 1991 a 1993 - F. Chopin
- 1993 a 1995 - Fernando Pessoa,
II
- 1995 a 1998 - Albert
Schweitzer, II
- 1998 a 2000 - O. S. Marden
- 2000 a 2003 - Júlio Verne
- 2003 a 2004 - Tibério Graco
- 2004 a 2010 - Júlio Verne
Funções no Grande Oriente Lusitano:
- João Carlos Costa, Vários órgãos
do GOL de 1919 a 1931.
- Raul Weelhouse, Presidente
Conselho da Ordem e Órgãos do GOL de 1931 a 1944.
- Luis Bettencourt, Vários órgãos
do GOL de 1944 a 1988.
- José Pascoal Gomes, Vários Órgãos do GOL, Conselho da Ordem, Internato S. João.
- António Reis, Grão Mestre GOL
de 2001 a 2011.
- Vários Obreiros no Grémio Lusitano, Internato S. João, Escola Oficina N.º 1,
Liga Portuguesa Direitos do Homem.
Com esta história e vetusta idade,
é natural que esta Loja tenha tido, e tem uma participação activa na Maçonaria
em Portugal. E como é notável a
actividade da Maçonaria em todos os domínios da vida nacional! Devem-se-lhe as grandes vitórias das ideias
progressistas: a abolição da pena de morte e da escravatura, a criação de
escolas primárias e escolas secundárias técnicas, a generalização da instrução
nas colónias, a criação de orfanatos, a luta contra o clericalismo e a
separação do Estado da Igreja, o embrião da laicização das escolas, a criação
de associações promotoras da instrução e da assistência segundo novos modelos,
a campanha a favor da obrigatoriedade do registo civil, promoção e divulgação
dos grandes vultos de Portugal, as leis que autorizam o divórcio, a
reformulação do código civil e comercial, o Serviço Nacional de Saúde, o Estado Democrático …
Deve-se-lhe até a criação do sistema de jurados na justiça.
A Resp Loja Estrela D’Alva e os
seu Obreiros, integrados no Grande Oriente Lusitano e na Maçonaria Portuguesa, apesar
de várias perseguições, tem contribuindo, enquanto em si caiba, na cadeia de
elos formada por homens de todas as condições, na senda dos antigos usos e
costumes da Ordem maçónica, em busca do aperfeiçoamento moral e intelectual do
individuo e da sociedade, na procura da Verdade, Honra e Progresso e na
transmissão dos valores de Tolerância, Fraternidade, afirmando-se contra a
injustiça, a intolerância social e religiosa, a corrupção, a falta de ética e
moral, as desigualdades sociais e enaltecendo o Mérito, o Trabalho e a Paz.
Autor: Júlio
Verne