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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Reflexão sobre o objectivo da Maçonaria

O objectivo da Maçonaria é o da procura da Verdade nos seus mais variados aspectos e utiliza como linguagem, fundamentalmente, a linguagem simbólica. Esta, que ainda há pouco parecia ultrapassada ganhou nova força e vigor devido ao reconhecimento por muitos (na literatura, na arte e até na ciência) da relatividade do conhecimento puramente racional.

O simbolismo maçónico mergulha as sua origens no esoterismo cristão (Joanista) mas, também, nas mais antigas fontes iniciáticas ( Caldaicas, Egipcias e Gregas). Para os antigos os instrumentos do seu conhecimento eram a Razão e a Fé, acreditavam que a primeira não pode alcançar tudo e sabiam dar lugar à intuição.
Na Idade Média os guardiões da tradição Esotérica foram os Judeus e os Árabes (sobretudo as seitas Fatimistas e Ismaelitas) exactamente na época em que os Templários estavam em contactos com eles...

O simbolismo permite, através do tempo e do espaço, estabelecer a relação adequada entre o sinal e as ideias e a iluminação que os símbolos provocam permite, simultaneamente, apreender os diferentes pontos de vista e unificá-los revelando a unidade que os transcende e fazendo passar do conhecido ao desconhecido, do visível ao invisível, do finito ao infinito. São os símbolos que ajudam à criação da iluminação intelectual que a Ordem tem por objectivo criar nas inteligências dos seus discípulos.

Por outro lado, a Verdade que todo o maçon persegue e que foi motivo da sua entrada na Ordem não poderá alcançar-se senão através da via do amor. Esta implica tolerância activa e humildade e faz compreender que é o conjunto que importa e que a razão individual vale só na medida em que participa no Absoluto, e é esta noção de amor, concebido como modo de apreensão do conhecimento, guiado pela tradição, que permite à razão individual alcançar a razão geral e a ideia universal, ou seja, a Verdade.

O esoterismo tradicional e os seus fins iniciáticos exerceram durante séculos uma influência considerável sobre as diversas formas de pensamento e as suas manifestações. Sabe-se desde Berger, que a razão didática não é a única forma de pensamento, e pela contribuição dada pelas grandes descobertas da ciência dilui-se a oposição simplista entre o materialismo e o espiritualismo. Assim, repõe-se hoje, em lugar de honra o princípio fundamental do Hermetismo: "A Unidade. Todo está em Tudo."

Por isso, a Maçonaria continua viva e, senão forem desvirtuados os seus objectivos, seguidas as vias que propõe, de forma corajosa e correcta, ela irá contribuir de forma importantíssima para o reencontro do Homem consigo mesmo, para a reintegração final do Homem na sua essência, tanto pelo intelecto como pelo coração.

Construamos pois a Maçonaria dentro e fora de cada um, Maçonaria que se posiciona como criadora de um homem novo, verdadeiramente irmão dos outros homens e que, com toda a propriedade, possa ser chamado de filho da Luz.

Autor: Albert Schweitzer, II

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Evocação Zeca Afonso

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (02-08-1929...23-02-1987)

Evoquemos com emoção o Grande Zeca Afonso na celebração dos 20 anos da sua morte!

Grande porque foi um Grande Português, que marcou a nossa recente história pátria, como exemplo maior de uma entrega generosa, altruísta, às grandes causas cívicas, ao amor pela democracia, pelo povo, à luta pela Liberdade, pela Igualdade e pela Fraternidade !

Grande porque foi o maior e o mais rico dos cantores-autores que fez da canção uma “Ética, uma Estética e uma Poética” ao serviço dos grandes ideias cívicos !

Grande porque foi o maior criador artístico da história da música popular portuguesa e um dos maiores do mundo !

Grande porque nos deixou um legado musical que é uma inesgotável e eterna fonte onde toda a música popular pode continuar a beber inspiração, por tão talentosa ser a sua obra, plena de ensinamentos harmónicos, rítmicos, melódicos e poéticos !

Grande porque a modernidade do seu discurso musical e poético mantém uma constante actualidade que nos interroga, interpela e inspira para termos sempre presente o seu exemplo na procura de uma sociedade mais justa !

Grande porque nos recordará sempre que a vigilância cívica e democrática não pode nunca baixar a guarda !

Grande porque nos ensina que a arte só é plena quando cumpre uma missão humanista de elevação do Belo, do Bem e do Justo !

Autor: Damião de Gois

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Ambiente no Século XXI

Dizia Almada Negreiros: “Quando eu nasci, todas as formas de salvar o mundo estavam descobertas, só faltava... salvá-lo”.

Ao sucesso do documentário “Uma verdade inconveniente” de Al Gore veio juntar-se uma projecção mediática da questão das emissões de CO2, tema de debate, já não nos fóruns alternativos como tinha acontecido em 92 no Rio, mas em Davos entre os grandes e poderosos do planeta. Quem leia os jornais fica com a sensação que de tanto se falar do tema este se encontra em vias de resolução, parece-me de algum optimismo tal reacção, já que até agora, e mal grado o tempo já passado, os Estados Unidos não rectificaram o velho Protocolo de Kioto e as economias emergentes estão de fora assim como estranhamente as emissões provocadas pelos aviões que parece que por estarem no ar estão isentos de carga poluidora.
Veio recentemente citada na imprensa uma pertinente questão, perguntaram na época a Gandhi se pretendia que a Índia, uma vez independente, se viesse a tornar tão desenvolvida como a Grã-Bretanha. A resposta foi uma negativa peremptória. “Se, para chegar onde chegou, a Inglaterra teve de devastar meio mundo, de quantos mundos precisaria a Índia?” Sábia resposta que põe em causa o modelo de desenvolvimento capitalista da altura e que hoje mais questionável se torna. Na realidade também Portugal depois de 74 poderia ter aproveitado o atraso que tinha para dar o salto para um país mais moderno sustentável e no entanto cometeu todos os erros que outros tinham cometido anteriormente deixando-nos à entrada do século XXI à beira do caos ambiental e económico. Tinha Portugal melhores condições que os novos países emergentes, já que se encontrava num espaço geográfico mais favorável, tenho dúvidas que se os países ditos mais desenvolvidos não fizerem eles mesmos as transições para modelos sustentáveis que sejam as novas economias a realizá-lo.

Mas colocar o problema só nas alterações climáticas e nas emissões de CO2 é absolutamente redutor, já que estas são apenas uma das alíneas de uma parte do problema que poderíamos elencar como os impactos da industrialização e que se podem dividir em três áreas.
Os impactos no meio ambiente, tratados pela ecologia, e que não são apenas o problema do efeito de estufa, mas também a exaustão dos recursos, da poluição e as alterações do meio não derivadas do clima.
Os impactos proximais do objecto industrial, tratados pela ergonomia, e que estão em regressão com o aparecimento de objectos mais baratos mas menos cuidados, veja-se o caso dos brinquedos das lojas ditas dos trezentos que testados apresentam riscos para os utilizadores, e de todo um mundo de contrafacções a que nem os medicamentos escapam.
O terceiro vértice deste triângulo que estuda os impactos da industrialização é muito menos referido mas não menos importante trata dos impactos distais ou psicológicos onde entra o tão conhecido stress, e dá pelo nome de eutifrónia. A saber o antagonismo entre a afirmação da individualidade na natureza e a repetição ou seriação na produção industrial, o antagonismo entre o ritmo fisiológico do ser humano e a crescente velocidade que a técnica imprime à vida, o antagonismo nas trocas de energia entre o organismo e o meio derivado da sedentarização da vida enquanto o metabolismo fisiológico se mantém e por último a perca da capacidade de resolução de problemas em relação aos quais nos sentimos impotentes ou seja a desumanização da vida.

O século XX veio dar o primado à economia sobre o homem, tendo para tal contribuído uma crescente fé na ciência em detrimento da vertente humanista pretendendo tornar igual o que é diferente e sob a capa da globalização e do livre comércio produzir a aberração de fazer aumentar de forma gritante as desigualdades.
Temos que reverter este desequilíbrio e por isso é importante revermo-nos no espírito maçónico e do seu mito fundacional da “palavra perdida” acreditam os maçons que aquando do assassinato do Mestre Hiran a “palavra” se perdeu e assim sendo o que todos têm que procurar é a verdade com a consciência que esta, é sempre uma verdade incompleta. Este principio da humildade lembra-me uma frase de António Sérgio que dizia “quando não sei, pergunto, quando sei, pergunto na mesma” e deve-nos nortear a procurar o saber, a tolerância e a generosidade em busca de soluções por oposição à ignorância, ao fanatismo e à ambição que infelizmente medram neste planeta cada vez menos azul.

Espírito sem razão é especulação pura, razão sem espírito é trabalho vão.


Autor: Éolo

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

A areia e a pedra

Diz uma lenda árabe que, quando dois amigos viajavam pelo deserto, num determinado ponto da viagem discutiram acaloradamente, até que um esbofeteou o outro.
O ofendido, sem pronunciar palavra, escreveu na areia: “Hoje, o meu melhor amigo bateu-me no rosto.”

Seguindo viagem, chegaram a um oásis, onde resolveram banhar-se. Imprevidente, o que havia sido esbofeteado quase se afogava, quando foi salvo pelo amigo.
Ao recuperar, pegou num estilete e escreveu numa pedra: “Hoje, o meu melhor amigo salvou-me a vida.”
Intrigado, o amigo perguntou: “Por que é que depois de te bater escreveste na areia e agora escreves na pedra?
Sorrindo, o companheiro de viagem respondeu: “Quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever na areia, para que o vento do esquecimento e do perdão se encarreguem de apagar. Porém, quando nos faz algo de sublime, devemos gravar na pedra, que é a memória do coração, onde nenhum vento chega para apagar a gravação.


É evidente a analogia entre esta lenda e aquele que configura ser o comportamento de um maçom. A agressão é algo de profano, que deve ficar registado na areia, isto é, que deve ser deixado à porta do Templo. Ao contrário, os valores da harmonia, da paz, da beleza, da fraternidade e da solidariedade são cultivados e multiplicados, de dentro para fora. De dentro do Templo para a sociedade que nos rodeia. De dentro de nós para os nossos familiares, para os nossos amigos, para os nossos conhecidos e até para os nossos adversários. Devem, em suma, ser gravados na pedra, para que nada os apague e para que ninguém os esqueça. Trata-se, no fundo, de utilizar convenientemente os instrumentos que ajudam a desbastar a pedra bruta, procurando dar-lhe a forma da perfeição.

Em síntese, o verdadeiro maçom “escreve na areia” tudo quanto seja de irrelevante e de profano. Porque a areia está no exterior do Templo e porque é também no exterior do Templo que sopra o vento – inexistente no interior, uma vez que nem é ele que apaga as velas, símbolos das luzes que orientam os trabalhos.

Ao contrário, o verdadeiro maçom “escreve na pedra” tudo quanto contribua para o seu aperfeiçoamento e para o aperfeiçoamento da irmandade em que se insere. Porque, ao “escrever na pedra” estará, também e assim, a trabalhar a pedra bruta e a contribuir, lenta mas seguramente, para a polir, até que a mesma tenha a perfeição suficiente para fazer parte integrante e indissociável do Templo Supremo da Maçonaria Universal.


Autor: Álvaro