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terça-feira, 19 de junho de 2007

Acácia

“É preciso saber morrer para nascer para a imortalidade”
Gérard de Nerval

Quando hoje ouvimos falar de Acácias associamo-las ao flagelo dos fogos florestais e às espécies infestantes que ameaçam a vegetação autóctone, com efeito sendo uma espécie adaptada aos fogos florestais tende a proliferar após estes, em especial as variantes australianas introduzidas, mas disso já falaremos.
O fogo e o seu controlo foram fundamentais para o desenvolvimento da humanidade, pensemos na cerâmica e talvez ainda mais importante o desenvolvimento da siderurgia só possível através do domínio do fogo. Assim o fogo irá assumir um papel fundamental na imagética da humanidade, por um lado associado aos infernos, por outro à regeneração, valorizando o que lhe estava associado. Hoje a equação surge-nos alterada pela vulgarização do seu domínio e pelo horror das suas potencialidades, os crescentes fogos florestais cada vez com mais impacto no homem mas também o espectro infernal de um possível holocausto nuclear. Quão longe estamos da versão alquímica de INRI da cruz - IGNIS NATUREA RENOVATUR INTEGRA (pelo fogo se renova a natureza inteira).

Mas indo à dendrografia e a outros aspectos associados, o género das acácias é muito vasto, pensando-se que poderá ser constituído por umas 1200 espécies repartidas pelos climas temperados e tropicais, só na Austrália onde são consideradas emblema nacional crescem umas 660 variantes, (duma das quais são feitos os conhecidos boomeranges) e serão estas, que importadas se tornam infestantes já que estão adaptadas aos fogos, pelo que após estes se desenvolvem muito rapidamente não dando oportunidade às espécies autóctones. É o que se passa em Portugal, onde foram introduzidas por D. Fernando de Saxe-Coburgo Gotha no parque da Pena em Sintra, pelo seu valor ornamental e aroma, que aliás já tinha seduzido o papa Paulo III (1534-1549) em Roma.

A madeira de acácia é escura, pesada e de grão mais ou menos, forte e resistente à putrefacção quando enterrada. Era a mais empregue das madeiras autóctones do Egipto e segundo Heródoto era a mais empregue nas barcas de carga do Egipto (seria de madeira de acácia a barca de Osíris), também era utilizada em móveis sarcófagos, caixas, arcas, etc. Teofrasto no séc III a.C. menciona pelo menos duas espécies de acácia a de madeira branca e a de madeira negra esta mais consistente e duradoira, fonte não só de madeira mas também de goma-arábica, casca para curtir os couros e forragem para o gado. Esta acácia será provavelmente a babul ou acácia do Nilo (Acacia nilotica L.).

A acácia está ligada a valores mistícos solares e triunfantes, na Índia a concha sacrificial (sruk) atribuída a Brahma era em madeira de acácia, o fogo sagrado sacrificial era obtido pela fricção de um pau de figueira sobre madeira de acácia (aqui a acácia toma o valor feminino por oposição à figueira que encarna o masculino), uma lenda africana coloca a acácia na origem da romda, (instrumento musical iniciático, em que se faz girar um pau de acácia preso por uma ponta a uma corda) na tradição judaico-cristã a coroa de espinhos da paixão de Cristo seria de acácia, simbolizando os raios de sol, madeira quase incorruptível dela seria feita a arca da aliança e seus varais, e depois coberta a ouro, assim como a mesa dos pães oferecidos a Deus e o altar dos holocaustos, este forrado a bronze, finalmente na maçonaria um ramo de acácia é utilizado para lembrar aquele arbusto que foi plantado sobre o túmulo de Hiram. Esta madeira como se disse quase incorruptível com espinhos temíveis e flores de leite e sangue é um símbolo solar de renascimento e imortalidade.
É através da procura do conhecimento que a verdade se torna transparente, e os equívocos e diferenças são resolúveis.
Autor: Éolo

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