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terça-feira, 21 de abril de 2009

Lembra-te Abril

O soldado sonhava com a sua terra,
com a sua mulher, e queria voltar.

Disseram-lhe que era um herói,
e que morria como um herói
com duas balas no peito.

Mas ele não queria ser herói:

O soldado sonhava com a sua terra,
com a sua mulher, e queria voltar.

O torturado caía de um lado para o outro da cela.

Ele lera Marx, e lembrava-se do profeta Isaías:
«O lobo e o cordeiro pastarão juntos».

Ele acreditava, e o seu crime era acreditar.
Uma pancada forte de mais no crânio,
e não puderam fazer mais nada com ele:

deitaram-no para uma cova,
e cobriram-no com terra e pedras.
E todos viram crescer o trigo negro da raiva.

Lembra-te, Abril, dos que não voltaram!
Lembra-te, Abril, dos que não tiveram cravos na boca
!

Autor: Adriano Rosa (1º Prémio Literário Jornal A Maré, Espinho: 1983)

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