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terça-feira, 26 de junho de 2007

Considerações por um Solstício

O solstício de Verão, recentemente ocorrido, marca o apogeu do percurso solar: o Sol está no zénite, no ponto mais alto do céu.
Trata-se de uma data particularmente festejada pela Maçonaria, que escolheu o Sol como um dos símbolos principais em torno dos quais gira a liturgia desta Ordem Universal – circunstância que, aliás, se encontra inequivocamente plasmada pelo destaque que lhe é concedido na decoração dos Templos.
Para além de outros significados que ocorrem em concomitância, o Sol simboliza a inteligência cósmica, aquela que guia a Razão, fonte do Conhecimento sempre almejado pelos Maçons mas jamais alcançado na sua plenitude.
Todavia objectivo inatingível, ao iniciado é cometida a tarefa inesgotável de perseguir os caminhos do Conhecimento – razão primeira e última das actividades que se desenrolam nos trabalhos em Templo, desenvolvidos pelos obreiros, os quais, por seu turno, devem socorrer-se da Geometria Simbólica para traçar pranchas que constituam não peças acabadas, mas sim contributos para uma reflexão individual e colectiva.
É neste contexto que o Conhecimento é a forma mais eficaz de derrotar o Obscurantismo que tem sido causa de grandes males que se têm abatido sobre a Humanidade, em geral, e sobre a Ordem Maçónica, em particular – desde a eclosão das ditaduras até às atitudes persecutórias e intolerantes desenvolvidas em nome de religiões ou de deuses cujo nome apenas é utilizado como pretensa justificação de homens que utilizam a manipulação para a prossecução de objectivos inconfessáveis.
Mas o Sol é, também, uma referência permanente na vida dos Maçons, porque, colocado a Oriente e irradiando para a Coluna do Sul, são os seus raios simbólicos que permitem tornar perceptíveis os conhecimentos que vão sendo adquiridos no longo e interminável percurso de quem teima e persevera no desbastar da Pedra Bruta.
Particularmente, considero que uma das grandes dádivas que a Maçonaria proporciona é a possibilidade de enveredar por um verdadeiro dédalo de conhecimentos, que nos fazem mergulhar não apenas naquilo que constitui o nosso Catecismo, como também em outras culturas – elas, outrossim, formas de conhecimento a que podemos ir tendo acesso.
Ora, é precisamente neste domínio que considero que as coincidências são, por vezes, arrepiadoramente óbvias. Assim – e como falamos de Sol – não deixa de ser curioso que os raios solares com os quais são identificados os cabelos de Xiva (terceiro, repito, terceiro deus da trindade hindu) são tradicionalmente sete (repito, sete). E o Sol é também o personagem da obra “O Ancião dos Dias”, do poeta britânico do século XVIII William Blake, que relata o deus solar medindo o céu e a terra com a ajuda de um compasso (repito, com a ajuda de um compasso).

Saudemos, pois, o Solstício, com o Sol ocupando o ponto mais alto de onde pode partir a nossa marcha rumo ao Conhecimento, que une as vocações libertárias, igualitárias e fraternas da Ordem Maçónica Universal.

Autor: Álvaro

terça-feira, 19 de junho de 2007

Acácia

“É preciso saber morrer para nascer para a imortalidade”
Gérard de Nerval

Quando hoje ouvimos falar de Acácias associamo-las ao flagelo dos fogos florestais e às espécies infestantes que ameaçam a vegetação autóctone, com efeito sendo uma espécie adaptada aos fogos florestais tende a proliferar após estes, em especial as variantes australianas introduzidas, mas disso já falaremos.
O fogo e o seu controlo foram fundamentais para o desenvolvimento da humanidade, pensemos na cerâmica e talvez ainda mais importante o desenvolvimento da siderurgia só possível através do domínio do fogo. Assim o fogo irá assumir um papel fundamental na imagética da humanidade, por um lado associado aos infernos, por outro à regeneração, valorizando o que lhe estava associado. Hoje a equação surge-nos alterada pela vulgarização do seu domínio e pelo horror das suas potencialidades, os crescentes fogos florestais cada vez com mais impacto no homem mas também o espectro infernal de um possível holocausto nuclear. Quão longe estamos da versão alquímica de INRI da cruz - IGNIS NATUREA RENOVATUR INTEGRA (pelo fogo se renova a natureza inteira).

Mas indo à dendrografia e a outros aspectos associados, o género das acácias é muito vasto, pensando-se que poderá ser constituído por umas 1200 espécies repartidas pelos climas temperados e tropicais, só na Austrália onde são consideradas emblema nacional crescem umas 660 variantes, (duma das quais são feitos os conhecidos boomeranges) e serão estas, que importadas se tornam infestantes já que estão adaptadas aos fogos, pelo que após estes se desenvolvem muito rapidamente não dando oportunidade às espécies autóctones. É o que se passa em Portugal, onde foram introduzidas por D. Fernando de Saxe-Coburgo Gotha no parque da Pena em Sintra, pelo seu valor ornamental e aroma, que aliás já tinha seduzido o papa Paulo III (1534-1549) em Roma.

A madeira de acácia é escura, pesada e de grão mais ou menos, forte e resistente à putrefacção quando enterrada. Era a mais empregue das madeiras autóctones do Egipto e segundo Heródoto era a mais empregue nas barcas de carga do Egipto (seria de madeira de acácia a barca de Osíris), também era utilizada em móveis sarcófagos, caixas, arcas, etc. Teofrasto no séc III a.C. menciona pelo menos duas espécies de acácia a de madeira branca e a de madeira negra esta mais consistente e duradoira, fonte não só de madeira mas também de goma-arábica, casca para curtir os couros e forragem para o gado. Esta acácia será provavelmente a babul ou acácia do Nilo (Acacia nilotica L.).

A acácia está ligada a valores mistícos solares e triunfantes, na Índia a concha sacrificial (sruk) atribuída a Brahma era em madeira de acácia, o fogo sagrado sacrificial era obtido pela fricção de um pau de figueira sobre madeira de acácia (aqui a acácia toma o valor feminino por oposição à figueira que encarna o masculino), uma lenda africana coloca a acácia na origem da romda, (instrumento musical iniciático, em que se faz girar um pau de acácia preso por uma ponta a uma corda) na tradição judaico-cristã a coroa de espinhos da paixão de Cristo seria de acácia, simbolizando os raios de sol, madeira quase incorruptível dela seria feita a arca da aliança e seus varais, e depois coberta a ouro, assim como a mesa dos pães oferecidos a Deus e o altar dos holocaustos, este forrado a bronze, finalmente na maçonaria um ramo de acácia é utilizado para lembrar aquele arbusto que foi plantado sobre o túmulo de Hiram. Esta madeira como se disse quase incorruptível com espinhos temíveis e flores de leite e sangue é um símbolo solar de renascimento e imortalidade.
É através da procura do conhecimento que a verdade se torna transparente, e os equívocos e diferenças são resolúveis.
Autor: Éolo

terça-feira, 12 de junho de 2007

Na escada

A entrada do prédio era escura. Dia e noite tinha uma lâmpada acesa que lutava ingloriamente contra a escuridão. De dia mal se via se estava ou não acesa devido à luz que vinha da rua. Durante a noite o seu papel poderia ser mais eficaz, mas não era. Atravessava-se a estreita e longa passagem mais por a conhecer do que por aí se ver fosse o que fosse.

Tinha uns dezasseis anos e vinha de assistir a uma corrida de ciclismo. Tinha levado a chave de casa da avó, o que o fazia sentir que já era um homem!
Passava da meia-noite quando chegou à entrada do prédio. Como sempre, a porta estava apenas encostada. Foi percorrendo com cuidado o escuro corredor de entrada. Por fim a escada que deveria subir e que a luz da cidade iluminava vagamente através da suja clarabóia lá bem no alto do edifício. Adivinhava-se, mais do que se via.
Ao virar a esquina e colocar o pé no primeiro degrau, ouviu uma voz lamentosa de mulher. Estava deitada nos degraus e ergueu-se um pouco com a sua chegada. Parecia estar enrolada num cobertor. As únicas palavras que proferiu eram uma súplica: «oh meu senhor, deixe-me ficar aqui». Não sabia como responder. Nunca teve facilidade em responder de repente a coisa alguma. Para mais sentiu uma emoção desconhecida embargar-lhe as palavras. Por fim conseguiu articular: «fique descansada». Confuso e atormentado, subiu as escadas escuras.

Quando entrou já todos dormiam. Também ele foi para a cama, mas demorou muito até que o sono lhe chegasse. Revia a mulher deitada na escada, tentava imaginar os motivos que a levariam a estar ali, sem ter o seu próprio tecto e as dores que os degraus lhe causariam no corpo. Como seria possível dormir em tais condições? Pensou que, se fosse dono da casa, lhe arranjaria uma cama. Mas não era e não convinha acordar a avó que se levantava antes das seis.

A sua imagem do mundo começava a sofrer rombos. Até então acreditava estar no melhor dos países, no melhor dos regimes, com o mais sábio dos governantes que nos tinha livrado dos horrores da II Grande Guerra, onde tudo estava bem e ia ficando cada vez melhor apesar dos terroristas lá na Guiné, Angola e Moçambique.
Também lhe tinham ensinado que nem um só cabelo cai da cabeça das pessoas sem que Deus o saiba. Melhor ainda, cada um de nós tinha o seu anjo da guarda. Afinal havia quem tivesse de dormir numa escada... Onde estavam os anjos? Os do céu e o da terra?

Autor: Carl Sagan

terça-feira, 5 de junho de 2007

A Chamada...

Contemplei a Lua,
Vi o Sol resplandecente,
Ouvi os assobios do Vento,
Senti o sabor Salgado nos lábios depois de ter saciado a minha sede com água Doce,
Meditei sentado sobre Pedra.
O Sol prosseguiu a sua trajectória atingindo os seus raios a verticalidade, apercebi-me que era meio-dia, procediam à chamada para mais um dia de trabalho.
Reparei que houve quem não respondesse à chamada, por ter passado ao Oriente Eterno.

Pranteamos, pranteamos, pranteamos... e cobrimo-los com ramos de acácia, pois tinham trabalhado arduamente na pedra bruta para atingir a pedra cúbica e continuar a construção do Templo, deixando como legado o saber, o conhecimento, em que as questiúnculas da vida mundana não têm lugar.
Honremos a sua memória e recordemo-nos de todos os Irmãos para todo o sempre, pois apesar da carne se ter desprendido dos ossos e não terem respondido a chamada, o exemplo deixado deve permanecer imaculado na nossa memória e aproveitado para corrigir os eventuais erros que o egoísmo humano pode determinar, porque no fim somos uma só pedra.
Bem Haja...

Autor: Salomão