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terça-feira, 1 de março de 2011

Jorge Amado de Faria - Um nome simbólico

Jorge Amado de Faria, mais conhecido por Jorge Amado, filho de João Amado de Faria e de Eulália Leal, nasceu a 10 de Agosto de 1912 em Ferradas distrito de Itabuna - Baía, vindo a falecer a 6 de Agosto de 2001. Aos seis anos foi frequentar a escola primária em Ilhéus sabendo já ler, ensinado por sua mãe. Após ter terminado a instrução primária foi estudar para Salvador como interno no Colégio Antonio Vieira, um colégio de padres jesuítas, onde veio a chamar a atenção com as redações que apresentava, e uma delas com o titulo de “O Mar“ despertou o interesse do professor, o padre jesuita Luiz Gonzaga Cabral que o tomou ao seu cuidado fomentando-lhe o gosto pela leitura de autores de lingua portuguesa assim como de outras nacionalidades. Não terminou aqui estes estudos porque o pai ao levá-lo após as férias a este colégio, foge, tendo andado por aí... pois só chegou a casa do seu avô paterno em Itaporanga passado dois meses. Recambiado para casa de seu pai, foi novamente e como interno, matriculado no Ginásio Ipiranga.
Inicia aqui as suas ligações ao mundo da escrita, começando por dirigir o jornal da escola e mais tarde fundando ele mesmo outro jornal. Com quinze anos passou para o regime de externato, empregando-se como repórter policial no “Diário da Bahia” passando depois para o jornal “O Imparcial”. Escreveu uma poesia “ Poema ou prosa” que foi publicada na revista “ A Luva”. Integrou um grupo literário, Academia dos Rebeldes, do qual faziam parte o jornalista e poeta Pinheiro da Veiga, Clóvis de Amorim, Guilherme Dias Gomes, João Cordeiro, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Aydano do Couto Ferraz, Emanuel Assemany, Sosígenes Costa e Walter da Silveira. Cito estes nomes porque todos fizeram parte da literatura brasileira e não podendo deixar de lembrar que Jorge Amado teria nesta altura pouco mais ou menos dezanove anos.
Em 1930 mudou-se para o Rio de Janeiro onde se matriculou na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro cujo curso terminaria em 1935. Veio aqui a conhecer Vinicius de Morais, Otávio de Faria e outros escritores conhecidos da literatura brasileira. Em 1931, com 19 anos publicou O País do Carnaval, que foi um sucesso literário. No ano seguinte mudou-se para um apartamento em Ipanema com o poeta Raul Bopp. Aqui vem a conhecer José Américo de Almeida, Amando Fontes, Gilberto Freyre e Rachel de Queiroz esta última que o aproximou aos comunistas. Em 1933 publica Cacau que foi outro sucesso.
Neste ano casou com Matilde Garcia Rosa que tinha 17 anos, o que os obrigou a fugir, face á oposição do pai ao casamento. Este casamento durou onze anos e gerou uma filha que veio a falecer muito jovem. Em 1936, com 24 anos, sofreu a primeira prisão por motivos politicos acusado de participar na Intentona Comunista. No ano seguinte viaja pela América Latina e vai aos Estados Unidos. Quando regressou tinha acontecido o golpe de Getulio Vargas, o que o levou novamente á prisão. Os seus livros O País do Carnaval, Cacau, Suor, Jubiabá, Mar Morto e Capitães da Areia foram queimados por terem sido considerados subversivos.

Termino aqui as citações de parte da biografia de Jorge Amado, por três razões: Primeira - Não pretender entendiar ao apresentar a totalidade da biografia de Jorge Amado pois, qualquer de nós a poderá obter fácilmente na net, aliás como eu fiz. A segunda razão prende-se com a pretensão de reflectir convosco de como nasce ou se desenvolve um talento. Não é tarefa fácil... e eventualmente pretensiosa... Se definirmos o significado de talento como capacidade natural para uma actividade, seja ela a escrita, música ou outra qualquer, aparece-nos a primeira questão: Como aparece a capacidade natural, será ela genética ou indusida pelo meio envolvente, quer familiar ou por formação?
No aspecto genético não entro por aí, pois há tantos autores a favor como em desfavor. É matéria a que falta ainda muito conhecimento. Abordando a segunda vejamos o caso de Jorge Amado: Ao entrar na instrução primária com seis anos, já sabia ler, o que tinha aprendido com sua mãe, não podemos esquecer que a instrução da mulher naquela época deixava muito a desejar – estamos no ano 1912, pelo que será legitimo admitir que a sua familia seria instruída, tanto mais que seu pai era possuidor de uma fazenda de cacau, o ouro negro. Logo uma família de posses, porque na época poucos poderiam dar-se ou luxo de mandar um filho para um colégio interno e para a faculdade.
Ora, no colégio António Vieira, Jorge Amado teve como professor o padre jesuita Luiz Gonzaga Cabral que ao se perceber do talento do seu aluno o auxiliou no seu desenvolvimento. O padre jesuita Luiz Gonzaga Cabral não era só professor, era um homem de rara cultura e ele própio escritor. Se conjugarmos esta situação com a integração nos vários grupos literários de que fez parte penso que é fácil aceitarmos a frase de GOETHE – o talento educa-se.... e porque não a afirmação de PROUST da existencia de dois métodos através dos quais se pode adquirir sabedoria : sem dor através de um professor ou com dor através da vida. Penso que Jorge Amado teve todas estas aprendizagens.
A terceira razão será a razão: porquê a escolha do nome simbólico de Jorge Amado?
Na minha adolescência – eu não lia, devorava livros. Semana que não lesse um dois livros não era semana para mim. Não esquecer que na época não havia televisão, ela só apareceu lá pelos meus dezanove anos. Será critica ...?
Tive a sorte de meu Pai ter uma biblioteca bem recheada, tanto de autores da lingua portuguesa como de autores estranjeiros, e um deles ser Jorge Amado. Li todos os livros dele da época – O País do Carnaval, Cacau, Suor, Jubiabá, Mar Morto e Capitães da Areia e foi precisamente este último que mais me marcou. Como curiosidade lembro que na época todos estes livros eram proibidos, e o Pai tinha-os porque eram enviados do Brasil por um grande amigo dele, o dr. Lafayete, que foi o primeiro secretário-geral do Partido Socialista Português, penso que o nome do Partido se chamava assim, mas não estou bem certo, tendo partido de casa de meu Pai para exílio no Brasil.

Já lá vão tantos anos... Uma vida!

Autor: Jorge Amado

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