Esta organização circular tão carregada de simbolismo, tanto evidencia simplicidade e inocência como se revela como a mais complexa e abrangente conexão universal, numa prática que suscita elevados sentimentos de fraternidade e forte ligação.
A “Cadeia de União” representa, na sua singela simplicidade, uma figura complexa, não só em termos de organização da sua configuração, como também no que diz respeito ao seu sentido simbólico. Para além do rito da “Cadeia de União” corresponder à operacionalização humana do conceito de entrelaçar, é possível, também, a partir dela intuir sobre a ideia de cadeia, numa percepção de fortaleza, de conjugação perfeita de pés em esquadro, troncos e mãos, numa dinâmica comunicacional que, em muito, ultrapassa o conceito e o sentido de União. É significativamente mais profunda que a comunicação entre irmãos, seja por meio de oração, seja pela transmissão da palavra semestral.
Mas, a Cadeia, que é de facto de União, representa, na unicidade da sua forma e importância da sua mensagem, uma ideia de fraternidade, de coesão, de ligação e conexão harmoniosa, que se evidencia em tudo o que é físico e espiritual, numa coreografia da tradição maçónica.
A primeira referência à Cadeia de União remonta ao ano de 1696 e é descrita nos manuscritos dos arquivos de Edimburgo, como uma estrutura circular, organizada, que se recria, como hoje ocorre, no final dos trabalhos. Digamos que, com o passar do tempo, a cadeia de união ampliou sua presença e, a partir do século XIX, tornou-se num ritual frequentemente realizado no âmbito do encontro maçónico.
A Cadeia de União constitui-se um grande momento de intimidade cúmplice e de proximidade assumida.
É um momento em que todos os irmãos dão as mãos, formando um círculo e olhando para o centro da loja. Tudo é simbolicamente importante nesse momento união: a maneira de dar as mãos, a formação do círculo, o toque dos pés, as palavras ditas pelo Venerável Mestre.
Alguns autores, (como Irène Mainguy) referem-se, até, a um fluxo de energia circulando por todos os maçons ligados na cadeia, num vínculo que une irmãos, muito para além do próprio tempo e espaço.
Pela Cadeia de União, corporiza-se aquilo que é a unidade da corrente através da multiplicidade dos seus elos. Mas outras conotações podem ser apontadas na representação da Cadeia.
Ao se organizarem em círculo, os maçons definem, claramente, a sua cadeia de união como algo que representa o grande elo, a grandeza, a eficiência e o poder do sagrado. A Cadeia torna-nos elos de Força, Beleza, Sabedoria, Partilha e União, que não só liga os Irmãos entre si, como liga os Homens ao Grande Construtor do Universo.
Na verdade, a Cadeia de União pode ser considerada como uma expressão superior do Amor Fraterno, baseado no amor tremendo, invencível, avassalador e puro de Deus. As mãos nuas dos Irmãos, ligadas naquele momento, falam da Honestidade dos corações e, a sua união representada pela comunhão que se interpreta pela sua posição, invoca os valores da Fraternidade. A Cadeia de União é exponencialmente mais expressiva e simbólica do que toda a mímica de entrelaçar os braços, do aperto de mãos e do toque dos pés em esquadro.
Através da Cadeia de União, o Maçon conecta-se com os seus Irmãos! É uma prática de partilha de sentimentos e pensamentos, que ocorre, concretamente, em presença de todos, mas que alcança todos os que, por uma razão inopinada ou fragilidade momentânea, possam estar ausentes do templo.
A representação formal da Cadeia de União remete-nos, igualmente, para os deveres, princípios e virtudes próprios do “Ser Pessoa” e do “Ser Maçon”.
Todos os Irmãos, unidos na expressão coreográfica da ligação existente entre si, alinham-se defendendo e fazendo cumprir um ideal de atitude, comportamento e orientação que nos assegura a capacidade de:
• Ser bondoso, amigo e cordial para com todos.
• Ser empático e disponível para todo o Irmão que precise de ajuda.
• Acolher, apoiar e defender os Irmãos nas suas falhas ou fragilidades, revelando capacidade superior para compreender os factos e os contextos individuais.
• Ser próximo, gentil e cuidadoso em conteúdo e forma, em situações de correção, sugestão ou orientação para a melhoria ou, até mesmo, qualquer recomendação sobre alteração de comportamentos.
• Assegurar-se de uma atitude permanente e proativa de bondade para com todos outros, preocupando-se em manter uma postura bondosa, amistosa, coerente e justa em todas as situações.
No fundo, a Cadeia de União, significa e valida o quão inquebrável é a ligação entre os Irmãos, unidos pelos laços da Fraternidade.
Sem aquele momento de união universal, ninguém abandona o local. A Cadeia de União permite uma despedida em harmonia, uma separação entre Irmãos, na certeza de que todos estão felizes e realizados, que todos se sentem e são respeitados como seres únicos e individuais, mas também imensamente pertença de um conjunto uno e inquebrável, como é a ligação e a União Fraterna, de harmonia e paz interior que reina entre os Irmãos. Nesta perspectiva, podemos até afirmar, que a Cadeia de União formada dentro do Templo e simbolicamente associada a uma ideia de União Fraterna é, realmente e em si própria, a representação da própria Fraternidade.
Conceição (2002) refere-nos de forma categórica (e cito) que “Individualmente somos fracos, isolados e falíveis, contudo, quando o Venerável, antes do encerramento dos trabalhos, evoca a união de todos os Maçons (…) há um sopro mágico que se introduz no Templo”.
De facto, a Cadeia de União é o corolário obrigatório das sessões de trabalho! Momento alto de simbolismo e expressão mítica. Há uma agregação das forças psíquicas presentes, focadas no mesmo objetivo e há, assumidamente, uma energia que esta cadeia pode armazenar que passa ao longo da cadeia por todos os seus integrantes.
A Cadeia de União é, também, uma cadeia de defesa!!! Juntos somos mais fortes! E, mantendo-nos juntos, conseguiremos ser mais capazes, competentes e impenetráveis face às influências nefastas do exterior. Por outro lado, a conexão que se manifesta naquele momento, dá significado às palavras que possam ser proferidas, à oração que se murmure, à referência de compaixão que se anote e, ainda, à invocação proferida pelo Venerável, relativa a eventuais preocupações e aspirações gerais e particulares.
Nenhum Maçom pode (ou deve) integrar a Cadeia de União se carregar em si, o peso de sentimentos negativos, se trouxer o coração carregado de rancor, inveja, raiva, ira, egoísmo ou qualquer outro sentimento maléfico. Da Fraternidade e União, resultam espíritos conectados! E também uma energia benfeitora, humana e criativa, sempre construtora do Bem
Autor: Noah
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