terça-feira, 24 de setembro de 2013

Para que servem os Símbolos

Todos nós já ouvimos várias críticas aos “homens do avental”, até se ouve dizer: “avental só na cozinha”. Que vivemos do passado e que hoje as pessoas são instruídas, porque há escolas, universidades, livros, tantos jornais, não sendo necessário todo esse material arcaico para ensinar o que é ser fraterno ou ser livre.
Contudo, estas críticas, aparentemente lógicas, fazem pensar e até criar muitas dúvidas a alguns jovens maçons, porque dada a sua pouca vida ou experiência maçónica e, algumas, talvez poucas, e rápidas reuniões de instrução, não lhes dão senão ensinamentos sumários e muito superficiais sobre a natureza e o sentido do nosso trabalho. Foi-lhes dito, em poucas palavras, que o símbolo era um meio de ensino, depois falou-se-lhes de outra coisa, de um desses assuntos corriqueiros do qual se trata todos os dias, e eles pensam, assim, não nos convencem! Para quê tanta complicação para uma tarefa tão natural?
 
Daí a considerar que a simbologia, não passa de uma incómoda rotina, não vai mais que um passo, é um erro suprimi-la só por não poder compreender-lhe o alcance ou não querer dar-se ao incómodo de conhecê-la e dela se desinteressar, como de velhos objectos de família que se conservam por respeito e que não têm mais utilidade.
Há quem fale que é necessário modernizar a maçonaria, sem reflectir que isso seria decapitá-la e privá-la do que constitui o seu método por excelência e a sua primordial razão de ser, ao lado e acima das sociedades profanas, assim se prepara para não ser por toda a vida senão maçom de nome, sem nada ter compreendido e nada sabido.
É para esses jovens maçons, eu incluído, e pelos que querem aprender que vou tentar justificar um velho método, antigo como o mundo do pensamento, todavia sempre jovem, ainda necessário ao nosso mundo contemporâneo, visto que não desagrada exageradamente aos nossos modernizadores.
Ele desempenha para a educação do homem um papel que a instrução de forma profana não pode corresponder. Esse método satisfaz à necessidade funcional do espírito, mobiliza as outras faculdades e opera de maneira diferente das que são empregadas no ensino usual, tem múltiplas e preciosas vantagens e é com justas razões que tem sido mantida através dos tempos e dos povos.
 
Os nossos antepassados consolidaram-no nas nossas Lojas, tinham múltiplos fins. São esses fins que convém examinar com atenção, pouco a pouco veremos o desempenho diante de nós das regras de conduta de um sistema particular de formação fecundo em ensinamentos e muito digno, por conseguinte, eternizar o laço indestrutível entre todos os maçons passados, presentes e futuros.
O conjunto de ensinamentos simbólicos da maçonaria provem de diversas fontes:
- dos instrumentos de trabalho e dos objectos colocados na Loja;
- dos números e das figuras geométricas;
- das formas ritualísticas para a admissão em Loja ou a passagem de um grau a outro;
- da lenda de Hiram, feito à imagem de todas as lendas de religiões antigas, com as quais se iguala em beleza e profundidade, com vantagem de não impor nenhuma crença misteriosa ao nosso espírito e de ser simplesmente para ele um ensinamento para diversos graus.
O simbolismo, escreveu Findel, na sua célebre história da Franco-Maçonaria, “é o laço exterior dos Irmãos que, dispersados sobre a superfície do globo, têm aspirações comuns e procuram, de acordo com formas transmitidas pela tradição, assemelhar-se a elas e ensiná-las aos outros homens”.
 
Esse único facto, a um simples exame superficial, permite ao mais simplista compreender a importância associada à conservação do simbolismo nas Lojas, pois aqueles que tentassem ferir esses princípios, afastar-se-iam das regras constitutivas que lhe são essências e que são aceites por todos, por conseguinte, incluir-se-iam automaticamente de grande família para mergulhar na massa obscura das incontáveis sociedades que formam os homens do dia-a-dia, afastados de todas as tradições.
O método que disso resulta, base comum da maçonaria e das sociedades iniciáticas que existem em toda a plenitude, ainda que o grande público as conheça pouco, mantém a unidade atrelada à variedade das obediências e das diversas organizações, e dá à marcha dessas instituições um carácter universal.
 
O simbolismo é um estado particular da ciência filosófica no qual todas as afirmações científicas são expressas por símbolos.
O símbolo é uma figura, uma marca, um objecto que tem um significado convencional.
A Franco-Maçonaria não pode abster-se do símbolo, pois ela é uma arte e todas as artes recorrem ao símbolo.
O simbolismo é uma linguagem adequada à maçonaria, é uma linguagem específica de todos os Irmãos e em todos os lugares.
Nós, maçons, temos o esquadro com o compasso, o triângulo e outros objectos muito conhecidos por todos, os quais resumem ideias e gravam-se melhor na memória dos homens.
A filosofia maçónica, por meio dos seus símbolos, enraíza melhor na memória dos homens, os ensinamentos transmitidos, os quais, quando abstractos, podem ser mais bem compreendidos, já que não existem palavras para exprimir o inexprimível.
 
Autor: Fernando Valle

terça-feira, 17 de setembro de 2013

As premonições de Natália

"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"

"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".

Natália Correia
Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Frederico George - Um Humanista

In Memoriam de Frederico George pela passagem do 3.º ano que nos deixou e partiu para o Oriente Eterno. 

Sir Frederick George, foi aceite Lowton aos 14 anos de idade e recebeu a Luz Maçónica aos 19 na Resp. Loja New England, Or. de Oxford, no Rito de York. Ao atingir o Grau de Mestre Maçon solicitou a sua passagem para Rito Escocês Antigo e Aceite, momento em que se filiou na Resp. Loja Morning Star a Or. de Lisboa. Loja em que se manteve até ao final do caminho.

Em 1971 subiu ao Supremo Conselho Unificado para a Grã-Bretanha, em 1982 assumiu o Cargo de Grande Chanceler do mesmo Orgão. 
Na sua Resp. Loja a Or. de Lisboa ocupou todos os cargos no Colégio de Oficiais, tendo sido Venerável Mestre por três vezes. 

Por iniciativa do Grão-Mestrado foi agraciado com as mais altas insígnias da Ordem, mas recusou sempre aceitá-las argumentando que tais insígnias eram marcada por um valor profano e saiam do âmbito do trajecto iniciático da Franco-Maçonaria. 
No momento da sua partida para o Oriente Eterno tinha renunciado a todos os seus cargos, mantendo apenas a distinção dos seus Graus.

Ao nível profano, era arquitecto de profissão, sempre dedicado a projectos de urbanização de bairros sociais. Actividade que desenvolveu e prestigiou em Inglaterra, mas sobre tudo em Portugal. 

Desde os 26 anos de idade que integrava a tendência republicana do Partido Trabalhista Britânico. 
Devido às suas convicções republicanas, nunca aceitou nenhuma distinção da Coroa e dadas a sua condição de dupla nacionalidade também recusou distinções da República Portuguesa.

Em sua memória será realizada uma Missa Solene na Catedral de Westminster – Capela da GLUI, celebrada por Sua Eminência o Arcebispo de Cantuária. 

As suas cinzas serão depositadas na parcela da Grande Loja no Cemitério Britânico em Lisboa.

Por este decreto de luto, que todas as Lojas e Oficinas Filosóficas ajam em conformidade.

Aos dez dias do mês profano de Setembro de 2010

Sua Alteza Real, o Duque de Kent,
Gão-Mestre da Grande Loja Unida Inglaterra