segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Silêncio e a Contemplação dos Reflexos da Luz

Desde que iniciei com a ajuda dos meus Q:. I:. o caminho para a Luz fui incentivado a observar e absorver o decorrer dos trabalhos nas sessões em Loja, tendo atenção ao Ritual, aos Cargos, participando no que me é possível e sempre que solicitado.

No inico do meu percurso numa das nossas confraternizações um dos nossos irmãos sugeriu que um tema que um dia pediria a um A:.M:. ou C:.M:. que viesse a acompanhar seria o tema Silêncio, tendo desde essa data esse tema ficado latente nas pesquisas e leituras que fui encontrando e fazendo a minha reflexão.

A primeira questão com que me deparei e que numa primeira fase pareceria mais simples, não o foi. O que é isto do Silêncio? É estar calado? Ou mais que isso?

Recorrendo-me de um dicionário verificamos que si·lên·ci·o provém do latim silentium e é um substantivo masculino que define o estado de quem se abstém ou para de falar, a cessação de som ou ruído, a interrupção de correspondência ou de comunicação, a omissão de uma explicação, o sossego, quietude, calma, o segredo, sigilo, o Toque nos quartéis e conventos, depois do recolher e frequentemente utilizada a palavra como interjeição numa expressão usada para impedir de falar ou pedir que alguém se cale.

Definida a palavra, importa detalhar de forma semiótica a mesma para perceber a sua significação na relação com a Maçonaria. Neste processo de análise levantam-se duas questões que para mim e no trabalho que tenho desenvolvido no desbaste da pedra bruta como A:. e no polimento como C:. têm significados distintos:

- O que é o Silêncio Maçónico?

- O que é Silêncio em Maçonaria?

Começando na demanda da primeira questão, a interrogação remete-me para o significado associado ao Silêncio de Segredo. O nosso Q:.I:. António Arnaut define a nossa A:.O:. como “ discreta” e não secreta já que nada tem a esconder e os Rituais podem ser facilmente encontrados num qualquer alfarrabista, assim é reservada já que por ser iniciática não está aberta ao público e reserva apenas aos M:. o conhecimento de certas práticas e saberes, o que poderá ser considerado o segredo maçónico. Como exemplo de não sermos uma associação secreta temos as recentes eleições em que mutos nos nossos I:. tiveram conhecimento dos resultados na imprensa e não pela nossa A:.O:.

Podemos claro considerar que a Maçonaria como associação de homens livres, de bons costumes, onde seus membros se dedicam ao aperfeiçoamento moral e social através do trabalho constante já foi alvo de diversas perseguições com consequências graves para todos os M:. pelo que a manutenção do Segredo sobre as praticas da Maçonaria eram uma questão de sobrevivência.

Actualmente no caso de Portugal, se podemos considerar que não é fisicamente uma ameaça ser M:., pode ser ainda prejudicial profissionalmente, esta situação é causada pelo desconhecimento e preconceito que o mundo profano tem da nossa A:.O:. e será também aqui importante a nossa acção diária nos nossos actos com Cidadãos e até como G:.O:.L:. para desmistificar esses preconceitos junto do mundo profano o quanto baste para assumirmos o nosso papel tantas vezes esquecido e muitas vezes manchado pela má conduta de alguns M:. ou pela calunia sobre terceiros utilizando a nossa A:.O:. até como uma arma contra um nosso I:. ou profano que até poderá nunca ter sido iniciado.

Vivendo num mundo em constante mutação e com equilíbrios por vezes muito frágeis é importante também manter uma forte vertente discreta para que não seja dado por garantido que não teremos de nos manter vigilantes para a necessidade de estarmos sempre preparados a retornar a práticas mais Clandestinas ou apoiar essas mesmas práticas nos locais onde a Republica e a Democracia estão postas em causa ou já não exista para que não se percam os nossos valores fundamentais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Finalmente e ainda sob a ideia de Segredo temos o nosso juramento que não divulgaremos o que se passa na nossa A:.O:., em todas as sessões prometemos ao nosso V:.M:. não revelar a M:. ou profano algum o que se passou na sessão, o que não serão apenas palavras lidas num Ritual, pois este nosso compromisso é um dos alicerces da nossa união. É nesta componente do Segredo Maçónico que pela confiança mutua exercitamos a nossa fraternidade pelos símbolos, hábitos e costumes que partilhamos e ensinamos aos I:. que a Loja acolhe no seu seio.

Então e além do Segredo Maçónico o que poderá ser igualmente o Silêncio em Maçonaria?

Reflectindo sobre esta questão o meu pensamento vai para o silêncio quase absoluto em que o A:.M:. e o C:.M:. estão confinados nas sessões, o que numa primeira análise não seria uma pratica muito Maçónica pois não estão num patamar de igualdade para com os I:.M:.M…

Para compreender esta discrepância na utilização da palavra fui relembrar o conceito de A:.M:., C:.M:. e M:.M:. socorrendo-me das definições dadas pelo nosso Q:. I:. António Ventura:

A:.M:., - “Titulo do 1 grau de todos os ritos maçónicos. Representa aquele que começa a aprender, o “estagiário”, o Homem na sua primeira infância, carente de protecção, apoio e ensino que trabalhará no desbaste da «Pedra Bruta», de forma a conhecer-se a si próprio e a libertar-se progressivamente dos preconceitos da vida profana”.

C:.M:. – “Titulo do 2 grau de todos os ritos maçónicos. Já está suficientemente instruído para poder acompanhar o mestre na maioria dos trabalhos. Representa o homem na sua juventude espiritual, com iniciativas, mas ainda pouco consciente das virtualidades que possui” (…) “Trabalha simbolicamente no polimento da «pedra bruta», já desbastada pelo aprendiz.”

M:.M.. – “Titulo do 3.º grau de todos os ritos maçónicos. Já possui faculdades para trabalhar por si e para ensinar os outros. Representa o homem maduro, consciente das suas responsabilidades. Só neste grau o maçon atinge a plenitude, pode intervir na Loja, eleger e ser eleito para todos os cargos.”

Lendo estas três definições sou imediatamente remetido para o desenvolvimento cognitivo entre o profano e o M:.M:.

Este desenvolvimento inicia-se na Câmara de Reflexões, na iniciação onde uma da inscrições contem as letras V.I.T.R.I.O.L., estas além de darem o nome a uma Associação paramaçónica, significa Visita Interior Terrae Rectificando que Invenies Occultum Lapidem (Visita o Interior da Terra e Rectificando Encontrarás a Pedra Oculta). Aqui somos transportados para uma certeza, temos de meditar sobre nós próprios e nessa introspecção encontrarmos um exercício que não cessará. Iremos de forma constante procurar formas dentro de nós mediante as experiências que temos de nos melhorarmos como indivíduos e consequentemente como grupo.

Esta perspectiva remeteu-me para as diversas teorias existentes de desenvolvimento sendo que das leituras que fiz a que me pareceu mais alinhavada com o meu pensamento sobre o tema foi a Teoria Cognitiva, esta apesar de já ser datada para alguns estudiosos do tema, ajuda-nos a perceber a nossa forma de aprendizagem cognitiva pois surge na década de 50 com um complemento das teorias comportamentais em que a aprendizagem era apenas efectuada por condicionamento, ou seja estimulo-resposta.

Assim, na teoria cognitiva vemos a definição do termo cognição como o conjunto de habilidades mentais que desenvolvemos para a construção do nosso conhecimento do mundo. Os processos cognitivos envolvem, portanto, as capacidades relacionadas ao desenvolvimento do pensamento, raciocínio, fala, introspecção etc, tendo inicio na infância e estando directamente relacionados com a aprendizagem.

Não pretendo nesta prancha detalhar as diversas correntes cognitivistas defendidas por Piaget, Wallon e outros, pois cada uma delas é digna de um trabalho académico para o qual confesso não tenho formação adequada, no entanto apesar das diferenças entre estas correntes todas procuram compreender como a aprendizagem ocorre no que se refere às estruturas mentais do sujeito e sobre o que é preciso fazer para aprender, num processo de construção de um esquema de representações mentais que se dá a partir da participação activa do sujeito e que resulta na transformação em conhecimento.

Assim e transpondo este processo de aprendizagem para a Maçonaria temos no silencio uma ferramenta fulcral. Estamos no processo de nascer de novo para o mundo, de nos contruirmos novamente e iniciamos assim o processo de caminhar para o conhecimento, o que se faz primeiro por observação depois por repetição e finalmente ao desenvolver o nosso trabalho, podemos fazer aqui um paralelismo com os três primeiros graus maçónicos e os diferentes estágios da aprendizagem da infância à idade adulta tão patente nas viagens da iniciação. Verificamos assim que o silencio em maçonaria é mais que não falar, não é na verdade sequer ser proibido de falar, é ter o direito a ouvir atentamente e meditar sobre o que foi ouvido, num exercício disciplinado que nos permite como A:. e C:. M:. ver coisas que posteriormente teremos menos disponibilidade para ver.

Anteriormente referi que têm surgido questões ao longo do meu caminho no desbaste da pedra bruta como A:.M:. e no polimento como C:.M:., o mesmo sucederá aos M:.Q:.I:. M:.M:. pois todos nós procuramos a verdade num caminho que será eterno. Orgulhosos todos por em determinados momentos nos silenciamos na contemplação dos reflexos da Luz que nos motiva e fortalece os nossos propósitos pois no trabalho estarmos todos os dias um dia mais perto da construção de um Mundo mais justo e perfeito.

Finalmente deixo-vos com uma consideração sobre este tema que me parece pertinente remetendo para a definição de M:.M:. “só neste grau o maçon atinge a plenitude”, pois bem, tal e qual como no mundo profano, sendo o A:.M:. e o C:.M:. remetidos aos silencio não estão efectivamente num patamar de igualdade para com os I:.M:.M:., estão sim num patamar que se poderá dizer até superior pois num gesto de grande fraternidade estes permitem que os primeiros aprendam e evoluam, tendo mais tempo para conseguir contemplar os reflexos da Luz antes de se dedicarem ao trabalho e ensino dos I:. que os seguem.

Na Maçonaria silenciar-se é ouvir.

 

Autor: Armindo Matias

domingo, 22 de agosto de 2021

A loja maçónica ou os 12 trabalhos de Hércules

A loja maçónica é o elemento base da maçonaria, onde se produz o trabalho maçónico. E todos os obreiros, seja qual for o cargo que ocupem, ou mesmo não ocupando nenhum, devem à loja o melhor do seu trabalho. Como é sabido, nós glorificamos o trabalho e não distinguimos trabalho manual de trabalho intelectual. 

E quando falamos em trabalho vêm-nos logo à memória as doze tarefas que Euristeu deu a Hércules para agradar a Hera. Ora, existe uma analogia entre os trabalhos de Hércules e os trabalhos em Loja.  

Tal como não se cria uma hierarquia em relação aos doze trabalhos de Hércules, também não deve haver uma hierarquia relativamente aos trabalhos em loja, pois todos dignificam o obreiro que os executa. 

Trabalhos em Loja que são, aliás, comparáveis aos trabalhos de Hércules, senão vejamos: 

A hidra de Lerna: A hidra de Lerna era uma serpente colossal que amedrontava a região de Lerna, no Peloponeso, destruindo rebanhos e plantações. A hidra possuía nove cabeças, mas cada vez que se decepava uma nasciam duas no seu lugar. Para levar a termo o seu trabalho, Hércules contou com a ajuda do seu fiel amigo Iolaus. Para evitar o contínuo ressurgimento Hércules decepava-as e Iolaus cauterizava com fogo o local, impedindo o aparecimento de novas cabeças. Após eliminar todas as cabeças mortais, Hércules levantou um enorme rochedo e com ele esmagou a última cabeça da hidra, queimando-a depois para que não ressurgisse. Livrar a loja de toda e qualquer hidra, quaisquer que sejam as cabeças que tenha, é trabalho do Venerável.

O leão de Nemeia: Um gigantesco leão aterrorizava a população da região de Nemeia, assustando e matando gado e pessoas. Como o animal se acoitava numa caverna com duas saídas, era muito difícil embosca-lo. Os caçadores da região pediram ajuda ao rei Euristeu, pois o animal revelava-se invulnerável, e este enviou Hércules para exterminar o leão. Este fechou uma das saídas da caverna, obrigando o animal a abandoná-la pelo outro lado. Então, desferiu-lhe um violento golpe com a sua clava, e percebendo que o animal ficara tonto, em rápida acção montou sobre ele, estrangulando-o até à morte. Decepou, depois, uma das garras do leão, e com ela conseguiu arrancar a dura pele do animal, passando a usar o seu resistente couro como capa protectora. Tal tarefa é assimilável à tarefa do Primeiro Vigilante. Tarefa difícil, a deste, que para além da direcção da loja, em conjunto com o Venerável e com o Segundo Vigilante, tem também o dever de substituir aquele nas suas faltas e impedimentos, tendo ainda a seu cargo a coluna dos companheiros. A sua tarefa é, sem dúvida, equiparada à de lidar com um leão difícil de esfolar.

Javali de Erimanto: Um javali aterrorizava as vizinhanças do monte Erimanto. Enorme e feroz, ele matava quem cruzasse o seu caminho. A tarefa era capturá-lo vivo. Ao fatigá-lo após persegui-lo durante horas, Hércules cercou-o e dominou-o. Euristeu, ao ver o animal ao ombro do herói, teve tamanho medo que se foi esconder dentro de uma ânfora de bronze.Com a coluna dos aprendizes a seu cargo, e dirigindo a loja em conjunto com o Venerável e o Primeiro Vigilante, bem fatigante é a tarefa do Segundo Vigilante, como se carregasse um javali às costas.

A corça Cerinéia: A corça de Cerinéia, animal lendário com chifres de ouro e pés de bronze, que corria com assombrosa rapidez e nunca se cansava, era Taígete, ninfa que foi transformada em animal por Artémis para fugir da perseguição de Zeus. Como ela tinha uma velocidade insuperável, Hércules perseguiu-a incansavelmente durante um ano até que um dia, exausta, a corça parou para beber água num riacho. Foi quando Hércules, aproveitando a oportunidade, lançou uma flecha certeira que atingiu a corça na pata dianteira, aprisionando-a de seguida. Correr a loja com pés de bronze, sem nunca se cansar, eis o trabalho do Mestre-de-Cerimónias.

Aves de Estínfale: Havia um pântano que era assolado por aves negras que possuíam asas, garras e bicos de ferro. O herói, primeiramente, usou um címbalo para as atrair e imediatamente todas as aves surgiram acima do pântano, bloqueando a luz do sol, transformando o dia em noite. Então Hércules acendeu uma tocha que chamou a atenção das aves, que começaram a descer violentamente contra ele para o atacar. Era o que ele pretendia, começando então a disparar flechas venenosas contra elas e abatendo a sua maioria. As que escaparam fugiram para países longínquos. O Orador é o nosso archeiro, cujo dever de fazer cumprir a lei é sagrado, nem que para isso tenha de usar dos meios mais persuasivos.

O touro de Creta: Poseidon, o Senhor das Águas, ofereceu a Minos, rei da ilha de Creta, um belíssimo touro branco, o qual se tornou furioso porque o rei não o ofereceu em sacrifício a Deus. O touro devastava os campos da região e Hércules foi até lá para dominá-lo. Após controlar o touro, montou-o e levou-o até Euristeu. O Secretário, como no trabalho do touro de Creta tem de organizar a devastação da linguagem oral, organizando-a de forma sintética e objectiva no relato do ocorrido em cada sessão.

Cavalariças de Áugias: Áugias, rei de Élida, tinha uma grande coudelaria de cavalos mas não cuidava dos seus estábulos, que acumularam uma colossal quantidade de estrume ao longo dos anos e que exalavam um cheiro mortal. Hércules conseguiu lavá-los num só dia, usando a água de dois rios cujos cursos desviou com a sua força. Bem tem de usar a sua força, neste caso força de organização, o Chanceler Arquivista, para manter devidamente conservados e catalogados os bens da oficina, com o correspondente inventário em dia. Mau arquivista será o que se portar como Áugias.

Éguas de Diomedes: Neste caso, tinha Hércules de ir até Diomedes, filho de Ares e rei da Trácia, para domesticar os seus terríveis cavalos carnívoros, que soltavam fogo pela boca. Como todos os filhos de Ares, Diomedes era um homem cruel que tinha como diversão lançar qualquer estrangeiro para servir de alimento aos seus cavalos. O herói seguiu em direcção a Trácia, onde procurou por Diomedes. Este lançou contra ele, de imediato os seus cavalos, que Hércules capturou. Mas, notando que estavam famintos serviu-lhes como refeição o próprio Diomedes. Ora a alimentação, seja do corpo seja do espírito, e quer simbolicamente represente alimentar os homens à custa dos animais ou alimentar os animais à custa dos homens, é o que compete ao irmão Hospitaleiro.

Cinto de Hipólita: Hipólita era a rainha das amazonas – tribo de mulheres guerreiras descendentes de Ares, as quais odiavam os homens. Grandes guerreiras, elas cortavam um dos seios para melhor manejar o arco e a flecha. Hipólita tinha um belo cinturão que lhe fora dado por Ares, seu pai. Este trabalho de Hércules era obter esse cinturão, desejado por Admete, filha de Euristeu. Hipólita, seduzida pelo belo e musculado herói entrega-lhe o objecto (noutra versão, o cinto é obtido depois de Hércules ter raptado a irmã de Hipólita, Menalite, pedindo o cinto como resgate). Mas a velha inimiga de Hércules, Hera, disfarçada como amazona, incita as mulheres a ataca-lo fazendo correr o boato de que este está lá para raptar a sua rainha. A deusa consegue cegar de raiva as mulheres e começa uma batalha feroz e sangrenta contra os heróis. Hipólita tenta intervir mas a ira e o tropel dos cavalos atrapalham as suas ordens. As amazonas então atacam Hércules, que tem de matar todas para fugir com o cinto. Lutar até ao fim pelos bens da loja, cobrando o que haja a cobrar, com objectividade, e defendendo o seu património, eis o trabalho do Tesoureiro.

Bois de Gerião: Gerião era um gigante, com três torsos num único par de pernas e possuía um numeroso rebanho de bois, que eram guardados por um pastor monstruoso, Eurítion, e seu cão de duas cabeças, Orto. Hércules facilmente matou esta dupla, mas foi surpreendido pelo próprio Gerião. Isso, porém, não causou nenhum temor ao herói, que após uma longa batalha percebeu que da cintura para baixo o gigante era exactamente como ele. Então, utilizando um poderoso golpe, atingiu uma das pernas do monstro e derrubou-o no chão, esmagando então, sem piedade, todos os três corpos do gigante, assim vencendo a batalha. Também o experto tem de perceber a qualidade dos visitantes que pretendam aceder ao templo, assegurando-se das suas qualidades maçónicas, observando com atenção quem seja exactamente como ele, maçons, ainda que com diferente grau ou qualidade.

O guardião de Hades: Cérbero, um cão de três cabeças e cauda de serpente, guardava a entrada de Hades, o mundo dos mortos, permitindo a entrada de todos mas não deixando ninguém sair. Hércules desceu o Hades e capturou-o, mas após tê-lo mostrado a Euristeus devolveu-o ao inferno para continuar a sua função de guardião. Como Cérbero, o Guarda Interno, qual guardião de Hades, há-de guardar o templo e preservá-lo de inimigos e de estranhos, sendo sua obrigação lutar até ao limite das suas forças para que o Templo não seja profanado.

Pomos de ouro: Euristeu queria as maçãs de Ouro que nasciam no jardim das Hespérides. Estas eram filhas de Atlas, um dos titãs que lutou contra os deuses e, depois de derrotado, foi condenado a carregar eternamente o Mundo nas suas costas. Hércules não conseguia encontrar os frutos e estava prestes a desistir, mas encontrou Atlas, a quem perguntou a localização da árvore. O titã, porém, não quis ceder a informação gratuitamente e então o herói ofereceu-se para carregar o mundo no seu lugar, enquanto ele fosse buscar os frutos dourados.

Depois de algum tempo carregando o Mundo às costas, Hercules sentiu como devia ser horrível a vida do titã, e finalmente viu-o retornar com as maças douradas, depois de matar o dragão que as guardava. Porém Atlas, sentindo-se aliviado, não se mostrava tentado a retomar o Mundo nas suas costas. Hercules teve de fingir que concordava, pedindo apenas que o deixasse acabar a sua missão de levar as maçãs a Euristeu. Atlas concordou, retomou o Mundo nas suas costas e Hércules foi-se embora com as maçãs e nunca mais voltou. Os irmãos nas colunas, temporariamente sem cargo, devem à loja o seu trabalho, os seus pomos de ouro, e têm tanto a obrigação de os ir buscar como a obrigação de ficar a carregar com o mundo às costas, com sacrifício, quando seja a vez de outro irmão ir colher os pomos de ouro. 

Moral da história: Esta parábola pretende destacar que numa loja maçónica não se compete por cargos, devendo antes trabalhar-se com afinco maçónico naquilo que é nossa função e obrigação em cada função em cada momento.

Agora que se aproximam eleições, e em que dos candidatos aos mais altos cargos nos vêm exemplos tão perturbadores de ocultas virtudes e falsas modéstias, esta prancha tenta contribuir para que todos pensemos naquilo que prometemos na nossa iniciação e nas virtudes a que estamos adstritos, como homens de bons costumes.


Autor: Bocage


quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Cordão Nodoso

Depois de muito procurar, finamente encontrei a resposta sobre qual o símbolo deveria ser objeto de pesquisa e reflexão mais profunda nesta fase de aprendizagem da minha vida. Foi então que quase instantaneamente se fez luz e cresceu em mim um enorme entusiasmo para aprender sobre o cordão nodoso (corda com nós) que rodeia os templos maçónicos.

É pois, o Cordão Nodoso o tema desta minha prancha. Uma corda é um conjunto de fios de cânhamo, sisal ou de qualquer matéria filamentosa, torcidos ou entrelaçados juntos uns sobre os outros oque lhes aumenta a resistência. A corda é pois, o sinónimo de força obtida pela união.

Desde o seu aparecimento, a corda a que se acrescentavam nós equidistantes, foi usada como instrumento de medida por vários grupos profissionais incluindo os construtores. 

A medida utilizada era a distância que separava os vários nós (o côvado, por exemplo, que corresponde à distância entre o cotovelo e a extremidade do terceiro dedo, é mencionado na Bíblia a propósito das medidas do templo de Salomão).

A corda com nós servia também para obter relações de proporcionalidade na geometria como o demonstrou Pitágoras. A corda também é mencionada no Corão como elemento do socorro que qualquer crente pode pedir a Deus. Em Maçonaria o Cordão Nodoso delimita o templo na sua parte superior correspondente à base ou início da abóboda. Começa sobre a porta do ocidente, torneando-o pelo norte, oriente e sul, e regressa ao ocidente onde termina na mesma porta.

Tanto no princípio como no fim, a corda tem nas suas extremidades, borlas. Estas borlas terminam em franjas que lembram os fios que envolviam os capitéis ornamentados com romãs e com lótus no topo das colunas “J” e “B” à porta do templo de Salomão.

A abertura da corda com as referidas borlas posicionada na porta do templo, significa que a maçonaria está sempre disponível ao acolhimento de novos integrantes. A Maçonaria é pois dinâmica e progressista estando aberta a novas ideias que possam contribuir para o progresso do Homem e para a evolução racional da Humanidade.

O Cordão Nodoso é assim constituído por uma corda terminada em borlas e com um número variável de nós. Esses nós ou Laços de Amor representam os maçons unidos através do amor fraterno que deve existir entre todos mantendo contudo a sua individualidade. Podem igualmente ser entendidos como símbolo das dificuldades que a vida apresenta.

Os Laços de Amor estão nas cordas de doze e de oitenta um nós que delimitam os templos maçónicos e na corda do painel dos graus simbólicos.

A corda de doze nós tem feitos em si doze nós direitos que representam cada um o signo do zodíaco, enquanto imagem do universo e no seu conjunto representam o infinito. Marcam igualmente os solstícios de verão (festa do Conhecimento) e de inverno (Esperança) e os equinócios de outono e de primavera.

Desta corda também conhecida como corda dos druidas, existe uma variante com treze nós, seis de cada lado dum nó situado no oriente sobre o Venerável Mestre.

Na Corda de oitenta e um nós, o nó central fica por cima do trono do venerável, e representa o Número 1, a Unidade Indivisível, símbolo do GADU, princípio e fundamento do Universo. Os  demais distribuem-se nas duas laterais, quarenta nós equidistantes de cada lado, terminando em duas borlas caídas junto aos batentes da porta do templo. Estas borlas representam cada uma, Temperança, Coragem, Justiça e Prudência.

O número oitenta e um tem grande significado pois é um múltiplo de três e o quadrado de nove, números com um elevado simbolismo maçónico. A corda é mencionada nos rituais em vários graus simbólicos. Representa pois a união fraterna entre os maçons, a cadeia de união que os liga indissoluvelmente.

Em Maçonaria, o cordão nodoso surge ainda noutros contextos: Assim, a corda é usada na cerimónia de iniciação no rito escocês antigo e aceito em que o candidato a traz ao pescoço como símbolo de humildade e do estado de submissão ao mundo anterior em que ainda como profano se encontrava até receber a luz na altura em que é iniciado na ordem maçónica.

Quando o painel da loja era desenhado no chão costumava-se fazer o seu contorno com uma corda na qual se davam vários nós, em oito simples ou laços de amor, terminada em borla nas extremidades.

Esta corda é interpretada como elemento protetor do próprio templo separando as dimensões do profano e do sagrado cuja passagem era simbolicamente permitida através do espaço que separava as extremidades da corda.

Atualmente a corda que surge em torno do painel da loja apresenta um número variável de nós consoante o grau em que se realizam os trabalhos (no grau de aprendiz em número de três, no grau de companheiro cinco e no grau de mestre sete) e simboliza a cadeia de união espiritual que protege o templo.

A família única que todos os maçons da Terra devem formar é representada não só pelo Cordão Nodoso mas também pelo Pavimento Mosaico, pelas Romãs e pela Cadeia de União. O Pavimento dos templos, chão feito de mosaicos em xadrez de quadrados pretos e brancos, representa a diversidade do globo e das raças unidas pela maçonaria. Simboliza também a oposição dos contrários (bem/mal, espírito/corpo, luz e trevas). Este pavimento pode terminar em linha reta ou em cercadura / borda / orla dentada constituída por triângulos brancos e negros alternados. Esta borda dentada tem o mesmo significado que o cordão nodoso, que é a já referida cadeia de união espiritual que protege o templo.

A Romã é o símbolo dos maçons no mundo, unidos num ideal comum em perfeita harmonia, solidariedade e prosperidade entre eles, mas separados na sua individualidade e personalidade. Em número de três, as romãs decoram a parte superior do capitel das colunas “J” e “B”, e também surgem representadas no painel de loja no grau de aprendiz.

A Cadeia de União tem como representação material e permanente o cordão nodoso à volta do templo. Esta, é um ritual praticado em loja que tem lugar no encerramento das sessões ou nas sessões de iniciação, elevação ou exaltação de grau e que simboliza a união de todos os maçons. A Cadeia de União une-nos, maçons, no tempo e no espaço. Vem-nos do passado e tende para o futuro. Por ela nos ligamos aos Irmãos que outrora a formaram e por ela se devem unir todos os maçons de todos os países. 

A Cadeia de União é o único momento do ritual maçónico em que todos os Irmãos são verdadeiramente iguais entre si, em que a hierarquia deriva apenas da própria execução da Cadeia. Através da execução da referida Cadeia de União consegue-se o Laço Místico sendo este pois, a união entre os maçons que a compõem.

A Cadeia de União é assim a manifestação da verdadeira amizade comungada pelos obreiros que nela participam representando a “Lei do Amor Fraternal” base de toda a filosofia Maçónica. A Fraternidade, emblema da própria Ordem Maçónica, é como tal anunciada na abertura dos trabalhos mediante a aclamação em sintonia por todos os presentes: «Liberdade, Igualdade, Fraternidade».

A nobreza dos ideais maçónicos é indiscutível e os seus símbolos interrelacionam-se de tal forma que é impossível falar de cada um deles isoladamente, como acabou de acontecer.


Autor: João Bosco