terça-feira, 9 de novembro de 2021

As Religiões e a Maçonaria

JUDAISMO E MACONARIA

Antes de descrever de forma sucinta algumas semelhanças do simbolismo judaico e maçónico, será importante citar alguns aspetos da cultura judaica, muitas vezes esquecidos ou mesmo ignorados. Começo por citar um texto de Leon Zeldis, Grão-Mestre do Supremo Conselho do R.E.A.A. do Estado de Israel:

"Numa região sacudida pela guerra e pelo terrorismo, profundamente dividida política e pela religião, as lojas maçónicas constituem um oásis de Paz e de Tolerância, onde os homens livres e de boa vontade transcendem as suas diferenças para darem as mãos e o seu espírito, ligados pela aspiração comum de criar um Mundo melhor, aperfeiçoarem-se e de contribuírem para a construção de uma sociedade mais racional, fundada nos princípios da Liberdade, da lgualdade e da Fraternidade."

Existem traços comuns entre rituais, símbolos e palavras judaicas. Um dos Landmarks judaicos é a crença num Deus que criou tudo na nossa existência e que nos deu uma Lei, para ser seguida, incluindo os preceitos morais de relacionamento humano. A crença em Deus (G.A.D.U.), a prece, a imortalidade, a caridade, o agir respeitosamente entre os seus semelhantes fazem parte integrante do ideário maçónico - (maçonaria Teista) - como também no Judaísmo e até na maioria das religiões.

A maçonaria e o judaísmo, tais como os padrões éticos das outras religiões, ensinam­ nos que nos devemos autodisciplinar e manter as nossas paixões em constante contenção. A disciplina ritualística, seja nas sinagogas seja nas lojas maçónicas, auxilia a desenvolver esta virtude.

O judaísmo ensina que todo o ser humano e capaz do bem e do mal, tentando ser fiel a si próprio usando o livre arbítrio para escolher o caminho eticamente correto. A maçonaria ensina aqueles que são moralmente capazes a poderem encontrar a "Luz" na disciplina maçónica, se eles o desejarem por sua própria e livre vontade.

A "Luz" representa um importante símbolo, tanto no judaísmo como na maçonaria. A "Luz " para o maçom é imaterial, ilumina o intelecto e a razão, sendo o objetivo máximo do iniciado maçon que, vindo das trevas, quer caminhar em direção à "Luz ". De igual modo a "Luz" para o judaísmo possui o mesmo significado.

Um dos feriados judaicos é o "Chanukah", a festa da Luz, comemorando a vitória do povo de Israel sobre aqueles que tinham feito da prática da religião um crime punível pela morte (ano 165 da Era Vulgar- os judeus substituem o A.C. e o D.C.).

Outro símbolo compartilhado entre a maçonaria e o judaísmo e o Templo de Salomão. O templo de Salomão representa o "zénite" da religião judaica. Na maçonaria, juntou­ se a figura de Salomão, à construção do Templo, pois os maçons são simbolicamente pedreiros, construtores, geómetras e arquitetos. Os rituais maçónicos estão cheios de lendas sobre a construção do Templo de Salomão. Para os maçons existem, em sentido figurado, três "Salomões": o S. Maçónico, o S. Bíblico e o S. Histórico.

A tradição judaica ensina uma obediência de respeito para com os pais e rabinos. A maçonaria ensina desde a Constituição de Andersen de 1723, o respeito para com a autoridade legitimamente constituída.

 

A MAÇONARIA E O ISLÃO

Sempre existiram relações entre o Ocidente e o próximo Oriente Muçulmano, quer tratando-se das Cruzadas, quer do lmpério Otomano ou mais tarde da Colonização, sobretudo dos franceses e dos ingleses.

É no Egito, com a expedição francesa de Bonaparte, que aparecem os primeiros maçons deixando as "sementes" da maçonaria Universal em terras do lslão.

Em 1748 é fundada a primeira Loja maçónica em Alexandria, com a iniciação de Ismail Pacha durante o período da expedição de Bonaparte e a Loja ISIS do rito de Memphis que teve como primeiro Venerável o General Kleber.

No ano de 1830 os maçons italianos que residiam em Alexandria formam a Loja Carbonari seguida da Loja Menes. Com o rito de Memphis adotado (1867) é fundado o Grande Oriente do Egito e nomeado seu Grão-Mestre o Príncipe Halim Pacha.

Em 1890 o maçom Idris Bey Raghib é eleito G.M. do Egito. Sucede-lhe Redige Tawfik como G.M., o que dá origem a grandes conflitos que originam a suspensão do reconhecimento destas lojas egípcias pela Grande Loja de Inglaterra e da Grande Loja da Escócia.

Mais tarde em 1932, sob a égide da Grande Loja do Oriente de França, funda-se a Grande Loja Nacional do Egito. Durante o ano de 1952 com a queda da monarquia egípcia e a abdicação do Rei Farouk, sobe ao poder Abdel Gamal Nasser grande politico, maçom e membro da Ordem Mística do Egito dos Shrinners. (Todos os shrinners são maçons mas nem todos os maçons são shrinners. Os shrinners pertencem à Antiga Ordem Árabe dos Nobres do Santuário Místico, organização ligada à maçonaria. Entretanto, com a Crise do Suez e a politica no período Nasser, a maçonaria é proibida.

Com a ascensão ao poder do Presidente Anouar Sadate as Obediências lnglesas e Francesas desaparecem e funda-se a Grande Loja do Egito. A subida ao poder de Hosni Mubarak, que chegou a ser acusado de pertencer a maçonaria fora Egipto.

Atualmente com o progresso da lrmandade Muçulmana e a instabilidade politica, sabe-se que a maçonaria egípcia atravessa dificuldades na sua reconstrução.

 

LIBANO

O inicio da maçonaria no Líbano no séc. XIX na década de 1850 coincidem com o estabelecimento de fábricas de seda no vale de Chouf, pelos franceses. Inicialmente as lojas são fundadas pelos franceses e aderentes libaneses.

Duas lojas disputam ainda hoje a paternidade da maçonaria libanesa na Loja Palestina, fundada 1861 pela Grande Loja da Escócia e pela Loja Líbano fundada em 1862 pelo Grande Oriente de França.

A maçonaria Libanesa começa a desenvolver-se nos finais do sec. XIX, no momento em que no lmpério Otomano começa a despontar a revolução dos Jovens Turcos em 1908 e que na época o sonho do Grande Reino Arabe. No ano de 1936 funda-se a Grande Loja Libanesa dos Países Árabes pelo filho do Emir Abdel el-Kader onde mais tarde foi iniciado o Rei Hussein da Jordânia Pai do atual Rei.

De 1920 a 1946, ainda sob o mandato Francês, a maçonaria Libanesa e Síria expande-se com a fundação de varias Lojas. Após a grande revolta de 1925, a maçonaria do Levante quer emancipar-se da tutela das Obediências francesas em parte pelo apoio destes a minoria dos cristãos maronitas. (seguidores do Monge Maroun eremita 410D.C fieis à Sta. Sé). É considerado o despertar dos maçons libaneses face à potencia colonizadora Francesa na Síria e Líbano. Nos anos 50, depois a criação do Estado de Israel, foi criado o Grande Oriente Árabe também conhecido por Christian-Muslin Lodge.

Nota curiosa: são os maçons libaneses muçulmanos os primeiros a denunciar "a doença do lslão", lamentando os atentados do 11 de Setembro de 2001.

 

SIRIA

E na cidade de Aleppo em 1738, vinte e um anos depois do nascimento da maçonaria especulativa, que foi fundada a primeira Loja maçónica.

Com a subida ao poder Medhat Pacha fundaram-se varias Lojas uma das quais em 1878, a Loja Luzes de Damasco, frequentada na época pela elite intelectual da capital. No início da primeira Guerra Mundial, as Lojas maçónicas Sírias foram obrigadas a suspender os seus trabalhos.

Durante o ano de 1922, foi fundada em Damasco, a Loja da Síria sob a égide do Grande Oriente de França . Outra Loja importante no panorama maçónico Sírio foi a Loja Qaysun a Oriente de Damasco.

Atualmente a maçonaria está proibida na Siria, embora o pai do Presidente Hafez el Assad tenha pertencido a Loja Al Fatat de Damasco. (citado Rev. Express, Fev.2009).

Na Síria, antes da catástrofe da guerra e do êxodo a que assistimos hoje, existia já claramente um movimento que preconizava que o lslão deve parar no ano 622 e ficar confinado as relações do homem com o seu Criador. (Nova Leitura do Corão). Este movimento influenciado pelas ideias maçónicas de intelectuais como Ziad Hafez e Mohamed Charour.

 

PALESTINA

É pouca a bibliografia sobre a maçonaria palestina. Sabe-se que a Grande Loja o Egito estabeleceu treze Lojas na Palestina.

Em Jerusalém cerca de 1895 fundou-se a Loja Salomon ou Suleiman com apoio da Grande Loja Nacional do Egito mais tarde também apoiada pela Grande Loja do Canada, a Royal Salomon Mother Lodge do R.E.A.A.

A Loja Nur el Hachemat (Luz da Sensatez ) n°125 foi fundada em 1908 em Jerusalém, a Loja tinha os seus trabalhos em árabe. Cessou a sua atividade durante a Primeira Guerra Mundial retomando os trabalhos em 1924 juntando-se mais tarde a Grande Loja da Palestina em 1933.

Em 1951 a Grande Loja da Palestina era composta por judeus, muçulmanos, cristãos e druzos. Com a criação o Estado Judaico esta Loja parece ter sido desmantelada.

Apesar das relações tensas entre as populações árabes e judias, a Grande Loja Nacional da Palestina fazia grandes esforços para manter candidatos de todas as comunidades: Judeus, Árabes Cristãos (Koptas) Arménios e Druzos, assim como várias lojas compostas quase exclusivamente por Árabes.

O Grande Oriente Árabe Ecuménico, em 2010 e a Obediência Maçónica Francesa de Estudos e Pesquisa, trabalha em conjunto no novo Rito Judeo-Cristao e Muçulmano, também chamado Rito Ecuménico.

Em 2003, em plena Intifada palestiniana, a Loja Galileia e a Loja Fraternidade continuaram os seus trabalhos.

 

EM RESUMO

A colonização francesa no Magreb e em quase toda a Bacia Mediterrânica foi a grande impulsionadora da Maçonaria na Argélia, na Tunísia e em Marrocos. A influencia dos maçons ingleses também foi determinante para o estabelecimento dos valores da maçonaria nesta região.

Hoje quando as forças da intolerância e do fanatismo ameaçam os fundamentos da civilização livre e democrática, e imperativo refletir de novo nos valores da maçonaria, na tolerância, na mora e ainda na construção de uma sociedade mais tolerante, mais livre e mais humana, mesmo que esta tarefa seja feita em circunstancias adversas.

Deixarei para uma próxima prancha as relações da maçonaria no lmpério Otomano e as controversas relações entre a maçonaria e a religião Cristã.


Autor: Aquilino Ribeiro