JUDAISMO E MACONARIA
Antes de descrever de forma sucinta algumas semelhanças do simbolismo judaico e maçónico, será importante citar alguns aspetos da cultura judaica, muitas vezes esquecidos ou mesmo ignorados. Começo por citar um texto de Leon Zeldis, Grão-Mestre do Supremo Conselho do R.E.A.A. do Estado de Israel:
"Numa região sacudida pela guerra e pelo terrorismo, profundamente
dividida política e pela religião, as lojas maçónicas constituem um oásis de
Paz e de Tolerância, onde os homens livres e de boa vontade transcendem as suas
diferenças para darem as mãos e o seu espírito, ligados pela aspiração comum de
criar um Mundo melhor, aperfeiçoarem-se e de contribuírem para a construção de
uma sociedade mais racional, fundada nos princípios da Liberdade, da lgualdade
e da Fraternidade."
Existem traços comuns entre rituais, símbolos e palavras judaicas. Um dos Landmarks judaicos é a crença num Deus que criou tudo na nossa existência e que nos deu uma Lei, para ser seguida, incluindo os preceitos morais de relacionamento humano. A crença em Deus (G.A.D.U.), a prece, a imortalidade, a caridade, o agir respeitosamente entre os seus semelhantes fazem parte integrante do ideário maçónico - (maçonaria Teista) - como também no Judaísmo e até na maioria das religiões.
A maçonaria e o judaísmo, tais como os padrões éticos das outras religiões, ensinam nos que nos devemos autodisciplinar e manter as nossas paixões em constante contenção. A disciplina ritualística, seja nas sinagogas seja nas lojas maçónicas, auxilia a desenvolver esta virtude.
O judaísmo ensina que todo o ser humano e capaz do bem e do mal, tentando ser fiel a si próprio usando o livre arbítrio para escolher o caminho eticamente correto. A maçonaria ensina aqueles que são moralmente capazes a poderem encontrar a "Luz" na disciplina maçónica, se eles o desejarem por sua própria e livre vontade.
A "Luz" representa um importante símbolo, tanto no judaísmo como na maçonaria. A "Luz " para o maçom é imaterial, ilumina o intelecto e a razão, sendo o objetivo máximo do iniciado maçon que, vindo das trevas, quer caminhar em direção à "Luz ". De igual modo a "Luz" para o judaísmo possui o mesmo significado.
Um dos feriados judaicos é o "Chanukah", a festa da Luz, comemorando a vitória do povo de Israel sobre aqueles que tinham feito da prática da religião um crime punível pela morte (ano 165 da Era Vulgar- os judeus substituem o A.C. e o D.C.).
Outro símbolo compartilhado entre a maçonaria e o judaísmo e o Templo de Salomão. O templo de Salomão representa o "zénite" da religião judaica. Na maçonaria, juntou se a figura de Salomão, à construção do Templo, pois os maçons são simbolicamente pedreiros, construtores, geómetras e arquitetos. Os rituais maçónicos estão cheios de lendas sobre a construção do Templo de Salomão. Para os maçons existem, em sentido figurado, três "Salomões": o S. Maçónico, o S. Bíblico e o S. Histórico.
A tradição judaica ensina uma obediência de respeito para com os pais e
rabinos. A maçonaria ensina desde a Constituição de Andersen de 1723, o
respeito para com a autoridade legitimamente constituída.
A MAÇONARIA E O ISLÃO
Sempre existiram relações entre o Ocidente e o próximo Oriente Muçulmano,
quer tratando-se das Cruzadas, quer do lmpério Otomano ou mais tarde da
Colonização, sobretudo dos franceses e dos ingleses.
É no Egito, com a expedição francesa de Bonaparte, que aparecem os
primeiros maçons deixando as "sementes" da maçonaria Universal em
terras do lslão.
Em 1748 é fundada a primeira Loja maçónica em Alexandria, com a iniciação de Ismail Pacha durante o período da expedição de Bonaparte e a Loja ISIS do rito de Memphis que teve como primeiro Venerável o General Kleber.
No ano de 1830 os maçons italianos que residiam em Alexandria formam a Loja
Carbonari seguida da Loja Menes. Com o rito de Memphis adotado (1867) é fundado
o Grande Oriente do Egito e nomeado seu Grão-Mestre o Príncipe Halim Pacha.
Em 1890 o maçom Idris Bey Raghib é eleito G.M. do Egito. Sucede-lhe Redige
Tawfik como G.M., o que dá origem a grandes conflitos que originam a suspensão
do reconhecimento destas lojas egípcias pela Grande Loja de Inglaterra e da
Grande Loja da Escócia.
Mais tarde em 1932, sob a égide da Grande Loja do Oriente de França,
funda-se a Grande Loja Nacional do Egito. Durante o ano de 1952 com a queda da
monarquia egípcia e a abdicação do Rei Farouk, sobe ao poder Abdel Gamal Nasser
grande politico, maçom e membro da Ordem Mística do Egito dos Shrinners. (Todos
os shrinners são maçons mas nem todos os maçons são shrinners. Os shrinners
pertencem à Antiga Ordem Árabe dos Nobres do Santuário Místico, organização
ligada à maçonaria. Entretanto, com a Crise do Suez e a politica no período
Nasser, a maçonaria é proibida.
Com a ascensão ao poder do Presidente Anouar Sadate as Obediências lnglesas e Francesas desaparecem e funda-se a Grande Loja do Egito. A subida ao poder de Hosni Mubarak, que chegou a ser acusado de pertencer a maçonaria fora Egipto.
Atualmente com o progresso da lrmandade Muçulmana e a instabilidade
politica, sabe-se que a maçonaria egípcia atravessa dificuldades na sua
reconstrução.
LIBANO
O inicio da maçonaria no Líbano no séc. XIX na década de 1850 coincidem com
o estabelecimento de fábricas de seda no vale de Chouf, pelos franceses. Inicialmente
as lojas são fundadas pelos franceses e aderentes libaneses.
Duas lojas disputam ainda hoje a paternidade da maçonaria libanesa na Loja Palestina, fundada 1861 pela Grande Loja da Escócia e pela Loja Líbano fundada em 1862 pelo Grande Oriente de França.
A maçonaria Libanesa começa a desenvolver-se nos finais do sec. XIX, no
momento em que no lmpério Otomano começa a despontar a revolução dos Jovens
Turcos em 1908 e que na época o sonho do Grande Reino Arabe. No ano de 1936
funda-se a Grande Loja Libanesa dos Países Árabes pelo filho do Emir Abdel
el-Kader onde mais tarde foi iniciado o Rei Hussein da Jordânia Pai do atual Rei.
De 1920 a 1946, ainda sob o mandato Francês, a maçonaria Libanesa e Síria
expande-se com a fundação de varias Lojas. Após a grande revolta de 1925, a
maçonaria do Levante quer emancipar-se da tutela das Obediências francesas em
parte pelo apoio destes a minoria dos cristãos maronitas. (seguidores do Monge
Maroun eremita 410D.C fieis à Sta. Sé). É considerado o despertar dos maçons
libaneses face à potencia colonizadora Francesa na Síria e Líbano. Nos anos 50,
depois a criação do Estado de Israel, foi criado o Grande Oriente Árabe também
conhecido por Christian-Muslin Lodge.
Nota curiosa: são os maçons libaneses muçulmanos os primeiros a denunciar
"a doença do lslão", lamentando os atentados do 11 de Setembro de
2001.
SIRIA
E na cidade de Aleppo em 1738, vinte e um anos depois do nascimento da
maçonaria especulativa, que foi fundada a primeira Loja maçónica.
Com a subida ao poder Medhat Pacha fundaram-se varias Lojas uma das quais em 1878, a Loja Luzes de Damasco, frequentada na época pela elite intelectual da capital. No início da primeira Guerra Mundial, as Lojas maçónicas Sírias foram obrigadas a suspender os seus trabalhos.
Durante o ano de 1922, foi fundada em Damasco, a Loja da Síria sob a égide do Grande Oriente de França . Outra Loja importante no panorama maçónico Sírio foi a Loja Qaysun a Oriente de Damasco.
Atualmente a maçonaria está proibida na Siria, embora o pai do Presidente Hafez el Assad tenha pertencido a Loja Al Fatat de Damasco. (citado Rev. Express, Fev.2009).
Na Síria, antes da catástrofe da guerra e do êxodo a que assistimos hoje,
existia já claramente um movimento que preconizava que o lslão deve parar no
ano 622 e ficar confinado as relações do homem com o seu Criador. (Nova Leitura
do Corão). Este movimento influenciado pelas ideias maçónicas de intelectuais
como Ziad Hafez e Mohamed Charour.
PALESTINA
É pouca a bibliografia sobre a maçonaria palestina. Sabe-se que a Grande Loja o Egito estabeleceu treze Lojas na Palestina.
Em Jerusalém cerca de 1895 fundou-se a Loja Salomon ou Suleiman com apoio da Grande Loja Nacional do Egito mais tarde também apoiada pela Grande Loja do Canada, a Royal Salomon Mother Lodge do R.E.A.A.
A Loja Nur el Hachemat (Luz da Sensatez ) n°125 foi fundada em 1908 em
Jerusalém, a Loja tinha os seus trabalhos em árabe. Cessou a sua atividade
durante a Primeira Guerra Mundial retomando os trabalhos em 1924 juntando-se
mais tarde a Grande Loja da Palestina em 1933.
Em 1951 a Grande Loja da Palestina era composta por judeus, muçulmanos,
cristãos e druzos. Com a criação o Estado Judaico esta Loja parece ter sido
desmantelada.
Apesar das relações tensas entre as populações árabes e judias, a Grande
Loja Nacional da Palestina fazia grandes esforços para manter candidatos de
todas as comunidades: Judeus, Árabes Cristãos (Koptas) Arménios e Druzos, assim
como várias lojas compostas quase exclusivamente por Árabes.
O Grande Oriente Árabe Ecuménico, em 2010 e a Obediência Maçónica Francesa de Estudos e Pesquisa, trabalha em conjunto no novo Rito Judeo-Cristao e Muçulmano, também chamado Rito Ecuménico.
Em 2003, em plena Intifada palestiniana, a Loja Galileia e a Loja
Fraternidade continuaram os seus trabalhos.
EM RESUMO
A colonização francesa no Magreb e em quase toda a Bacia Mediterrânica foi
a grande impulsionadora da Maçonaria na Argélia, na Tunísia e em Marrocos. A
influencia dos maçons ingleses também foi determinante para o estabelecimento
dos valores da maçonaria nesta região.
Hoje quando as forças da intolerância e do fanatismo ameaçam os fundamentos da civilização livre e democrática, e imperativo refletir de novo nos valores da maçonaria, na tolerância, na mora e ainda na construção de uma sociedade mais tolerante, mais livre e mais humana, mesmo que esta tarefa seja feita em circunstancias adversas.
Deixarei para uma próxima prancha as relações da maçonaria no lmpério
Otomano e as controversas relações entre a maçonaria e a religião Cristã.
Autor: Aquilino Ribeiro
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