quinta-feira, 20 de outubro de 2022

A Letra G

Inicio esta prancha com uma alegoria ao seu epílogo, categorizando-a desde logo como um texto inacabado; não por não me querer alongar na minha prosa, mas sim por uma assumida inaptidão e também por considerar que este se tratará possivelmente do único símbolo maçónico cujo significado não parece ser inteiramente esotérico, diria mesmo que emana exoterismo; pode esta justificação porventura parecer um contrassenso, mas legitimo-a do mesmo modo que explico o porquê da letra G fazer parte da simbologia maçónica… uma inquietude de interrogações.

O primeiro vislumbre da letra G surge formalmente ao companheiro Maçon precisamente durante a sua iniciação do respetivo grau. Mas em boa verdade esta figura não é estranha nem para o companheiro Maçon , nem para o mundo profano, ou não fosse muito possivelmente, ou mesmo certamente, o símbolo maçónico mais conhecido dentro e fora do templo; este popular quadro completa-se encimado pelo compasso e encerrado descensionalmente pelo esquadro, ambos servindo de moldura à letra G no seu centro. 

Antes de tentar efetivar um percurso histórico, vou diretamente ao âmago do seu significado; temos como aceção mais consensual dentro da nossa Augusta Ordem, a letra G como monograma de gravitação, de geometria, de geração, de génio e de gnose.

A gravitação é a força fundamental que rege o movimento e o equilíbrio dos corpos e governa a harmonia no universo; a geometria é a antiga e contemporânea arte, vulgo a ciência, de todas as espécies possíveis de espaços, que no Maçon desperta a acuidade do espirito e delimita o seu devaneio; a geração é a força vital que é o garante da perpetuação das espécies e que lança o embrião para se decifrar o enigma da vida; o génio é a inteligência humana a brilhar no seu mais vivo esplendor e de que o homem deve fazer uso para se guiar a si e aos seus semelhantes no caminho da justiça e da verdade; a gnose é o mais amplo conhecimento, que intui no homem a vontade de aprender sempre mais, e se define como o principal fator do progresso.

Estes cinco significados, comuns no número e no momento ao grau em que foram dados a conhecer, não só o definem, como devem ser os guias no percurso de aperfeiçoamento do companheiro maçom, e em boa verdade de qualquer pessoa de bem.

Tal como os cinco sentidos descritos na primeira viagem do companheiro nos permitem ver, compreender e guiarmo-nos pelo mundo físico, estes cinco termos são em igual medida os símbolos que nos orientam dentro do mundo inteligível, pois é através do espírito que é aprimorada a construção do nosso templo interior; abandonámos o rude desbastar de uma pedra bruta em detrimento de um cinzelar mais cuidado de uma pedra que, ainda que não estando polida já se nos apresenta de forma menos grosseira.

Mas dentro da maçonaria contemporânea há distintos significados para a letra G, tais como os representativos da inicial de Grandeza, no contexto do homem como a mais perfeita obra da criação, de Gomel, palavra hebraica que significa benfeitor, de Grande Arquiteto do Universo, de Glória a um ser superior ou de Deus, visto ser a sua primeira letra idiomas tão diversos como o Inglês (God), o Alemão (Gott), o Holandês (God), nas Línguas Escandinavas (Gud), o Sírio (Gad), o persa antigo (Goda), entre outros.

Estamos assim perante um símbolo algo único; a letra G acaba por se transfigurar como um símbolo rebelde que parece desvirtuar a característica de universalidade da generalidade dos símbolos maçónicos; na forma de reparo de consciência, talvez tenha sido precisamente essa singularidade que motivou o meu interesse.

Na procura de algum fundamento, iniciemos assim a nossa busca pelo significado etimológico da letra G, principiando precisamente pela sua génese; a letra G é possivelmente das mais contemporâneas do alfabeto dito moderno; enquanto grande maioria das letras deriva do alfabeto grego, com naturais raízes no alfabeto fenício, esta letra tão particular surge no seu grafismo atual apenas na primeira metade do século III em Roma, na forma de uma variante fonética da letra C, na qual tem as suas origens. Uma vez que me refiro apenas ao traço e não à fonética, omito propositadamente as referências pretéritas ao Gama Grego e ao seu progenitor o Gimel Hebraico.

Assim sendo, as suas raízes simbólicas não poderão ser anteriores a este tempo, pelo menos no sentido literal; em termos ideográficos, é de notar que esta letra tem uma notável semelhança com o símbolo alquímico do sal, sendo aliás este um possível preceito de o escrever com um único traço; esta alegoria não tem qualquer presença física no simbolismo atual, o que talvez seja uma pena pois o sal é-nos introduzido no ritual de aprendiz como símbolo da temperança, virtude que deve privilegiar todo o maçon.

Ainda sem abandonar a sua forma, Nagroski refere que a lera G não é mais do um signo que representa o nó; se levarmos esta aceção no mais lato sentido, ganhamos toda a fisionomia e simbolismo do nó do amor, da corda de nós e da cadeia de união. Ainda que intrincada, é uma atribuição pela qual tenho um especial apreço, apesar de não existirem referências que o substanciem no simbolismo da atual maçonaria.

Sem nos desviarmos do traçado histórico, e viajando de forma inusitada até à idade média do século XIV, vivia-se uma época em que o conhecimento era reservado a uma elite, nomeadamente as pessoas de ascendência nobre ou com elevadas posses materiais.

Talvez a mais emérita exceção fosse a Geometria, que era tida como uma ciência sagrada na verdadeira acessão da palavra, pois esta era a mãe da arquitetura, medular na construção dos mais importantes edifícios da época, as catedrais. Esta arte era aprendida de forma simbiótica entre os iniciados no ofício e aplicada no seu templo da época, o próprio recinto de trabalho; assim era o processo de instrução e aperfeiçoamento dos nossos irmãos operativos. Como que profetizando este preceito da maçonaria operativa, já Pitágoras penejava na porta do seu templo “Só entra aqui quem conhece a geometria”.

Justifica-se assim com toda a naturalidade que a presença da letra G no Templo Maçónico contemporâneo é representativa da Geometria como ciência maçônica, não fosse esta inicial comum do termo nos principais dialetos maçónicos, o francês, o latim, o alemão e o inglês, onde lhe incorporo o português não só por adequação mas também graças a uma súbita e efêmera brisa de patriotismo. Contextualizando, a letra G figura como origem da Arte Real, progredindo e evoluindo no talhe da maçonaria especulativa que hoje nos une como irmãos, como o alicerce para o uso de todas as ferramentas do maçom.

E da história da geometria chegamos com naturalidade à história da maçonaria, ou pelo menos assim o havia idealizado.

Olhando para os registos do início do século XVIII em Inglaterra, fonte comum de conhecimento maçónico, não há claras evidências de como (surge), de onde (provém) e qual (o significado) da letra G; não parece derivar diretamente dos maçons operativos da Idade Média, a não ser pela sua eventual e já referida ligação com a Geometria, nem fazer parte das decorações arquitetónicas das antigas catedrais. Se surgiu no simbolismo maçónico sob a influência dos alquimistas, cabalistas, templários ou rosa cruzes, ou se foi introduzida em algum momento posterior a 1717, quando a primeira Grande Loja foi estabelecida na Apple-Tree Tavern em Londres, parece impossível, se não muito difícil de determinar.

A primeira referência escrita encontrada surge precisamente num dos antigos manuscritos maçónicos, também referidos como Old Charges, mais precisamente no Manuscrito de Sloane nº 3329, datado de forma imprecisa em torno de 1700, no qual a letra G é referida como sendo O Grande Arquiteto e Inventor do Universo ou Aquele que foi Levado para o Topo do Pináculo do Templo Sagrado. 

Em termos cronológicos, e entre os anos de 1700 e 1727, situamo-nos num vazio, pois não parece haver evidências de que a letra G tenha feito parte de qualquer elemento simbólico das lojas maçónicas; há uma única menção na imprensa de 1726, com a convocatória para várias palestras sobre Maçonaria Antiga, onde se inclui da temática do significado da letra G; o detalhe destas palestras parece ter ficado apenas nas memórias dos presentes na época. 

Em 1727 surge uma referência de grande relevo, e novamente num dos antigos manuscritos, o Manuscrito de Wilkinson, onde pela primeira vez a letra G é referenciada com o significado de Geometria. Desta data em diante a iconografia da letra G surge de forma bastante mais regular, sem alterações substantivas ao seu simbolismo.

Com fundamentos mais ou menos difusos, a verdade é que tudo caminharia no sentido conciliador tendo a letra G como símbolo da Geometria ou mesmo de Grande Arquiteto do Universo, isto é, se a sua história tivesse tido o mérito de terminar neste momento, mas entre o século XVIII e XIX surge uma nova significação que tem tanto de natural, à época, como de divergente. 

Recordemos que se vive um tempo de profusa inovação na maçonaria, sendo inclusive em torno de 1730 que se dá em Inglaterra a clara definição dos três graus simbólicos. É também na cultura anglo-saxónica, profundamente teísta, que aparecem as primeiras interpelações à letra G como referência ao Grande Geómetra do Universo, mas curiosamente é em França, em 1744, que pela primeira vez se lavra nos livros esta letra como a inicial representativa de Deus, ou mais concretamente de God em Inglês, o que de certa forma marca um momento de viragem no significado deste símbolo. 

A florescência, vulgo, evolução da maçonaria e do significado dos seus símbolos é não só natural como salutar; não pode o Maçon aperfeiçoar-se se a própria instituição não perpetrar por esse mesmo caminho; mas o que distingue o percurso deste símbolo é que, no meu entender, além da pluralidade de significados já descrita, consequência do normal polir da pedra, existe uma profunda bifurcação do seu sentido, que inclusive alimenta a separação entre a maçonaria dita regular e a maçonaria liberal. De qualquer forma, são estas duas noções algo distintas que perduram até aos tempos de hoje, fruto da própria história da maçonaria.

Numa perspetiva puramente pessoal, far-me-ia mais sentido procurar um caráter conciliador no significado da letra G, eventualmente à luz do que é universal, intemporal e transversal entre culturas, sexo, raças e credos, como sejam as já referidas gravitação, geração, génio, gnose e muito em particular a geometria, que permanece até aos dias de hoje como a raiz e fundamento de todas as artes e das ciências; assim o afirmo, mas não o firmo, deixo-o apenas como prova de conceito.

E deste modo algo inconclusivo e prosaico concluiria esta prancha, não fosse uma referência encontrada primeiramente na obra de 1860, “A Lexicon of Freemasonry” de Albert G. Mackey, um irmão que ocupou diversos cargos na Grande Loja da Carolina do Sul e no Supremo Conselho do grau 33; de notar que ainda que não me considere inteiramente saciado com a solidez das fontes, esta referência é encontrada em inúmeros escritos maçónicos dos séculos XIX e XX.

O autor, ou autores, descrevem a existência de uma jurisdição independente, apelidada de Concelho da Trindade, a qual conferia três graus cristãos com claras referências à crucificação; o primeiro desses graus, denominado de “Os Cavaleiros da Marca Cristã e Guardas do Conclave”, consta ter sido organizado pelo Papa Alexandre IV, o que a situa entre os anos de 1254 a 1261. Tendo como finalidade a defesa pessoal do papa, foi formada chamando os mais nobres cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém, também conhecida por Ordem dos Hospitalários e mais recentemente por Ordem de Malta. 

E em todos os escritos lidos detive-me perante a mesma figura, que porventura trará um novo princípio para a nossa letra G; a joia desta ordem, que em muito precede a maçonaria especulativa e grande parte das fontes citadas neste texto, é descrita como uma placa triangular de ouro, com sete olhos numa das faces e, no lado oposto mas cardinal, uma estrela de cinco pontas que contém no seu âmago uma letra G.

Lembremo-nos pois do início desta prancha, a quando da descrição do painel de companheiro, e visualizemos no nosso íntimo estas duas imagens tão separadas no tempo quanto próximas na efígie. Ainda que esta evidência não nos traga esclarecimento quanto ao significado simbólico atual, a imutabilidade do grafismo cria um interessante fio condutor, que se estende na história durante mais de sete séculos.

Resta-me pois concluir que, tal como é unanimemente aceite entre diversos autores, a letra G é um verdadeiro enigma maçónico, que suscita tanto de diversidade interpretativa como de especulação desvirtuada. É possível que o próprio tempo e história se tenham encarregues de, ao invés de polir acertadamente o seu sentido, o tenham desbastado em demasia, fragmentando-o em anacrónicos e displicentes significados; no extremo oposto, talvez o seu significado último faça parte do percurso de cada irmão na busca do segredo maçónico, associado assim à normal e salutar pluralidade de interpretação característica da maçonaria. 

E é nesse sentido que, na busca do esclarecimento, regresso ao puro esotérico para conceber a letra G não na sua forma solitária mas ladeada pela estrela flamejante como elemento potenciador da sua essência; essência essa que estará porventura sequestrada na palavra Graal, para a qual é inicial nos léxicos antigos e modernos; mas não me entendam erradamente; este Graal não se refere ao Graal cristão, mas sim ao dos antigos celtas, que o tinham como um recetáculo com a forma de uma vasilha, o qual transmutava os alimentos nele colocados para que estes adquirissem o sabor mais aprazível para quem os experimentava, dando-lhe força e vigor. 

É cativante este binómio entre a estrela flamejante e o G deste Graal ancestral; conforme sugere Boucher, é como que o despertar do fogo criador que alimenta o nosso espírito e que nos permitirá um dia atingir a mestria, isto se formos verdadeiramente capazes de ser livres-pensadores e de nos libertar do cárcere redutor que são as definições herméticas atribuídas à generalidade dos nossos símbolos e à letra G em particular.

A todos os irmãos interessados no tema, não posso deixar de recomendar o notável texto do irmão Harry Carr, inscrito no volume 76 das regulares transações da loja Quatuor Coronati de 1963.

Como tem sido meu apanágio, partilho uns breves pensamentos do meu homónimo Álvaro de Campos, desta vez sobre a forma de prosa da sua obra edita:

O segredo da Maçonaria é simplesmente este - que todas as religiões são igualmente verdadeiras, que dizer Júpiter ou Jeová é, não dizer coisas diferentes, mas como quem diz a mesma coisa em línguas diferentes. Deve haver portanto tolerância para com todas as religiões - tolerância às avessas da do chamado livre-pensador, que tolera a todas porque considera todas falsas. Um Maçon pode ser tudo menos ateu.

Isto está dito nas constituições de Anderson, embora veladamente dito, e a interpretação literal do texto, do Grande Oriente de França, é errónea. Não se podia dizer isso explicitamente porque quase ninguém entraria para a Ordem, se se dissesse. É depois de estar na Ordem, de atingir a sua essência e espírito, que este segredo se atinge.

Todas as religiões, embora verdadeiras, são contudo simbólicas; como a própria Franco-Maçonaria. Isto é, os seus ritos e dogmas, os seus deuses e rituais, são verdadeiros, mas como símbolos, não como realidades.

Os inimigos do Símbolo são a Ignorância, que esquece ou não sente que ele é símbolo; (...)

E assim matam o símbolo, e o Sentido (a Palavra) do símbolo se perde, a religião se materializa (morre), e só na pessoa do seu entendedor externo (o candidato) pode ser verdadeiramente ressuscitada.


Autor: Álvaro de Campos

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Estrela Flamejante

Aquando, na quinta e última viagem que fiz no templo, fui confrontado numa posição firme e frontal, a contemplar uma estrela, não, não era uma estrela universal, comum, ou que tivesse a olhar para o céu, mas sim uma Estrela física e geométrica, que no interior das suas cinco pontas, encontrava-se uma letra G, não deixando que referir o seu interior, importa saber que os pitagóricos a usavam para representar.

O que me chamou à atenção, foi a sua dimensão, a sua geometria, e qual o seu significado, ao qual e de imediato relacionei as minhas findas cinco viagens, facto esse que me despertou o seu interesse. Implícita também no emblema da nossa respeitável loja, que também podemos correlacionar como as cinco luzes, ou sejam o Venerável, 1.º Vigilante, 2.º Vigilante, Orador e o Secretário. 

Depois de algum tempo de reflexão, fui percebendo o seu real significado dessa estrela, afinal era a Estrela Flamejante, também conhecida como Pentagrama (do grego antigo πεντάγραμμος). Senão vejamos o seu significado como símbolo pagão com muitas origens, assim como o que representa no espaço e no tempo.

O primeiro uso conhecido do pentagrama pode ser encontrado na antiga Mesopotâmia. Por volta do ano de 3500 a.C., a estrela aparece em múltiplas peças de cerâmica, e tinha, segundo alguns especialistas, um poder real, como uma força divina que se estendia para além dos quatro cantos do mundo. Era pois, um sinal de carácter positivo e relacionado com a natureza.

Viajemos agora até às terras dos druidas, a esses cenários celtas associados quase sempre ao poder da Terra, do Sol, da Lua e das criaturas das florestas. Como olharam eles para a estrela de 5 pontas?

Os pagãos celtas representaram no pentagrama o poder da natureza, das cinco correntes dos rios, dos 5 poços do conhecimento, e sobretudo dos 5 sentidos através dos quais se obtinha o conhecimento. A deusa associada ao uso e conhecimento do pentagrama era Morrigan.

Mas avancemos um pouco mais e até à religião hebraica. Que significado tem neste contexto? O pentagrama é um símbolo da verdade. 

Como se pode ver, de momento e nesta linha histórica inicial, a estrela representava algo nobre. Vejamos alguns exemplos:

Na antiga Grécia, para os pitagóricos o pentagrama era associado à perfeição.

Para os hindus e budistas, a estrela costuma aparecer na arte tântrica como uma representação positiva da perfeição, tal como fizeram os pitagóricos ou mesmo os gnósticos, para quem o pentagrama tinha uma conotação associada à origem e fim da raça humana. E para além disso, era um meio para alcançar a redenção do ser humano.

Um pentagrama “com a ponta virada para cima” (ao contrário do invertido) representava a supremacia do homem sobre os quatro elementos naturais: terra, água, fogo e ar.

Com a chegada da Idade Média, a ideia que representava as 5 chagas de Cristo começou a mudar, deixando de se olhar para esse sinal não como de verdade, deidade e natureza, mas para passar a estar associado ao paganismo e ao satanismo:

Esse símbolo representava a verdade e a proteção contra os demônios ou maus espíritos. Para os medievais adeptos do Cristianismo, o pentagrama era atribuído aos seus estigmas.

Por outro lado, ao longo da idade média, começaram também a surgir grupos secretos e sociedades eruditas associadas à alquimia. Na sua filosofia oculta era habitual encontrar a referida estrela.

Podemos ainda dizer que até à chegada da inquisição, que essa estrela tinha sempre um significado nobre. 

Lentamente e ao longo da história iremos continuar a ver este símbolo a renascer em muitos movimentos conhecidos como os seguintes:

Na maçonaria o pentágono ou estrela de cinco pontas é um símbolo de grande poder.

Também o encontramos na Cabala, associada à natureza de Deus, do universo divino, da moral e das verdades ocultas ao homem.

Em 1966 Anton LaVey fundou a sua Igreja de Satã, um momento chave em que a estrela ficou para sempre marcada pela tendência mais escura, com o uso da magia negra do pentagrama invertido, com o vértice para baixo e que nos sugere a figura de um bode…

É também de salientar que a estrela, passou por uma curiosa evolução em que andou sempre de mãos dadas com diferentes abordagens de conhecimento e religião.

Os homens fazem uso dos símbolos muitas vezes de acordo com os seus próprios interesses, daí a confusão de se conseguir delimitar uma origem clara e específica. Não obstante, o tema não deixa de ser interessante. 

A estrela flamejante ou pentagrama é um símbolo comummente associado à mitologia, à magia, à astronomia, natureza, e também à religião. Maioritariamente escolhido por se tratar de um símbolo associado à luz divina que guia e ilumina o caminho do bem e atrai a proteção celestial tem muitas outras atribuições que lhe são defendidas. 

Também na magia cerimonial as ligações que lhe são atribuídas associam-se um pouco às defendidas pela religião pois representa os quatro elementos  (água, terra, fogo e ar) coordenados por um espírito ou um Deus que tudo coordena. 

A estrela, também chamada geralmente de pentagrama, foi usada durante milhares de anos por uma grande variedade de culturas. A maioria do seu uso na sociedade ocidental descende das tradições ocultas ocidentais. 

Ela é a forma mais simples de estrela, que deve ser traçada com uma única linha, sendo consequentemente chamado de Laço Infinito. Em tempos medievais, o Laço Infinito era o símbolo da verdade e da proteção contra demónios.  

Antes da Inquisição não havia nenhuma associação maligna ao pentagrama; pelo contrário, era a representação da verdade implícita, do misticismo religioso e do trabalho do Criador. 

Ocultistas têm associado o pentagrama às crenças das pessoas: 

A Humanidade ou o corpo humano, representando dois braços não desenhados, os dois pés e a cabeça; 

Os cinco sentidos físicos: visão, audição, tacto, cheiro e gosto; 

Os cinco elementos: terra, ar, fogo, água e espírito. 

Os Cinco ciclos da vida

O pentagrama é o símbolo da união e da síntese, na medida em que o número dos dedos de uma extremidade corresponde ao número dos nossos sentidos.

O pentagrama, uma estrela de cinco pontas, tem sido associado, desde muito tempo, ao mistério e à magia. Esse símbolo é, sem dúvida, o mais reconhecido por todos os seguidores do paganismo, sendo tão antigo que sua origem é desconhecida. No geral, o pentagrama tem sido utilizado em todas as épocas como talismã.

Dessa maneira, na antiga Mesopotâmia, esse símbolo representava o poder imperial. Para os pitagóricos, simbolizava a saúde e o conhecimento. Entre os egípcios, o pentagrama possuía relação com as pirâmides, uma vez que representava o útero da Terra.

Na cultura hebraica, o pentagrama representava a verdade e os cinco livros “Pentateuco” (cinco rolos), que para os judeus tem o nome de Torá, a "lei escrita" revelada por Deus.

Para os druidas, simbolizava o divino, mais precisamente, a cabeça de Deus. Para os celtas, representava a divindade Morrigham, deusa do amor e a da guerra.

Na numerologia, o pentagrama corresponde à soma dos elementos: dois femininos e três masculinos.

Para as correntes esotéricas, o pentagrama é formado por cinco extremidades cercadas por um círculo que representam os cinco elementos, também como no ocultismo acima referido.

Para os chineses, o pentagrama representa o ciclo da destruição, a base filosófica da medicina tradicional chinesa.

Cada extremidade do pentagrama simboliza um elemento: terra, água, fogo, madeira e metal. Cada elemento é gerado pelo outro, por exemplo, a madeira é gerada pela terra, o que dará origem a um ciclo de criação.

Para que haja o equilíbrio, faz-se necessário a presença de um elemento inibidor, que nesse caso, torna-se seu oposto, ou seja, a água que inibe o fogo.

Contudo, o Pentagrama aparece na pintura de Leonardo da Vinci (1452-1519). O “Homem Vitruviano” surge dentro de um círculo, o que demostra o ciclo de todas as coisas.

Note-se que, quando o pentagrama é desenhado dentro de um círculo, a sua função é unir todos os aspetos do homem.

Por fim, o pentagrama também pode simbolizar o Microcosmo, na medida em que representa o símbolo do "Homem de Pitágoras". Figura esta em que os braços e pernas abertas, ou seja, disposto em cinco partes em forma de cruz (o homem individual).

A mesma representação simboliza também o Macrocosmo (o Homem Universal) e é um símbolo de ordem e perfeição, a Verdade Divina.

Misteriosamente, a Estrela Flamejante, sempre foi, desde há muito tempo, aos dias de hoje, o distintivo de muitos militares, cujo as suas representações prendem-se aos atributos como a capacidade de decisão, o enfrentar desafios, honra, bravura, disposição para a batalha, expressão de vitória e de conquista, visivelmente patente nas “divisas”, de forma hierárquica, que corresponde na pratica militar á expressão de superioridade em relação aos demais. Expressa também a busca de igualdade perante os grandes. 

Na Maçonaria, o Laço Infinito (como também era conhecido o pentagrama, por ser traçado com uma mesma linha) era o emblema da virtude e do dever. O homem microcósmico era associado ao Pentalpha (a estrela de cinco pontas), sendo o símbolo entrelaçado ao trono do mestre da Loja.

Importa saber que a Estrela Flamejante traduz a luz interna do Companheiro, ou que representa o próprio homem Maçon dotado da luz que lhe foi transmitida.

O caminho do Companheiro é sinuoso e difícil. O Companheiro passa das asperezas terrenas para as belezas astrais, isto é, para o transcendental (Cosmo, Universo).

Diz-se também que o Grau de Companheiro também é dedicado à direção da mocidade, a felicidade possível, por meio do trabalho, da virtude, e das ciências que lhe são recomendadas.

Um dos principais objetivos do Companheiro é saber semear a dúvida na sua mente, não admitindo senão que possa ser provado e satisfaça a sua razão. 

O Companheiro deve deixar-se guiar pelo valor, pela energia e pela Inteligência, as três forças que poderão salvá-lo da ignorância, do fanatismo e da superstição fazendo-lhe abandonar o ilusório pela realidade.

Devem os Irmãos compreender definitivamente, que a sublime instituição não é somente o reino da tolerância, pois é acima de tudo uma ordem a serviço da verdade em movimento.

Para finalizar, é de realçar que, se o trabalho é uma característica primordial da Maçonaria, mais ainda o é no Grau de Companheiro, que a ele se dedica, como se dedica às ciências, à filosofia e às artes, ouvindo sempre, falando quando necessário e trabalhando bem e muito, dentro dos melhores princípios maçónicos.

Trabalhar, principalmente como Companheiro, é dedicar-se à construção do seu Templo Interior, num processo contínuo, no qual o sentido de “vencer as paixões e submeter as nossas vontades” acentua se mais no presente.

Pouco a pouco, com a perseverança do trabalho e o uso adequado das ferramentas, e sobretudo unido, o Companheiro entrega-se à construção do edifício, dentro de si, mas com o objetivo de se projetar para fora, para a sociedade, num processo sociológico que pretende exteriorizar e transmitir para outros indivíduos as conquistas espirituais que constituem a argamassa e os demais materiais utilizados na ação de construir.


Autor: John Locke