Foi sempre um homem da RTP e do serviço público em Portugal.
A Maçonaria tem por princípios a tolerância mútua, o respeito dos outros e de si mesmo, a liberdade absoluta de consciência e recusa toda a afirmação dogmática. Combate a tirania, a ignorância e neste contexto, tudo o que aqui se diz e apresenta, procura ilustrar publicamente os princípios do livre pensamento e do respeito universal pelos direitos de cada indivíduo colectiva e individualmente, sendo todas as opiniões recebidas com agrado e respeitadas por igual.
domingo, 5 de julho de 2020
Oriente Eterno
Foi sempre um homem da RTP e do serviço público em Portugal.
terça-feira, 7 de maio de 2019
Adelaide Cabete – mulher, portuguesa e progressista
Adelaide Cabete é uma das figuras femininas mais importantes da história portuguesa do início do século XX.
Nasceu em Elvas, a 25 de Janeiro
de 1867. Oriunda de uma família muito modesta, desde cedo foi obrigada a trabalhar
na apanha da ameixa e em casas de famílias ricas, o que a impediu de frequentar
a escola primária. Certa madrugada, no campo onde trabalhava, acordou assustada
por uns gemidos abafados. Tendo consciência de que algo estranho acontecia,
foi, pé ante pé, espreitar. Viu então uma sua companheira que acabada de parir,
sufocava com uma almofada a criança que lhe nascera. Adelaide recuou cheia de terror.
Guardou na sua alma a dor e o pasmo do que presenciara. Adelaide era analfabeta. No entanto, era extraordinariamente inteligente e
sensível. Percebeu que só a desgraça e o desespero podiam arrastar alguém ao
crime hediondo que testemunhara. Mas, já nessa idade, apesar destes
condicionalismos, era um ser livre. Não perdeu de vista o essencial e aprendeu,
praticamente sozinha, a ler e a escrever.
Em 1885, aos 18 anos, casou-se
com Manuel Ramos Fernandes Cabete, sargento da Polícia Municipal, com
qualidades invulgares para aquela época, que a ajudava nas tarefas domésticas e
que a incentivou nos estudos e na militância republicana e feminista. Com ele
aprendeu a olhar politicamente o mundo e a condição feminina. Por detrás desta
grande mulher houve, sem dúvida, um homem grande que, ao contrário do que era,
e às vezes ainda é habitual, não a ofuscou, mas apagou-se para que brilhasse. Aos 22 anos (1889) concluiu a instrução
primária, na altura em que a percentagem de analfabetismo era de 75%. Segue-se
o liceu, auxiliada pelo marido que lhe explicava as matérias e, incentivada por
este, para que não parasse Adelaide corresponde com agrado, e entra para a
Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa com 29 anos. Sempre muito aplicada e
trabalhadora incansável, Adelaide enquanto lavava, de rastos, o lajedo da sua grande
cozinha, colocava o livro de Anatomia encostado ao balde e assim ia revendo as
matérias. Acaba a Licenciatura em medicina no ano de 1900, na Escola
Médico-Cirúrgica de Lisboa, aos 33 anos de idade, com a tese “A Protecção às
Mulheres Grávidas Pobres como meio de promover o Desenvolvimento físico das
novas gerações”. Foi a terceira mulher a formar-se em medicina em Portugal.
No início da tese, faz um pequeno historial sobre a mortalidade infantil
nalguns países da Europa e as alterações legislativas de apoio à mulher
grávida verificadas nestes países. Faz uma avaliação dos efeitos destas
alterações sobre a diminuição da mortalidade infantil, até então
bastante elevada nalguns países, como Suíça, França e Bélgica entre
outros. Os investigadores da época apontavam como medidas protectoras da mulher
e da criança a importância do repouso no último mês de gravidez que
conduzia a um aumento do peso dos recém-nascidos à nascença. Depois de
várias considerações acerca destes estudos feitos em Portugal e no estrangeiro,
Adelaide apela aos poderes do Estado os seguintes direitos:
“1.º A promulgação de uma lei, em que se estatua para as mulheres grávidas
empregadas em fábricas ou outros lugares de dependência particular, ou
do Estado, o repouso de um mês antes do parto.
2.º A criação de maternidades, a começar pela capital, onde a
instalação de uma em condições adequadas está sendo há muito tempo reclamada.
3.º A criação de sanatórios de gravidez, creches e asilos para
a infância, fomentação de mutualidades maternas ou outras denominações
tendentes a auxiliar as mulheres pobres na sua gravidez e ministrando-lhes
socorros nos domicílios.
4.º Arbitramento às mulheres das fábricas ou outros lugares de
dependência particular ou do Estado, de um abono ou subsídio pecuniário durante
um mês antes dos seus partos, saído de um fundo que poderá ser constituído
parte por um quantum tirado dos proventos da fábrica, parte pelo Estado e parte
de uma quotização mensal imposta ao pessoal da fábrica de ambos os sexos.
5.º Encarecer às autoridades municipais e administrativas a
conveniência de promover conferências públicas nas suas áreas sobre este
assunto.
6.º Finalmente exigir o rigoroso cumprimento do disposto na lei já como um dever da humanidade, já como medida puramente de interesse nacional e finalmente como satisfação ao decoro do poder.”
Boa oradora, participou em Congressos e Conferências. Escreveu dezenas de artigos, de temática diversa, essencialmente de carácter médico-sanitário e cariz feminista onde manifestou as suas preocupações sociais, apresentando soluções e medidas profiláticas de doenças e epidemias, publicando sobre o assunto as obras Papel que o Estudo da Puericultura, da Higiene Feminina, etc. Deve Desempenhar no Ensino Doméstico (1913), Protecção à Mulher Grávida (1924) e A Luta Anti-Alcoólica nas Escolas (1924).
Também escrevia artigos onde demonstrava as suas reivindicações de carácter feminista, esse campo fundou e dirigiu a revista Alma Feminina (entre 1920 e 1929), e colaborou com numerosas publicações periódicas como: Educação; Educação Social; O Globo; A Mulher e a Criança; Pensamento; O Rebate.
Como Republicana e Feminista, desenvolveu intensa actividade
militante a favor do estabelecimento daquele regime político e pela
dignificação do estatuto da mulher. Em 1910, com Beatriz Ângelo, coseu e bordou
a bandeira nacional hasteada na implantação da República, na Rotunda, em
Lisboa. Em 1912 reivindicou o voto para as mulheres. A sua vida associativa
passou pelo Grupo português de Estudos Feministas (1907) e pela Liga
Republicana das Mulheres Portuguesas (1908). Humanista, aplaudiu o encerramento
das tabernas e manifestou-se contra a violência nas touradas, o uso de
brinquedos bélicos e outros assuntos que se revelariam temas vanguardistas para
a época, temas esses que ainda mantêm a sua actualidade.
Em 1914, fundou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas,
secção portuguesa do International Council of Women e mais tarde também da
“Aliança Internacional para o Sufrágio Feminino”, sem o apoio dos partidos
republicanos, tomando parte no Congresso Internacional de Roma, em 1923, no qual
obteve grandes êxitos nos temas apresentados, abordando a condição social da
mulher portuguesa e tendo feito um apelo de auxílio internacional para que a
emancipação da mulher passasse a ser um realidade em Portugal. Em 1925 está
presente no Congresso Feminista de Washington, pela segunda vez em
representação do Governo Português, chamando a atenção do mundo inteiro da
necessidade de renovar as legislações caducas e cheias de preconceitos
respeitantes à mulher.
Adelaide promove em 1924 o 1.º Congresso Feminista como forma
de comemorar o décimo aniversário do CNMP e quatro anos mais tarde o 2.º, com
enorme sucesso pelas teses apresentadas. Todavia, a propósito do 2.º Congresso,
a imprensa reaccionária faz referência à “terrível” inovação de as mulheres portuguesas
virem a público apresentar as suas razões.
Em 1929 vai com o sobrinho Arnaldo Brasão para Luanda,
desiludida com a nova situação política do país que levará à implantação do
Estado Novo. Aí, dedicou-se sobretudo à medicina e envolve-se em polémicas pela
defesa dos indígenas. Em 1933 foi a primeira e única mulher a votar a
Constituição Portuguesa, que instala o Estado Novo ao qual se opunha
fortemente. Regressa em 1934, já doente e debilitada.
Além dos seus fortes ideais Feministas e Republicanos, Adelaide Cabete abraça os ideais Maçónicos, sendo iniciada em 1 de Março de 1907, em Lisboa na Loja Feminina Humanidade (n.º 276) do Rito Escocês Antigo e Aceito, e depois do Rito Francês, com o nome simbólico de Louise Michel, na qual se conservou enquanto aquela oficina laborou sob os auspícios do Grande
Oriente Lusitano Unido, até 1914, tendo atingido o grau 18.º em 10 de Julho de
1911. Entre 1920 e 1923, pertence à Loja Humanidade que funciona com
independência em rito francês, mas devido às polémicas no interior da
maçonaria, vivencia sucessivos afastamentos e recomeços. Apesar de várias
manifestações de solidariedade por algumas Lojas masculinas, em 1923, o Grande Oriente
Lusitano Unido retira a igualdade de tratamento, exigindo que a Loja Humanidade
ficasse como Loja de Adoção, isto é, sem os plenos direitos que antes detinha
em igualdade com as Lojas masculinas. Depois desse acto de despromoção, esta
então Venerável Mestre da Loja Humanidade (exclusivamente feminina), retirou a
Loja da Obediência e pede ao Supremo Conselho Universal Misto do “Le Droit Humain”
e à Ordem Maçónica Mista Internacional – “Le Droit Humain” a filiação desta
Loja o que vem a suceder ainda nesse ano de 1923, fundando a Jurisdição
Portuguesa da Ordem Maçónica Mista Internacional “Le Droit Humain” – O Direito
Humano.
Após esta ruptura, Adelaide Cabete em conjunto com outros
Irmãos e Irmãs, e lutando sempre com dificuldades de local de reunião, mas
perseguindo tenazmente o objectivo de criar uma Federação autónoma em Portugal,
criou pelo menos mais três Lojas a saber: a Loja Humanidade a Oriente de Lisboa;
a Loja Fiat Lux a Oriente de Lisboa e a Loja Trindade Leitão a Oriente de
Alcobaça, bem como pelo menos dois triângulos maçónicos, o Triangulo
“Solidariedade” a Oriente de Beja e “Amaia” a Oriente de Portalegre, e duas Lojas
de Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite, um Capítulo “Humanidade” e o Areópago
“Teixeira Simões” ambos a Oriente de Lisboa, dando assim origem à Jurisdição
Portuguesa de que foi Presidente até 1935 e por inerência Venerável Mestre do
Areópago “Teixeira Simões”, chegando ao 20.º Grau. Não conseguiu, porém, as 7 Lojas nem os 150 membros para fundar uma Federação.
A actividade da maçonaria mista na sociedade foi grande,
sendo de sublinhar as Ligas de Bondade, criadas em 1923, o 1.º Congresso
Feminista e de Educação em 1924, já referido e o 1.º Congresso Abolicionista em
1926, resultante de meses de trabalho na Loja Humanidade. Neste último,
Adelaide apresentou a tese sobre a Polícia Feminina, onde defendia a criação de
secções de agentes femininos nos serviços policiais, como meio de protecção à
criança, aos jovens e à mulher, no combate à prostituição, devendo ter uma
função essencialmente educativa. Morre em Lisboa, a 14 de Setembro de 1935, com
68 anos.
Mulher dinâmica, de forte personalidade e grande frontalidade,
o seu dinamismo não a deixou repousar sobre os louros conquistados. A sua acção
não se limitou a teorias, traduziu-se em realidades práticas. Carinhosa e
bondosa, de estilo simples, objectiva, de linguagem clara, mostrou que nem o
berço nem o sexo limitam o ser.
Adelaide Cabete foi durante muitos anos a imagem progressista da mulher
portuguesa no mundo.
In Grande Loja Feminina de Portugal - G L F P
sábado, 7 de dezembro de 2013
Sebastião Magalhães Lima – Um Idealista
Foi autor de uma vasta obra – uma trintena de títulos entre livros e folhetos – sem contar com uma intensa colaboração em revistas e jornais, incluindo os que dirigiu durante muito tempo, como O Século, Vanguarda e A Folha do Povo, e que ficaram célebres nessas décadas que antecederam a mudança e regime.
Poucos republicanos, como ele, alcançaram uma projecção internacional de tanto destaque, conferida, em larga medida, pela sua militância pacifista – foi co-fundador da Liga Portuguesa da Paz em 1899 – nas associações de imprensa e do livre-pensamento e também pela sua qualidade de Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido Supremo, Conselho da Maçonaria Portuguesa. Essa notoriedade além-fronteiras facilitou a sua acção como «caixeiro-viajante da República», como foi designado, utilizando esse prestígio em benefício da consolidação da jovem República Portuguesa. Foi amigo de Anatole France, Vitor Hugo, Kropotkine, Frederico Passy, Gladstone, Jean Jaurés, Amilcare Cipriani, Millerand, Salmeron, Max Nordeau e Pi y Margal.
No entanto, tendo em conta um currículo de tal dimensão, a sua carreira política depois de 1910, foi modesta. Tomando assento na Assembleia Constituinte e depois no senado, até 1915, mas com raras presenças, entre cortadas com frequentes idas ao estrangeiro; ocupou por breves semanas a pasta da Instrução no governo saído da Revolução de 14 de Maio de 1915, que derrubou Pimenta de Castro. Bem pouco, afinal, para uma biografia tão extensa e relevante, embora ele próprio tenha declarado que só muito instado aceitou.
Para uma personalidade com os contactos internacionais que possuía, a Presidência da República não teria sido demais. No entanto, nas eleições presidenciais de 1911 teve um único voto em 217, e nas de 1919 também um voto solitário em 181. Nas de 1923, quando foi eleito Teixeira Gomes, chegou a formar-se uma comissão para promover a sua candidatura, animada por Teófilo Braga, Botto Machado e Alexandre Ferreira. Mas em vão: sem o apoio das forças partidárias, teve um voto num total de 197... Decididamente, os tempos não eram favoráveis aos idealistas.
É que Magalhães Lima foi, acima de tudo, um idealista com uma certa dose de ingenuidade.
O facto de ter sido republicano desde os tempos de estudante não toldou a sua capacidade crítica, fazendo diversas intervenções, durante a Primeira República, no sentido da pacificação do campo republicano e da correcção de erros que estevam a ser praticados. Republicano federalista, apesar de as suas ideias não terem sido consagradas na Constituição de 1911, nem por isso renunciou a elas, que também se incluíam uma constante preocupação social que lhe granjeava um enorme prestígio entre as classes trabalhadoras.
Ao longo da sua vida, Magalhães Lima foi um modelo de honestidade e de coerência em relação aos seus ideais. Numa entrevista de 1911, afirmava: «Se for preciso recomeçar a minha vida para defender a Liberdade fá-lo-ei sem a menor hesitação. Sempre com a Liberdade contra a Reacção, venha esta de onde vier! O que enfim lhe posso assegurar é que vigiarei de perto a marcha da República e que qualquer recuo ou estacionamento será absolutamente impossível, seja qual for o governo. Tenho de resto uma absoluta confiança no espírito republicano que hoje domina o país, e que, acredita, ninguém já hoje poderá sofrear. O meu temperamento foi sempre o de um propagandista e nessa situação me conservarei ao lado dos meus amigos com a mocidade espiritual e a dedicação republicana que felizmente não me abandonaram ainda...».
Ascendeu a Grão-Mestre da Maçonaria em 1907, num dos mais longos mandatos na história maçónica portuguesa, o qual apenas terminou com o seu falecimento em 1928. Sendo um dos maçons mais prestigiados internacionalmente, durante este período foi o grande impulsionador da republicanização da organização, conspirando activamente para a implantação do regime republicano em 1910, apoiando múltiplas tentativas revolucionárias durante as fases mais exaltadas da Primeira República Portuguesa. Foi nesse contexto que em 6 de Dezembro de 1918, teve a sede do Grande Oriente Lusitano assaltada por populares que acusavam a Maçonaria de estar por detrás do atentado frustrado à vida de Sidónio Pais ocorrida na véspera e que foi preso e maltratado no Governo Civil de Lisboa por alegadas relações com José Júlio da Costa, o jovem republicano que praticou aquele acto.
Foi Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito em 1919.
Em 1921 fundou a Liga Portuguesa dos Direitos do Homem.
Faleceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1928, já sob o governo da Ditadura Nacional, mas ainda assim o seu funeral reuniu dezenas de milhares de pessoas.
Foi um dos maçons portugueses mais conhecidos e prestigiados fora de Portugal, e um dos Grão-Mestres com mais longo mandato na história maçónica portuguesa (1907 a 1928), coincidente com o período de maior apogeu da Maçonaria em Portugal. Na sua última mensagem como Grão-Mestre, em 1928, condenou a opressão que um regime ditatorial impusera ao seu país desde 1926, afirmando que os conceitos de Pátria e de Liberdade eram sinónimos!
Obras: Para além de uma vasta obra dispersa por periódicos vários e panfletos, é autor das seguintes monografias:
Martírio de um anjo; Amour et Champagne; Um drama íntimo; Fatalidade e o destino; Cambiantes da comédia humana; Estrelas e nuvens; A beira-mar; Um dia de noivado; A Actualidade (estudo económico-social); A Federação Ibérica, 1892 (edição francesa); A Guerra e a Paz (conferência); A Obra Internacional (edição portuguesa e edição francesa), 1897; A Questão do Banco Nacional Ultramarino, 1879; A Revolta (1.ª Parte), A Revolta (2.ª Parte); A Senhora Viscondessa (romance), 1875; Costumes Madrilenos, 1877; Da monarquia à república: história da implantação da república em Portugal, 1910; Episódios da minha vida: memórias documentadas, 1928; Miniaturas Românticas, 1871; O Centenário [de Camões] no Estrangeiro (conferência realizada na Sociedade do Geografia de Lisboa no dia 11 de Novembro de 1897), Lisboa, 1897; O Congresso de Roma, 1904; O Federalismo, 1898; O Livro da Paz, 1895; O Papa Perante o Século; O Primeiro de Maio, 1894; Os Estados Unidos da Europa, 1874; O Socialismo na Europa, 1892; Padres e Reis, 1873; Pela Pátria e Pela Republica, 1891; Paz e Arbitragem, 1897; Teoria da humanidade; Pena de morte; As subsistências.
Autor: Júlio Verne
terça-feira, 10 de setembro de 2013
Frederico George - Um Humanista

Em 1971 subiu ao Supremo Conselho Unificado para a Grã-Bretanha, em 1982 assumiu o Cargo de Grande Chanceler do mesmo Orgão.
Por iniciativa do Grão-Mestrado foi agraciado com as mais altas insígnias da Ordem, mas recusou sempre aceitá-las argumentando que tais insígnias eram marcada por um valor profano e saiam do âmbito do trajecto iniciático da Franco-Maçonaria.
No momento da sua partida para o Oriente Eterno tinha renunciado a todos os seus cargos, mantendo apenas a distinção dos seus Graus.
Ao nível profano, era arquitecto de profissão, sempre dedicado a projectos de urbanização de bairros sociais. Actividade que desenvolveu e prestigiou em Inglaterra, mas sobre tudo em Portugal.
Desde os 26 anos de idade que integrava a tendência republicana do Partido Trabalhista Britânico.
Devido às suas convicções republicanas, nunca aceitou nenhuma distinção da Coroa e dadas a sua condição de dupla nacionalidade também recusou distinções da República Portuguesa.
Em sua memória será realizada uma Missa Solene na Catedral de Westminster – Capela da GLUI, celebrada por Sua Eminência o Arcebispo de Cantuária.
As suas cinzas serão depositadas na parcela da Grande Loja no Cemitério Britânico em Lisboa.
Por este decreto de luto, que todas as Lojas e Oficinas Filosóficas ajam em conformidade.
Aos dez dias do mês profano de Setembro de 2010
Sua Alteza Real, o Duque de Kent,
Gão-Mestre da Grande Loja Unida Inglaterra
terça-feira, 16 de julho de 2013
In Memoriam Irmão Gaudim Paes
Um pelicano protegeu-o com as suas asas
Alimentou-o com o seu sangue
E com água do seu coração,
Partiu com ele e fê-lo Cristo.
O receba entre os seus
O eleve pelos cinco pontos da Mestria
E o receba em sua Loja.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Fernando Valle
Fernando Valle pertencia a uma família abastada, uma família de médicos com ideais republicanos, que, quando ele tinha dois anos, se mudou para Côja, no concelho de Arganil, onde iria passar toda a sua vida e a exercer medicina.
Aos 23 anos, tornou-se maçon ao entrar para o Grande Oriente Lusitano através da Loja "Revolta". Escolheu para nome de iniciado Egas Moniz, por este ser para si um exemplo de lealdade.
Após a instauração do Estado Novo tornou-se opositor do presidente António Oliveira Salazar, personalidade que considerava "uma coisa má" para Portugal. As suas opções políticas levaram a que, em 1949, fosse demitido do posto de médico municipal, tendo sido acusado de ser desafecto ao regime. Isto porque participou na campanha presidencial de Norton de Matos. Mesmo assim, em 1958, apoiou a candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República.
Ingressou ainda nas Juntas de Acção Patriótica, o que levou a que fosse preso, entre 27 de Abril e 29 de Junho de 1962, na Cadeia do Aljube.
Já em 1971, o regime, então liderado por Américo Thomaz e Marcello Caetano, tentou afastá-lo do Hospital da Misericórdia de Arganil. No entanto, uma manifestação de mulheres foi organizada para impedir que tal sucedesse e o afastamento de Fernando Valle foi evitado.
Da sua actividade cívica destaca-se, entre outras, a fundação da Sociedade Recreativa Argus, de que resultou mais tarde a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Argus, juntando todas as associações existentes em Arganil.
Fernando Valle manteve-se sempre ligado à política e, em Abril de 1973, participou, de forma clandestina, na reunião fundadora do Partido Socialista (PS). O encontro decorreu em Bad-Munstereifel, na Alemanha, e contou também com a presença de Mário Soares.
Apesar de ter continuado ligado ao PS até à data da sua morte, Fernando Valle recusou sempre cargos políticos. Só abriu uma excepção para ser governador-civil de Coimbra, um cargo que desempenhou entre 1976 e 1980 e logo após a «Revolução dos Cravos» foi presidente da comissão administrativa da Câmara Municipal de Arganil.
Fui galardoado com a Ordem da Liberdade (Grande Oficial) e Ordem de Mérito (Grã-Cruz).
Após falecer a 27 de Novembro de 2004, Fernando Valle foi sepultado em Côja, tendo assistido ao funeral várias personalidades das mais diferentes áreas culturais, cívicas e políticas.
Sentido voto de pesar aprovado por unanimidade na Assembleia da República
Após ter heroicamente resistido até aos 104 anos, faleceu o Dr. Fernando Valle.
Deixou-nos um cidadão, um homem e um profissional que atravessou o último século e pôde testemunhar ainda os primeiros anos do século presente. Raros seres humanos terão deixado, após si, a imagem de bondade, solidariedade, amor pelo semelhante, nobreza de carácter, coragem cívica e dignidade em todos os actos da sua vida que Fernando Valle nos deixou.
Foi um médico distinto, que exerceu a medicina como um sacerdócio. Foi talvez o exemplo mais frisante, se não único, do médico que empobreceu a exercer medicina. Aluno brilhante da Universidade de Coimbra, renunciou à possibilidade de uma carreira académica para curar doentes em Arganil, Coja, e outras povoações da serra do Açor. De dia e de noite, chovesse ou soprasse o vento, a pé ou a cavalo, lá ia o Dr. Fernando Valle aonde o chamassem para curar doentes, fazer partos, pequenas cirurgias ou mesmo curar almas, que tudo isso tinha de saber fazer o médico de família de então.
Membro do Grande Oriente Lusitano, do qual, por modéstia, nunca quis ser Grão-Mestre, era, ao morrer, o mais antigo maçon do mundo. E decerto um dos mais fiéis e permanentes intérprete dos valores por ele perfilhados. Viveu toda a sua vida, sincera e convictamente, em consonância com eles.
Fundador do Partido Socialista, e há alguns anos seu Presidente Honorário, viveu o socialismo como ele deve ser vivido: como um humanismo. E fez da sua vida uma das referências mais exemplares para quem busca a perfeição cívica e ética. Viveu verdadeiramente como um santo laico.
Deixa-nos uma maravilhosa recordação. Tentemos imitá-lo e merecê-lo.
Na sua reunião de 2 de Dezembro de 2004, a Assembleia da República aprovou um sentido voto de pesar, endereçando à família enlutada, ao Partido Socialista e à legião de admiradores do Dr. Fernando Valle o seu mais sentido pesar.
Autor: Júlio Verne