terça-feira, 15 de novembro de 2022

Ética e Moral da Humanidade

Ao longo do dia, perante de pessoas, coisas e situações, muitas avaliações ou preconceitos são eliminados constantemente.
Desde que o mundo é mundo, é assim. 
O ser humano vive sob doutrinas das coisas: o bem e o mal, o certo e o errado, e o que diferencia cada um, tem a ver com a boa índole refletida na boa conduta frente à sociedade, orientada por regras de bem viver, que precisam ser respeitadas.
Não deve ser confundida com as leis, mas está relacionada com o sentimento de justiça social. Princípios ou valores morais como a ética, são peças chave para a harmonização dos grupos, para que haja um equilíbrio, bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Assim diz a teoria. Nesse sentido, ética é um tema recorrente, pois, está atrelada à vida, ao quotidiano do homem.
Nos dias de hoje, muitos citam a palavra “ética”, mas, quando questionados, não conseguem explicá-la nem defini-la. Por isso, o nosso objetivo é abordar o conceito de ética de modo a tornar mais claro o seu entendimento a partir de uma reflexão sobre a mesma nos dias atuais. 

Numa primeira análise, a ética remete-nos à norma, à liberdade e à responsabilidade. Falar em ética significa falar de liberdade, pois não faz sentido falar de norma ou de responsabilidade se não partimos da suposição de que o ser humano é realmente livre para agir, ou pelo menos deve sê-lo.
A norma diz como devemos agir. E, se devemos agir de tal modo, é porque também podemos não agir deste mesmo modo. Isto é, se devemos obedecer, é porque podemos desobedecer ou somos capazes de desobedecer à norma. Também não haveria sentido falar de responsabilidade, se o condicionamento ou o determinismo fosse tão completo a ponto de considerar a resposta como mecânica ou automática.
Por outro lado ao afirmarmos que o determinismo é total, não se pode falar de Ética; pois a Ética refere-se às ações humanas, e, se elas são totalmente determinadas de fora para dentro, não há espaço para a liberdade, como autodeterminação e, consequentemente, não há espaço para a Ética.

Ao falar sobre um dos ramos da filosofia dedicado aos assuntos morais que norteiam o meio social, é necessário refletir sobre os dilemas da conduta dos indivíduos, na contemporaneidade, em todos os âmbitos sociais, começando na família, na escola, no trabalho e assim sucessivamente. Pensando seguidamente nos descaminhos dos seres humanos, refletidos na violência, na exclusão, no egoísmo e na indiferença pela sorte do semelhante e até mesmo da sociedade.
Atualmente, a ética abrange uma vasta área, podendo estar relacionada com temas ligados ao ambiente familiar, escolar, profissional, econômico, social e político. Existem códigos de ética profissional que indicam como o indivíduo se deve comportar no âmbito da sua profissão. Nos dias atuais com um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, as pessoas preocupam-se com a ética nos seus negócios mostrando-se cada vez mais eficazes para competir com sucesso e obter resultados positivos.
Um outro exemplo a ser citado é na esfera política onde a sociedade tem exigido cada vez mais a moralidade de seus agentes e representantes e consequentemente mais “condenando” as ações que saqueiam os cofres públicos tirando do povo os recursos que deveriam ser empregues na prestação de serviços à população (educação, saúde, segurança, infraestrutura).
Na esfera política há que destacar a importância que os conceitos de democracia e direitos humanos assumiram, e que são também, de caráter moral, como por exemplo, a partir da discussão em torno dos conceitos de liberdade, igualdade e justiça social.

Mas o que é certo, o que é errado? Existe uma série de discussões políticas relativas aos direitos de grupos sociais as quais devem ser percebidas como questões morais: a questão do aborto, por exemplo, que ocasiona grande polémica quando posto em discussão, os direitos dos deficientes, a eutanásia, entre outras questões. 
São temas complexos que perpassaram o tempo, e hoje resultam em discussões que esbarram no senso ético para a resolução de cada situação no seu tempo.
Diretamente relacionada ao aspeto político, a ética remete-nos também à noção de cidadania e à vida em comunidade com o objetivo da realização das pessoas. A ética na cidadania procura refletir sobre o comportamento humano do ponto de vista das noções de bem e de mal, de justo e injusto, abrangendo as normas morais e as normas jurídicas; a ética na cidadania procura um meio em que as pessoas possam interagir na sociedade obedecendo a tais leis morais para um bom desempenho da comunidade humana.
Se partirmos do princípio, de que ninguém nasce com normas morais incorporadas, temos que admitir que é pela educação que o indivíduo tem a oportunidade de construir a sua personalidade moral. Numa sociedade competitiva e individualista como a que vivemos, pode assim parecer utopia aspirar a valores como a justiça baseados na reciprocidade e no compromisso pessoal. 

Assiste-se todos os dias ao retrato de países que esquecem esse “princípio da vida”. Nem preciso será dizer quem é que mais sofre com esse descompromisso. Nesse descompasso, patologias sociais como as desigualdades e a corrupção aumentam, ficando a sociedade cada vez mais sensível a crise dos valores morais e sociais.  Isto atinge a humanidade de modo geral.
A ética supõe a necessidade de reflexão sobre valores sociais num meio, reduzido ao individualismo e à competitividade, o que torna necessário, mais do que nunca, uma preocupação com a sociedade. Sim, porque a crise da Humanidade é uma crise moral. É evidente a falta de ética em vários âmbitos. 
A discussão sobre a justiça social é também uma discussão moral, admitindo que os valores das ações sociais estejam deturpados devido à lógica do sistema vigente. Bem e mal, certo e errado, justo e injusto cederam lugar ao sentimento de sobrevivência, do “salve-se quem puder” ou do interesse pessoal e particular numa sociedade exploradora, que mascara a liberdade, condição fundamental para a realização de ações morais.
Contudo, vivemos numa sociedade, onde o mundo se tornou uma grande aldeia global. É incrível como se atinge um nível de inter-relacionamento que nos permiti falar num mercado mundial que determina a produção, a distribuição e o consumo de bens, e numa cultura da virtualidade real, que liga todos os pontos do globo e influencia comportamentos. Durante esse processo fala-se ainda de uma “ética do mercado”.
Por um lado, a todos estes aspetos sociais e globais, é fundamental que cada ser humano esteja consciente de que não bastam as reflexões, é preciso mudar conceitos, ter condutas condizentes com o que harmoniza a sociedade em todos os seus segmentos. 
Não se pode ignorar que, tanto no âmbito das relações humanas, como políticas, economia, enfim, fatores sociais, constantemente são feitos julgamentos de carácter moral. Basta observar que um grande espaço nas discussões entre amigos, na família ou no trabalho abrange aqueles sentimentos que pressupõem juízos morais: indignação, rancor, sentimentos de culpa e vergonha.

Contudo, não há receitas para o bem agir o compromisso consigo, com os outros, com as novas gerações exige um estado de alerta constante. Viver sob os moldes da moral não é tarefa simples nem fácil, mas há a possibilidade de participar num mundo moral. E o que podemos infirmar de uma forma conclusiva, é que os problemas éticos presenciados na atualidade não se vão resolver apenas por tentativas isoladas de educação ou instrução ética dos indivíduos. 
É preciso vontade individual, política e social, para puder alterar as condições geradoras das mazelas sociais como a violência, a corrupção, a exploração, vicissitudes dos que estão à margem da sociedade. Por outras palavras: não basta “reformar o indivíduo” para “reformar a sociedade”; é preciso reformar ambos. Um projeto moral desligado de um projeto político fracassaria. Os dois processos caminham juntos, pois formar o ser humano plenamente moral, ético, só é possível na sociedade que também se esforça para ser justa e democrática, com direitos igualitários para todos, sem exceção.
De acordo com Aristóteles, sendo a ética a ciência que estuda o comportamento humano com ênfase, tanto nos valores individuais como nos valores do individuo perante a comunidade a qual pertence, é indispensável exigir de cada um, e da sociedade mais seriedade e dignidade nos seus atos sejam eles políticos, sociais, culturais, religiosos ou morais. 

É sempre importante fazer uma análise de como a ética está presente na nossa vida nos dias atuais, pois observa-se que certos valores que cada indivíduo assimila no decorrer da sua formação como pessoa, muitas vezes adquiridos na  sua família, escola, enfim, valores necessários numa procura como guião, através das nossas escolhas, entre o certo e o errado, o bem e o mal, ou seja, possuímos uma liberdade de escolha que nos torna mais responsáveis pelas nossas ações e que nos incentivar a colocar em prática o nosso respeito e dignidade, tendo em conta o bem comum de todos os que nos rodeiam.

Autor: John Locke