domingo, 7 de agosto de 2022

A Trolha


No seguimento do caminho percorrido nas viagens aquando da passagem entre colunas no caminho para a Luz na busca e construção de um Mundo mais justo e perfeito efectuamos Cinco  Viagens e somos introduzidos às ferramentas que o Companheiro utiliza para o polimento da pedra bruta desbastada pelo/como Aprendiz.   
Na Primeira Viagem que é dedicada aos Cinco Sentidos é-nos confiado o Maço e o Cinzel (para desbastar a Pedra Bruta), na Segunda Viagem que é alusiva às Artes o Esquadro e o Compasso (emblemas da Rectidão e Exactidão, Justiça e Verdade), as Ciências abordadas na Terceira Viagem trazem consigo a Régua e a Alavanca simbolizando a o Juizo Recto e o Poder do Trabalho, na Quarta Viagem temos o Nível que simboliza a igualdade Social relacionando-se dessa forma com os Beneméritos da Sociedade, finalmente na Quinta e ultima Viagem nesta   passagem entre colunas Glorificamos o Trabalho o que é simbolizado através da Trolha.

Irei nesta Prancha tentar abordar com maior detalhe este ultimo símbolo face à sua relação com a Glorificação do Trabalho, relação que me despertou algum interesse pois faz parte da minha formação de base enquanto Cidadão estando a Glorificação do Trabalho relacionada até com a escolha do meu Nome Simbólico, e por coincidência escrevo estas linhas no dia primeiro de Maio de 2017.

Como já referi numa prancha anterior a Maçonaria como a conhecemos actualmente é Especulativa ou Filosófica e assim vincadamente Simbólica e somos igualmente uma Ordem Ritualista, como Arnaut refere as nossas “reuniões obedecem a determinados ritos, que traduzem simbolicamente, sínteses e sabedoria, remontando aos tempos mais recuados”, importa assim verificar a origem deste símbolo.

Trolha (tro·lha) tem a sua origem no Latim trulla. Tem diversos significados correntes sendo uma espécie de pá em que o pedreiro tem a argamassa de que se vai servindo (colher de Pedreiro), pode ser o servente de pedreiro ou o Pedreiro, um operário que assenta e conserta telhados, pintor de brocha ou até no calão ser utilizado para definir um homem sem importância ou sem préstimo e até violência física.

Qual a sua relação com a Maçonaria?

Verificamos que tem uma relação directa com a Maçonaria Operativa pois estamos perante a conhecida colher de pedreiro, ferramenta da Construção que é utilizada para misturar, separar, colocar ou até projectar argamassa nas diversas superfícies da obra em curso, é utilizada igualmente para alisar e uniformizar essa superfície com vista a aperfeiçoar e terminar a obra.

É exactamente na transposição desta sua função que facilmente percebemos um dos seus significados na Maçonaria Especulativa, terminar a obra e aperfeiçoa-la. Começando na Pedra Bruta desbastada pelo Maço e Cinzel e após aplicação na obra através do Esquadro, Compasso, Régua, Alavanca e Nível utilizamos a Trolha para a finalização do Trabalho.

Qual a sua relação com a Glorificação do Trabalho?

Em Maçonaria o Trabalho reveste-se de especial importância pois o mesmo é constante, o Obreiro trabalha numa Obra que não terminará, no seu intimo com o objetivo de evoluir e contribuir sempre que possível para um Mundo melhor mais Justo e Perfeito. É através deste Trabalho constante que conseguiremos moldar o mundo para melhor, mais equitativo e fraterno.

Assim Glorifica-se a importância do Trabalho e não só apenas do Trabalhador Individual, pois como a Trolha consegue uniformizar uma superfície também aqui se pode fazer a transposição para a uniformização dos Trabalhadores independentemente da importância relativa que possam ter em determinado momento em Loja, dessa forma a colocar todos os Obreiros em igualdade nos permite sermos pares e Fraternos. Desta Fraternidade não é indissociável o altruísmo e a solidariedade com os que ainda não laboram por ainda não ter chegado a sua hora e os que por algum motivo já não podem trabalhar, desta Fraternidade podemos fazer uma transposição para o Mundo Profano com a formação necessária para formar Cidadão, a manutenção de sistemas de protecção de quem já não pode trabalhar e até na defesa das condições de trabalho dos trabalhadores aos seus mais diversos níveis.

São estes os únicos simbolismos Maçónicos da Trolha?

Não, em “A Simbólica Maçónica” Jules Boucher recorrendo aos autores Plantageneta e Wirth remete-nos para outro significado relacionado com a característica dessa ferramenta uniformizar e unificar Argamassa que é simbolizar a Benevolência, a Fraternidade e a Tolerância sendo o símbolo do Amor Fraterno que une todos os Maçons entre si.     Da mesma forma que a Trolha faz com que desapareçam as irregularidades numa superfície unificando a mesma e parecendo una, devemos nós utilizar a mesma em Maçonaria de forma a mesmo sendo distintos entre nós como as sementes das Romãs que ornamentam as Colunas separadas na sua individualidade mas que se unem num todo, nós por essa diferença podemos ter perspetivas diferentes da realidade e caso surjam discórdias entre Obreiros devemos utilizar a Trolha como um elemento unificador e conciliador, passando a trolha sobre o assunto, pois por sermos Maçons Livres em Lojas Livres será usual pontos de vista discordantes e por vezes uma defesa mais acalorada de uma posição pedirá a utilização da Trolha Maçónica com vista ao restabelecimento da união fraterna .

É a Trolha uma Ferramenta do Companheiro?

Como Aprendiz as ferramentas utilizadas para o desbaste da Pedra Bruta são o Maço e o Cinzel sendo na passagem ao Grau de Companheiro feita a introdução às restantes ferramentas nas Viagens como referido anteriormente (Esquadro, Compasso, Régua, Alavanca, Nível e Trolha), pelo que sim já será uma das ferramentas utilizadas pelo Companheiro no aperfeiçoamento da Pedra Bruta com vista à sua transformação na Pedra Cúbica, no entanto podemos considerar que a Trolha pelo que vimos é uma ferramenta de utilização complexa pelo que demorará o seu tempo e orientação dos seus irmãos até que o Companheiro a maneje com Mestria. 


Autor: Armindo Matias



Uma Curta Reflexão Sobre o Ágape

O ágape na atual maçonaria especulativa não é uma exclusividade da atual maçonaria especulativa. O ágape é tão antigo quanto as escolas de mistérios no planeta Terra. Se engana o maçom que pensa que o ágape foi  inventado pela maçonaria e que após as sessões ele faz  algo jamais visto no mundo. O ágape sempre fez parte das reuniões entre os Iniciados, inclusive desde a antiguidade. 

Entretanto, o modo como o ágape vem sendo conduzido pela atual maçonaria especulativa está cada vez mais distante do verdadeiro sentido do ágape para uma ordem iniciática como a maçonaria. Cada vez mais o ágape vem sendo conduzido como uma mera confraternização entre os irmãos após as sessões. Assim como no mundo profano as pessoas se reúnem pelos mais diversos motivos para comer e beber, os maçons têm conduzido o ágape como uma mera reunião de comes e bebes entre amigos, esquecendo-se do carácter sagrado do ágape que deve haver na maçonaria, pois a maçonaria é sagrada e o sagrado deve gerar o sagrado, assim como o profano gera o profano. O ágape na maçonaria não deve ser uma mera confraternização entre irmãos, mas deve ser o que sempre foi para os Iniciados: uma parte do ritual.

Autor: Freud