terça-feira, 29 de setembro de 2009

Sabedoria e humildade

Para os maçons há alguns valores absolutamente fundamentais e que são de todos bem conhecidos: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No entanto, relacionados em maior ou menor grau com estes, há outros valores que se revestem também de grande importância. Refiro-me a ideais tão belos como a Paz, a Justiça e a Tolerância.
Para os que abraçam os ideais maçónicos, estes conceitos correspondem a valores que o são por si mesmos, ou seja, que não resultam de qualquer dogma, princípio religioso ou corrente filosófica. É de facto notável, mas a Maçonaria permite adquirir valores espirituais sem requerer uma adesão a qualquer crença.
A Maçonaria, uma vez que aceita no seu seio pessoas das mais diversas crenças, incluindo as «não crenças», não poderá ser considerada uma religião, pelo que para ela os grandes ideais da humanidade são valores por direito próprio e a sua realização algo absolutamente necessário à felicidade das pessoas. Os maçons não defendem esses valores para colher quaisquer benefícios terrenos ou celestiais, mas porque os consideram como inerentes à condição humana. Não tenho dúvidas de que quando alguém toma consciência de que todas as pessoas têm os mesmos direitos, independentemente da raça, do sexo, da crença ou dos bens materiais de cada um, a prática dessas virtudes torna-se algo tão natural como respirar.
A ideia mestra em que assenta a Maçonaria é de facto extraordinária. Na sua raiz está a união das pessoas livres e de bons costumes. No seu método de trabalho há diversos rituais e um grande número de simbolismos e alegorias. O resultado final é a indicação da direcção dos grandes valores da humanidade e a sua busca permanente e incessante.

O facto de a Maçonaria ser uma organização iniciática onde se faz uma aprendizagem lenta e gradual baseada no estudo, na meditação e no convívio entre os Irmãos e possuir uma estrutura hierarquizada, mas que globalmente não tem um “chefe supremo” ou um “mentor” pois há um grande número de Obediências independentes, permite-lhe proporcionar aos seus membros uma preparação mais sólida e um aperfeiçoamento contínuo.
De facto, a primeira tarefa do maçon é a construção do seu próprio «eu» enquanto obreiro de uma causa que não conhece fronteiras. Essa tarefa significa que o maçon deve preocupar-se não só em estudar para aumentar os seus conhecimentos e meditar para os interiorizar, como também tomar consciência dos males do meio em que está inserido e procurar combatê-los com as ferramentas que a sua aprendizagem lhe vai proporcionando. Por outras palavras, o maçon deve procurar desempenhar com a maior das correcções o papel que a sua vida em sociedade lhe impõe. Ao fazê-lo já estará a melhorar o mundo.
Mas em momento algum deverá considerar-se perfeito e menos ainda um sábio seja lá do que for, pois nunca ninguém sabe tudo e a sabedoria é um pilar fundamental desse nosso aperfeiçoamento. Por pouco que seja, será sempre possível melhorá-lo.
Mais, o maçon também nunca deverá sentir-se orgulhoso dos seus progressos ou dos seus conhecimentos, pois se tal lhe acontecer demonstra uma enorme fragilidade do seu espírito maçónico e que dá valor ao que é secundário. A vaidade e o orgulho cegam-nos e impedem-nos de corrigir as nossas falhas. A ausência de modéstia é sinal de que algo está mal na preparação de um maçon e a arrogância está nos antípodas do espírito maçónico.
Só depois de minimamente consolidada essa construção “interior” o maçon estará apto a unir de forma útil os seus esforços aos dos outros Irmãos na interminável luta pelo bem comum, ou seja, pelos grandes ideais da Humanidade.

Autor: Carl Sagan

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Silêncio

Silêncio ...
Silêncio que vem
Do trono de Salomão,
Silêncio de Rei ...

Silêncio ...
Silêncio da palavra perdida,
Rio sem margens,
Choro do Além ...

Silêncio ...
Silêncio dos impossíveis
Que nos corre dos dedos,
Que nos corre dos medos.

Silêncio ...
Silêncio do amor e da morte
Renascido das cinzas.

Silêncio ...
Silêncio Paixão
Rosa de flor,
Cruz de Redentor ...

Silêncio ...
Silêncio de poeta,
Hermético, alquímico,
Silêncio ao rubro.

Silêncio ...
Silêncio de Cadeia de União,
Silêncio Irmão,
De S. João de Inverno
De S. João de Verão.

Autor: Jónatas

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quem Somos?

Os meus voos pela Maçonaria continuam, agora sustentados pelo aprendizado e reforçados pela solidariedade que nos une. Foi-me confiado um novo voo, o voo pelo sentimento de solidariedade, o voo que só agora tive capacidade para fazer, uma vez que consegui libertar-me de determinados vínculos que o poderiam por risco. Neste voo, na procura de respostas para “Quem somos?” sou orientado pela igualdade e para tal foi me ensinado o uso da alavanca e da régua, só assim e agregado ao uso do malho, do cinzel e do esquadro será possível continuar o meu percurso pelo sentimento da fraternidade. Tornei-me num obreiro da inteligência construtora, resultado de um aprendizado fiel e perseverante e assim parti para este voo, com o espírito de eterno aprendiz e mantendo sempre presente os deveres e responsabilidades que não deixo de cumprir e que se somaram à minha nova condição, sendo fruto do meu crescimento. Sinto-me capaz de começar agora, cresci, e começo a relacionar os elementos do conhecimento como, a Geometria, a Geração, a Gravidade, o Génio, a Gnose bem como a Luz do centro da loja em que fui aceite.
No meu percurso pelo estudo da Maçonaria Moderna, descobri as nossas origens ”de onde viemos” que me prepararam para saber “Quem somos?”, o meu voo é iluminado por uma luz suave, uma luz que não tem irradiações resplandecentes e nem um poder iluminativo igual ao do sol, e por um compromisso fiel à Vida. Assim, e suportado pelos raios dessa luz, cultivo o meu próprio génio sem nunca me esquecer, que o uso que lhe der poderá conduzir-me à liberação do Espírito ou a Escravidão da Matéria. “Quem somos?”, está sempre presente na minha trajectória e sob o tríplice aspecto de “produto da evolução da natureza”, de “ser individual dotado de auto-consciência e razão” e de “expressão ou manifestação directa da Vida única, para a qual tende constantemente com seu progresso” o que me vai permitir voar com todas as preocupações e estudos necessários ao meu crescimento.

Esta viagem enigmática tem que ser feita pelo meu Eu interior e leva-me ao estudo das propriedades dos números, e agora na minha rota tenho novos número, novos símbolos, novos caminhos para descobrir. Entro assim no reino da experiência do sensível através dos vários elementos que se cruzam no microcosmos, macrocosmos e na essência, e voo orientado pelo o fogo, pelo ar, pela terra e pela água. O Fogo ilumina o Oriente; o Ar o Ocidente; a Terra o Sul e a Água o Norte, tornam-se na minha ferramenta de orientação e delimita e constitui toda a natureza e essência do meu voo. Aprendi neste voo, que esta ferramenta relacionam-se não só com a matéria mas também com a essência, o Fogo com a vontade e com a imaginação, o Ar com o pensamento, como juízo e com a reflexão, a Água com o sentimento, com a emoção e com a sensação e a Terra, por fim, com a percepção, com o sentido prático e com a acção. Sou assim orientado neste meu voo e apoiado nas decisões que devo tomar e nas rotas que devo seguir. Nesta trajectória e com todo o apoio que me é facultado, sou orientado assim, para um elemento, um elemento superior aos anteriores e com ele é me permitido voar para um novo estágio, ou seja, do domínio da matéria ao da Vida e da Inteligência.

Aprendi que pela obra deste elemento, segundo o Gênesis, apareceram os animais sobre a terra, a razão da existência e que tudo o que me apoia neste voo advém dele. Ao deparar com ele descobri, que este é o ponto de intercessão dos dois Princípios ou elementos primordiais, que levam na simbologia hermética o nome do Sol e da Lua e torna-se no ponto de origem dos elementos ordinários que se tornaram nas ferramentas que me ajudam nesta viagem e me fazem crescer. Voei e cresci, agora sei a razão, o porquê, as ferramentas que me foram dadas acrescidas à energia do Homem e aos sentidos dão sentido ao meu voo e orientam-me as rotas que devo seguir.

O voo que me esforço por conseguir dota-me de alguma audácia e por isso sou tentado a responder à pergunta que me fez inciar este voo (Quem somos?). Essa pergunta leva-me a olhar para trás e faz-me sentir mais que nunca como um eterno aprendiz, pois “somos homens livres e de bons costumes …” somos Maçons.
Como resultado disso gostaria de partilhar com todos, e no fundo também como forma de agradecimento por tudo o que senti, que sinto e vivo no nosso templo maçónico, além do privilégio de ter a possibilidade de poder crescer como ser humano. Desta forma, cito um pequeno texto que expressa o que me vai na alma e que faz parte de todos nós: “Templo Maçônico é a atmosfera de amor, de verdade e de justiça formada pela união de corações ávidos das mesmas esperanças sequiosos de idênticas aspirações porque sem esse isocronismo de acção, sem essa elevação, poderá haver quando muito, grupos de homens, nunca porém Maçonaria”.

Autor: Ícaro

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Thomas Arne - Nome Simbólico

Thomas Arne nasceu no seio de uma família de estofadores, em Londres, em Março de l710 e morreu na mesma cidade em 5 de Março de 1778. Thomas Augustine Arne teve uma educação católica e, para agradar à sua mãe, uma devota senhora, escolheu, ainda em criança, o seu segundo nome: Augustine. Católico, apaixonado desde muito cedo pelas Musas de Orfeu, venceu o desejo do seu Pai, que queria ele seguisse advocacia, motivo por que o Pai o pôs a estudar em Eton. No início da sua carreira debateu-se com algumas dificuldades por não poder exercer cargos musicais na Igreja Anglicana, cargos que abriam sempre, como também na Igreja Católica, noutros países, evidentemente, muitas portas. Mas, neste caso, estamos perante a tolerância dos inventores do liberalismo… Homem dedicado, rebelde, perseverante e até precipitado por vezes, venceu. Triunfou, e triunfou merecidamente! Rodeou-se de figuras da música e usou, se assim se pode dizer, a sua família. Ensinou canto à sua irmã Susannah, que veio a ser um célebre contralto e ao seu jovem irmão Richard, os quais cantaram em muitas das suas obras.
Em 1734 Susannah casou-se com o dramaturgo Theophilus Cibber, razão por que, enquanto cantora, ficou conhecida pelo nome de Mrs Cibber. Em 1737, Arne casou-se com Cecilia Young, uma cantora famosa, um soprano, que cantara muitas vezes nos elencos händelianos. Durante os dez anos que se seguiram ao casamento, Cecilia cantou nas óperas do seu marido. Como se pode ver, o nosso homem rodeou-se de talentos musicais e teatrais.

Um nota curiosa deste ambiente artístico do século XVIII. Susannah, a irmã de Thomas Arne, separou-se do marido, fugindo com outro homem, alegando que o marido a tratava mal, e o nosso homem também se separou, legalmente, da sua mulher Cecilia, alegando que ela endoidecera. Esta, por seu turno, alegou que ele tinha constantes relações extra-matrimoniais. Arne pagou-lhe uma razoável pensão…, às vezes! Ela teve de recorrer. Depois da separação, Thomas começou uma relação com uma jovem aluna de canto, Charlotte Brent, também um soprano. Parecem tempos modernos. O século XVIII foi um século, realmente, iluminado, o século do Aufklärung, “à frente”, como diriam hoje os jovens, isto sem estar a promover a separação. Aliás, no último ano da vida de Arne, ele e a mulher reconciliaram-se, mas O Tempo, essa figura mitológica, muito ao gosto do classicismo, não deixou que ficassem juntos mais anos. Foi apenas uma nota para dar o tom da época.

Em 1738, Arne, já no auge da carreira, foi um dos membros fundadores da Society of Musicians, mais tarde chamada Royal Society, juntamente com Händel, com William Boyce, e com Johann Christoph Pepusch.
Entre muitas outras, a ópera Alfred, de 1753, anteriormente, uma máscara estreada em 1740 para o Príncipe de Gales, Frederick e, posteriormente, em 1745, tocada em versão de oratória, foca a figura do Rei Alfred, rei do século IX, que combateu os invasores Dinamarqueses…, os Vikings. Patriotismo? Referência à Maçonaria “renascida”, “rejuvenescida” nas Ilhas Britânicas? A música, a literatura e o teatro serviram sempre de veículo de cifras que, de outro modo, não poderiam ser difundidas. Dois séculos antes, o próprio Shakespeare…

Escutemos o final da ópera Alfred, de Thomas Arne. Temos um coro, pelo conjunto dos cantores, intercalado com solos.
Pois é, é o Rule, Britannia, na sua versão original, composto sobre o texto do poeta e dramaturgo escocês James Thomson. De uma graciosidade virtusosa que só os ingleses conseguem na música, não? Embora Thomas Arne tenha adoptado algumas regras da ópera séria italiana, foi, juntamente com William Boyce, um dos expoentes máximos da música britânica deste século XVIII. E Arne fez história, nem que fosse apenas pelo Rule Britannia…
Não se confunda este belo coro e solos com o Hino Nacional Britânico, o God Save the Queen, ou… the King, consoante as circunstâncias…
Os segmentos instrumentais revelam-nos uma graciosidade, um raffinement, que não é aquele a que estamos habituados quando escutamos o Rule, Britannia! A versão difundida, por exemplo nos Concertos Prom, no Royal Albert Hall, é uma versão patrioteira, mas não patriota, do nacionalista século XIX e, por isso, berrada e medonha… Arne compô-la como ouvimos, com ligeireza e graça. Em primeiro lugar, é o gosto do elegante século XVIII, já a caminho do rococó, em segundo lugar, Thomas Arne queria exaltar o povo britânico, mas como…? Arne foi uma Maçon e esta ópera, na sua primeira versão de 1740, a de uma Máscara intitulada Alhtred, foi, como acima referido, encomendada por Frederico, Príncipe de Gales, ele também um Maçon. Que possíveis conclusões podemos, então, tirar do Rule, Britannia, Britannia Rule the waves, Britons never, ever, ever shall be slaves. Na versão que escutámos, em vez de shall, como escrito no poema, ouvimos will. Quem serão estes livres homens que nunca se deixarão escravizar? Os britânicos, com certeza, mas numa referência aos Maçons em geral? Muito possivelmente. Daí também a necessidade da harmonia…
Artaxerxes, “An English Opera”, como foi anunciada na estreia de 1762, foi talvez a ópera que ficou na História, como sendo a sua melhor obra, mas convém lembrar que muitas delas perderam-se ou chegaram até nós incompletas. A dada altura, Artaxerxes, príncipe e, mais tarde, Rei da Pérsia, canta uma ária que começa com o seguinte verso: “Mesmo que uma nuvem convidativa esconda o Sol, ele está lá presente, com as suas chamas!”

Arne ficou conhecido também pelo nome de Doctor Arne porque, em 1759, a Universidade de Oxford concedeu-lhe o título de Doctor of Music, daí muitos panfletos terem anunciado concertos seus do seguinte modo: “Dr. Arne at Vauxhall Gardens,” um dos jardins onde se tocavam concertos no Verão e para o qual Thomas Arne foi o compositor oficial desde 1745, com algumas interrupções. As classes médias consolidavam os seus haveres e instalavam-se confortavelmente. Passeavam pelos jardins (parece que os Verões nessa altura eram melhores em Londres…) e iam aos concertos pelo fresco da tarde. Parece agradável!
Thomas Arne, enquanto homem livre e consciente, foi um dos primeiros homens a bater-se pelos Direitos de Autor. Em 1741, data do nascimento do seu filho Michael, o único que viria a ter, Thomas Arne ao pôr um processo em tribunal anunciou, e citamos: “Dado que Mr Arne tem, de Sua Majestade, registada a Real Patente para imprimir e publicar as suas obras, humildemente agradece que nenhuma Senhora ou nenhum Cavalheiro encorajem cópias piratas” sic e continua, mais adiante: “E como o Mr Arne está longe de querer ofender, nos seus legítimos direitos, seja que dono de loja for, torna público que quem plagiar ou imprimir as suas obras, será processado segundo a Lei”. Homem de fibra!

Para finalizar, devo explicar as razões pelas quais escolhi este nome simbólico, o gosto pela música de Thomas Arne, foi, sem dúvida, uma delas; o facto de ele ter sido um freemason, com certeza, mas, talvez, e sobretudo, o facto de se ter batido firmemente pela defesa dos Direitos de Autor porque se existe uma Catedral em que todos nós, em conjunto, anonimamente, trabalhamos, há uma outra, que é o nosso próprio templo e esse tem nome, devemos protegê-lo.

Autor: Thomas Arne

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Olho e a Visão

O Sol lança no espaço muitos milhões de fotões por segundo, uma parte dos quais atinge a Terra, atravessa a atmosfera e ilumina a sua superfície. Seria de grande utilidade para os seres vivos que habitavam a Terra primitiva desenvolver detectores dessa Luz que lhes permitissem localizar predadores e presas à distância, ou evitar obstáculos e moverem-se mais depressa. Foi o que o ramo animal dos seres vivos fez: a certa altura, no lento processo da evolução, os olhos foram “inventados”. Conhecemos cerca de nove tipos de soluções diferentes para a visão e podemos agrupá-los, pela sua arquitectura óptica, em olhos tipo câmara, como os nossos, ou olhos compostos, como nos insectos.
Nos olhos tipo câmara, a luz passa por um orifício de pequenas dimensões e as imagens formam-se na parede oposta, sem grande definição. Este sistema, designado por "pinhole" e é usado nas câmaras fotográficas. Ver com mais pormenor e de modo mais rápido implica o alargamento do orifício por onde a luz entra, mas também o desenvolvimento de lentes que fazem convergir os raios de luz e permitem a formação de imagens nítidas nos olhos tipo câmara. Uma solução completamente diferente para a visão encontrada pelos seres vivos é a dos olhos compostos, como nos insectos, crustáceos e alguns moluscos. Os trilobites, compreendendo um vasto grupo de animais há muito extinto, também possuíam olhos compostos, bem como o Anomalocaris, um gigante predador dos mares do Câmbrico (há 540 milhões de anos).
Os olhos compostos, são formados por centenas de pequenas unidades fotoreceptoras, os omatídeos, que captam individualmente uma pequena parte da imagem que está à sua frente. O grau de nitidez da imagem obtida depende do número de omatídeos presentes. Com menos de 100, mal conseguem distinguir as formas dos objectos. Mas, uma libelinha pode ter 30 mil omatídeos, o que faz dela uma espécie de águia dos insectos.
O olho humano, tipo câmara, possui um pequeno orifício, a pupila que aumenta ou diminui de diâmetro deixando passar mais ou menos luz. Os raios de luz atravessam o cristalino (a lente do olho) de modo a fazer convergir os raios de luz no fundo do olho e formar uma imagem nítida, embora invertida. O fundo do olho é revestido pela retina onde existem 15 a 20 milhões de células fotoreceptoras.
Os cones e os bastonetes, estas células absorvem fotões de luz (informação electromagnética) que convertem em informação química e impulsos eléctricos. Nestas células da retina existe uma proteína, a rodopsina, que possui no seu centro uma molécula, o 11-cis-retinal. Esta molécula muda de estrutura tridimensional quando é excitada por um único fotão e neste estado excitado passa a designar-se por All-trans-retinal. Em qualquer dos estados, esta molécula está ligada à proteína rodopsina. A absorção de só um fotão pelo 11-cis-retinal provoca uma alteração na estrutura tridimensional da rodopsina, que é suficiente para desencadear uma cascata de reacções bioquímicas que levam à variação de 1 mV no estado eléctrico da membrana celular.
Na essência, um fotão é convertido em movimento atómico, o que altera transitoriamente a polaridade eléctrica de uma membrana celular. Esta informação é transmitida ao cérebro através de impulsos eléctricos que lhe permitem ‘perceber’ a captação de luz proveniente do exterior do corpo. Todos os impulsos eléctricos gerados na retina, são reunidos no disco óptico onde está implantando o nervo óptico responsável por levar essa informação até ao cérebro.

Mas a visão não se resume à captação da luz pelo Olho. O olho é um órgão adaptado a essa função, permitindo a formação de imagens da paisagem exterior na retina. Esta reage à luz e desencadeia uma cascata de eventos moleculares que transmitem a informação sensorial até ao cérebro. Neste, uma série de processos como a memória e o reconhecimento, integram a informação e dão-nos uma imagem completa do exterior. Afinal, precisamos do cérebro para ver. O cérebro tem um grande papel na integração e compreensão da sensação visual que nos chega do exterior. Ao receber os impulsos eléctricos da retina através do nervo óptico, o cérebro procede à integração dessa informação. A reconstrução da imagem visual do mundo exterior é um processo complexo no qual o reconhecimento de formas e a memória têm um papel decisivo. Aliás, enquanto sonhamos, somos capazes de produzir imagens que os nossos olhos nunca viram, fruto da capacidade do cérebro em as construir.
É que o mundo que nos rodeia existe mesmo quando não o conseguimos ver por falta de luz. Sabemos que na penumbra os nossos olhos têm muita dificuldade em distinguir objectos. Por outro lado, uma deficiência visual pode impedir a visão dos objectos, mesmo na presença de luz. Por isso o cérebro reconstrói as imagens que lhe chegam. Por exemplo, existe uma zona na retina, o “ponto cego”, que não possui células fotoreceptoras.
A parte da imagem que aí é projectada pelo cristalino não é transferida ao cérebro, mas, este consegue reconstruir essa informação em falta de forma a podermos ver o mundo que nos rodeia sem “interrupções". Os nossos olhos não permitem a captação da radiação ultra-violeta (U-V). No entanto, as flores evoluíram por haver animais com olhos, especialmente insectos, que permitem a polinização entre plantas diferentes, ao transportarem os grãos de pólen de umas flores para outras.

A coevolução entre os insectos e as plantas com flores é uma história fantástica, se não houvesse insectos talvez não existissem flores, pelo menos como as conhecemos! Aquilo que aos nossos olhos se apresenta como uma pétala amarela pode possuir um padrão colorido muito mais rico e estruturado para um insecto que “vê” radiação U-V. Esta capacidade faz com que os insectos vejam “jardins ultravioletas”, como Richard Dawkins os chamou. Também as aves vêem no U-V e isto permite-lhes reconhecer outros padrões e distinguir entre dois indivíduos que aparentam cores semelhantes aos olhos Humanos, assim, nem todos os corvos são pretos para os outros corvos!

Autor: Charles Darwin