Para os maçons há alguns valores absolutamente fundamentais e que são de todos bem conhecidos: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. No entanto, relacionados em maior ou menor grau com estes, há outros valores que se revestem também de grande importância. Refiro-me a ideais tão belos como a Paz, a Justiça e a Tolerância.
Para os que abraçam os ideais maçónicos, estes conceitos correspondem a valores que o são por si mesmos, ou seja, que não resultam de qualquer dogma, princípio religioso ou corrente filosófica. É de facto notável, mas a Maçonaria permite adquirir valores espirituais sem requerer uma adesão a qualquer crença.
A Maçonaria, uma vez que aceita no seu seio pessoas das mais diversas crenças, incluindo as «não crenças», não poderá ser considerada uma religião, pelo que para ela os grandes ideais da humanidade são valores por direito próprio e a sua realização algo absolutamente necessário à felicidade das pessoas. Os maçons não defendem esses valores para colher quaisquer benefícios terrenos ou celestiais, mas porque os consideram como inerentes à condição humana. Não tenho dúvidas de que quando alguém toma consciência de que todas as pessoas têm os mesmos direitos, independentemente da raça, do sexo, da crença ou dos bens materiais de cada um, a prática dessas virtudes torna-se algo tão natural como respirar.
A ideia mestra em que assenta a Maçonaria é de facto extraordinária. Na sua raiz está a união das pessoas livres e de bons costumes. No seu método de trabalho há diversos rituais e um grande número de simbolismos e alegorias. O resultado final é a indicação da direcção dos grandes valores da humanidade e a sua busca permanente e incessante.
O facto de a Maçonaria ser uma organização iniciática onde se faz uma aprendizagem lenta e gradual baseada no estudo, na meditação e no convívio entre os Irmãos e possuir uma estrutura hierarquizada, mas que globalmente não tem um “chefe supremo” ou um “mentor” pois há um grande número de Obediências independentes, permite-lhe proporcionar aos seus membros uma preparação mais sólida e um aperfeiçoamento contínuo.
De facto, a primeira tarefa do maçon é a construção do seu próprio «eu» enquanto obreiro de uma causa que não conhece fronteiras. Essa tarefa significa que o maçon deve preocupar-se não só em estudar para aumentar os seus conhecimentos e meditar para os interiorizar, como também tomar consciência dos males do meio em que está inserido e procurar combatê-los com as ferramentas que a sua aprendizagem lhe vai proporcionando. Por outras palavras, o maçon deve procurar desempenhar com a maior das correcções o papel que a sua vida em sociedade lhe impõe. Ao fazê-lo já estará a melhorar o mundo.
Mas em momento algum deverá considerar-se perfeito e menos ainda um sábio seja lá do que for, pois nunca ninguém sabe tudo e a sabedoria é um pilar fundamental desse nosso aperfeiçoamento. Por pouco que seja, será sempre possível melhorá-lo.
Mais, o maçon também nunca deverá sentir-se orgulhoso dos seus progressos ou dos seus conhecimentos, pois se tal lhe acontecer demonstra uma enorme fragilidade do seu espírito maçónico e que dá valor ao que é secundário. A vaidade e o orgulho cegam-nos e impedem-nos de corrigir as nossas falhas. A ausência de modéstia é sinal de que algo está mal na preparação de um maçon e a arrogância está nos antípodas do espírito maçónico.
Só depois de minimamente consolidada essa construção “interior” o maçon estará apto a unir de forma útil os seus esforços aos dos outros Irmãos na interminável luta pelo bem comum, ou seja, pelos grandes ideais da Humanidade.
Autor: Carl Sagan
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