terça-feira, 17 de abril de 2012

Painel da Loja


Ao penetrarmos no domínio do simbólico não podemos deixar de olhar numa perspectiva de leitura esclarecida dos elementos presentes, quer em templos formais, quer em qualquer outro local adaptado para a realização de sessões de natureza ritualista. No caso dos Trabalhos Maçónicos, a abertura da sessão implica o envolvimento de um dos elementos simbólicos mais importantes da sua decoração: o Painel Simbólico do Grau. No passado, o Templo podia ser levantado em qualquer local, bastando para tal desenhar no chão o Quadro ou Painel Simbólico do Grau em que a Loja ia trabalhar, sendo este apagado no final da sessão. Posteriormente, foi adoptado o uso de uma tela pintada, estendida no início das sessões e levantada no final, sendo assim resguardada dos olhares profanos.

No Painel do Grau I são visíveis duas colunas com romãs no topo, enquadrando uma porta e três (3) degraus. Numa interpretação sintetizada deste conjunto, os 3 degraus simbolizam os esforços para libertação das vicissitudes do mundo físico, subindo degrau a degrau na espiral do processo evolutivo que se desenvolve no sentido ascendente, ultrapassando no mundo intermédio a sua própria realidade e desejos e alcançando no mundo subtil do pensamento a consciência da espiritualidade e da gnose que lhe é proporcionada através da prática da Arte Real. Simbolizam ainda as 3 luzes da Loja e que a governam, VM, 1º e 2º Vig., Esquadro, Nível e Prumo, Salomão, Hiram, Rei de Tiro e Hiram Habif. O número 3 assume ainda especial importância por representar no Painel, entre outras coisas, a idade do Aprendiz, bem como a sua marcha e bateria. 

Ao encontrar as colunas gémeas, encontra-se também a entrada do Templo de Salomão, pois era aí que originalmente estas se encontravam. De acordo com diversos testemunhos, nomeadamente os textos contidos na Vulgata e mais concretamente, no Livro das Crónicas do designado Antigo Testamento, «Resolveu, pois, Salomão, edificar um templo…» (1) tendo o rei de Tiro enviado o Mestre em Geometria Hiram Abiff para o auxiliar nessa tarefa. «Diante do edifício fez duas colunas de trinta e cinco côvados de comprimento, fez também trançados à maneira de colares e os pôs em cima das colunas; a seguir fabricou cem romãs, que dispôs nesses trançados. Erigiu essas colunas diante do templo: uma à direita e outra à esquerda; à da direita chamou “J” e à da esquerda, “B”» (2). À coluna J, é atribuído o significado de “ele estabelecerá” e a B, o de “na força”, sendo mencionadas ainda no Livro dos Reis, também do Antigo Testamento, cada uma medindo 18 côvados (o côvado hebreu mediria 44,7cm e seria baseado no comprimento do antebraço, desde a ponta do dedo médio até o cotovelo). Nestas colunas eram guardados os instrumentos e ferramentas dos obreiros, bem como seria junto a elas efectuada a distribuição dos salários. No seu interior eram, de acordo com a tradição, ainda guardados os valores com que se realizava os pagamentos. No topo dessas colunas, as romãs, que em muitas culturas são associadas a masculinidade, fecundidade e abundância, simbolizam ainda a universalidade da Mçonaria e da união entre todos os Maçons no seu trabalho em conjunto por um ideal maior. 

Atravessando a porta no Ocidente, sendo esta a única abertura no Templo e como tal mantida encerrada durante os trabalhos, encontra-se um chão em mosaico, com quadrículas em branco e preto. Este piso, mais não é do que a representação dos opostos e do contraste, do positivo e do negativo, do bem e do mal, interagindo como um todo e não apenas como partes, significando portanto a diversidade que une todos os Maçons na busca da verdade. 
No Painel podem-se ainda observar três janelas. Estas estão dispostas de forma a representar a posição do Sol no Oriente, no Meio-dia e no Ocidente. Nessas janelas é ainda visível uma protecção em malha ou rede, simbolizando que, apesar de a luz estar sempre presente e iluminando o Templo, nele apenas permanece o que lá está e o está fora aí permanece. É assim representada desta forma simbólica o facto de que nenhuma sessão deve ser perturbada pelo mundo profano, nem os trabalhos que decorrem na Loja nesse mundo serem divulgados. 

O esquadro, o nível, o prumo, o compasso, a régua, o malhete, o escopro e a prancha de traçar, são importantes instrumentos representados no Painel do Grau I. Para compreender esse conjunto é necessário ter presente que, nas Lojas, existem três jóias móveis, esquadro, nível e prumo. Existem igualmente três jóias fixas, que são a prancha de traçar, a pedra bruta e a pedra polida. A prancha de traçar simboliza, através dos símbolos que nela são traçados pelo VM, as orientações aos Aprendizes, para o seu trabalho de aperfeiçoamento através da prática da Arte Real, num processo de transformação alquímica da mente. O compasso é a jóia do Mestre e sendo o instrumento por excelência da geometria, simboliza o equilíbrio, verticalidade e justiça. O esquadro, permitindo traçar o ângulo recto e esquadrejar todas as formas, simbolizando a rectidão. A régua, servindo para medir e traçar na pedra bruta os cortes a serem realizados, simbolizando o planeamento e precisão. Estes três instrumentos em conjunto constituem o símbolo da Maçonaria. O prumo utilizado pelos pedreiros para assegurar o alinhamento vertical, representa na simbologia maçónica a rectidão, justiça e moral que cada Maçom deve desenvolver em si. O nível, utilizado pelos pedreiros na busca da horizontalidade, simboliza a igualdade, uma vez que coloca todos ao mesmo nível. O malhete é utilizado em todas as sessões pelas três luzes do Templo. O cinzel é o símbolo do trabalho inteligente, sendo utilizado em conjunto com o maço (ou malho) no processo de polimento da pedra e consequentemente da matéria densa. 

Revestidas igualmente de importante simbolismo e presentes no Painel estão a pedra bruta e a pedra cúbica. A pedra bruta tem aí um importante significado ao representar as imperfeições que o Aprendiz necessita corrigir desde o momento da sua iniciação e como tal devendo ser trabalhada até ser considerada polida pelo VM. Assim a pedra polida é transformada na pedra cúbica talhada na sua forma em conformidade com a Arte, de linhas e ângulos rectos perfeitos, mensuráveis pelo compasso e esquadro, tendo como um dos significados simbólicos, o conhecimento que é acumulado pelo homem até ao final da sua vida terrena. 

Todo o conjunto do Painel que se completa com o Sol, a Lua e as estrelas, é emoldurado por uma corda com 12 nós terminando em borlas junto às colunas, simbolizando, entre outras coisas, os meses do ano e os signos do zodíaco. Outro significado associado a esta corda é a união entre todos os membros da Maçonaria. Uma das razões para a presença das estrelas neste Painel, é a de representarem o tecto do Templo, tendo o zénite como limite superior, em oposição ao nadir indicado pela posição do prumo. No Templo, o Sol e a Lua estão no Oriente, sendo neste aspecto de recordar que os trabalhos do são abertos ao meio-dia e fechados à meia-noite. No Oriente, existe um triângulo representando o Delta Luminoso. O Delta Luminoso apresenta-se assim como símbolo do Sol no mundo físico, irradiando a luz e a vida. No mundo astral, simbolizará o Princípio Criador ou ainda a Palavra Perdida e nos mundos subtis, o GADU. 

Desvelando um pouco mais o véu de Ísis outros significados se poderia invocar, pois todos os instrumentos objectos e formas presentes no Painel do Grau I apresentam por si só ou em conjunto uma simbiose de simbolismos que poderiam prolongar esta exposição para um limite eventualmente muito para além do razoável. Será assim legitimo considerar que, os ensinamentos “condensados” no Painel do se revestem de extrema importância para o percurso que se inicia na Maçonaria, pois constituem a base para o entendimento dos princípios em que se alicerça a sua filosofia, sendo portanto fundamentais para todo o processo de aprendizagem e evolução futura.


Autor: Gualdim Paes

(1) Antigo Testamento, 2 Crónicas 1:18;
(2) Antigo Testamento, 2 Crónicas 3:15-17.

2 comentários:

pedrinha disse...

De certeza que o Painel do 1º Grau do REAA apresenta as colunas B e J assim dispostas? E o esquadro e compasso assim dispostos? Não estão ao contrário?

TAF
pedrinha

pedrinha disse...

Tomei o vosso silêncio como reafirmação e, duvidando de mim, procurei com mais afinco para concluir que o painel está correcto. O contrário, como eu presumia, é de outro rito.

TAF
p.