A 17 de Março de 1974, estive de serviço na RTP. A então responsável pelas Relações Internacionais, Manuela Furtado apresentou-me três jornalistas da televisão pública holandesa que tinham vindo a Lisboa para cobrir, a então noticiada internacionalmente “intentona das Caldas”. Como pretendiam entrar em contacto com algum dos revoltosos, ainda a monte, lá fui num Alfa Romeo verde escuro de matricula suíça, que o meu irmão tinha. Chegados às Caldas o meu amigo José Carlos Nogueira, levou-nos a jantar para no dia seguinte, logo pela manhã irmos comprar meias de senhora de nylon preto, junto ao largo da Praça, do resto tratava ele Nogueira. Já no carro do Maldonado que entretanto se tinha juntado a nós, seguimos para o lado da lagoa, onde foi possível fazer uma entrevista com um dos militares revoltosos. Fiquei espantado com a pequenez dos equipamentos que os holandeses traziam. Captação de imagem e som, não ocupavam mais que três vulgares maços de cigarros. Depois regressamos a Lisboa mas à entrada da cidade percebi que estava a ser seguido. Disse aos holandeses para se segurarem e como o carro era muito rápido lá me consegui safar.
Passados dias deu-se o esperado 25 de Abril, às cinco da manhã o telefone toca em minha casa. Era o Maia Cadete que me pedia para ouvir o Rádio Clube Português. Daqui “Movimento das Forças Armadas, etc, etc, etc”. Percebi que era aquele o dia. Vim imediatamente para a rua, dei uma volta pequena pela cidade e decidi então ir para os estúdios do Lumiar, que tinham sido ocupados nessa noite pela Escola Prática de Administração Militar, comandava o então capitão Teófilo Bento. Às primeiras horas da manhã, encarregou o João Soares Louro de tratar de toda a logística referente à RTP. A mim encarregou-me da realização das emissões. À hora certa lá foi para o ar o Telejornal da noite, apresentado pelo Fialho e o Balsinha e mais adiante, também em directo, a proclamação da Junta de Salvação Nacional. Depois lá ficámos a descansar pelos cantos, à espera de chatices que acabaram por não acontecer. Trabalharam para esta emissão no local pelo menos quatro maçons.
Autor: O rebelde
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