Meu irmão, recebeste a Palavra. O que a vida te escondeu, porque é a morte, revelou-to a morte, porque é a vida.
Meu irmão, tudo neste mundo é símbolo e sonho - é símbolo tudo quanto temos, sonho tudo quanto desejamos. O universo inteiro, de que somos parte por castigo e erro, é uma alegoria cujo sentido hoje conheces visto que teus olhos, por fechados, estão abertos, e teus ouvidos, por oclusos, podem enfim ouvir.
Sabes já, meu irmão, visto que estás desperto que o sol é negro e a terra vazia; que o que amámos é o que desconhecemos, que o que sonhámos é o que conhecíamos.
Teu caminho agora é entre onde cessam os astros e a luz do sol não é lei nem dia. Que o Supremo Arquitecto dos Universos te dê a luz que te mostre a profundeza dos abismos e te permita não regressar senão para ser, quando houveres de o ser, nosso Irmão, nosso Juiz, e nosso Mestre; mas, se assim não for ainda, que a paz seja com o que tiveres que ser!
Ave atque vale, frater!
Fernando Pessoa
Sabes já, meu irmão, visto que estás desperto que o sol é negro e a terra vazia; que o que amámos é o que desconhecemos, que o que sonhámos é o que conhecíamos.
Teu caminho agora é entre onde cessam os astros e a luz do sol não é lei nem dia. Que o Supremo Arquitecto dos Universos te dê a luz que te mostre a profundeza dos abismos e te permita não regressar senão para ser, quando houveres de o ser, nosso Irmão, nosso Juiz, e nosso Mestre; mas, se assim não for ainda, que a paz seja com o que tiveres que ser!
Ave atque vale, frater!
Fernando Pessoa
3-9-1934
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990. - 83
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