terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Romã - Símbolo da União entre Maçons


Num texto de Fernando Pessoa, é dito pelo autor que há três maneiras de ensinar ou transmitir um conhecimento a alguém: dizer-lhe, provar-lhe e sugerir-lhe. 
“Dizer-lhe” é o processo dogmático, no qual o receptor do conhecimento tem um papel passivo, aceitando sem pensamento crítico aquilo que lhe é transmitido como verdade. Como exemplo temos o ensino a crianças da escola primária, que devido à idade ainda não desenvolveram o seu próprio pensamento crítico. É dirigido à Memória. “Provar-lhe” é o processo filosófico, quando a transmissão do conhecimento é feita a pessoas com pensamento crítico plenamente desenvolvido, mas que desconhecem os fundamentos ou bases teóricas acerca do conhecimento transmitido. Só poderá criticar o que lhe é transmitido após compreender esses fundamentos. É dirigido à Inteligência. “Sugerir-lhe” é o processo simbólico, quando a transmissão do conhecimento é feita a pessoas com qualidades mentais superiores ao simples raciocínio e dedução. O símbolo é dado como uma sugestão, de modo que o conhecimento que se pretende transmitir nasça e se desenvolva dentro do próprio receptor, com recurso às faculdades e conhecimentos por si já adquiridos e consolidados. É dirigido à Intuição e é a forma mais eficaz e duradoura de transmissão de conhecimento. Esta pequena introdução serve de início para o tema principal deste trabalho: a Romã. 

A Romã é uma infrutescência que contem centenas de pequenas sementes no meio de uma polpa carnuda e protegida por uma pele espessa. Símbolo maçónico por natureza, de uma riqueza simbólica com as suas múltiplas “sugestões”, diferentes para cada maçom. 
O seu significado simbólico principal é o da união entre maçons. As sementes representam cada maçon, obreiro de uma Loja, e a parte exterior, constituído pela casca e a polpa, que protege as sementes dos elementos da Natureza, tem a associação simbólica à Loja na qual os seus obreiros trabalham em colaboração, e num sentido mais lato a própria Maçonaria. Podem também ter um simbolismo ligado à fisionomia: a parte mais consistente que envolve as sementes simboliza a “carne”, o seu sumo o “sangue” e as sementes os “ossos”. Como as suas sementes são todas diferentes, pode ter também o simbolismo da semelhança na diversidade, da unidade na multiplicidade. Diferentes, mas iguais: não é um dos pilares da Maçonaria?! 
Faz parte da decoração de um templo maçónico, estando três romãs semi-abertas no capitel de cada uma das colunas B e J na entrada do templo. 
Na introdução deste trabalho, menciona-se o processo simbólico com a melhor forma de transmissão de conhecimento, porque através da sugestão, o mesmo é passado através de um processo intrínseco ao próprio receptor. A riqueza de um símbolo está precisamente na sua capacidade de sugestão. Sendo a Romã um símbolo da multiplicidade, a sua riqueza simbólica fica comprovada por si própria, fechando um círculo desde a sugestão até à recepção e consolidando o conhecimento, gera uma nova sugestão. Assim sendo, a Romã torna-se um símbolo do Conhecimento em si, ou usando o termo grego da Gnose. 

Agora um pouco da história simbólica da Romã nas diversas civilizações. No Antigo Egipto, a Romã era um símbolo sagrado, sendo utilizada pelos sacerdotes em actos litúrgicos iniciáticos. Era conhecida por “Anhmen”, estabelecendo uma ligação entre a Romã e o deus Amon Rá, chefe do panteão dos deuses egípcios durante o Novo Império, cujo culto é originário da cidade de Tebas. Apenas os sacerdotes deste deus podiam cultivar a romãzeira, e sendo consideradas oferendas sagradas, eram colocadas nos túmulos dos faraós. São mencionadas por Manetho, sacerdote egípcio de Heliópolis, que no século III AEC escreveu a mais antiga história do Egipto de que há referência. 
Eram colocadas as mais bonitas romãs nos altares dos deuses Hórus, Seth, Ísis e Osíris como símbolo dos iniciados nos mistérios. O número de romãs nas oferendas aumentavam conforme a categoria do iniciado, sendo referenciados os números 3, 5 e 7. As romãzeiras eram plantadas nas necrópoles, podendo constituir o pagamento de dívidas ao falecido. Significava também a união territorial do Egipto através do número 3 (Baixo, Médio e Alto Egipto). Com o número 5 adquiria o significado da câmara alta dos deuses que presidiam ao julgamento das almas dos falecidos (Osíris, Ísis, Horus, Seth e Néftis). O número 7 significava o número de viagens que a alma tinha de fazer para se purificar.
Haverá aqui alguma relação com as viagens que os maçons fazem nos seus rituais iniciáticos? No seu interior, a Romã tem duas câmaras: uma alta com 5 celas e uma baixa com 3 celas. Daqui vem a alusão aos números 3 e 5, e neste último à câmara alta dos deuses. 


Para os Assírios, a Romã significava a Vida; os Fenícios tinham-na como fruto Sagrado, bem como os Cartagineses, Gregos e Romanos que a utilizavam como motivo decorativo nos capitéis das colunas. Inclusivamente, esta infrutescência era oferecida à deusa da sabedoria Atena, novamente a ligação ao conhecimento, protectora da cidade de Atenas. 
Na maçonaria, o símbolo da romã deve ter entrado através das tradições hebraicas, que além de símbolo de vida, representava também a abundância, a fecundidade e a propagação do seu povo, ligação à multiplicidade. Era considerado um afrodisíaco, podendo constituir um símbolo sexual quando conjugado com lírios, símbolo tipicamente feminino. 

Em conclusão, pode-se dizer que a Romã é um símbolo de grande riqueza e significado na Maçonaria, de valor intrínseco excepcional, com diversas camadas interpretativas, algumas das quais nem sequer foram afloradas nesta publicação, que poderá servir como tema para trabalhos futuros, significando a Vida, o Conhecimento, a Igualdade, a Multiplicidade, a Loja, a Fraternidade e a União entre Maçons.

Autor: Imotep

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