terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Ambiente no Século XXI

Dizia Almada Negreiros: “Quando eu nasci, todas as formas de salvar o mundo estavam descobertas, só faltava... salvá-lo”.

Ao sucesso do documentário “Uma verdade inconveniente” de Al Gore veio juntar-se uma projecção mediática da questão das emissões de CO2, tema de debate, já não nos fóruns alternativos como tinha acontecido em 92 no Rio, mas em Davos entre os grandes e poderosos do planeta. Quem leia os jornais fica com a sensação que de tanto se falar do tema este se encontra em vias de resolução, parece-me de algum optimismo tal reacção, já que até agora, e mal grado o tempo já passado, os Estados Unidos não rectificaram o velho Protocolo de Kioto e as economias emergentes estão de fora assim como estranhamente as emissões provocadas pelos aviões que parece que por estarem no ar estão isentos de carga poluidora.
Veio recentemente citada na imprensa uma pertinente questão, perguntaram na época a Gandhi se pretendia que a Índia, uma vez independente, se viesse a tornar tão desenvolvida como a Grã-Bretanha. A resposta foi uma negativa peremptória. “Se, para chegar onde chegou, a Inglaterra teve de devastar meio mundo, de quantos mundos precisaria a Índia?” Sábia resposta que põe em causa o modelo de desenvolvimento capitalista da altura e que hoje mais questionável se torna. Na realidade também Portugal depois de 74 poderia ter aproveitado o atraso que tinha para dar o salto para um país mais moderno sustentável e no entanto cometeu todos os erros que outros tinham cometido anteriormente deixando-nos à entrada do século XXI à beira do caos ambiental e económico. Tinha Portugal melhores condições que os novos países emergentes, já que se encontrava num espaço geográfico mais favorável, tenho dúvidas que se os países ditos mais desenvolvidos não fizerem eles mesmos as transições para modelos sustentáveis que sejam as novas economias a realizá-lo.

Mas colocar o problema só nas alterações climáticas e nas emissões de CO2 é absolutamente redutor, já que estas são apenas uma das alíneas de uma parte do problema que poderíamos elencar como os impactos da industrialização e que se podem dividir em três áreas.
Os impactos no meio ambiente, tratados pela ecologia, e que não são apenas o problema do efeito de estufa, mas também a exaustão dos recursos, da poluição e as alterações do meio não derivadas do clima.
Os impactos proximais do objecto industrial, tratados pela ergonomia, e que estão em regressão com o aparecimento de objectos mais baratos mas menos cuidados, veja-se o caso dos brinquedos das lojas ditas dos trezentos que testados apresentam riscos para os utilizadores, e de todo um mundo de contrafacções a que nem os medicamentos escapam.
O terceiro vértice deste triângulo que estuda os impactos da industrialização é muito menos referido mas não menos importante trata dos impactos distais ou psicológicos onde entra o tão conhecido stress, e dá pelo nome de eutifrónia. A saber o antagonismo entre a afirmação da individualidade na natureza e a repetição ou seriação na produção industrial, o antagonismo entre o ritmo fisiológico do ser humano e a crescente velocidade que a técnica imprime à vida, o antagonismo nas trocas de energia entre o organismo e o meio derivado da sedentarização da vida enquanto o metabolismo fisiológico se mantém e por último a perca da capacidade de resolução de problemas em relação aos quais nos sentimos impotentes ou seja a desumanização da vida.

O século XX veio dar o primado à economia sobre o homem, tendo para tal contribuído uma crescente fé na ciência em detrimento da vertente humanista pretendendo tornar igual o que é diferente e sob a capa da globalização e do livre comércio produzir a aberração de fazer aumentar de forma gritante as desigualdades.
Temos que reverter este desequilíbrio e por isso é importante revermo-nos no espírito maçónico e do seu mito fundacional da “palavra perdida” acreditam os maçons que aquando do assassinato do Mestre Hiran a “palavra” se perdeu e assim sendo o que todos têm que procurar é a verdade com a consciência que esta, é sempre uma verdade incompleta. Este principio da humildade lembra-me uma frase de António Sérgio que dizia “quando não sei, pergunto, quando sei, pergunto na mesma” e deve-nos nortear a procurar o saber, a tolerância e a generosidade em busca de soluções por oposição à ignorância, ao fanatismo e à ambição que infelizmente medram neste planeta cada vez menos azul.

Espírito sem razão é especulação pura, razão sem espírito é trabalho vão.


Autor: Éolo

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