Penso ser óbvio que nenhum maçon receia que os ideais maçónicos sejam do conhecimento público, muito pelo contrário. Afinal esses ideais são os mais nobres que a humanidade alguma vez criou e estou certo de que serão partilhados por todas as pessoas de bem, sejam ou não membros da Maçonaria.
De facto, os maçons pretendem que no mundo reinem a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Por consequência o seu maior desejo é que a Paz, a Tolerância e a Justiça se espalhem por todo o mundo, o mesmo é dizer que se opõem ao ódio, à tirania, às ditaduras e a todas as violações dos direitos humanos. Assim, nenhum maçon terá o menor receio de que os seus ideais sejam divulgados na Comunicação Social.
Outro dos valores defendidos pela Maçonaria é a Honra. E uma pessoa de honra, cumpre rigorosamente os seus juramentos, para mais prestados de uma forma livre e consciente.
Por outro lado, a Maçonaria é uma organização que respeita determinados rituais, pois eles não só contribuem para a unidade dos seus membros, como contribuem para um aprofundamento da espiritualidade que os ajuda no seu empenho em prol dos seus ideais. No entanto, o cumprimento dos rituais implica uma obrigação expressa de discrição para os que neles participam e não é por acaso que em todas as sessões maçónicas se faz o juramento de nada revelar do que nelas ocorre.
Convirá afirmar claramente que esta discrição não pretende esconder seja o que for de pecaminoso, imoral ou quaisquer objectivos inconfessáveis. O que acontece é que, para os maçons, uma sessão ritual é em tudo semelhante a uma conversa em família. E, como qualquer conversa em família, não tem o menor sentido que a mesma seja propalada aos quatro ventos.
Virá a propósito chamar a atenção de que, exceptuando os raríssimos casos de fecundação “in-vitro”, todos sabemos como começou a existência de qualquer um de nós. No entanto, para a generalidade das pessoas, há um pudor natural em falar desse momento de intimidade dos nossos pais. Trata-se afinal de um sinal de respeito pelos que nos fizeram vir ao mundo.
Um dos momentos mais marcantes na vida de um maçon é a sua Iniciação. Trata-se da passagem do mundo comum para o seio de uma família muito especial. Assim, assistir a na televisão a um simulacro desse momento tão solene como marcante é, no mínimo, incómodo para quem sente profundamente a Maçonaria. Como homem de palavra e como maçon que me honro de ser, confesso que ter visto uma reportagem televisiva onde são relatados muitos pormenores de uma Iniciação me desagradou profundamente.
Quando nessa mesma reportagem se assiste a um diálogo ritual em que é afirmado que «o Templo está a coberto da indiscrição dos profanos» e isso é feito perante uma câmara de televisão, então estamos, lamentavelmente, a assistir a um “teatro”. O teatro é uma forma de arte que muito admiro. Mas a Maçonaria não é, nem nunca poderá ser um teatro. A nossa Augusta Ordem deve merecer-nos todo o respeito e nenhum pretexto servirá de desculpa para que se brinque com ela ao “faz de conta”.
Divulguem-se os nossos ideais, critiquem-se os nossos erros, mas respeitem-se as situações de “intimidade” da nossa “família”. Considero que, por melhor que fosse a intenção dos maçons que participaram no simulacro de uma Iniciação, no mínimo cometeram uma grave inconveniência. Pior, uma vez que na reportagem é também mostrado o momento em que esses mesmos maçons juram nada revelar sobre o que se passou na sua sessão, parece-me que terão também cometido perjúrio. Ou serão os seus juramentos também de “faz de conta”?
Autor: Carl Sagan
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