Fazer a interiorização deste nome, não me foi difícil pois, como disse estou a falar de sangue do meu sangue, nas suas virtudes que se superiorizam, pelo carácter, pelo agente libertador de certezas, pelo agente libertador do seu povo, pela sua brilhante frontalidade com actos e palavras, com o seu carácter de homem de bons costumes, pela sua lisura e transparência, mas sempre amigo do amigo. É isso que me faz sentir perto deste homem, que de forma marcante lutou pela libertação do seu povo da opressão da monarquia, que tanto escravizou um povo notável como o povo brasileiro irmão. Muito me honra falar deste homem, responsabilizando-me ainda mais sobre esta querida sociedade maçónica, passando-me o seu legado para dele fazer aqui fazer jus.
Traçar linhas acerca de Gonçalves Ledo é uma tarefa agradável, tendo em vista a importância deste estadista e Maçom na Independência do Brasil. Nome esquecido nos meios académicos, não podemos deixar de render-lhe estas homenagens e dar-lhe, na História do Brasil, o papel que lhe é devido. As datas que aqui transmito podem não ser as exactas, porque na pesquisa histórica levada a cabo, elas são contraditórias, peço por isso desculpa caso exista alguma imprecisão.
A 11 de Dezembro de 1769, nasce no Brasil, Joaquim Gonçalves Ledo, filho de comerciante abastado e já destinado a ser doutor em Leis. Em 1800, parte para Portugal, para estudar em Coimbra, sendo que, por força da morte de seu pai, volta ao Brasil, interrompendo os seus estudos. Em 15 de Novembro de 1817 é instalada no Rio de Janeiro a Loja Maçónica Comércio e Artes, sendo certo que, em 1818, havia enviado uma carta a seu irmão, que estudava medicina em Londres, afirmando a sua intenção de fundar no Brasil a primeira Loja, "que será o centro de propaganda liberal do Brasil". Gonçalves Ledo foi iniciado na Loja Comércio e Artes, a Primaz do Grande Oriente do Brasil, não podendo haver uma precisão de datas em virtude da destruição de documentos à época. Em 30 de Março de 1818, D. João VI, por Decreto, proíbe a existência das "sociedades secretas" e, com isso, são encerradas as actividades da Loja.
Relativamente à participação de Gonçalves Ledo no processo de independência do Brasil e na Maçonaria, narra-se o seguinte: «…F. Soares, representante da Maçonaria em São Paulo, descreve a "Joaquim Gonçalves Ledo, Venerável da Loja Comércio e Artes", os acontecimentos, daquele dia, quando os Maçons paulistas depuseram João Carlos Augusto Oyenhausen, presidente de São Paulo, que representava o governo português: "A confiança que V. S. depositou no Conselheiro, e nos Coronéis Lázaro, Lobo, Inácio e outros, foi imerecida. O novo governo já começou, como primeiro acto, a perseguição aos maçons que não concordaram com o Conselheiro José Bonifácio. Reunimo-nos na casa do patriota José Inocêncio Alves Alvim. Tanto ele, como o irmão Ledo, foram fiéis até o último instante e, por isso são alvos dos outros que são traidores…”
Apesar de problemas nacionais e outros envolvendo Irmãos, a 24 de Junho de 1821 é reinstalada a Loja Comércio e Artes, tendo como Venerável Mestre o Irmão Ledo. Até a Proclamação da Independência do Brasil, Ledo teve em mente esta ideia, podendo, sem dúvida alguma, ser considerado um dos principais responsáveis por este facto histórico. Em Julho de 1821, trocava ele correspondência com o Cónego Januário da Cunha Barbosa, afirmando a necessidade de lançar o “Revérbero Constitucional”, que seria o clarim das ideias de liberdade nacional. O primeiro número do periódico, quinzenal, surge em 15 de Setembro deste mesmo ano, com redacção de Ledo e do Cónego Januário. Foi este periódico que em muito contribuiu para a Independência do Brasil. Em 16 de Fevereiro de 1822 Ledo é nomeado Conselheiro e Secretário de Estado e, a 30 de Abril, novo exemplar do “Revérbero Constitucional” é lançado, elogiando Dom Pedro e clamando pela independência.
Em 01 de Junho é eleito Procurador Geral pela Província do Rio de Janeiro e, no dia seguinte, instalado o Conselho de Estado, fazendo parte dele Ledo. Em 17 de Junho de 1822 é fundado o Grande Oriente Brasiliense, tendo sido seu Grão Mestre José Bonifácio, por nítida influência de Ledo, que seria seu 1º Grande Vigilante e verdadeiro dirigente da Instituição. Ledo foi atacado, por diversas vezes, de conspirar contra a Monarquia, porque a desejava constitucional. No entanto, não sabem os historiadores informar, se por ciúmes ou vinganças pessoais, atacavam-no de republicano.
Em 14 de Outubro D. Pedro oferece a Ledo o título de Marquês da Praia Grande, mas este recusa a honraria, posto entender que não poderia aceita-lo, mas aceitaria de grande prazer o título de patriota brasileiro. Dom Pedro, como era de costume em momentos de ira, desferiu palavras ásperas a Ledo, afirmando que o mesmo não tomaria assento na Câmara. Diversos factos fazem com que Ledo seja obrigado a embarcar para Buenos Aires com uma ligeira passagem por Portugal e refugia-se uns meses no Alentejo, porque a "tarja" de republicano poderia levar-lhe a própria vida.
Absolvido das acusações impostas, Ledo retorna ao Brasil, em 1833, é agraciado, em 17 de Fevereiro de 1834, pelo Imperador, com a Ordem do Cruzeiro do Sul, mas, assim como tinha recusado o título de Marquês, ele recusa. Em 1845 consta entre os Deputados da Assembleia Provincial do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano abandona a política e a Maçonaria, indo recolher-se na sua fazenda, em Sumidouro, vindo a falecer, a 19 de Maio de 1867, de ataque cardíaco.
Autor: Gonçalves Ledo
1 comentário:
Muito Obrigado, em especial ás luzes desta loja, mas em especial aquele que me a fez ver a primeira vez. Mas o meu obrigado maior é por se lembrarem de tão distinta figura maçonica, libertadora de consciências e de um povo oprimido pela Monarquia que imperava na metrópole Portugal, e que tinha como seu delegado o Rei no Brasil. Sendo que este foi convertido em Maçon por Gonçalves Ledo que pugnou pela libertação, pela fraternidade e pela livre expressão de escolha de um povo. Libertando-o da tirania Monárquica. Muito Obrigado.
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