terça-feira, 10 de maio de 2011

Miosótis

No início de 1934, logo após a ascensão de Adolf Hitler ao poder, ficou claro que a maçonaria alemã corria o risco de desaparecer. Em breve, a maçonaria alemã, que conhecera dias gloriosos e que tivera, nas suas colunas, os mais ilustres filhos da pátria alemã, como Goethe, Schiller e Lessingn, veria esmagado o espírito da liberdade sob o pretexto de impor a ordem e uma supremacia racial.
Quanto retrocesso, desde que Friedrich Wilhelm III, Rei da Prússia, em 1822, impediu que os esbirros reaccionários da Santa Aliança de Metternich fechassem as Lojas Maçónicas, declarando peremptoriamente que poderia descrever os Franco-Maçons prussianos, com toda a honestidade, como sendo os melhores dentre os seus súbditos…

As Lojas alemãs, na terceira década do século XX, estavam jurisdicionadas a onze Grande Lojas, divididas em duas tendências.
O primeiro grupo, de tendência humanista, seguindo os antigos costumes ingleses, tinha como base a tolerância, valorizando o candidato por seus méritos e não levando em consideração a sua crença religiosa. Constava de sete Grandes Lojas, a saber: Grande Loja de Hamburgo; Grande Loja Nacional da Saxônia, em Dresden; Grande Loja do Sol, em Bayreuth; Grande Loja-Mãe da União Eclética dos Franco-Maçons, em Frankfurt; Grande Loja Concórdia, em Darmstadt; Grande Loja Corrente Fraternal Alemã, em Leipzig; e, finalmente, a Grande Loja Simbólica da Alemanha.
O segundo grupo consistia nas três antigas Lojas prussianas, que faziam a exigência de que os candidatos fossem cristãos. Havia ainda a Grande Loja União Maçónica do Sol Nascente, não considerada regular, mas que também tinha tendências humanistas e pacifistas.
Voltando a 1934, a Grande Loja Alemã do Sol deu-se conta do grave perigo que iria enfrentar. Inevitavelmente, os maçons alemães estavam a partir para a clandestinidade, devido à radicalização política e ao nacionalismo exacerbado. Muitos adormeceram e alguns romperam com a tradição, formando uma espúria Franco-Maçonaria Nacional Alemã Cristã, sem qualquer conexão com a restante Franco-Maçonaria. Declararam abandonar a ideia da universalidade maçónica e rejeitar a ideologia pacifista, que consideravam como demonstração de fraqueza e como uma degeneração fisiológica contrária aos interesses do estado!

Os maçons que persistiam nos seus ideais precisaram encontrar um novo meio de identificação que não o óbvio Compasso e Esquadro, seguramente em risco de vida.
Há uma pequenina flor azul que é conhecida, em muitos idiomas, pela mesma expressão: não-me-esqueças – miosótis. Entenderam, os irmãos alemães, que esse novo emblema não atrairia a atenção dos nazistas, então a ponto de lhes fechar as Lojas e confiscar as propriedades.

Vergissmeinnicht, em alemão; forget-me-not, em inglês; forglemmigef em dinamarquês; ne m’oubliez pás, em francês; non-ti-scordar-di-me, em italiano; não-te-esqueças-de-mim, em português. Diz a lenda que Deus assim chamou a florzinha porque ela não conseguia recorda-se do próprio nome. O nome miosótis (Myosotis palustris) significa orelha de camundongo, por causa do formato das pétalas.
O folclore europeu atribui poderes mágicos ao miosótis, como o de abrir as portas invisíveis dos tesouros do mundo. O tamanho reduzido das flores parece sugerir que a humildade e a união estão acima dos interesses materiais, porque é notada principalmente quando, em conjunto, forma um bouquet no jardim.
De acordo com uma velha tradição romântica alemã, o nome da flor está relacionado às últimas palavras de um cavaleiro errante que, ao tentar alcançar a flor para sua dama, caíra no rio, com sua pesada armadura e afogara-se.
Outra história, diz que Adão, ao dar nomes às plantas do Jardim do Éden, não viu a pequena flor azul. Mais tarde, percorrendo o jardim para saber se os nomes tinham sido aceites, chamou-as pelo nome. Elas curvaram-se cortesmente e sussurravam a sua aprovação. Mas uma voz delicada a seus pés, perguntou: “- E eu, Adão, qual o meu nome?” Impressionado com a beleza singela da flor e para compensar seu esquecimento, Adão falou: “ – Como eu me esqueci, digo que vou chamá-la de modo a nunca mais esquecê-la. Seu nome será: não-te-esqueças-de-mim.”
Através de todo o período negro do nazismo, a pequenina flor azul identificava um Irmão. Nas cidades e até mesmo nos campos de concentração, o miosótis adornava a lapela daqueles que se recusavam a que se extinguisse a Luz.

Em 1945, o nazismo, com seu credo de ódio, preconceito e opressão, que exterminara, entre outros, também muitos maçons, era atirado para o lixo da História. Nas fileiras vitoriosas que ajudaram a derrotá-lo, estavam muitos maçons – ingleses, americanos, franceses, dinamarqueses, checos, polacos, australianos, canadenses, neozelandeses e brasileiros - desde monarcas, presidentes, comandantes aos mais humildes praças. Entre os alemães, alguns velhos maçons também sobreviveram e com o seu sofrimento ajudaram a redimir, de alguma forma, a memória contra histeria colectivista nazista. Eles eram o penhor da consciência alemã, a demonstração de que a velha chama da civilização alemã continuara, embora com luz ténue, a brilhar durante a barbárie.
Em 14 de Junho de 1954, a Grande Loja O Sol (Zur Sonne) foi reaberta, em Bayreuth, sob o ilustre irmão Dr. Theo Vogel, núcleo da Grande Loja Unida da Alemanha. Nesse momento, o miosótis foi aprovado como emblema oficial da primeira convenção anual, realizada por aqueles que conseguiram sobreviver aos anos amargos do obscurantismo. Nessa convenção, a flor foi adoptada, oficialmente, como um emblema Maçónico, em honra àqueles valentes Irmãos que enfrentaram circunstâncias tão adversas.
Finalmente, para coroar, quando Grão-Mestres de todo o mundo se encontraram nos Estados Unidos, o Grão-Mestre da recém formada Grande Loja Unida da Alemanha ofereceu a todos os representantes das Grandes Jurisdições ali presente um pequeno miosótis para colocar na lapela. O miosótis também é associado às forças britânicas que serviram na Alemanha, em especial na região do Rio Reno, logo após a guerra.
Há uma Loja, jurisdicionada à Grande Loja Unida da Inglaterra, a Forget-me-not Lodge nº 9035, Ludgershall, Wiltshire, que adotou a flor como emblema. Foi formada especialmente para receber os militares ingleses que voltavam do serviço na Alemanha.

Foi assim, que essa mimosa florzinha azul, tão despretensiosa, transformou-se num significativo emblema da Fraternidade – talvez hoje o mais usado pelos maçons alemães. Ainda hoje, na maioria das Lojas germânicas, o alfinete de lapela com o miosótis é dado aos novos Mestres, ocasião em que se explica o seu significado para que se perpetue uma história de honra e amor frente à adversidade, um exemplo para as futuras gerações Maçónicas e para todas as nações.

Autor: Júlio Verne - "In Ruy Luiz Ramires"
MiosótisEssa planta rasteira originária da Rússia, que geralmente tem entre 25 e 30 cm na fase de florescimento, possui pequenas flores azuis, flores brancas, flores rosadas está presente durante as primaveras nos mais belos jardins do planeta.
Deve ser cultivada sob o sol ou à meia sombra e é utilizada como forração de bordas em canteiros, além de fornecer um toque especial em composições de jardins de pedras. O Miosótis gosta de baixa temperatura, sendo que o seu cultivo é mais indicado em lugares de altitude.
Aquilo que pensamos ser as flores do Miosotis, na verdade são inflorescências terminais que se assemelham a espigas, longas, com formações de flores muito curtas e azuis.
A sua beleza é apreciada e encontrada nos jardins de diversos países em razão da facilidade do seu cultivo. Além disso, ela apresenta mais de 50 variedades. O Miosotis também é conhecido como Verónica.
Oferecer esta planta pode representar uma bela declaração como, por exemplo: “meu amor por ti é sincero”.
A forma das flores, com seus reduzidos tamanhos, sugere simplicidade, humildade e união como condições acima de interesses materiais.

1 comentário:

Herculano disse...

Um excelente texto, no momento certo. Para bom entendedor meia palavra basta!

Herculano