“A região do Vale do Alva tem na sua história uma disputa entre três rios, o Mondego, o Alva e o Zêzere, todos nascidos na Serra da Estrela. Estes três rios envolveram-se um dia numa grande discussão sobre quem seria o mais valente e acertaram numa corrida que esclareceria a questão: quem chegasse primeiro ao mar seria o vencedor.
O Mondego levantou-se cedo e começou a deslizar silenciosamente para não atrair as atenções. Passou pela Guarda e pelas regiões de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim, pela Raiva, onde se fortaleceu junto dos ribeiros seus primos, chegando por fim a Coimbra. O Zêzere, que estava atento, saiu ao mesmo tempo que o seu irmão. Oculto, por entre os penhascos, foi direito a Manteigas, passou a Guarda e o Fundão, mas logo depois se desnorteou e, cansado, veio a perder-se nas águas do Tejo. O Alva passou a noite a contar as estrelas, perdido em divagações de sonhador e poeta. Quando acordou, era já muito tarde mas ainda a tempo de avistar os seus irmãos ao longe. Tempestuoso, rompeu montes e rochedos, atravessou penhascos e vales, mas quando pensava que tinha vencido deparou com o Mondego, no momento que este já adiantado chegava ao mar. O Alva ainda tentou expulsar o seu irmão do leito, debatendo-se com fúria e espumando de raiva, mas o Mondego engoliu-o com o seu ar altivo e irónico.”
Esta lenda de Portugal encerra em si um tríptico simbolismo relacionado com a origem e fundação da Estrela D’Alva.
Em primeiro lugar, a Loja nasceu em 1871 na cidade de Coimbra formada por um conjunto de maçons que viviam, tinham valores e princípios morais éticos, sonhavam com uma sociedade mais justa e fraterna, e segundo dados históricos com relevância na região do Vale do Alva com as suas funções profissionais, universitárias e de família, mantendo a sua actividade nesta cidade até 1912.
Em segundo lugar, a região do Vale do Alva embora seja uma região serrana com as adversidades da natureza e de formação territorial, nunca impediu que as gentes que viviam, e vivem na região se deixassem abater por essas contrariedades, foram gentes que lutaram pelo progresso, pela evolução e com valores determinados em prol dos mais desfavorecidos, da justiça, da igualdade e com vasta intervenção social e de cidadania.
Em terceiro lugar, existe a ligação ao nome Alva como uma homenagem às gentes da região, existe mesmo uma localidade na região como o nome: Estrela de Alva; por outro lado, serviu para a ligação do mundo terreno ao celeste, através da estrela mais próxima do planeta Terra, que se tem chamado popularmente de Estrela Vespertina, Estrela Matutina, Estrela do Pastor ou Estrela d'Alva.
Mas, outros significados mais simbólicos têm este nome e esta lenda. Na lenda estão plasmados valores, princípios, símbolos que são interiorizados pelos Maçons, senão vejamos: a determinação de lutar, progredir, vencer, a honra, o caminho a percorrer. Tem o simbolismo dos elementos da natureza, da terra, água, ar, numa viagem feita com o objectivo de conhecer outras realidades, o chegar ao mar imenso e por conhecer, por que não, outros mundos, foi do mar que partiram os Descobrimentos.
Tem o conhecimento, a procura da geometria do espaço e a ligação à astronomia, a divagação com a ligação à filosofia, a poesia para as artes, o sonho na demanda do mundo melhor, pois como diz o poeta: o sonho comanda a vida.
Por fim, e não menos importante, a disputa por chegar mais longe, o desbravar o caminho, é feita por 3 irmãos que em igualdade, partem na demanda do conhecimento e de outros mundos.
Pelo saber de hoje, o nome “Estrela D’Alva” dado a uma Loja em Portugal remonta a ano de 1871, perfazendo 140 anos de existência. Por perda de elementos para garantir a transmissão iniciática, a actual Loja Estrela D’Alva é herdeira de 103 anos de trabalho, irradiação da Luz, mantendo-se activa e regular desde 1908 sem qualquer interrupção ou abatimento, mesmo nas dificuldades e agruras da clandestinidade.
Nestes mais de 100 anos de trabalho em que o testemunho foi passando por gerações e que foram atravessados por múltiplos acontecimentos, como a Implantação da Republica, Estado Novo e a sua Ditadura, a privação da Liberdade e dos Direitos Humanos, a clandestinidade, uma guerra colonial, o alvorecer da Liberdade em Abril de 74, temos que prestar a nossa homenagem aos Maçons que nos antecederam, pela grande competência e extraordinária dedicação aos valores da Maçonaria e por manterem as colunas bem erguidas e irradiar com esplendor e brilho a Liberdade, a Justiça, a Verdade, a Honra e o Progresso.
Renovamos os agradecimentos pela Honra que nos deram com a vossa presença nas nossas comemorações e como o objectivo da Maçonaria é o da procura da Verdade nos seus mais variados aspectos e utiliza como linguagem, fundamentalmente, a linguagem simbólica, apelamos-vos, por isso, para que conjuntamente trabalhemos na construção do Templo para que seja possível atingir a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade Universal.
Saúde e Fraternidade!
1 comentário:
Vivo no Vale do Alva, a "três passos" da saudade Fernando Vale. Fraterno abraço. Carlos Ramos
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