terça-feira, 28 de maio de 2019

A Estrela Flamejante

A Estrela Flamejante, importante símbolo para a Maçonaria, é um pentagrama, ou estrela de 5 pontas, que tem sua origem entre os sumérios, na antiga Mesopotâmia, onde três estrelas, dispostas em triângulo, representavam a trindade divina Shamash, Sin e Ichtar (Sol, Lua e Vénus). Era também o símbolo da deusa romana Vénus, e assim é associado a este planeta cuja órbita, vista da Terra, descreve aparentemente uma estrela de cinco pontas, como foi apontado por Ptolomeu nos seus estudos astronómicos.
Na Natureza, o pentagrama é o signo do quinto Elemento, o Éter, assinalado na sua ponta superior, enquanto nas demais pontas inferiores se assinalam os restantes quatro elementos naturais: Ar, Fogo, Água e Terra. O pentagrama (ou pentalfa) também é símbolo do Infinito: dentro do pentágono no centro do pentagrama é possível fazer outro pentagrama menor, e assim sucessivamente.
A estrela flamejante possui uma simbologia múltipla, sempre fundamentada no número 5, que representa o casamento unindo o masculino (o 3) e o feminino (o 2), desta forma simbolizando a união dos contrários necessária à realização espiritual. Por essa razão, na matemática com origem na Escola Pitagórica o pentagrama (símbolo dessa instituição grega) anda ligado ao número de ouro ou Phi (que tem o valor 1,618) que é composto por um pentágono regular e cinco triângulos isósceles. A razão entre o lado do triângulo e a sua base (lado do pentágono) é o número de ouro. A Estrela Flamejante, por simbolizar o poder do fogo pode também simbolizar a magia, negra ou branca, podendo invocar o bem (se tiver sua ponta para cima) ou o mal (se a ponta estiver direcionada para baixo). Era o símbolo dos alquimistas e ainda hoje é utilizada nos rituais de bruxaria e esoterismo.
Quem deu o nome de Estrela Flamejante ao pentagrama foi o teólogo e médico Enrique Cornélio Agrippa de Netesheim, nascido no final do século XV, que também se dedicava à magia, à alquimia e à filosofia cabalística e que era natural da cidade de Colónia, na Alemanha.

Na maçonaria, entretanto, a Estrela Flamejante só foi introduzida em meados do século XVIII, na França, pelo barão de Tschoudy, criador do Rito Adonhiramita. O seu aparecimento na Maçonaria, a partir de 1737, não encontrou aceitação em todos os Ritos, pois os construtores medievais conheciam a figura estelar apenas como desenho geométrico e não com interpretações ocultas que se introduziram na Maçonaria especulativa. A Estrela Flamejante corresponde ao Pentagramaton ou Tríplice Triângulo cruzado dos pitagóricos. Distingue-se do Delta ou Triângulo do Oriente, embora, entre os antigos egípcios representasse também Horus que em lugar do pai, Osíris, passou a governar as estações do ano e o movimento. Importa igualmente saber que os pitagóricos a usam para representar a sabedoria (sophia) e o conhecimento (gnose) e provavelmente por isso incluíam no interior do pentágono a letra gama, de gnosis.
A estrela flamejante tanto pode ter cinco, como seis pontas. Também conhecida como Flamante, ou rutilante, pode ser, em Maçonaria, Pentagonal ou Hexagonal. A Pentagonal, ou Pentagrama, ou pentalfa, está presente na maior parte dos ritos. A de Seis Pontas está presente no Rito de York. Enquanto que dentro do Pentagrama, é muitas vezes colocado o homem com os braços e pernas abertas, dentro da Estrela Flamejante, o “homem” material é consumido pelas chamas e já não aparece visível. A sua posição passa a ser, exclusivamente no plano espiritual, pois seu corpo foi “consumido” pelas “chamas” purificadoras.
O verdadeiro sentido da Estrela Flamejante é Homonial, isto é designa o homem espiritual, o indivíduo dotado de alma. Ou seja, o indivíduo com o espírito que lhe foi concedido pelo Grande Arquitecto do Universo . A ponta superior da Estrela é a cabeça humana, a mente. As demais pontas são os braços e as pernas. Na Maçonaria essa ideia serve para lembrar ao Maçon que o homem deve criar e trabalhar, isto é, inventar, planear, executar e realizar, com sabedoria e conhecimento. Pode ocorrer que o ser humano falhe nos seus desígnios. O Maçon também pode falhar como ser humano, mas o seu dever é imitar, dentro dos seus ínfimos poderes o Grande Arquitecto do Universo.
As cinco pontas da Estrela lembram igualmente os cinco sentidos que estabelecem a comunicação da alma com o mundo material. Tato, audição, visão, olfato e paladar, dos quais para os Maçons três servem para a comunicação fraternal, pois é pelo tato que se conhecem os toques, pela audição que se percebem as palavras, e pela visão se notam os sinais. Mas não se pode esquecer o paladar, pelo qual se conhecem as bebidas amargas e doces, bem como o sal, o pão e o vinho. Finalmente pelo olfato se percebem as fragrâncias das flores e os aromas de perfumes. A letra “G” interior, com o significado de gnose ou conhecimento, lembra a quinta essência, quanto ao transcendental e lembra ao Maçon o dever de se conhecer a si mesmo.

Os diversos Ritos Maçónicos não são unânimes quanto à colocação da Estrela Flamejante no recinto do Templo. Uns colocam-na no oriente na frente do trono, outros configuram-na no interior do Delta, o que parece mais sugestivo, principalmente quando o Obreiro na elevação de Grau é chamado a contemplar o Triângulo Radiante. Outros, entendendo que ela é de brilho intermediário, isto é, de luminosidade simbolicamente situada entre a luz ativa do sol e a luz próxima ou reflexa da lua, colocam-na no meio do teto do Templo, ou pelo menos no meio-dia. Outros consideram-na uma Estrela do Ocidente.

Em resumo. A Estrela Flamejante que ilumina a Loja representa o Sol que clareia o mundo físico, a ciência que resplandece sobre o mundo intelectual e a Filosofia Maçónica que ilumina o mundo moral. Para o Maçon, constitui o emblema do génio que eleva a alma para a realização das supremas tarefas, e também simboliza a “Estrada Luminosa” da Maçonaria, a luz que ilumina os obreiros, o símbolo dos livres pensadores, a eterna vigilância e a proteção objetiva do Grande Arquitecto do Universo.

Autor: António Egas Moniz

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