Se para muitos, trata-se de um nome, ou por simpatia, amizade e proximidade poderá até cognitivamente significar algo, para mim ressalta sentimentos e emoções correlacionados com experiências, da mesma forma que um simples odor nos faz recordar alguém.
Quando no ambiente certo, por hipótese entre Irmãos, me tratam por José, turbilha em mim um misto de orgulho, comoção, honra, mas também humildade por me ser permitido envergar um nome que pelo motivo da sua escolha, perpetua ideias e projectos que objectivo ser capaz de não mais largar.
É segurança. Carinho. Vaidade. Dissabores e alegrias. Fome e fartura. Depressão e dinamismo. É esforço, é sacrifício, é morte! Não é morte no sentido de finalizar, desaparecer ou perecer. É transformar, renascer, guardar o que de melhor pode ser lembrado e melhorar, melhorando a experiência já tida e aplicá-la no desenvolvimento de alguém que espera de nós, apenas tudo. Alguém que não pediu para nascer, mas no momento, exige ser criado. Alguém que pela sua inocência e desconhecimento da maldade, dos vícios e do interesse, confia em nós de uma forma inatingível por palavras. Uma confiança inabalável demonstrada ao acaso por um abraço, um beijo, um olhar terno por quem nunca podemos cometer o maior dos crimes do código fraternal: a desilusão.
De facto, neste desarticulado de palavras, não pretendo centrar a atenção num José, mas, em três.
Um José do passado que define um dos pilares da construção do que sou. Que noutro tempo e noutros valores insurgiu-se contra alguns princípios e preconceitos pré-estabelecidos e tentou criar bases de convergência ideológica no seio do seu grupo de interesse. Falo do meu Avô, Pai do meu Pai, que cresceu a ser chamado de José Diogo Salvação. Homem aos 11 anos quando por perda do seu Pai, responsabiliza-se pela ajuda à família e desenvolve uma capacidade e talento para o trabalho multifacetado. Ainda assim e compreendendo a relevância do conhecimento para a progressão da sua vida, investe no seu próprio desenvolvimento até à idade da sua morte. Paralelamente, tenta e atinge alguns importantes objectivos, no auxílio conceptual e indirecto aos demais semelhantes.
Um outro José, que definindo outra e a mais importante das minhas pedras basilares, realizou a sua construção através do esforço e sacrifício, tendo-me oferecido a sua felicidade e sua vida em troca da certeza que um dia eu o reconheceria. Falo do meu Pai, José António de Oliveira Salvação. Tratou-se de um homem que preteriu os interesses pessoais, ou aliás substituiu-os pelo desenvolvimento do meu ser, envolto numa espiral de atribulações matrimoniais motivados por uma doença crónica da sua companheira, minha Mãe. Nunca investiu muito na sua carreira nem tão pouco era um homem de assumpções de risco. Morre cedo, aos 53 anos com a sensação de tarefa cumprida, por ocasião da minha derradeira edificação como homem de família e como profissional.
O terceiro José é aquele que qualquer determinação e persistência nunca serão inglórios nem suficientes, e para o qual devo dirigir toda a competência que me for permitido reunir na esperança de construir alguém forte no sentido mais lato da palavra. Não se trata de uma acção, mas de um processo de constante desenvolvimento, preparação e atenção não sendo porém uma preparação para a vida, mas a própria arte de viver em si.
Falo naturalmente do meu primogénito, José Delgado Salvação, que por coincidência ou não, além do Nome apresenta ao mundo as mesmas iniciais do meu Avô: JDS.
É uma das razões de estar aqui hoje, ou é o conjunto de razões, a certeza e o objectivo, a determinação e persistência. É alguém que merece o meu empenho na melhoria, no desenvolvimento, na evolução de novos saberes e de novas formas de saber. Alguém cuja existência é motivo bastante para merecer que se construa um fio condutor entre a experiência que espero adquirir, e a sede de viver própria de uma criança.
Para um dia poder dizer... Eu aprendi!
Autor: José
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