terça-feira, 22 de janeiro de 2019

A Resp. Loja Rebeldia na Ditadura do Estado Novo

Decorria o mês de Abril de 1929 quando a sede do Grande Oriente Lusitano foi assaltada por elementos da Guarda Nacional Republicana e da Polícia, com a participação de numerosos civis. Foram presos e identificados todos os maçons que se encontravam no Palácio Maçónico, à excepção dos oficiais das Forças Armadas.
Na altura, foram apreendidos inúmeros documentos e cometidos actos de vandalismo, nos quais se incluiu a destruição dos templos, estatuária vária, documentação, livros, etc.. A partir desse momento iniciava-se uma nova era de obscurantismo em Portugal, inviabilizando, portanto, a livre reunião dos maçons, que passaram para tal a depender do livre arbítrio do Governo Civil de Lisboa.
De Maio de 1929 a Março de 1930 o Palácio Maçónico encerrou as suas portas, voltando mais tarde a realizarem-se nele reuniões, embora limitadas a poucos irmãos, até 1931. Neste ano, as portas foram formalmente seladas pela Polícia e, finalmente, em 1935 a Maçonaria Portuguesa passou à clandestinidade, por ter sido ilegalizada.
Foi neste contexto que um grupo de onze maçons ergueu colunas de uma nova Loja, a Rebeldia, instalada no dia 1° de Maio de 1929, segundo Decreto do Grão-Mestre datado de 11 de Abril desse ano. Inicialmente, fora programado para o dia 20 de Abril, porém, o assalto ao Palácio Maçónico em 16 desse mês, não permitiu a manutenção da data que havia sido aprazada. 

Desta forma e em semi-clandestinidade, a instalação decorreu, em casa do maçon Raul Wheelhouse*, na rua de St° António dos Capuchos, n° 94-2°, no Campo dos Mártires da Pátria, em Lisboa, sendo a primeira reunião de uma Loja lisboeta fora do Palácio Maçónico, depois do governo da Ditadura ter iniciado as hostilidades contra a Maçonaria. Foi seu primeiro Venerável, Luís Gonçalves Rebordão que tinha sido iniciado em 20 de Setembro de 1923, o qual, como Grão-Mestre, teve a seu cargo a chefia da Ordem Maçónica de 1937 a 1974, ou seja, praticamente durante todo o tempo que durou a ditadura salazarista. Desta forma, no dia 1 de Junho de 1929 era iniciado o primeiro maçon nesta Loja, de seu nome, Duarte de Almeida. 

Porém, a origem desta Oficina remonta uns anos atrás. Assim, em 1924, Luís Gonçalves Rebordão Venerável da Respeitável Loja Revolta, de Coimbra, com o acordo dos obreiros da sua Oficina, incentivou os maçons estudantes dos seus Quadros a residir em Lisboa, a fundarem uma Loja nesta cidade, similar à que pertenciam, ou seja, uma loja composta essencialmente por homens ligados às universidades: estudantes e professores.
Foi deliberado que a Loja adoptasse o Rito Francês e que o seu título distintivo fosse o de Rebeldia, como o n° 439 ao Vale de Lisboa. Assumiram cargos na Loja em 1929 os seguintes maçons: Venerável – Luís Gonçalves Rebordão; 1° Vigilante – Júlio Ribeiro da Costa; 2° Vigilante – Alberto Cardoso do Vale; Orador – Alberto Martins de Carvalho; Orador Adjunto – Mário Lopes Pinto Coelho; Secretário – Eurico de Aguiar Cruz; Tesoureiro – Raul Cardoso Madeira; Hospitaleiro – Carlos Soares de Oliveira; Mestre-de-Cerimónias – Manuel Gregório Jr.; 1° Experto – António Augusto Pires de Carvalho; 2° Experto – António Freitas Pimentel; Representante à Grande Dieta – Alberto Martins de Carvalho.

Desde o dia 1° de Maio até Dezembro desse ano, foram efectuadas sete iniciações, destes, Manuel Augusto Rosa Alpedrinha, um bom e assíduo obreiro, pouco tempo permaneceu na Oficina uma vez que teve de optar entre esta e o Partido Comunista do qual era militante. Foi perseguido pela ditadura, passando longos anos nas prisões, de entre elas, o Tarrafal. Não obstante as perseguições, entre os anos de 1929 e 1935 a Loja Rebeldia conseguiu recrutar e iniciar muitos estudantes universitários e outros que se vieram a distinguir na vida profana. Instalou também um triângulo numa aldeia da Beira.
É de justiça que se refira, os cinquenta primeiros Obreiros da Respeitável Loja Rebeldia, sofreram torturas, prisão e degredo por delito de opinião. De salientar, que mesmo correndo os maiores riscos, se efectuaram reuniões e até iniciações, durante os anos de clandestinidade, servindo as instituições para-maçónicas como a Escola Oficina n.º 1, para reuniões em segredo. 

Na sequência do 25 de Abril de 1974 e após a recuperação do Palácio Maçónico, finalmente, em Liberdade, no dia 15 de Março de 1975 teve lugar na sede do Grémio Lusitano, a primeira reunião do Grémio Rebeldia, em 1.ª convocatória, com a presença de nove dos seus doze obreiros no activo, nomeadamente Luís Gonçalves Rebordão, Henrique Corte Real, Adelino da Palma Carlos, José Neves Sales Grade, Daniel Neves Sales Grade, José Maria Bastos, Júlio Ribeiro da Costa, José Souto Teixeira e José Marques Simões. 
Justificaram as suas ausências José Alves da Cruz Ferreira, Virgílio Rebordão e Raul Cardoso Madeira. Chamados maçons que se encontravam a coberto, caso de Pereira Crespo, último Ministro da Marinha do anterior regime, pediu escusa com uma carta delicada; Henrique de Barros, não obstante ter sido convidado através de mais que uma carta, nunca respondeu.
Em 1981, devido ao envelhecimento e morte de alguns dos Obreiros da Oficina, esta acabou por abater Colunas. Só decorridos três anos e meio voltaria a erguê-las de novo.

In Loja Rebeldia http://lojarebeldia.blogspot.com/2007/10/blog-post.html


* Raul Weelhouse, foi Maçon e Obreiro da Respeitável Loja Estrela D'Alva

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