sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

As Ferramentas do Companheiro Maçon e as Cinco Viagens

O Grau de Companheiro, é o segundo grau dentro do Rito Escocês Antigo e Aceito e do Rito Francês. Juntamente com o primeiro e o terceiro, estes graus são denominados Graus Simbólicos. Ser Companheiro, significa ser o laço de união entre o Aprendiz e o Mestre. Não sendo já Aprendiz e sem ter alcançado ainda a posição de Mestre, o Companheiro coloca-se como se fora o fiel de uma balança imaginária, equilibrando posições, aspirações e tendências.

O Aprendiz deverá assim passar da posição de prumo, que significa estar de forma correta e precisa em qualquer situação na vida, quer familiar, quer profissional ou ainda fraternal, à posição de nível, se comprovadamente tais propósitos foram cumpridos, ou seja, se ele se considerar um homem são, vertical e ativo. O nível, simbolicamente, ensina-nos que devemos pautar a nossa vida dentro do equilíbrio, a fim de que as nossas ações se ajustem à perfeição desejada, dando o equilíbrio necessário para que a nossa obra seja permanente e estável, na medida justa e satisfatória. Assim, o nível e o prumo formam o dualismo perfeito e conduzem à sabedoria.
Quando somos iniciados como Aprendizes de Maçom, e passamos das trevas à luz, somos submetidos a três viagens simbólicas que nos transportam através dos quatro elementos da Natureza, Terra, Água, Ar e Fogo. Para continuar a progredir os trabalhos, e continuando no crescimento pessoal, o Aprendiz deve iniciar cinco novas viagens que o levarão a atingir o grau de Companheiro. Tendo já vencido três viagens durante a cerimónia da sua Iniciação soma, agora, oito viagens.

O Companheiro maçom deve transcender do mundo concreto, (o Ocidente), ao mundo abstrato ou transcendente (o Oriente), o mundo dos Princípios e das Causas, atravessando a região obscura da dúvida e do erro (o Norte), para voltar pela região iluminada pelos conhecimentos adquiridos (o Sul), constituindo cada viagem uma nova e diferente etapa de progresso e de realização. Ora durante essas viagens simbólicas vão sendo usadas algumas das ferramentas do grau de Companheiro, as quais passo a descrever.
 
Primeira Viagem
Ferramentas: Maço e Cinzel, simbolizando a Vontade ativa, firme e perseverante e o Livre Arbítrio; fortifica-se a Vontade para chegar ao Livre-Arbítrio.
Esta primeira viagem simboliza o período de um ano, que o Companheiro deve empregar em aperfeiçoar-se na prática de cortar e lavrar a Pedra Bruta que aprendeu a desbastar, enquanto Aprendiz, com o maço e o Cinzel.
O Maço representa a força, a energia necessária para a execução de qualquer trabalho. O Aprendiz precisa da força e da energia do Maço para que as ações pensadas possam ser efetivamente realizadas. Com o maço desbasta-se a matéria, que é a desagregação da parte não desejada. Por consequência deste efeito de força e precisão, o maço representa o poder destrutivo, e, se não for utilizado com extremo cuidado e muita inteligência, compromete seriamente a Obra de Construção Individual, ao mesmo tempo que se transforma num potencial perigo para a estabilidade do edifício social. Podemos tirar uma boa lição desse instrumento tão contundente, usando-o em nós mesmos para retirar as arestas de nossa pedra bruta, com um objetivo de autoaperfeiçoamento.
A maçonaria é uma escola, mas é viável a autoeducação, pois, em vez de esperarmos que alguém nos bata para aparar as nossas arestas, podemos fazer isso nós mesmos, através de uma atitude mais suave e precisa. Reconhecer os próprios erros já é uma prática de desbastamento do espírito, ainda embrutecido da inteligência humana.
O Cinzel - Instrumento do grau de Aprendiz, que, com o maço, serve para desbastar simbolicamente a pedra bruta, que é uma alegoria à personalidade não educada e polida, e representa o intelecto. Possui o poder de cortar, dar forma, abrir caminho através da matéria. É um instrumento de aprimoramento.
O Cinzel significa a capacidade de enxergar aquilo que é preciso mudar, deve ser a autocrítica do Maçom que, apoiada pela força de vontade, fará com que consiga o desbaste necessário da sua ‘pedra bruta’. Para isso, o Aprendiz Maçom deve possuir qualidades morais, sentimentos bons e generosos (linha da virtude), uma mente bem-dotada e educada (linha da direção) e uma natureza espiritual pura e profunda (linha do discernimento), os quais serão utilizados nas suas obras.
Em síntese a utilização do Maço e do Cinzel na primeira viagem leva o candidato a Companheiro maçom a compreender, que o uso combinado das duas ferramentas, ou seja, o uso harmónico da força inteligente, aplicada ao carácter, que é a pedra bruta da personalidade profana, resultará numa pedra polida, apta a ser integrada no seu Templo Interno.
 
Segunda Viagem
Ferramentas: Régua e Compasso. As ferramentas que o candidato leva na sua segunda viagem, são de uma natureza inteiramente diferente daquelas com que executou o seu primeiro trabalho. A régua e o compasso agora destinadas à segunda viagem, são ferramentas leves e de precisão que, além de se destinarem a verificar e a dirigir o trabalho executado com as anteriores ferramentas, têm ainda um objetivo puramente intelectual.
A Régua e o Compasso, simbolizam a Harmonia e o Equilíbrio. Com elas podem-se construir todas as figuras geométricas existentes.  A linha reta, que é traçada com o auxílio da régua, representa a direção retilínea de todos os nossos atos, dado que é dever de todos os maçons nunca se desviarem no seu progresso da exatidão pela qual constantemente se orientam na procura do caminho mais justo e sábio.
Com o compasso, filosoficamente, o homem constrói-se a si próprio. Para que resulte num templo apropriado a glorificar o grande arquiteto do universo, torna-se indispensável saber usar cada um dos principais instrumentos da construção. O compasso mede os mínimos valores até completar a circunferência e o círculo onde fixamos uma das hastes do compasso. E, girando sobre nós próprios, poderemos executar então com facilidade o projeto perfeito.
Por outro lado, o compasso é a procura incessante pela justiça. A régua traça a linha de conduta e o compasso traça um círculo que indica o alcance da nossa linha de conduta e é o emblema da sabedoria e da prudência.
 
Terceira Viagem
Ferramentas: Nesta viagem o compasso é substituído pela alavanca, mantendo-se na mão esquerda a régua. A alavanca é o símbolo da força, servindo para erguer os mais pesados fardos; moralmente, ela representa a firmeza de caráter, a coragem indomável do homem independente e o poder do amor à Liberdade.
A Alavanca, em lugar do Compasso, é o emblema do poder que, em conjunto com as nossas forças individuais, multiplica a potência do esforço e possibilita o desempenho de grandes tarefas.
O seu formato, de per si, sugere essa força; basta-lhe um ponto de apoio para erguer um peso enorme sob a simples pressão muscular de um braço. Arquimedes dizia: " Dai-me um ponto de apoio e erguerei o mundo", manifestação filosófica no sentido de valorizar o "ponto de apoio".
Na nossa vida quando nos deparamos com algum obstáculo a ser removido e que implica um esforço impossível, o Maçom deve evocar a alavanca e buscar esse "ponto de apoio".
Às vezes a solução está perto de nós e não a visualizamos porque a nossa atenção está voltada para o obstáculo. A lição da alavanca é que não há peso que não possa ser removido, pois a alavanca suspende e desequilibra o peso, fazendo com que este se mova.
Existindo o problema, ao lado estará a solução, basta encontrá-la. O "ponto de apoio" é quem suporta todo o peso do obstáculo e, assim, revela-se a parte mais importante. Numa fraternidade, cada irmão constitui um "ponto de apoio", e unidos representam a alavanca. Devemos aprender a usar esse poder que só a maçonaria propicia.
 
Quarta Viagem
Ferramentas: Régua e Esquadro que simboliza os propósitos segundo o ideal que inspira.
O Esquadro que forma um ângulo reto representa a retidão de nossas ações; o Maçom na sua linguagem simbólica diz que pauta a sua vida "dentro do esquadro". Tudo está na dependência da retidão, tanto na horizontalidade como na verticalidade. Seguindo-se as hastes do esquadro, teremos dois caminhos que se vão afastando, quanto mais distantes seguirem; isso ensina-nos que, se a nossa vida for conduzida de forma correta, encontraremos o caminho da verticalidade espiritual e o da horizontalidade material. Este instrumento é imprescindível na construção; caso não for usado, teremos uma obra torcida, sem equilíbrio e pronta para ruir.
 
Quinta Viagem
Esta viagem é realizada com uma ferramenta final, a Trolha, ou colher de pedreiro. A trolha serve normalmente para alisar o cimento do reboco, deixando uma superfície lisa e perfeita. Simbolicamente pode ser considerado como um instrumento que simboliza a tolerância, o amor fraternal. Da mesma forma que o pedreiro passa a trolha para alisar o cimento, o Maçom passa a trolha nos seus irmãos quando perdoa e aplaina as suas diferenças e as suas imperfeições. A trolha assume-se assim como um símbolo da paz que deve reinar entre os irmãos.
No total são 9 as ferramentas do Grau de Companheiro, as quais estão representadas no Quadro de Loja referente a este grau. Para além das já mencionadas, o Maço, o Cinzel, a Régua, o Esquadro, o Compasso, a Alavanca e a Trolha, temos ainda o Nível e o Prumo.
Na verdade, estas ferramentas dizem-nos que, apesar de todo os conhecimentos transmitidos, não basta estarmos no caminho da virtude, e nela nos conservarmos para chegarmos à perfeição, são necessários ainda muitos esforços, estudo e pesquisas.
A atuação do Maçom não se restringe à loja, pois é seu dever exercer a verdadeira postura maçónica no mundo profano, agindo com tolerância, prudência e respeito pelo ser humano.
Portanto, a evolução maçónica depende de muito trabalho e esforço, seja nos três anos de aprendiz ou nos cinco anos de companheiro. As viagens demonstram que com muita dedicação pessoal, e com o uso adequado dos instrumentos possamos evoluir no nosso trabalho. Dessa forma, alcançando o objetivo de lapidar a pedra bruta e chegarmos a um resultado justo e perfeito.

Autor: António Egas Moniz

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