A questão da necessidade dos rituais é das que mais surpreende não só quem não pertence à Maçonaria, mas também muitos recém-chegados. Não é fácil aceitar essa importância e menos ainda será compreender até que ponto a intensidade e perfeição com que os maçons se entregam à sua prática é determinante para a criação de um verdadeiro espírito de corpo.
De facto a realização conjunta dos diversos rituais conduz a uma forte união entre os Irmãos. Não se trata de nada de mágico ou metafísico. Há estudos estatísticos que mostram os benefícios para a saúde de quem participa regularmente em cerimónias de tipo religioso, sejam elas de que religião forem, ou mesmo não religiosos mas em que há um envolvimento colectivo. Do mesmo modo, já foram realizadas experiências científicas de considerável complexidade, que demonstram uma evidente estimulação de zonas de específicas do cérebro durante práticas de rituais ou de meditação profunda.
Em qualquer dos casos essa actividade é benéfica para o funcionamento saudável do organismo de cada um dos intervenientes e para o desenvolvimento de um espírito de união entre as pessoas que neles participam.
Por outro lado, os próprios rituais estão carregados de alegorias e simbolismos que se impõe desvendar e assimilar.
Passemos assim para o tema das simbologias usadas pela Maçonaria.
Por mais que se pretendam explicar, dificilmente se poderá conseguir que quem esteja de fora consiga abarcar o seu significado profundo. Não é fácil explicar o sabor de uma laranja a alguém que nunca a tenha provado.
Os símbolos usados pela Maçonaria têm origens muito diversas, mas em síntese há dois tipos principais: os que tiveram origem na Maçonaria Operativa e os que foram introduzidos a partir de crenças ocultistas que se integraram na Maçonaria Especulativa quando esta começava a ganhar forma. Mas todos os símbolos traduzem ideias mais ou menos abstractas e são essas ideias que devem ser apreendidas pelos maçons de acordo com a sua inteligência, a sua maneira de ser e de sentir. Convirá assinalar que apesar de recorrer a símbolos de diversas crenças, isso não implica que os maçons partilhem dessas mesmas crenças, pois na Maçonaria a razão sobrepõe-se ao misticismo.
A pouco e pouco, essas noções serão interiorizadas e passarão a fazer parte de cada maçon, dando-lhe a consistência ética que lhe permitirá enfrentar os desafios da vida pessoal e colectiva, mas sem nunca lhe impor quaisquer dogmas ou doutrinas. Ou seja, é graças à participação nos rituais e ao estudo da simbologia maçónica que nós maçons vamos progredindo na interiorização dos conceitos que a Maçonaria nos transmite e que vamos sentir individual e colectivamente uma espiritualidade que nada tem a ver com crenças religiosas ou de qualquer outro tipo. Mas é essa espiritualidade que nos permite sentir de uma forma mais intensa e profunda a beleza de uma trilogia muito famosa e que define bem os grandes valores da humanidade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. É quando chegamos a esta fase em que, ao mesmo tempo, fomos construindo o nosso templo interior e estabelecemos fortes laços de união com os nossos Irmãos, que estaremos realmente aptos a influenciar positivamente a evolução da humanidade e a defender todos os seus grandes valores.
Autor: Carl Sagan
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