sexta-feira, 13 de junho de 2008

Fernando Pessoa

Tenho o dever de me fechar em casa no meu espírito e trabalhar
quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da
civilização e o alargamento da consciência da humanidade.”

Nasce a 13 de Junho, dia de Santo António, num prédio em frente do teatro de S. Carlos, filho de Maria Madalena Nogueira e de Joaquim Pessoa. A família do pai é oriunda de Tavira e a família da mãe tem raízes nos Açores. Viveu intensamente, e no dia 29 de Novembro de 1935 é internado no Hospital de S. Luís dos Franceses. Escreve aí o seu último verso, onde se lê, além de inquietação, a terrível e insaciável curiosidade do esotérico: «I know not what tomorrow will bring», ("Eu não sei o que o amanhã trará"). Morre no dia seguinte, a 30 de Novembro.
A sua obra começará a ser publicada sistematicamente, em livro, só a partir de 1942, e a primeira versão de O Livro do Desassossego apenas chegará a sair em 1982. Assim, atravessa todo o século XX, de que fica a ser um dos nomes maiores. Na comemoração do centenário do seu nascimento em 1988, seu corpo foi transladado para o Mosteiro dos Jerónimos, confirmando o reconhecimento que não teve em vida.

Legado
Pode-se dizer que a vida do poeta foi dedicada a criar e que, de tanto criar, ''criou outras vidas através de seus heterónimos'', o que foi sua principal característica e motivou o interesse pela sua pessoa, aparentemente tão pacata. Alguns críticos questionam se Pessoa realmente teria transparecido seu verdadeiro ''eu'', ou se tudo não tivesse passado de mais um produto de sua vasta criação. Ao tratar de temas subjectivos e usar a heteronímia, Pessoa torna-se enigmático ao extremo. Esse facto é o que move grande parte das buscas para estudar sua obra. O poeta e crítico brasileiro Frederico Barbosa declara que Fernando Pessoa foi "o enigma em pessoa". Escreveu desde sempre, com seu primeiro poema aos sete anos e pondo-se a escrever até mesmo no leito de morte. Importava-se com a intelectualidade do homem, e pode-se dizer que sua vida foi uma constante divulgação da língua portuguesa, visto que, nas próprias palavras do poeta, ditas pelo heterónimo Bernardo Soares, "minha pátria é a língua portuguesa".
Analogamente a Pompeu disse que "navegar é preciso; viver não é preciso", Pessoa diz, no poema Navegar é Preciso, que "viver não é necessário; o que é necessário é criar". Outra interpretação comum deste poema diz respeito ao facto de que a navegação foi resultado de uma atitude racionalista do mundo ocidental (a navegação exigiria ''precisão'') enquanto a vida poderia dispensar tal precisão.
Sobre Fernando Pessoa, o poeta mexicano Nobel de Literatura Octávio Paz diz que "os poetas não têm biografia. A sua obra é a sua biografia". O crítico literário Harold Bloom considerou-o, no seu livro ''The Western Canon'', o mais representativo poeta do século XX, ao lado do chileno Pablo Neruda.

Pessoa e o esoterismo Fernando Pessoa possuía ligações com o esoterismo e o misticismo, salientando-se a Maçonaria e Rosa-Cruz (embora não se conheça qualquer filiação concreta em Loja ou Fraternidade destas escolas de pensamento), havendo inclusive defendido publicamente as organizações iniciáticas, no seu artigo no Diário de Lisboa, de 4 de Fevereiro de 1935, contra os ataques por parte da ditadura do Estado Novo. O seu poema hermético mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo intitula-se "No Túmulo de Christian Rosenkreutz". Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo (de acordo com a sua certidão de nascimento, nasceu às 15h20; tinha ascendente Escorpião e o Sol em Gémeos. Realizou mais de mil horóscopos. Certa vez, lendo uma publicação inglesa do famoso ocultista Aleister Crowley, encontrou erros no horóscopo e escreveu ao inglês para corrigi-lo, já que era um conhecedor e praticante da astrologia, conhecimentos estes que impressionaram Crowley e, como gostava de viagens, o fizeram vir até Portugal para conhecer o poeta.
Na ficha pessoal, também referida como "Nota autobiográfica", intitulada no original “Fernando Pessoa”, dactilografada e assinada pelo escritor em 30 de Março de 1935, afirma: “Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre da Ordem dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania”.
Por fim, o poema de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925, diz:
“Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples, tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.”

Autor: Júlio Verne (baseado em várias fontes: livros, biografias e internet)

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