
Na minha opinião as dificuldades de um tema não nos devem fazer fugir dele e menos ainda nos devem levar a esconder a cabeça na areia. Pelo contrário, tornam de primordial importância ponderá-lo serena e cuidadosamente. Julgo que, no caso do GADU será mesmo uma excelente forma de avaliarmos a nossa capacidade de diálogo e tolerância, virtudes que os maçons devem cultivar.
A avaliar pelos trabalhos que tenho lido, sejam eles de maior ou menor profundidade, a análise directa do tema é em geral evitada, mas é por demais evidente que o conceito não é igual para todos os maçons. De facto, é frequente encontrar trabalhos onde são dirigidas preces mais ou menos fervorosas ao GADU (nalguns casos expressamente a Deus). Mas também não é raro encontrar trabalhos onde são feitas apenas referências genéricas, do género «à glória do GADU», ou até em que não lhe é feita qualquer alusão.
Por outras palavras, parece-me que, independentemente de se referirem ou não ao GADU nas seus trabalhos, a maioria dos maçons evita fazer uma análise frontal sobre o significado da expressão.
Ao procurar textos dedicados ao tema encontrei de tudo um pouco. Por exemplo, no Dicionário de Termos Maçónicos de José Castellani, essa entrada nem sequer existe; já no “dicionário maçónico” um trabalho anónimo com grafia típica do Brasil e que me foi oferecido na altura da minha Iniciação, o GADU é definido como «Título da Divindade Suprema em todos os Ritos e Sistemas maçónicos de todo o mundo, significado de DEUS, o criador de todas as coisas».
Há contudo quem apresente perspectivas muito diferentes e certamente mais abrangentes. É o caso do Irmão José Martins Jurado no seu livro Introdução ao Rito Adonhiramita e que passo a citar também textualmente: «O G.A.D.U. não é senão uma fórmula, quase um símbolo, quase uma frase. Uma ideia para que cada ser aprove uma medida de sua inteligência, de sua concepção deísta, ou puramente literária, ou intuitiva; por isso não a definimos. Tanto é assim que G.A.D.U. pode ser uma ideia, um princípio. Para uns, a Revolução. Para outros, a Evolução. Para todos, a encarnação do próprio pensamento de cada um, sem forma nem figura; sem culto nem adoração; sem amor nem temor; sem esperança nem dissolução.»
Também o Irmão René Guenon se refere ao assunto dizendo: «O Grande Arquitecto do Universo constitui unicamente um símbolo iniciático, que se deve tratar como todos os outros símbolos, e do qual se deve acima de tudo procurar criar uma ideia racional; ou seja, que esta concepção nada pode ter em comum com o Deus das religiões antropomórficas, que é não só irracional, mas inclusivamente anti-racional. No entanto, se pensarmos que cada um pode dar a este símbolo o significado da sua própria concepção filosófica ou metafísica, estamos longe de o associar a uma ideia tão vaga e sem significado como "o Incognoscível" de Herbert Spencer, ou, noutros termos, ao "que a ciência não pode alcançar"; e também é certo que, como diz com razão o Irmão Nergal, "se ninguém contesta que existe o desconhecido, absolutamente nada nos autoriza a pretender, como alguns fazem, que esse desconhecido represente um espírito, uma vontade".»
Em suma, parece haver uma considerável variedade de formas de entender a noção de GADU e em maior ou menor grau essa noção parece depender da crença de quem fala. No entanto o Irmão Jurado assume-se logo de início como cristão, mas mostra claramente que a sua crença religiosa não determina a sua forma de abordar o conceito de GADU.
Considerando que o espírito da Maçonaria é aberto e tolerante, parece-me que a noção de GADU deve ser suficientemente vaga para ser unificadora de todas as crenças e de todas as maneiras de pensar e sentir. Do mesmo modo, seria completamente alheio ao espírito maçónico que o nosso ideal de Liberdade fosse descrito como sendo o de um qualquer partido político. A Maçonaria, deve ser um navio cuja rota o leva a um mundo melhor onde reinem a Justiça, a Paz, o Amor e a Liberdade e da qual não deve ser desviado por ventos de cariz religioso ou político.
Autor: Carl Sagan
1 comentário:
A Arquitectura do mundo ou a sua ordem inteligível talvez não seja independente das nossas capacidades de a explicar, com os instrumentos da ciência e a nossa percepção crítica da realidade. Mas há um Grande Arquitecto, um sentido evolucionário, um substrato que nos define enquanto espécie humana? Mais que a religião e os seus dogmas que tantas vezes, demasiadas vezes, justificaram guerras sangrentas, mais que os deuses que reclamam vitórias venais, existe a consciência humana: é a consciência que nos imprime o sentido da realidade e a noção da justiça. O Grande Arquitecto é a nossa consciência, não importa que nome de deus tenha, ou nenhum nome desde que o pulsar da fraternidade esteja lá pois somos todos um só povo: a história e a ecologia comprimem-nos a um destino comum. (João Craveiro)
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