terça-feira, 8 de maio de 2012

Reflexões sobre a Iniciação


A Maçonaria é uma verdadeira escola de iniciação. Não é, como frequentemente circula nos meios profanos, uma associação fraterna com fins mais ou menos políticos. Ela é uma associação universal, sujeita às leis de cada país. Não se trata de uma sociedade secreta, mas de uma sociedade que tem um segredo. Um segredo que reside essencialmente no simbolismo dos ritos, sinais, emblemas e palavras. Um segredo cuja arquitetura sustenta simbolicamente o Templo de Salomão e a procura da palavra perdida. A arte de construir o Templo Ideal é o objetivo primordial a que se propõe a Maçonaria. Este Templo é em primeiro lugar o Homem e em seguida a Sociedade em que se insere.
Ao entrar na Maçonaria procuramos a fraternidade que nos falta no mundo profano. Descobriremos em seguida novos horizontes e o reconhecimento daquilo que somos e daquilo que é o Grande Arquiteto do Universo o que nos conduzirá a estados superiores de consciência.

A Iniciação Maçónica é uma cerimónia que consagra a admissão do candidato ao grupo ou ao grémio de que ele tem direito de fazer parte, admissão para a qual possui a idade e as qualidades requeridas. É um profano livre e de bons costumes que pede voluntariamente a sua entrada no Templo. Um profano já educado nos princípios básicos da Maçonaria, agindo portanto em plena consciência. Não nos tornamos Maçons como nos tornamos membros de uma sociedade profana porque a qualidade de ser Maçon é adquirida para a vida.  
É a mais importante cerimónia maçónica e o ato mais relevante da vida de um maçon. A sua origem não é apenas simbólica, mas resultou da necessidade que as antigas sociedades secretas sentiram de conservarem em rigoroso sigilo os seus mistérios e de propagar as suas doutrinas. As iniciações Maçónicas têm sido associadas ao longo dos anos aos chamados Antigos Mistérios. Os mistérios de Mitra, de Ceres, dos Essênios, têm sido colocados na base das iniciações Maçónicas. A iniciação é um processo contínuo que tem como finalidade proporcionar o desenvolvimento da identidade do Maçon. Nenhum Irmão deve pensar que a partir do momento do cerimonial, passa de Neófito para Maçon. A iniciação não é um processo de revelação espontânea. É o início de um caminho de aprendizagem através do tempo em direção à Luz efetuado por cada um dos Irmãos através de sinais cuja compreensão está no mais íntimo de nós. Cada Irmão descobre o seu caminho, partilhando ideais comuns. É deste modo que nos vamos aperfeiçoando até nos tornarmos verdadeiros maçons.  
Na iniciação maçónica, o profano, “ao receber a luz”, facto que jamais será poderá ser apagado da sua consciência, torna-se aprendiz maçon; o seu trabalho principal consiste em “debastar a pedra bruta” e para isso bastam-lhe dois instrumentos: o malho e o cinzel. Aliás o caminho do aprendiz é marcado por etapas bem precisas: o despojamento dos metais; a permanência na câmara de reflexão; a passagem pela porta baixa; as três viagens; a luz, a aprendizagem silenciosa. Portanto desde o início, o seu caminho parece traçado e tudo lhe é sugerido.  
O abandono ou despojamento dos metais é uma etapa breve do caminho do aprendiz. Significa o abandono das ligações profanas e de todos os preconceitos acumulados ao longo dos anos. Os metais representam tudo aquilo que brilha e na simbologia maçónica quem aspira a uma iniciação verdadeira precisa aprender a separa-se de coisas fúteis, dos fogachos da vaidade e de todos os sinais de fortuna.

A Câmara de Reflexão é lugar e símbolo de meditação. Ao isolar o profano num local subterrâneo, iniciam-se as cerimónias de iniciação. Este isolamento lembra aquele que precede as cerimónias tradicionais. O candidato é isolado no meio de objetos que lhe lembram a morte e a simbologia maçónica. 
A permanência nesta câmara constitui a primeira das purificações, a purificação pela terra. V.I.T.R.I.O.L. – Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem – é precisamente o convite feito ao candidato para descer ao fundo de si mesmo, morto de alguma maneira para a vida profana, prepara-se para uma vida nova.

O Templo é uma imagem do mundo. Mas do mundo sacralizado pelo Grande Arquiteto do Universo, por referência a Salomão. A primeira vez que o neófito entra no Templo é através da “porta baixa”. Esta entrada marca a passagem do mundo profano ao mundo sagrado. A partir desse momento, o mundo será apenas um grande templo que o neófito terá de decifrar e descrever.  
No Templo, as viagens simbólicas acompanhadas de provas que são ao mesmo tempo instrumentos de purificação. Purifica-se por etapas sucessivas. Mas ele ainda se encontra nas trevas e aspira à Luz. A Luz é o símbolo da Consciência, o símbolo do acesso ao Conhecimento e à Verdade última. As purificações que acompanham estas viagens recordam que o homem nunca está suficientemente puro para frequentar o Templo da filosofia, da sabedoria e do conhecimento.

Mas a Iniciação é mais do que uma cerimónia simbólica. Requer-se do profano adesão e empenhamento. O profano deve ligar-se voluntariamente à Ordem Maçónica por compromissos que correspondem ao essencial do espírito maçónico: respeitar a lei do silêncio, ajudar os Irmãos, ser assíduo e trabalhar no seu aperfeiçoamento.
Se o rito de iniciação se define como um rito de passagem – um profano torna-se um maçon – é preciso não esquecer que a cerimónia de iniciação transformou-se também em última análise numa cerimónia de acolhimento. Um novo Irmão foi reconhecido, aceite e finalmente acolhido pelos membros da sua Loja, escola de ensino mútuo, assim como por todos os outros Maçons da sua Obediência e da Maçonaria universal.

Autor: Louis Pasteur


Fernando Pessoa - Iniciação

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiran-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não 'stás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte!


1 comentário:

reytryer@hotmail.com disse...

A.'. G.'. D.'. G.'. A.'. D.'. U.'.
E´ um grande prazer ter voces como meur II.'. Um T.'. F.'. A.'.