Durante o meu já longo e algo atribulado percurso de vida experienciei imensas situações que originaram, felizmente, sentimentos de gratidão.
Assim o tema a que me propus debruçar no presente trabalho é a Gratidão que considero ser, sem dúvida alguma, um dos mais nobres sentimentos do ser humano.
Importa desde já, estabelecer a diferença entre sentimento e emoção.
Uma emoção é a resposta cerebral a um estímulo determinando automaticamente reações físicas mais ou menos percetíveis (p. ex o choro). No entanto as emoções são passageiras podendo ou não, gerar sentimentos (tristeza).
Por sua vez os sentimentos sendo o resultado de uma experiência emocional, apesar de serem menos intensos que as emoções duram muito mais tempo. De modo geral, os sentimentos são vistos como uma disposição mental perante algo ou alguém.
Debrucemo-nos então sobre este notável sentimento que é a gratidão.
Etimologicamente a palavra gratidão é um substantivo feminino derivado do termo latino gratus, que significa estar agradecido ou ser grato. Simultaneamente tem origem em gratia, que em latim quer dizer graça.
Gratidão traduz o reconhecimento de um benefício recebido de alguém que o fez sem esperar nada em troca.
A gratidão pressupõe assim, o bem despretensioso, sem interesses, contrapartidas ou qualquer tipo de compensação.
No relacionamento interpessoal jamais se deve impor condições a fim de se conceder um favor, pois o elo que se criaria seria destrutivo. A gratidão não exige retribuição, pois tal descaracterizaria o bem pelo bem. É um ato voluntário que beneficia ambas as partes pois quem faz o bem sente-se feliz por ter contribuído para o benefício do outro.
As pessoas assim envolvidas experienciam a formação de elos ficando ligadas por esse ato que se eterniza nas suas vidas.
A gratidão expressa a satisfação íntima com tudo o que lhe é concedido. É ter consciência do valor de ser beneficiado por algo ou alguém.
Dizer obrigado de forma consciente, reconhecendo o desprendimento do outro, abre portas para o nascimento de relações mais equilibradas e estáveis pois à gratidão associam-se uma série de outros sentimentos, como o amor, a fidelidade, a amizade e a reciprocidade.
Manifestar a gratidão é imprescindível para que percebamos o sentido da vida, valorizarmos mais o muito que nos acontece e assim sermos mais felizes.
Como expressões do sentimento de gratidão, temos as interjeições (são consideradas “palavras-frases”), “obrigado/a” e “bem-haja”.
Obrigado, do latim obligatus, é uma palavra que deriva como particípio do verbo obrigar, “obligare”, que tem o sentido de “amarrar”, "ligar moralmente, por uma obrigação, favor ou gentileza". É daqui a origem da ideia de comunhão entre o favorecido e o provedor do favor.
Ao usarmos como forma do nosso agradecimento a palavra “obrigado” estamos a reduzir a expressão que completa seria “fico-lhe obrigado”, ou seja “fico-lhe ligado pelo favor que me fez”. Mas na realidade quando se está grato, não se está ‘obrigado’ a nada. Tal não implica um compromisso subserviente de disponibilidade nem exige retribuição. Temos sim, para com o outro o desejo de lhe retribuirmos, fazendo-lhe bem de algum modo. É pois, criado um laço de união entre as pessoas que se sentem obrigadas umas para com as outras.
O fundamento de dizer obrigado é simplesmente mostrar que reconhecemos o valor da atitude que nos beneficiou.
Devemos, pois, ser gentis/amáveis uns com os outros e relacionarmo-nos por amor e não “por favor”. O ideal seria substituir o “obrigado” pelo “agradecido” ou “grato” e o “por favor” pelo “por gentileza” ou “por amabilidade”.
“Bem-haja” como expressão de gratidão, é uma forma de agradecimento equivalente a "tenha tudo de bom" em relação a algo ou a alguém.
“Não se agradece em Maçonaria”. Desde que fui iniciado o tenho ouvido dizer. Sobre isto, não encontrei nada nem escrito e consequentemente, nem justificado. Deduzo que se refere ao facto da grande união que deve existir entre os obreiros. É como sejamos “um só”. Qualquer coisa, atitude, gesto ou acção, que se execute a favor de um irmão é como se fosse ele próprio a fazê-lo. Será pois “de mim para mim”.
Penso que será este o fundamento do “não ser necessário o agradecimento entre irmãos”. Mesmo partindo do princípio desta “não obrigação” é minha firme convicção que o devamos fazer. É uma atitude de “boa educação” e correção nas relações sociais o expressarmos o quanto nos foi favorável o que recebemos de quem o fez de uma forma desinteressada sacrificando no mínimo o precioso tempo da sua própria vida.
Concluo, frisando o dever e a obrigação de demonstrarmos de uma forma clara por palavras gestos e atitudes que nos sentimos gratos a quem nos despertou esse sentimento, pois tal não só o reforça de per si como também nos aumenta o sentimento de felicidade ao constatarmos que o outro teve consciência do resultado e da importância do seu ato para connosco.
Termino dizendo apenas Muito Obrigado por tudo (de bom e de menos bom) que já vivi convosco que seguramente me enriqueceu como pessoa fazendo de mim o que hoje sou.
Autor: João Bosco
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