Voar, é um objectivo, uma vontade, que invade o espírito de Homem desde os primórdios da humanidade, nenhuma cultura nega essa vontade e o céu foi sempre um lugar especial, a morada dos deuses ou um universo cheio de mitos e lendas desenhados nas constelações. Outrora, era um lugar cheio de divindade somente alcançado por homens especiais e homenageados pelos deuses.
O acreditar, o delinear objectivos e sem duvida a vontade de vencer limites, barreiras levou o Homem a encontrar meios de atingir o céu e tornou-o parte do nosso quotidiano, uma realidade que uniu culturas e facilitou o desenvolvimento da Humanidade. Um exemplo desse desejo é a interessante história sobre Dédalo, relatada na mitologia grega.
“Ícaro era filho de Dédalo, o construtor do labirinto que o rei Minos aprisionava o Minotauro, um ser com corpo de homem e cabeça de touro. A lenda grega conta que Dédalo ensinou Teseu, que seria devorado juntamente com outros jovens pelo monstro, como sair do labirinto. Dédalo sugeriu que ele deveria utilizar um novelo que deveria ser desenrolado a medida em que fosse penetrando no labirinto. Dessa forma, após ter matado o monstro ele conseguiu fugir do labirinto. O rei Minos ficou furioso e prendeu Dédalo e o seu filho Ícaro no labirinto. Como o rei tinha deixado guardas a vigiar as saídas, Dédalo construiu asas com penas dos pássaros colando-as com cera. Antes de levantar vôo, o pai recomendou a Ícaro que quando ambos estivessem voando não deveriam voar nem muito alto (perto do Sol, cujo calor derreteria a cera) e nem muito baixo (perto do mar, pois a humidade tornaria as asas pesadas). Entretanto, a sensação de voar foi tão estonteante para Ícaro que ele esqueceu a recomendação e elevou-se tanto nos ares a ponto da previsão de Dédalo ocorrer. A cera derreteu e Ícaro perdeu as asas, precipitando-se no mar e morrendo afogado.”A realidade torna impossível de facto, voarmos com asas como imaginou Dédalo, o ser humano não consegue voar batendo asas porque ele não tem força física suficiente para levantar o seu peso. Há outras maneiras de nos fazer voar, muito mais eficientes, para voarmos é importante encontrarmos meios e coragem para levantar voo nunca esquecendo a prudência necessária que permita a uma calma e tranquila aterragem.
O Homem por acreditar, cruzou os céus e não deve esquecer estas asas, deve sim interiorizá-las como sendo as da imaginação humana que, ao tentar obter o que lhe parece impossível, acaba sempre por criar novos, e mais ousados, objectivos. Por acreditar na liberdade de pensamento e na concretização e materialização dos nossos projectos e objectivos, fundamentado em valores que validaram esses propósitos que renasci Ícaro.
As asas, o acreditar, vão dar-me força e coragem para voar mais alto de forma ponderada e evitar acções impensadas e precipitadas que me levem a aterragens bruscas ou desastrosas.
Tendo o mito em mente, torna-se mais claro que deveremos sempre pensar nas consequências reais dos nossos actos e o impacto que eles possam vir a ter na vida de terceiros e da nossa família.
Enquanto que a ousadia de Ícaro é certamente um dos mais importantes aspectos da mente humana, é também necessário viver com a prudência de Dédalo, sem a qual algumas decisões se podem tornar muito perigosas. Há que saber quando se deve arriscar e quando se devem retrair os impulsos curiosos.
Por acreditar nas minhas asas e a coragem as fazer levantar voo que me apresento com todo o agradecimento de me ter sido dada a oportunidade de com elas poder fazer parte desta família que acredita em voos tão grandiosos como tornar este mundo, num mundo melhor com base na Liberdade, Fraternidade e Igualdade.
Por acreditar renasci Ícaro.
Autor: Ícaro
2 comentários:
Um texto que merece uma reflexão cuidada, uma texto com imensa luz.
Parabéns.
Raúl Mesquita disse...
Meu Querido Irmão: Ícaro voa, Prometeu fê-lo, chegando ao Olimpo, mas também Lucífer o fez: trouxe a luz ao Homem( e, literalmente, do ponto de vista linguístico!) É necessário compreender o sentido profundo do chamado " anjo caído" na mitologia teogónica e cosmogónica dos Antigos. A interpretação literal hebraico-cristá tem trazido grande injustiças... basta olhar para o passado e para o presente... Distingo a prática das instituições religiosas, note-se, da crença de cada um. Raúl Mesquita.
Sábado, 28 Novembro, 2009
Enviar um comentário