
Soterrada nas fundações da catedral estará o que resta da grande mesquita de Évora. Gerações e gerações de culturas ergueram os seus templos naquele mesmo lugar. Mas hoje, o que nos fica é a romano-gótica Catedral dedicada a Santa-Maria que dentro da igreja podemos encontrar por duas vezes em estátuas onde está sempre representada grávida: a Senhora do Ó.
Todos os degraus da escadaria principal estão gravados com misteriosos símbolos: esquadro, nível, prumo, assinaturas encriptadas, marcações das passagens solsticiais. Mesmo abaixo do olhar dos apóstolos, em Pedras Cúbicas e Polidas, os Mestres da Grande Construção Operativa dos Templos deixaram subtis sinais para que fossem reconhecidos por outros que ao chegar e sendo detentores dos segredos dos seus significados se soubessem guiar no gigantesco projecto de construção de «Santa-Maria».
À entrada da catedral eis os sinais deixados ao futuro pelos Maçons, que ao trabalharem nas partes inferiores da edificação, confiavam que mesmo depois da sua morte outros viriam e continuariam, pedra a pedra, a construção até que no zénite do edifício a flecha da catedral flamejasse sobre a cidade.
Cá fora o calor aperta. Quarenta graus. Num movimento lento percorro as marcas gravadas com os dedos. Os símbolos parecem despertar sob as minhas mãos. Com surpresa, descubro um pequeno sol e uma lua. Percorridos todos os sinais da escadaria diríamos estar preparados para dar entrada no templo. Estaremos? A porta abre-se, ao fundo, sobre o altar, um triângulo radioso com um olho pintado. Não somos nós que o olhamos mas «ele» que nos olha.
Mais uma vez, pelo chão, mais sinais gravados fazem-nos baixar a cabeça. Como se cegássemos. Vinda do interior da terra uma voz faz-se ouvir: «Que queremos para este nosso irmão?» depois de uma pausa, olhando de novo o triângulo, outra voz se ergue dos Elementos: «A Luz!».
Autor: Hugo Pratt