Em mais este passo de caminhada para o Conhecimento, a tarefa que me foi atribuída foi a de vos trazer uma prancha sobre um dos Símbolos da Nossa Ordem.
A simbologia é de importância fundamental, estando presente em todos os rituais e objectos usados. Eles contêm um significado próprio e não imediato, que os torna representações de conceitos mais profundos e ricos. O estudo dos nossos símbolos é assim primordial para aceder aos conhecimentos ancestrais em que se assenta a Nossa Ordem e que nos guiam na caminhada em que procuramos rectificar a Pedra Bruta de que somos constituídos na almejada Pedra Cúbica.
Devo dizer que a escolha foi imediata: o Fio de Prumo.
Dito isto, falhei redondamente nesta tarefa.
Com efeito, ao buscar mais conhecimento sobre este Símbolo e seus significados, percebi que não só ele só pode ser entendido na plenitude quando associado ao Nível, como, olhando mais atentamente, percebemos que ele é um elemento do próprio Nível, já que este Símbolo é composto de um Fio de Prumo e um Esquadro.
Assim, optei por alargar o traçado desta prancha, alcançando a descrição e o meu entendimento sobre cada um deles e o seu efeito combinado. Reconhecendo que qualquer deles são símbolos de um Grau que ainda não atingi, assumo que está limitada a minha capacidade para aceder à plenitude do entendimento sobre os mesmos, mas permitam-me que, não obstante estes constrangimentos, me lance a esta obra, a qual irei maturar e evoluir à medida que aceda a mais e melhor conhecimento sobre cada um destes símbolos.
Começando então com o Fio de Prumo, é provavelmente o mais singelo dos instrumentos de um Maçon. Bastará atar um qualquer objecto pesado que sirva de pêndulo na ponta de um cordel e a força da gravidade tratará de nos garantir a preciosa indicação da vertical, fundamental à construção de um edifício sólido. Menos óbvio, mas igualmente importante é o facto de o Fio de Prumo nos dar a projecção de um ponto do edifício ao plano horizontal, também isso fundamental para garantir um edifício justo e perfeito (referes-te ao Nosso plano interior?).
Do ponto de vista simbólico este símbolo da joia que adorna o 2º Vigilante representa a profundidade do conhecimento e sua verticalidade, bem como a relação como o Alto, nessa ligação entre a profundeza de onde emana a força gravítica, até à vastidão da Abóboda Celeste (conforme encontramos em A Simbólica Maçónica - Jules Boucher). É com a orientação do Fio de Prumo que poderemos descer à profundeza do nosso interior para nos descobrirmos, onde devemos buscar o aperfeiçoamento, para de seguida poder subir aos altos graus de conhecimento e espiritualidade.
Existe também uma conotação com verticalidade de carácter que se espera de um Maçon que, como disse atrás, foi a razão inicial para a escolha deste símbolo para esta prancha.
Olhando agora ao Nível, ele é constituído por algo que permita assentar em dois pontos de uma recta, com um fio de prumo a mostrar que ambos estão nivelados quando o mesmo encontra na em ângulo recto com a linha definida pelos pontos onde o nível está assente.
Esta configuração permite aferir a horizontalidade dos pontos em que está assente, sendo de fundamental importância para o correcto alinhamento das superfícies durante a sua construção.
A representação varia consoante a bibliografia, mas a que considero mais rica do ponto de vista simbólico é a que se faz através da conjugação do Esquadro de braços iguais e do Fio de Prumo. É, de resto, essa que podemos encontrar, por exemplo, na escadaria do nosso Palácio Maçónico ou na joia que adorna o 1º Vigilante.
Do ponto de vista simbólico, ele representa a Igualdade, não do que somos, pois existe sempre o espaço à individualidade, mas dos direitos e responsabilidades que temos enquanto seres humanos e Maçons (Plantageneta citado por Jules Boucher em A Simbólica Maçónica).
É para mim interessante que seja este o símbolo da joia que adorna o 1º Vigilante.
Existe uma corrente, expressa pelo autor já citado, que defende que, pelo facto de conter ele próprio um Fio de Prumo, o Nível é um instrumento mais completo, logo mais adequado a adornar o único em Loja que pode substituir o V∴ M∴ na ausência deste.
Ainda que sem ter encontrado referências, depreendo que, por ser uma combinação das joias que adornam 2º Vigilante (o Fio de Prumo) e o Venerável (Esquadro), ele representa a síntese une as três principais luzes da Loja num contínuo.
Interrogo-me também se a escolha do símbolo da igualdade não estará ligada ao exemplo a passar aos Companheiros que o 1º Vigilante acompanha, os quais, estando a avançar no seu caminho de conhecimento, não podem deixar de vista a humildade de lembrar que, na base somos todos iguais e todos os Homens merecem o mesmo respeito, independentemente do caminho que seguem e das oportunidades que têm.
Analisados que estão estes dois símbolos individualmente, queria olhar para eles de forma combinada.
A vertical e horizontal, associadas a cada um destes símbolos, são exemplos das polaridades universais que, sendo opostas, interagem entre si e se complementam.
Assim acontece com os símbolos que as representam; juntando os dois, vemos que é formada uma Cruz, a qual carrega todo um simbolismo que irá para além daquilo que me proponho traçar nesta prancha. É no entanto um símbolo que transmite a noção de equilíbrio, conjugando os conceitos de igualdade e verticalidade num todo que representa o Homem.
Tratando-se dos Símbolos que adornam ambos os Vigilantes, principais auxiliares do Venerável na condução da Loja, a correlação de ambos é também expectável. Ambos trabalham em conjunto pelas mesmas causas olhando por colunas ortogonais entre si, e assim complementando-se, um representado pelo Vertical (Activo) e outro pelo horizontal (Passivo), também aqui com a representação das polaridades opostas.
Por fim, e uma vez que o Esquadro aparece como elemento constitutivo do Nível, quero debruçar esta análise sobre este símbolo que adorna o Venerável Mestre, completando assim a tríade que dirige os trabalhos da Loja.
Composto por dois segmentos de recta formando um ângulo de 90º, o Esquadro é, segundo Ragon, o instrumento que permite tornar os corpos quadrados.
Ele representa Matéria (daí ser um símbolo passivo) e a acção do Homem sobre a mesma para a rectificar, com um directo paralelo para a acção do Homem sobre si mesmo com o objectivo de caminhar no sentido de se tornar justo e perfeito.
Esta joia é a que adorna o Venerável Mestre, pois representa a missão deste ajudar os maçons da loja na busca da melhoria no caminho nunca alcançado da perfeição, pelo que é necessário a rectidão providenciada pelo Esquadro para permitir desbastar a Pedra Bruta para a transformar em Pedra Cúbica.
Nesta joia os braços do esquadro não são iguais, antes têm uma relação de três por quatro, que alude directamente ao Triângulo Pitagórico, ficando o lado mais comprido para o lado direito para simbolizar a predominância do activo (lado direito) sobre o passivo (lado esquerdo).
É igualmente interessante observar que com dois esquadros podemos formar uma Cruz ou um Quadrado, mas estes são temas que, como atrás mencionado, não irei aprofundar nesta prancha
Certo de que não terei trazido nada de fundamentalmente novo, ficarei satisfeito se este traçado tiver servido para reavivar nos Vossos espíritos a riqueza deste símbolos. É com a utilização combinada deles que se consegue erguer um templo mais alto, belo e sólido, capaz de enfrentar os abalos do mundo exterior. E se assim é na representação do que é a nossa Loja, também o é, necessariamente, no nosso Templo Interior.
Autor: Damião de Goes
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