António Arnaut define a Maçonaria como “uma Ordem iniciática e ritualística, universal e fraterna, filosófica e progressista, baseada no livre-pensamento e na tolerância, que tem por ser mais livre, justa e igualitária”.
Jules Boucher indica que a Maçonaria “guarda bem vivas certas formas tradicionais dos ensinamentos secretos iniciáticos”, centrando-se na Tolerância e abrindo o caminho ao Conhecimento através dos seus símbolos.
A Maçonaria como a conhecemos actualmente é Especulativa ou Filosófica e assim vincadamente Simbólica. É Iniciática pois quando somos submetidos à cerimónia de iniciação, inicia-se o percurso na de busca da “Luz”. Somos igualmente uma Ordem Ritualista, como Arnaut refere as “reuniões obedecem a determinados ritos, que traduzem simbolicamente, sínteses e sabedoria, remontando aos tempos mais recuados”.
Na Ordem Maçónica, existe um Painel ou Traçado onde estão gravadas figuras alegóricas, que servem de instrução e identificação do Grau em trabalhos. A palavra Painel relaciona-se com o Inglês panel, com o Francês panel, “almofada de sela, pedaço de pano”, derivando do Latim pannellus, diminutivo de pannus, “trapo, pedaço de tecido”.
Na antiguidade qualquer local que oferecesse alguma privacidade podia ser usado para constituir uma Loja, onde podiam ser desenhados símbolos maçónicos no chão, com carvão ou giz, do respectivo grau em que a loja iria entrar em trabalhos, no final da sessão os símbolos seriam apagados, desvanecendo-se assim a prova que a mesma teria ocorrido.
Procurei identificar a simbologia presente no Painel de Aprendiz e em primeiro lugar socorri-me da definição que António Ventura faz de Aprendiz: “Titulo do 1 grau de todos os ritos maçónicos. Representa aquele que começa a aprender, o “estagiário”, o Homem na sua primeira infância, carente de protecção, apoio e ensino que trabalhará no desbaste da “Pedra Bruta”, de forma a conhecer-se a si próprio e a libertar-se progressivamente dos preconceitos da vida profana”.
De seguida tentei identificar todos os elementos que compõem o painel dividindo os mesmos 3 três grupos: O grupo que denominei dos Astros: Sol, Lua e Estrelas; O Grupo do Templo: Corda, Colunas, Triângulo, Porta do Templo, Degraus, Chão em mosaico e Janelas; e o Grupo do Trabalho: Esquadro, Nível, Prumo, Compasso, Régua, Maço, Escopro, Pedra Bruta, Pedra Cúbica e Prancha. Realço aqui que a divisão anterior foi apenas para organizar a enumeração e não classificar de qualquer forma os símbolos.
Finalmente iniciei o “desbaste da pedra bruta” estudando estes elementos pois sendo eles as figuras alegóricas, que servem de instrução e alicerçam o Grau de Aprendiz revestem-se de uma importância fundamental no caminho para a Luz. Todos os símbolos por si só poderiam e/ou deveriam ser alvo individual de um trabalho, no entanto para ter uma visão mais abrangente do painel e da relação entre os símbolos senti a necessidade de abordar o painel como um todo tentando retirar o significado mais adequado de cada um dos símbolos, já que por vezes verifiquei interpretações distintas sobre os seus significados, procurando salientar os aspectos que me parecem mais relevantes.
Grupo dos Astros: Sol, simboliza a vida, a Saúde, o equilíbrio e a Força. Está associado ao princípio activo, ao masculino, ao poder criador; Lua, como reflexo do Sol, simboliza também a vida e a Saúde, no entanto sem a pujança do astro anterior. Representa também. como principio passivo e feminino é igualmente o símbolo da instabilidade, da mudança, da imaginação, da sensibilidade bem como da fecundidade; Estrelas, Simbolizam o Homem nos seus aspectos físico, emocional, mental, intuitivo e espiritual e a ligação com o Grande Arquiteto do Universo simbolizando assim a paz e a amizade fraternal;
Grupo do Templo: Corda ou Cordão Nodoso, com nós e borlas nas extremidades que se encontra na decoração de qualquer Templo, simboliza a união Fraterna entre os Maçons ligados por um laço indivisível quer na loja quer na vida Profana. Transpomos este simbolismo para o nosso ritual mediante a Cadeia de União onde fraternalmente nos unimos invocando todos os que nos antecederam nessa ligação; Colunas, na entrada do templo as colunas J e B que simbolizam as colunas do Templo de Salomão. Ambas as colunas estão ornamentadas com romãs, estas simbolizam a unidade entre maçons, separados na sua individualidade mas que se unem num todo. Símbolos dos limites do mundo criado, da vida e da morte, do elemento masculino e do elemento feminino, do activo e do passivo e da Loja e do mundo Profano; Triângulo, verifica-se aqui o Delta Flamejante na parte superior da porta do templo, símbolo da força e em constante expansão representando o Grande Arquitecto do Universo. O Triângulo é um símbolo com diversas interpretações: luz, trevas e tempo; passado, presente e futuro; sabedoria, força e beleza; nascimento, vida e morte; liberdade, igualdade e fraternidade. De resto o número 3, número perfeito está presente permanentemente, sendo associado à perfeição por diversas religiões e tradições e pode ser considerado como símbolo do equilíbrio dos pólos positivo e negativo para criar o neutro. Porta do templo: é o símbolo da construção maçónica, objectivo dos Maçons. Situa-se no Ocidente recebendo a sua Luz do Oriente. Está fechada e representa protecção de uma eventual intromissão do mundo profano; Degraus, a porta do templo é antecedida por uma escada com três degraus que simbolizam o Aprendiz na sua vertente profana, o seu corpo, alma e espírito e o esforço que este tem de fazer para se libertar do plano físico e astral para evoluir; Chão em mosaico, o chão de quadrados pretos e brancos, com que são revestidos os templos simbolizam a diversidade e a conjugação dos opostos que são unidos pela Maçonaria, o bem e mal, o espírito e corpo, a luz e as trevas, o masculino e o feminino, a vida e a morte, etc. Assim pela oposição dos contrários temos os contrastes e dos contrastes vem o equilíbrio e a evolução; Janelas, simbolizam as três portas do templo de Salomão colocadas a Oriente, Sul e Ocidente, representam as 3 posições do Sol: o Oriente, o Meio-dia e o Ocidente. Nenhuma janela se abre para o norte e as 3 são cobertas por uma rede de arame, simbolizando que a luz ilumina o templo, mas o que está fora, fora permanece e o que está dentro, lá fica. Ou seja, as sessões não devem ser perturbadas por eventos externos e o que dentro se realiza não deve ser divulgado no mundo profano.
Grupo do Trabalho: Maço ou malho, simboliza o martelo, emblema da vontade activa, do trabalho e da força. É um instrumento de trabalho braçal e pesado, em que se emprega a força, associado aos trabalhos na Pedra; Escopo ou cinzel, simboliza a força e a tenacidade, o discernimento e os conhecimentos adquiridos, sendo o símbolo do trabalho inteligente; Compasso, símbolo do espírito, do pensamento nas suas diversas correntes. Estamos perante o relativo simbolizado pelo círculo que depende de um ponto inicial ou absoluto. Os círculos traçados com o compasso podem representar as lojas e ao colocar vários círculos perto uns dos outros percebemos que o temos de fazer com equilíbrio, de uma forma justa e perfeita pois a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros; Régua, é o símbolo da rectidão, do método e da Lei. Face a simbolizar igualmente unidade de medição simboliza o aperfeiçoamento da Obra; Prumo, simboliza o aprofundar do conhecimento e a rectidão. Significa ainda a elevação do progresso social. O Prumo, utilizado pelos pedreiros para conseguir o alinhamento vertical, representa a profundeza na observação, a justiça e a moral que cada Maçon deve desenvolver nos seus actos; Nível, símbolo da igualdade e imparcialidade pois coloca todos ao mesmo nível. Remete-nos para o emprego correto dos conhecimentos apreendidos com a utilização que os Pedreiros faziam do mesmo na busca da horizontalidade; Esquadro, símbolo da rectidão, é originado da união da linha vertical com a linha horizontal e assim representa a acção do Homem sobre a matéria, sobre o que o rodeia e sobre si mesmo. Remete para a necessidade de os actos espelharem os nossos ideais, ou seja, que devemos regular a nossa conduta com elevados valores Morais mesmo quando é o caminho mais difícil a trilhar; Pedra Bruta, simboliza as imperfeições que o Aprendiz deve corrigir e a sua liberdade total para esse percurso. Na iniciação e ao utilizar pela primeira vez o escopro na pedra bruta sente-se uma espécie de inicio dos trabalhos que não cessarão, pois a Pedra Bruta simboliza a personalidade profana do Aprendiz, as suas imperfeições e com os instrumentos que lhe são dados, ele próprio trabalhará a a sua Pedra Bruta, tornando-a o mais perfeita que lhe for possível e dando-lhe o seu cunho pessoal. Assim, podemos considerar que a Pedra Cúbica é a evolução da Pedra Bruta após o aprendiz ter conseguido dominar as próprias paixões e libertar-se dos seus preconceitos polindo a sua personalidade; Prancha de traçar, corresponde ao papel onde o Mestre estabelece seus planos e significa que o Maçon deve traçar seus planos para os trabalhos que estão a ser executados. É assim a representação do Mestre Maçon, que por já ter atingido a plenitude das suas faculdades pode intervir na Loja e trabalhar por si e orientar e ensinar quando necessários os seus membros.
Após as leituras efectuadas e reflectindo sobre os símbolos e os seus significados, sobre o motivo de estarem representadas as ferramentas de trabalho, considero que todos os elementos do Painel se interligam para um fim comum e são necessários para perceber o caminho para a Luz, para a construção de um Mundo mais justo e perfeito e assim complementares e indissociáveis. Representam a entrada no Templo e o trabalho que continuamos a desenvolver. Raul Rego ao fazer um enquadramento sobre a Maçonaria em Portugal escreveu “recuperada a Liberdade há que lutar para que ela se não perca mais, vivendo-a intensa e consciente e fazendo compreender a todos que a base do progresso social e material está nos valores humanos e no respeito da inteligência dos direitos do Homem”. Ao ter nas Lojas os símbolos referidos anteriormente, lembrar-nos-á sempre pelo seu estudo e apreensão dos seus significados que temos de continuar a lutar para garantir a Força dessa Liberdade, pois só Livres podemos ser Iguais, só Iguais podemos ser Fraternos sendo estes três conceitos indissociáveis uns dos outros e nos permitem continuar na procura da Luz, grau a grau, evoluindo para melhor combater a Tirania e a ignorância todos os dias num trabalho que nunca deixaremos acabar, transbordando as nossas aprendizagens em Loja no nosso dia a dia no mundo profano exercendo a nossa Cidadania de acordo com os valores, nunca deixando que se tornem apenas em palavras proferidas entre Maçons.
Autor: Armindo Matias
Bibliografia: NAUDON, Paul, A
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História da Maçonaria em Portugal 1727-1986, Lisboa, Circulo de Leitores,
2013; CAMINO, Rizzardo da, Breviário
Maçônico, São Paulo, Madras Editora, 1999, 3ª Edição; BOUCHER, Jules, A Simbólica Maçónica, São Paulo, Editora
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