terça-feira, 30 de abril de 2019

Significado do nome simbólico - António Egas Moniz

Pouco antes do dia da cerimónia da minha iniciação, foi-me pedido que escolhesse um nome simbólico, o qual passaria a ser o nome por que seria conhecido enquanto maçon. A tarefa não se apresentava fácil, pois eu pretendia que fosse um nome que invocasse alguém que pudesse ter vivido a sua vida de acordo com os princípios maçónicos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mas que tivesse também tido uma presença de relevo e meritória na nossa sociedade. E, já agora, de preferência alguém que tivesse sido maçon. Após pensar longamente sobre o assunto e ter ponderado algumas hipóteses que não preenchiam todos os requisitos, resolvi fazer uma busca na internet sobre Maçons ilustres e eis que dos resultados dessa pesquisa sai a luz e a solução quanto à escolha do nome. De entre os diversos nomes de ilustres Maçons que fizeram história na nossa sociedade, sobressaía desde logo um que preenchia todas as minhas condições, e ainda por cima tinha, de certa forma, uma ligação à minha família: António Egas Moniz.
De facto, Egas Moniz foi um homem de quem eu sempre ouvi falar em minha casa desde tenra idade, pois a minha avó e o meu avô padrasto tinham trabalhado em casa dele durante largos anos, ela como cozinheira e ele como motorista, tanto em Avanca como em Lisboa. Em casa da minha avó havia várias fotografias dele e as histórias sobre a sua maneira de ser, humilde, afável e humana sucediam-se. Tenho inclusive a felicidade de ter herdado dela um exemplar do terceiro livro que publicou: “A Nossa Casa”, assinado e com dedicatória ao meu avô.

Quem foi Egas Moniz?
Nascido António Caetano de Abreu Freire de Resende, foram-lhe acrescentados os nomes Egas Moniz por seu tio, abade de Pardilhó que, a partir de análises suas chegou à conclusão que a sua família descendia daquele famoso aio de D. Afonso Henriques, mencionado por Camões no Canto III dos Lusíadas.
Reza a história que, após a vitória de D. Afonso Henriques sobre sua mãe na batalha de S. Mamede, Afonso VII, que se intitulava imperador de toda a Hispânia e também do Condado Portucalense, cercou Guimarães para obter de D. Afonso Henriques, de quem era primo, um juramento de vassalagem. Egas Moniz dirigiu-se a Afonso VII comunicando-lhe que o primo aceitava a submissão, mas isso não veio a acontecer, pelo que, ao saber do sucedido, Egas Moniz apresentou-se com a sua família em Toledo, descalço e com uma corda de enforcado ao pescoço, oferecendo ao imperador a sua vida como penhor da promessa feita 9 anos antes.
Regressemos a António Egas Moniz. Político, médico, professor de neurologia, cientista e ensaísta, foi também o primeiro português, e durante largos anos o único, que logrou ser agraciado com o mais famoso e prestigiante de todos os prémios: o Prémio Nobel, atribuído pelas suas descobertas no âmbito da medicina, mais particularmente da Neurologia.
Nascido em 1874 em Avanca, próximo de Estarreja, era, segundo o próprio afirmava, ferozmente anti-liberal e intolerante face a qualquer esboço de inovação, tendo despertado para a política apenas nos seus tempos de estudante na Universidade de Coimbra, vindo a tornar-se membro do Partido Progressista e deputado em 1901.
Ao ser eleito deputado inicia uma vida ativa na política que se irá prolongar até ao início dos anos 1920, tendo a certa altura abandonado as fileiras do Partido Progressista para se colocar ao lado dos republicanos. Após a implantação da República será Deputado à Assembleia Constituinte, mas afastar-se-á em 1912 em desacordo com a ala radical do Partido Republicano, voltando depois em 1916 e ligando-se aos unionistas de Bernardino Machado que vieram a fundar o Partido Centrista Republicano.
Com Sidónio Pais no poder aceita os cargos de Embaixador de Portugal em Madrid e Ministro dos Negócios Estrangeiros. Com o assassinato de Sidónio Pais será destituído dos seus cargos, dedicando-se progressivamente à clínica, ao ensino e à investigação científica. Virá a ser nomeado quatro vezes para o Prémio Nobel, em 1928, 1933, 1937 e 1944, mas sem êxito. Conquistará por fim a glória em 1949, quando finalmente o Prémio lhe é atribuído.

Foi também durante este seu período de intervenção política que António Egas Moniz se tornou também ele maçon. De acordo com os registos do Grande Oriente Lusitano, Egas Moniz foi iniciado na Maçonaria na R. L. Simpatia e União em 1910. Dois anos depois, porém, muito provavelmente em consonância com a sua demarcação da ala dos Democráticos de Afonso Costa, abandona igualmente a Maçonaria. Ao longo da sua vida foi conhecido por participar em movimentos que arvoravam a causa da paz e manifestava o seu desacordo pela ausência de liberdades. Foi inclusivamente convidado a ser candidato à Presidência da República nas eleições de 1951, honra que não quis aceitar. Morreu em 13 de Dezembro de 1955 tendo deixado um importante legado científico ao nosso país e tendo servido de mestre a vários médicos portugueses de renome, como Lobo Antunes, Barahona Fernandes ou Almeida Lima.

Por tudo o que atrás ficou escrito, a escolha do meu nome simbólico recai sobre uma figura ímpar da nossa história, alguém que deixou marcas na nossa sociedade e no mundo, que defendeu a Liberdade e a Paz, que foi homem honrado e de princípios, maçon do Grande Oriente Lusitano, e imortalizado com o mais alto galardão internacional. Por todas estas razões, a escolha deste nome não podia ser mais justa nem mais perfeita, e só posso desejar que possa servir de inspiração para que eu possa seguir os seus passos em termos de caráter e defesa dos valores maçónicos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, procurando ser uma referência de integridade para todos os que se cruzarem comigo ao longo da minha vida.

Autor: António Egas Moniz

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