De facto, Egas Moniz foi um homem de quem eu sempre ouvi falar em minha casa desde tenra idade, pois a minha avó e o meu avô padrasto tinham trabalhado em casa dele durante largos anos, ela como cozinheira e ele como motorista, tanto em Avanca como em Lisboa. Em casa da minha avó havia várias fotografias dele e as histórias sobre a sua maneira de ser, humilde, afável e humana sucediam-se. Tenho inclusive a felicidade de ter herdado dela um exemplar do terceiro livro que publicou: “A Nossa Casa”, assinado e com dedicatória ao meu avô.
Quem foi Egas Moniz?
Nascido
António Caetano de Abreu Freire de Resende, foram-lhe acrescentados os nomes
Egas Moniz por seu tio, abade de Pardilhó que, a partir de análises suas chegou
à conclusão que a sua família descendia daquele famoso aio de D. Afonso
Henriques, mencionado por Camões no Canto III dos Lusíadas.
Reza
a história que, após a vitória de D. Afonso Henriques sobre sua mãe na batalha
de S. Mamede, Afonso VII, que se intitulava imperador de toda a Hispânia e
também do Condado Portucalense, cercou Guimarães para obter de D. Afonso
Henriques, de quem era primo, um juramento de vassalagem. Egas Moniz dirigiu-se
a Afonso VII comunicando-lhe que o primo aceitava a submissão, mas isso não
veio a acontecer, pelo que, ao saber do sucedido, Egas Moniz apresentou-se com
a sua família em Toledo, descalço e com uma corda de enforcado ao pescoço,
oferecendo ao imperador a sua vida como penhor da promessa feita 9 anos antes.
Regressemos a António Egas Moniz. Político, médico, professor de neurologia,
cientista e ensaísta, foi também o primeiro português, e durante largos anos o
único, que logrou ser agraciado com o mais famoso e prestigiante de todos os
prémios: o Prémio Nobel, atribuído pelas suas descobertas no âmbito da
medicina, mais particularmente da Neurologia. Nascido
em 1874 em Avanca, próximo de Estarreja, era, segundo o próprio afirmava,
ferozmente anti-liberal e intolerante face a qualquer esboço de inovação, tendo
despertado para a política apenas nos seus tempos de estudante na Universidade
de Coimbra, vindo a tornar-se membro do Partido Progressista e deputado em
1901.
Ao
ser eleito deputado inicia uma vida ativa na política que se irá prolongar até
ao início dos anos 1920, tendo a certa altura abandonado as fileiras do Partido
Progressista para se colocar ao lado dos republicanos. Após a implantação da
República será Deputado à Assembleia Constituinte, mas afastar-se-á em 1912 em
desacordo com a ala radical do Partido Republicano, voltando depois em 1916 e ligando-se
aos unionistas de Bernardino Machado que vieram a fundar o Partido Centrista
Republicano. Com
Sidónio Pais no poder aceita os cargos de Embaixador de Portugal em Madrid e
Ministro dos Negócios Estrangeiros. Com o assassinato de Sidónio Pais será
destituído dos seus cargos, dedicando-se progressivamente à clínica, ao ensino
e à investigação científica. Virá a ser nomeado quatro vezes para o Prémio
Nobel, em 1928, 1933, 1937 e 1944, mas sem êxito. Conquistará por fim a glória
em 1949, quando finalmente o Prémio lhe é atribuído.
Foi
também durante este seu período de intervenção política que António Egas Moniz
se tornou também ele maçon. De acordo com os registos do Grande
Oriente Lusitano, Egas Moniz foi iniciado na Maçonaria na R. L. Simpatia e
União em 1910. Dois anos depois, porém, muito provavelmente em consonância com
a sua demarcação da ala dos Democráticos de Afonso Costa, abandona igualmente a
Maçonaria. Ao
longo da sua vida foi conhecido por participar em movimentos que arvoravam a
causa da paz e manifestava o seu desacordo pela ausência de liberdades. Foi
inclusivamente convidado a ser candidato à Presidência da República nas
eleições de 1951, honra que não quis aceitar. Morreu
em 13 de Dezembro de 1955 tendo deixado um importante legado científico ao
nosso país e tendo servido de mestre a vários médicos portugueses de renome,
como Lobo Antunes, Barahona Fernandes ou Almeida Lima.
Por tudo o que atrás ficou escrito, a escolha do meu nome simbólico recai sobre uma figura ímpar da nossa história, alguém que deixou marcas na nossa sociedade e no mundo, que defendeu a Liberdade e a Paz, que foi homem honrado e de princípios, maçon do Grande Oriente Lusitano, e imortalizado com o mais alto galardão internacional. Por todas estas razões, a escolha deste nome não podia ser mais justa nem mais perfeita, e só posso desejar que possa servir de inspiração para que eu possa seguir os seus passos em termos de caráter e defesa dos valores maçónicos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, procurando ser uma referência de integridade para todos os que se cruzarem comigo ao longo da minha vida.
Autor: António
Egas Moniz
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