Segundo os ensinamentos de Francisco Ariza, “as individualidades, ou melhor, a ideia do individual e do particular que cada componente da cadeia pudesse ter de si mesmo, desaparece como tal, para formar um só corpo que vibra e respira a uma própria cadência rítmica”. A cadeia de união cria, assim, um círculo mágico e sagrado onde se concentra e flui uma força cósmica e telúrica que assimilada por todos os integrantes lhes permite participar do verdadeiro espírito maçónico e da sua energia salutar e regeneradora. Já se vê que para que tal ocorra, o ambiente deve ser tornado propício, com música de fundo, iluminação fraca e, principalmente, a concentração de todos os participantes.
Quem queira, no entanto, fazer um estudo, mesmo que perfunctório,
sobre este tema, logo se depara com algumas incongruências. Por exemplo, para
Francisco Ariza “a cadeia de união é também a representação da corda de nós
que encima o Templo, e ainda o bordo dentado (ou houpe dentalée) que aparece
figurada nos quadros de loja maçónicos, mais concretamente nos pertencentes aos
graus de aprendiz e de companheiro”. Para o maçon Luís Conceição, e no
mesmo trilho, “a cadeia de união é a dinamização, a tomada de acção, do
princípio sugerido pela corda que serpenteia nos três lados da Loja, ligando a coluna
“J” à coluna “B”, sem, contudo, as unir. E a razão pela qual o rito da cadeia
de união consiste na formação de um anel completo, enquanto que a sua homóloga
– a corda denteada que contorna parcialmente o Templo – não constitui um
círculo fechado, quedando-se de um lado a coluna “J” e do outro a coluna “B” é
que de facto as colunas não precisam de estar ligadas pela corda para formar um
círculo. O círculo é o Universo, o Infinito, tal como a Loja se estende do
Oriente ao Ocidente, do Sul ao Setentrião e do Zénite ao Nadir”.
Já para outros Autores tais conceitos não fazem sentido, pois a cadeia de união
é, por definição, constituída por elos, enquanto que os nós são formados por
uma só corda, que se entrelaça e prossegue, pelo que o nó não une. Por outro
lado, independentemente da dimensão universal do Templo, as duas colunas, constituindo
simbolicamente a sua porta, descontinuam-no, pelo que há rompimento da cadeia.
Deste modo, a houppe dentalée simbolizará, isso sim, o ovo ensimesmado
que é o Templo Coberto.
Deste modo, distinguindo a realidade da simbologia, pode-se dizer, com Luís
Clóvis Grassi, que “a cadeia de união constitui, no Rito Escocês Antigo e
Aceito, o coroamento de uma proveitosa sessão em Loja”, significando ou
podendo significar, mas apenas e tão-só simbolicamente, as mãos dadas, com os
braços entrecruzados, a corda de nós, e os pés unidos a orla dentada do quadro
da Loja. Porém, este significado simbólico será irrelevante para o sentir resultante da cadeia
de união para todos os intervenientes na mesma, como adiante se verá.
Outra incongruência detectada entre os diversos autores é como
a mesma é desfeita. Para uns, como Luís Clóvis Grassi, “a cadeia de união é
desfeita bruscamente, de forma a que se evite romper o equilíbrio estabelecido”;
para outros, como Benedito Alves do Nascimento, “os maçons, além disso,
poderão fazer uma saudação de regozijo abaixando e levantando os braços, sem
desfazer a cadeia”; já Sérgio Crisóstomo dos Reis e J. Drinks entendem que
“a quebra da cadeia deverá ser lenta e suave, para que a força de cada um se
estabilize no seu circuito fechado”.
Outros aceitam-na para outros objectivos, os mais variados, nomeadamente a
invocação de forças invisíveis e benéficas do macrocosmo, com vista ao
benefício das fraquezas do corpo, ou da matéria, como a doença, a ansiedade, a incompreensão,
o desânimo, a desconfiança, o infortúnio e mesmo o ódio. Conforme os ritos e as
obediências, encontram-se como objectivos da cadeia de união os mais díspares,
como demonstrar a igualdade entre maçons, a união e a fraternidade entre os
irmãos que fazem parte do corpo místico da Maçonaria Mundial, tanto no plano terrestre
como espiritual, comunicar-se com as energias celestes, ou seja, como canal de
comunicação da terra com o céu, entre outras.
Refira-se que “fora do templo” só se forma cadeia de união em homenagem
fúnebre a maçom falecido. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos
aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem
regularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boa vontade e com muito
em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que
todos trilharemos.
Como se pode ver, todas estas diferenças resultam do facto de estarmos perante
diversos ritos e obediências. Puseram-se em destaque, porém, para constatar,
não só que a cadeia de união está presente em toda a maçonaria, seja qual for a
forma que assuma, como para destacar que, com uma finalidade ou com outra, ela
é feita pelos maçons sempre com os nobres objectivos da Ordem Maçónica, em que
acreditam, pelo que podemos concluir que tais diferenças são irrelevantes e que
apenas demonstram que a Maçonaria não tem dogmas, mas Princípios.
Em todo o caso, não é só na Maçonaria que nós encontramos este tipo de cadeia. Na verdade, ela já estava presente na vida do homem primitivo, sentado em forma de círculo para melhor aproveitar o calor em torno da fogueira, assim organizados socialmente próximos uns dos outros e em posição de igualdade perante cada um dos seus próximos; ela está também presente nas danças de roda das crianças, em que todas dão as mãos, começando desse modo a criar com os seus condiscípulos os laços de amizade que os irão acompanhar o resto das suas vidas; os desportistas, nos desportos colectivos, formam uma roda antes dos jogos, abraçando-se e dizendo palavras de incentivo, com vista a que cada indivíduo se torne um elo mais forte do grupo.
Vale a pena, pois, ver se há alguma explicação científica, ou mesmo
paranormal, que explique estes comportamentos. Luís Conceição, já atrás citado,
relata uma experiência que terá sido realizada em 1932 por Jacqueline
Chantereine e Camille Savoire, que terão detectado no interior e em torno do
organismo humano movimentos turbilhónicos e ondulatórios. Estes seriam
produzidos por energias radiantes provenientes de tudo o que nos envolve: acção
cósmica, proveniente da energia solar, à qual se junta a da lua e dos restantes
astros. A resultante destas acções energéticas desenvolve-se sob a forma de um
turbilhão que penetra pelo lobo anterior da hipófise para terminar no dedo
grande do pé direito. Esta força conflitua com uma força energética, dita telúrica,
que se manifesta sob a forma de uma corrente inversa da precedente, e,
portanto, ascendente, penetrando pelo dedo pequeno do pé esquerdo para se
escapar pelo topo do crânio.
Quem também estudou a cadeia de união foi o pai da teoria do magnetismo animal,
Franz Anton Mesmer. Para este autor do Séc. XVIII, existe um fluido universal,
que será a energia básica e primordial que produz tudo o que há no Universo,
incluindo as substâncias materiais existentes, como veio a afirmar Allan Kardec,
criador da Doutrina Espírita. Sobre Mesmer, corre fama de que, para além de ser
o pai da hipnose, terá curado doentes através de terapia magnética utilizando
primeiro o íman como condutor do magnetismo, e depois outros elementos como a
água e o ferro.
Mas a mais perplexa explicação da cadeia de união é a de Francisco Pucci, a
partir das experiências de um biólogo quântico, Vladimir Poponin. Criou-se
vácuo num recipiente deixando-se dentro apenas partículas de luz (fotões).
Medida a sua distribuição, viu-se que essas partículas estavam distribuídas aleatoriamente.
Foi então colocada dentro do recipiente uma amostra de DNA e a localização dos
fotões foi medida novamente. Desta vez, os fotões tinham-se organizado em linha
com o DNA. Ou seja, o DNA físico terá produzido efeito em fotões não físicos. Outra
experiência foi feita com amostras de leucócitos, que foram colocados num local
equipado com um aparelho de medição das mudanças eléctricas. Nesta experiência,
o doador era colocado num local e submetido a estímulos emocionais provenientes
de vídeo clips que geravam emoções mensuráveis ao doador. O DNA era colocado em
lugar diferente daquele em que se encontrava o doador, primeiro no mesmo
edifício e depois mais longe, até oitenta quilómetros de distância. Ambos, o
doador e o seu DNA eram monitorizados, e quando o doador mostrava os seus altos
e baixos emocionais, medidos em ondas eléctricas, o DNA expressava respostas
idênticas, e ao mesmo tempo. Os altos e baixos do DNA coincidiram exactamente
com os altos e baixos do doador, com respostas ao mesmo tempo. Que significa
isto? Segundo Gregg Braden, “isto significa que as células vivas se
reconhecem por uma forma de energia não reconhecida anteriormente e que não é
afectada nem pela distância nem pelo tempo”, facto este que teria
embaraçado Albert Einstein.
Garanto-vos que há teorias ainda mais fantásticas, através das
quais há quem tente explicar o que sentimos numa cadeia de união, mas há que
concluir. Na verdade, para um céptico, não parece que seja uma energia telúrica,
ou o magnetismo animal em que acreditam os Espíritas, e muito menos
experiências por explicar de física quântica que impressionam o mais íntimo do
ser quando se participa numa cadeia de união. Por certo que na cadeia de união
nada se transmite de palpável. Dela nada se recebe que possa ser explicável ou
mensurável. O sentimento de irmandade e de partilha, extraordinariamente impressivo,
que experimentamos jamais pode ser visto, analisado ou demonstrado, porquanto
eles são o reflexo da própria dádiva para a cadeia. Quando partilhamos a cadeia
de união, quando concordamos com a intenção da mesma é com muita força nos
entregamos a essa intenção, aquilo que sentimos são o regresso dos eflúvios que
tentámos doar e transmitir, e tanto os recebemos como intentámos dá-los.
Cada um só pode receber na medida do que deu. Quem diz que nada sentiu numa
cadeia de união, não será porque estava desconcentrado ou distraído. Não
recebeu porque, muito simplesmente, não se empenhou em dar. Daqui resulta que
quem esteja na cadeia na mesma sintonia de dádiva sinta que o estado de
espírito se torna uno, e é natural que essa unidade se sinta. Sem forças telúricas, magnéticas ou quânticas, apenas com o sentimento interior
de Fraternidade e Tolerância (e porque não dizê-lo, de bondade) que nos
distingue. Voltando à citação de Francisco Ariza do início, não é de estranhar
que se sinta que “as individualidades, ou melhor, a ideia de individual e do
particular que cada componente da cadeia pudesse ter de si mesmo, desapareça
para formar um só corpo, que vibra e respira a uma própria cadência rítmica”.
Isto só acontecerá, porém, se cada um por si e para si esteja neste estado de
espírito.
Autor: Bocage
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